Porque é que 2013 foi melhor do que 2012?
Hoje, que Portugal regressou de novo aos mercados, vai haver muitas mensagens triunfalistas, dizendo que o caminho da "austeridade" deu os seus frutos e coisas assim.
É evidente, para qualquer pessoa que seja honesta intelectualmente, que a persistência de Passos Coelho foi importante, e ele conseguiu recuperar uma parte da credibilidade perdida pelo país entre 2009 e 2011.
No entanto, não se deve concluir daí que as políticas escolhidas por este Governo foram as mais indicadas.
Pelo contrário.
Na verdade, em 2012, no ano em que este Governo fez o que queria, cortar na despesa à bruta, retirando os subsídios aos funcionários e pensionistas, e cortando muitos consumos intermédios do Estado, os resultados foram desastrosos.
Em 2012, o PIB desceu a pique, o desemprego subiu terrivelmente, as receitas fiscais caíram, e o deficit quase não diminuiu.
Porém, em 2013 as coisas foram bem diferentes.
Contrariado, o Governo foi obrigado pelo Tribunal Constitucional a não repetir a dose de austeridade, e optou por uma enorme subida no IRS.
O que se verificou foi que a economia portuguesa se adaptou muito melhor à subida do IRS de 2013 do que aos cortes na despesa de 2012.
Em 2013, apesar da subida do IRS, houve já crescimento económico, o desemprego desceu, e as receitas fiscais cresceram muito, o que permitiu diminuir o déficit bem mais do que em 2012!
Quem negar esta evidência está a ser intelectualmente pouco sério.
Para além disso, para o desanuviar das tensões na Europa, muito contribuiu a acção do BCE, que acalmou os mercados financeiros; bem como a recuperação económica dos EUA, da China e do Japão.
O que podemos dizer é que, apesar dos graves erros cometidos pelo Governo, sobretudo em 2012, em que exagerou claramente na dose de austeridade, instituições fundamentais da nossa vida coletiva (como o Tribunal Constitucional e o Banco Central Europeu) deram uma grande ajuda à economia portuguesa.
Tal como os turistas europeus, e os exportadores portugueses, também os juízes do TC e o Sr. Mário Draghi deviam ser considerados obreiros desta viragem no rumo da economia portuguesa.
A Passos Coelho reconheço um mérito: o de ter mostrado determinação e sangue-frio em não abandonar o posto, mesmo nos momentos mais difíceis.
Vai agora recolher os frutos políticos dessa determinação, mesmo não percebendo nada do que fez à economia.