É melhor subir os impostos ou cortar na despesa?
Para a direita, a resposta é simples: é melhor cortar na despesa, pois subir os impostos é sempre mau.
Para a esquerda, a resposta é menos simples: cortar na despesa é mau, e subir os impostos não é grande coisa também.
E o que nos diz a realidade em Portugal, nos últimos anos?
A verdade é que a estratégia de Gaspar em 2012, com grandes cortes na despesa, sobretudo ao tirar os subsídios de férias e Natal aos funcionários públicos, teve efeitos muito graves.
A recessão foi profunda, o desemprego aumentou bem mais do que se previa, e as receitas fiscais desceram bem mais do que ele desejava.
Por fim, não se conseguiu um bom resultado no deficit, que ficou nos 6 por cento.
Portanto, o corte forte na despesa teve consequências recessivas fortíssimas.
Qual foi a estratégia em 2013?
Bem, como o Governo foi proibido pelo Tribunal Constitucional de repetir o corte dos subsídios, Gaspar viu-se obrigado ao tal "enorme aumento de impostos", sobretudo através do IRS.
E quais são os resultados até agora?
A recessão foi menos forte, o desemprego até já deu sinais de ligeira queda, e as receitas fiscais do IRS subiram muito, mais de 30 por cento, sendo que a previsão do deficit é ainda bastante arriscada.
Há quem diga que vamos cumprir os 4,5%, e há quem diga que iremos chegar aos 6%.
Pela minha parte, acredito que iremos ficar acima dos 5%, mas não demasiado acima, o que dará um resultado final melhor que o de 2012.
Assim sendo, e comparando os dois anos, parece claro que subir os impostos é mais eficaz do que cortar a despesa.
Os efeitos directos são menos graves, e os indirectos mais positivos.
Mas, o centro-direita não parece querer reconhecer esta evidência, e já fala em descida de impostos, seja do IRC, seja do IVA.
Por outro lado, Passos Coelho continua a insistir no corte da despesa, que a "troika" abençoa, pois também ela está convicta de que isso é o necessário.
Por vezes, acho que se confundem crenças com realidades.
Uma coisa são os valores em que acreditamos, e a direita acredita que o Estado deve ser diminuído, que a sua despesa deve ser cortada e que os impostos devem ser baixos.
Outra coisa é a eficácia dessas políticas numa época tão recessiva como a que vivemos, e aí a direita não tem revelado grande lucidez.
Não aceita reconhecer que, nas circunstâncias actuais, se fecha mais depressa o déficit com a subida de impostos do que com o corte na despesa.
Há uma profunda convicção ideológica na direita, hostil ao Estado e ao aumento de impostos, que a impede de ver que, para resolver o problema em que estamos metidos, talvez fosse mais simples subir os impostos do que andar a lutar contra o mundo e as leis, só para dizer que se corta na despesa.
Cortar na despesa sempre foi muito difícil. Não há grandes exemplos de países que o tenham conseguido.
Gera recessão profunda, gera combates legais, gera instabilidade política, e no final não é tão eficaz como se pensa.
Mas, para este Governo, é mais importante ser fiel às suas crenças do que ser eficaz a atingir metas.
Em vez de economistas e políticos eficazes, temos ideólogos.
O resultado está à vista.
A direita deveria talvez aprender que nem sempre o que nós queremos é o que funciona melhor.