Deus e o Diabo
Lá diz o povo que é difícil ficar bem com Deus e com o Diabo ao mesmo tempo. Mas é isso que Paulo Portas está a tentar, numa manobra de equilibrismo perigoso. Por um lado, coloca-se do lado da opinião pública, das manifestações, dos protestos gerais contra o Governo por causa das mexidas na TSU. Diz que sempre foi contra, que não está de acordo com a medida, e que há outras soluções alternativas para cortes. Ou seja, quer estar bem com Deus. Mas por outro lado, diz que não quer provocar uma grave crise política e que portanto não bloqueia a medida, podendo mesmo aprová-la se o PSD insistir nela, só para não deitar abaixo o Governo. Ou seja, também quer ficar de bem com o Diabo, que neste exemplo metafórico é personificado pela teimosia de Passos Coelho. Mas é possível, num momento tão dramático para Portugal, adoptar esta posição de "não, não, mas se tu quiseres mesmo, então é sim"? A mim parece-me que este é um momento clarificador: ou se está a favor ou se está contra, não há espaço para meias tintas e sofisticações florentinas. É uma tentação perigosa querer o melhor de dois mundos, querer ser ao mesmo tempo "popular" e "responsável". São, neste caso e neste momento, dois objectivos mutuamente exclusivos. Ou me engano muito, ou a intervenção dominical de Portas vai dar maus resultados. Ou Deus se desilude, ou o Diabo chateia-se à séria.