Segunda-feira, 19.05.14

Seguro: mais um a fazer promessas prematuras!

Certamente entusiasmado com as boas sondagens, seja para as europeias, seja para as legislativas, António José Seguro já anda a fazer promessas.

E claro, promete que vai descer o IRS e o IVA, para ver se ganha mais votos.

No caso do IRS, promete descer ou mesmo eliminar a sobretaxa, e no caso do IVA promete voltar a descer a taxa para o sector da restauração, para os 13% anteriores a Passos.

Ambas as promessas são boas ideias, mas parece-me a mim que é muito prematuro o líder do PS fazer propostas tão específicas. 

Daqui até meados de 2015, altura em que Seguro poderá regressar ao poder, muita água ainda irá correr, e é cedo demais para estas ideias.

 

Por um lado, se as coisas piorarem, é bem possível que Seguro não possa fazer nada do que prometeu quando lá chegar.

O que é perigoso, pois mais uma vez teremos um político a gerar expectativas erradas, prometendo algo que depois não poderá cumprir.

Mas, e se as coisas melhorarem muito até 2015?

Bom nesse caso, Passos Coelho vai começar exactamente por fazer coisas muito semelhantes, descer sobretaxa do IRS ou descer o IVA, e vai roubar as bandeiras de Seguro antes de ele as usar.

Em qualquer dos casos, Seguro sairá sempre a perder. Quanto mais prometer e quanto mais específico for, mais problemas cria a si próprio.

 

Tal como muitos políticos pelo mundo fora, Seguro poderá ganhar se mostrar que quer um caminho diferente, mas não entrar em detalhes.

Obama ganhou com o célebre "Yes we can", que era apenas um estado de espírito, e nunca falou em taxas de imposto.

É assim que se ganha bem, sem se comprometer com ideias específicas, para não ter de desiludir depois.

Desde há mais de 10 anos, os políticos que venceram as eleições em Portugal foram sempre obrigados a fazer o contrário do que prometeram.

Foi assim com Barroso, Sócrates e Passos Coelho.

Todos prometerem que iam fazer isto e não iam fazer aquilo, e acabar por não fazer isto e fazer aquilo.

Com isso, o sistema político perdeu credibilidade e os eleitores desiludiram-se.

Portanto, talvez Seguro devesse aprender essa lição, para não ser mais um a iludir descaradamente o país, só para vencer eleições. 

publicado por Domingos Amaral às 11:45 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Sexta-feira, 09.05.14

Passos Coelho e a esquizofrenia dos impostos

Na última semana, fiquei completamente baralhado com as variadas e contraditórias declarações de Passos Coelho sobre os impostos.

Num dia, o Governo apresenta um documento onde revela as subidas do IVA e da TSU.

No mesmo dia, Passos Coelho declara que "os impostos não vão aumentar".

Uns dias depois, o Governo faz saber que admite descer o IRS em 2015.

Há notícias de que o facto é "escondido" ao FMI, mas que o Governo tem mesmo essa ideia, no âmbito da reforma fiscal que está a ser preparada.

Elementos do CDS fazem saber que essa é uma óptima notícia.

A seguir, há mais notícias de que Passos quer mesmo descer o IRS, mas no mesmo dia, ou seja hoje, o primeiro-ministro declara na Assembleia da República que, se o Tribunal Constitucional não deixar passar certas medidas, os impostos terão de subir.

Em que é que ficamos?

Sobem, descem, ficam na mesma, ou tudo ao mesmo tempo?

Com tanta mudança de ideias, não admira que a questão dos "impostos" já seja uma esquizofrenia que ninguém entende.

Provavelmente, já nem o Governo sabe o que irá acontecer...

 

publicado por Domingos Amaral às 16:45 | link do post | comentar
Sexta-feira, 20.12.13

O Tribunal Constitucional é bom para economia mas mau para as finanças!

As decisões do Tribunal Constitucional têm sempre consequências importantes. Umas são negativas, mas outras são positivas.

As negativas são financeiras, as positivas são económicas.

Comecemos pelas primeiras: o corte de 10% nas pensões, que o TC ontem chumbou, levanta problemas ao país, sobretudo em termos de percepção dos mercados financeiros.

É esse o receio do Governo: que os mercados duvidem da capacidade portuguesa em cumprir as metas acordadas com a "troika", levando os juros a subir.

Nesse caso, dificilmente se consegue evitar um programa cautelar, e mesmo um segundo resgate voltaria a ser possível.

Seria uma situação péssima para Portugal, que ninguém tenha dúvidas disso.

 

Porém, curiosamente, os juros da dívida pública portuguesa hoje ainda não subiram!

Será que os mercados estão distraídos, ou não há muita ligação entre uma coisa e outra, como diz o Governo?

O que me parece estar a acontecer é que "os mercados" estão à espera para ver o que o Governo apresenta como medidas de substituição, e só aí farão o seu juízo.

Se o IVA subir, se o IRS subir, se subir a CES, talvez se consigam os milhões em falta, e nesse caso não haverá grande drama, e não há razões para os juros subirem muito. 

Seja como for, o chumbo do TC provoca efeitos financeiros negativos, mesmo que menos graves e dramáticos do que o Governo tem dito.

 

E quanto aos efeitos positivos?

Esses serão sobretudo económicos. O corte de 10% nas pensões era muito recessivo, havia muita gente que via o seu rendimento disponível baixar, e teria de cortar nos seus consumos.

Seriam muitos milhões a menos, e isso podia representar uma contração do PIB adicional.

Como o TC chumbou o corte das pensões, esse dinheiro continuará a ser pago aos pensionistas, e não haverá contração dos consumos e do PIB por essa via, o que é bom.

Já em 2013 se verificou isso: o TC chumbou os cortes nos subsídios de Natal e férias, e isso foi uma óptima notícia para a economia.

Se houve alguma lição a retirar dos anos de 2012 e 2013, é que a economia portuguesa se adapta bem melhor à subida no IRS, de 2013, do que aos cortes na despesa, de 2012.

 

Portanto e em resumo: notícias menos boas para as finanças, mas boas para a economia portuguesa!   

publicado por Domingos Amaral às 12:27 | link do post | comentar
Segunda-feira, 05.08.13

Agradeçam ao Tribunal Constitucional os "sinais positivos" da economia!

Aqui há uns meses, Passos Coelho lançou toda a sua fúria contra o Tribunal Constitucional, pois o dito não aceitara as medidas proposta pelo Governo.

O TC não deixou passar o corte nos subsídios dos funcionários públicos e ainda outras medidas, impedindo cortes na despesa de 1350 milhões de euros.

Passos ficou enraivecido: assim não era possível cumprir os objectivos negociados com a "troika"!

Muitos o acompanharam na crítica ao TC: que era "inadmissível", que não era aceitável existirem "direitos adquiridos", ect, etc!

Muito poucos lembraram o lado positivo da decisão do TC: não havendo lugar aos famosos cortes de subsídios, o dinheiro ia entrar na economia.

Ou seja, tendo possibilidade de gastar os subsídios, os funcionários públicos não teriam de fazer um aperto adicional às suas contas, e isso era bom, pois era anti-recessivo. 

E assim foi.

1350 milhões é quase 1% do PIB, e embora uma parte vá regressar ao Estado, seja através do IRS, seja através do IVA, a verdade é que a injecção destes fundos adicionais na economia impediram que ela se afundasse mais um pouco. 

É evidente que não foi só esse efeito, também desceu o preço da gasolina e do gasóleo, e também houve melhorias em Espanha, e tudo isso conta para a recessão não ser tão forte.

Porém, ninguém irá dar os parabéns ao TC por ter ajudado a economia. 

Este governo conseguiu meter na cabeça das pessoas que tudo o que o Estado gasta é mau, mesmo quando isso suaviza a recessão. 

publicado por Domingos Amaral às 12:18 | link do post | comentar | ver comentários (6)
Quinta-feira, 18.10.12

A alma de um país

Um dos mais graves erros deste governo foi ter aumentado o IVA na restauração, passando-o para a taxa máxima de 23 por cento. A restauração é uma parte da nossa alma enquanto nação. Como qualquer povo latino, adoramos comer, adoramos estar à mesa, adoramos ir à procura de novos prazeres em novos locais, adoramos tascas e barzinhos, adoramos cafés e pastelarias. Comer, o ato em si, mas também o ato social de comer, o que ele implica de reunião, de encontro com os outros, de ligação aos amigos, aos companheiros de trabalho, à família, faz parte da nossa forma de viver, do nosso "lifestyle".

Não há português que não adore um bom peixinho grelhado, umas prateadas sardinhas, um consistente bife com batatas fritas a boiar em molho, uns delicados filetes, umas robustas favas, um multidisciplinar cozido ou uma rica caldeirada. Nós adoramos comer, acompanhar a comida com um saboroso vinho ou uma fresca cerveja, enquanto falamos dos amores e desamores dos que nos rodeiam, da telenovela de ontem, do jogo que aí vem, ou da última intriga que corre, como um foguete descontrolado, no nosso local de trabalho. Para nós, comer é viver, é à mesa que nascem risos e gargalhadas, é à mesa que se muda o destino do país em dez segundos, e muitas vezes é à mesa que nos apaixonamos por aqueles olhinhos que, brilhantes, nos sorriem. 

É por isso que a "restauração" não é um sector de actividade qualquer. A "restauração" somos nós, é Portugal que vive todos os dias, é a nossa forma preferida de existir em conjunto. Os ingleses e os irlandes encontram-se nos pubs, nós nos restaurantes, e só nos levantamos da mesa por bons motivos. Para levantar da mesa muitos portugueses é preciso um "bulldozer", ou uma grua, que muitas vezes tem duas pernas e é bem gira, ou está em casa à nossa espera, deitadinha na cama. E é por essas e por outras que a "restauração" tem de ser estimada por nós, enquanto sociedade. Sufocar a "restauração" é, como dizia Souto Moura, tirar o "oxigénio de uma sala que está cheia", é causar um dano a uma parte da nossa alma. 

Enquanto portugueses, devemos orgulhar-nos da nossa "restauração", protegê-la, incentivá-la, porque ela é um bocado de nós, e ainda por cima um bocado bom!

No meio desta crise grave, há sectores "estratégicos" que devem ser estimados e ajudados, não só porque geram mais emprego, mas sobretudo porque nos dão orgulho e auto-estima. O turismo, a restauração, o desporto, o mar, não são apenas meros "sectores de actividade", são pilares essenciais da nossa identidade, e é por isso que se transformaram também em fundações da nossa economia. Se não os tratarmos bem, sobretudo nestes momentos de crise, castigamo-nos a nós próprios, chicoteamo-nos nas costas, como os loucos nas procissões das Filipinas, e ficamos mais feridos e mais pobres de espírito. 

Quando um estrangeiro vem a Portugal, é bom que goste de comer por cá, saboreando as nossas riquezas gastronómicas, é bom que goste de descobrir hotéis e pensões onde é bem tratado, é bom que goste de jogar golfe ou ver uma entusiasmante partida de futebol, é bom que aproveite quilómetros e quilómetros das melhores praias da Europa. Por mais que a austeridade seja necessária, é preciso apoiar a nossa identidade especial, aqueles que são os "sectores" onde somos bons e geramos riqueza. A cegueira deste governo, que pulverizou com Iva vários desses sectores, é uma triste visão do futuro, e é um atentado à nossa maneira de viver. Era essencial que isso mudásse, mas da maneira que estão as coisas...  

publicado por Domingos Amaral às 11:13 | link do post | comentar | ver comentários (1)
 

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