Os políticos não são todos iguais
Ninguém pode negar que o "Big Show Sócrates" foi emocionante e espectacular!
Aviões, pneus a chiar, manifs, calabouços, tivemos direito a tudo à grande e à portuguesa.
Como espectáculo, foi cinco estrelas, o TIC está de parabéns pela superprodução que animou os últimos dias da nação.
Polícias, juízes, Delegados do ministério Público, jornalistas e espectadores em geral, todos gostam disto.
Todos gostam e todos querem isto!
Quanto mais espectáculo, melhor para todos!
A justiça portuguesa está cada vez mais semelhante à brasileira ou à americana, onde o "show" é relevante.
A detenção de Sócrates recordou-me a de Strauss Khan, em Nova Iorque, depois de alegadamente ter tentado violar uma empregada de hotel.
Também o foram buscar ao avião e o engavetaram, no meio de grande estardalhaço.
Pela minha parte, não estou nem chocado, nem sequer surpreendido.
Há anos que ouço falar em casos nebulosos onde o nome de Sócrates aparecia.
Sempre achei que, mais tarde ou mais cedo, algo parecido com o que se está a passar iria acontecer.
Se é culpado ou não, se verá depois, mas para já aconteceu história.
Quanto ao resto, apenas quero comentar uma frase de Passos Coelho.
A intenção dele era óbvia, quando disse este fim de semana que "os políticos não são todos iguais".
Com uma frase, diferenciava-se de José Sócrates, que estava detido e a prestar declarações.
Com uma frase, deixava a entender que ele, Passos, era bom, e o outro, Sócrates, era péssimo.
Foi um ataque compreensível e aceitável, mas não estou certo que seja muito eficaz.
É que a frase de Passos tem demasiada latitude, e abre até uma porta interessante a António Costa, que ele poderá explorar no futuro.
Os políticos não são todos iguais, é bem verdade, mas isso tanto serve para distinguir Passos de Sócrates, como para fazer outras distinções, positivas ou negativas.
Mário Soares não é igual a Cavaco Silva, nem Guterres é igual a Santana Lopes.
Portas não é igual a Jerónimo de Sousa, nem Louçã é igual a Ferro Rodrigues.
Os políticos não são todos iguais. Aliás, são todos diferentes.
E qual a conclusão a retirar? Bem, há uma óbvia: António Costa não é igual a José Sócrates.
Com a sua declaração, Passos abriu uma porta por onde Costa se pode defender.
Da próxima vez que o PSD ou o CDS o atacarem, dizendo que era o nº 2 de Sócrates, António Costa poderá citar Passos Coelho, dizendo que "os políticos não são todos iguais".
E será verdade, pois ninguém acha Costa igual a Sócrates.
A reconstrução do PS, naturalmente abalado nestes dias, pode passar por aí.