Passos Coelho e o aumento do salário mínimo
De repente, quando nada o fazia prever, Passos Coelho mudou de ideias, e já quer aumentar o salário mínimo.
Depois de três longos anos a recusar tal ideia, a mudança abrupta de posição é surpreendente.
No passado, Passos sempre recusara os aumentos de salário mínimo com argumentos "ideológicos".
Não aumentava porque o aumento ia "criar desemprego"; não aumentava porque "um aumento prejudicava a criação de emprego"; não aumentava porque "um aumento ia provocar um aumento de todos os outros salários", que seriam empurrados para cima pelo mínimo.
Passos seguia a cartilha neo-liberal, as ideias de António Borges, do FMI, ou de Merkel, e defendia tais ideias com empenho.
Ainda há pouco mais de dois meses, ele negara qualquer subida do salário mínimo, mesmo depois dos parceiros sociais, empresários ou sindicatos, terem dito que apoiavam a subida, e mesmo depois do CDS ter defendido a subida.
Não, não e não, era a posição de Passos Coelho, nunca abrir essa discussão antes de 2015.
O que mudou então, para Passos Coelho mudar a sua decisão?
Todos os argumentos que ele apresentou antes, em defesa da manutenção do salário mínimo, continuam os mesmos.
O que mudou foi a posição da Alemanha.
Merkel, devido ao acordo com o SPD, foi obrigado a introduzir um salário mínimo na Alemanha, e logo que isso aconteceu, toda a Europa percebeu que o vento tinha mudado.
Quando a líder espiritual das políticas muda de ideias, os seus seguidores já podem também mudar de ideias.
Assim é Passos: se Merkel faz, ele faz, se Merkel não deixa, ele não faz.
Devem existir poucos Governos na Europa tão seguidistas de Merkel como o nosso.
Na prática, é ela que governa Portugal, e Passos não passa do feitor da quinta.
O que nos vale é que, desta vez, Merkel tomou uma boa decisão e Portugal vai beneficiar disso.