Passos e os treinadores de futebol
Ontem, Passos Coelho lembrou-me um treinador de futebol. À saída de uma reunião qualquer, com imensos microfones à frente, o primeiro-ministro declarou que "no dia em que sentir que não tem condições para governar", vai falar com o Presidente da República e anuncia ao país que se vai embora. Ao longo das últimas décadas, declarações deste tipo foram muito habituais em treinadores de futebol que não conseguiam que a sua equipa ganhasse. Pressionados pelas derrotas no relvado, pelos apupos dos sócios na bancada, pelos escritos na imprensa, havia treinadores que diziam, tal como Passos, que no dia em que "sentissem" que estavam a mais, se iriam "embora" depois de falar com o presidente do respectivo clube. Esperavam com isso talvez criar a famosa "vaga de fundo" de apoio, e ser salvos da desgraça pelas direcções dos clubes, que normalmente nestes momentos se tornavam um bocado cínicas, dizendo que tinham "toda a confiança" no treinador, e o demitiam nos dias seguintes, depois de nova derrota. Espero que Cavaco Silva não faça como José Eduardo Bettencourt, que declarou que Paulo Bento era "forever", e tempos depois o despediu. Nem Cavaco é tão inábil como Bettencourt, nem Passos é tão bom treinador como Paulo Bento. De qualquer forma, isto começa a cheirar ao princípio do fim...