Já começou a revolução neoliberal?
Odeio revoluções. São precipitadas, causam enormes sofrimentos, e só servem para atrasar o desenvolvimento económico dos países. Se as revoluções fossem boas, o Haiti era riquíssimo. E não me interessa a cor delas. Não tenho pachorra para cravos, vermelhos ou brancos.
Em 1975, já tivemos um PREC (Período Revolucionário em Curso) de esquerda. E agora parece que iremos ter um PREC de direita. O relatório do FMI, se for levado à prática, provocará uma revolução no país. Tão profunda e precipitada como a que tivemos em 1974 e 75, só que de sinal contrário.
É importante relembrar que o PREC de esquerda foi uma tragédia. Nacionalizou milhares de empresas, paralizou a banca, degradou a economia, e deu exagerados poderes, e direitos, aos trabalhadores. Com ele, Portugal perdeu anos de desenvolvimento.
Agora, está em preparação um PREC de direita, um PREC neoliberal, tão utópico e precipitado como o anterior. Milhares de funcionários públicos para a rua, 20 por cento é o número avançado pelo FMI! Cortes drásticos nos salários, mudanças violentas na função pública, na educação, na saúde. Um arraso no Estado, que para os neo-liberais é o grande Satanás!
É evidente que há importantes diferenças entre os dois PREC. O PREC de esquerda atacou os bancos, os ricos, os industriais, os grupos económicos. Já o PREC de direita proteje os bancos e as grandes empresas, mas ataca os funcionários públicos, os remediados, os professores, os desempregados e os pensionistas.
Mas, há uma relevante semelhança entre os dois PREC: o timing errado. O PREC de esquerda foi feito em má hora, depois de uma grande subida dos preços do petróleo. Já o PREC de direita é anunciado quando o país está mergulhado numa profunda crise. Cortar 4 mil milhões de euros à despesa do Estado é cortar 2% do PIB, e agravar a recessão. Se os desempregados já são 800 mil, despedem-se mais 150 mil pessoas? E para quê, para lhes ter de pagar indemnizações e subsídios de desemprego? Como é possível pagar a dívida do país com quase 1 milhão de pessoas sem trabalho?
E o pior de tudo é que, depois da revolução e como é costume, teremos de aturar a contra-revolução. Se a direita aplica o seu PREC agora, daqui a uns tempos perde as eleições e aparece a contra-revolução de esquerda, que anula a maior parte das medidas agora tomadas. Já vi o filme várias vezes, e é isso que acontece quando não se procura um consenso social, e se faz as coisas à pressa.
Sejam de que cor forem, os PREC não prestam. Se a estabilidade política tem ajudado Portugal a vencer a crise, para quê estragá-la com uma revoluçãozinha neoliberal?