Quarta-feira, 03.09.14

Draghi contra Merkel, ou o bom contra a vilã

Mario Draghi é um dos poucos líderes europeus que merece o meu apreço.

Há dois anos, em Julho de 2012 e em plena crise financeira europeia, salvou o euro com uma frase e uma promessa.

Enquanto os outros queriam era recuperar a confiança com austeridade draconiana, ele percebeu que a Europa precisava era de um banco central que estivesse totalmente comprometido com a moeda única.

Na altura, os fanáticos da austeridade não quiserem reconhecer o óbvio: depois de Draghi falar, as taxas de juro da dívida pública dos países caíram a pique.

Aquilo que anos de austeridade não tinham conseguido, Draghi conseguiu com umas meras palavras.

 

Foi isso que Draghi veio reconhecer na semana passada, no seu já célebre discurso de Jackson Hole.

Para ele, não foi o excesso de dívida pública de certos países que colocou em causa o euro, mas sim uma falha no papel do BCE como credor de última instância.

Se o BCE tivesse agido a tempo, como fizeram o FED americano ou o Banco de Inglaterra, o pânico europeu não teria crescido.

Mas Draghi disse mais: defendeu que as políticas monetárias e orçamentais devem ser expansionistas, para acabar com a grave crise que assola a Europa.

 

Ora, dizer isto é chocar de frente contra a linha dura da Europa, a linha germânica, defendida por Merkel, Schauble ou Oli Rehn.

Os fanáticos da austeridade, com a Alemanha à cabeça, espumaram de raiva ao ouvir as palavras de Draghi.

Merkel telefonou-lhe logo, a pedir satisfações; e Schauble disse que ele tinha sido mal interpretado.

Para os alemães, não há qualquer dúvida, só a austeridade continua a poder salvar a Europa.

 

Deviam olhar em volta e ver os estragos que as suas políticas provocaram.

A Europa continua afocinhada na crise, com Itália, França e Alemanha em recessão, e outros países em crescimento mínimo.

O desemprego é muito alto, e a deflação já grassa. 

São esses os resultados da austeridade germânica, mas Merkel e Schauble, teimosos e fanáticos, não querem dar o braço a torcer.

Para eles, na Europa germânica só há uma verdade, a da Alemanha e mais nenhuma.

 

Esta é a grande luta europeia do momento, os austeritários contra o BCE.

Merkel, Rehn, Schauble, Passos e Maria Luís, contra Draghi.

Que Deus dê muita força ao super Mário Draghi, é o que eu desejo, para ver se damos cabo dessa gente tão pouco inteligente.

 

 

publicado por Domingos Amaral às 10:35 | link do post | comentar
Segunda-feira, 29.04.13

Portas e Gaspar: chegou ao fim o casamento de conveniência?

Segundo li no Expresso, o último conselho de ministros, de sexta-feira passada, foi um sarilho de Estado. De um lado, Vítor Gaspar, sempre fiel ao seu fanatismo austeritário; do outro um novo grupo, formado por vários ministros do PSD e encabeçado por Portas.

Rezam as crónicas que este último terá ameaçado demitir-se, se os cortes propostos por Gaspar fossem avante. E, no braço de ferro que aconteceu na reunião, Portas tinha com ele, não só os ministros do CDS, mas também quatro ministros do PSD, porque afinal ainda há gente lúcida naquele partido.

Paulo Macedo, Paula Teixeira da Cruz, Aguiar Branco e Álvaro Santos Pereira, todos defenderam que a austeridade louca com que Gaspar se prepara mais uma vez para brindar o país, é uma tragédia e não trará nada de bom, nem a Portugal, nem ao Governo.

Cortes e mais cortes, nos salários e nas pensões, como propõe o fanático Gaspar, só trarão mais recessão e desemprego, e afundarão na desgraça e na miséria o povo. 

É bom saber que há gente no Governo que tem a noção das coisas, mas parece-me que isso, sendo boa notícia para o país, não augura nada de bom para este Governo.

É que Passos Coelho está ainda demasiado inclinado para apoiar Gaspar. Ambos têm sido paladinos intensos da austeridade "à la Merkel". Quase que se pode dizer que a Alemanha tem em Passos e Gaspar os seus mais fiéis escudeiros.

Quando, por essa Europa fora, se vão multiplicando as vozes que gritam contra a loucura da austeridade, desde Barroso a Schultz, desde a Grécia à Irlanda, desde a França à Itália, é espantoso de ver como só Passos e Gaspar ainda defendem a via germânica.

Cada vez mais isolados, Passos e Gaspar são completamente subservientes perante a Alemanha de Merkel e Schauble, e fazem tudo o que eles defendem ou mandam.

Contudo, são eles que nos governam. Passos é o número 1 e Gaspar o número 2, o restante Governo terá de se submeter às suas vontades, e portanto à visão germânica que postula a continuação de uma austeridade feroz.

Os ministros Macedo, Cruz, Branco e Pereira bem podem espernear e guinchar contra Gaspar, mas não conseguem alterar a sua determinação. Ou se submetem ou são substituídos, essa é que é essa.

Quanto a Paulo Portas, já vimos este filme umas vezes. Se lhe perguntarem se está de acordo, dirá que não está. Se lhe perguntarem se tentou alterar o rumo das coisas, dirá que tentou. Se lhe perguntarem se no final acabou por aprovar tudo, acabou por aprovar tudo.

Por mais murros na mesa que Portas dê, por mais ameaças que faça, já sabemos que, no final, lá acabará por ir a reboque de Passos e Gaspar, e marcará mais umas viagens pelo mundo para promover os nossos azeites, chouriços e produtos afins.

A vida é o que é, e as pessoas são o que são, e não há ainda em Portas a força para traçar uma linha vermelha e dizer: daqui não passam.

Era melhor para Portugal que Portas acabasse com esta farsa de uma vez por todas e esclarecesse o país que, ou Gaspar saía do Governo e as políticas mudavam, ou saía ele.

Porém, não creio que Portas seja capaz de tal acto de coragem histórica. O casamento de conveniência entre este PSD e este CDS, embora já degradado e triste, infelizmente para todos nós, deverá continuar.

Um dia, muita gente se irá arrepender de não ter tido a coragem de dizer não a este desastre que se abateu sobre Portugal. Mas, parece-me que esse dia ainda não será amanhã, data de um novo conselho de ministros onde se afundará, mais uma vez, o país. 

publicado por Domingos Amaral às 10:28 | link do post | comentar
Terça-feira, 23.04.13

Barroso e a austeridade insuportável...

O presidente da Comissão Europeia, o nosso magnífico Durão Barroso, veio finalmente constatar o óbvio, dizendo que a austeridade chegou ao limite do aceitável na maior parte da Europa, e que provoca perigosos riscos, sociais e políticos.

É espantoso como durou mais de quatro anos o discurso salvífico da austeridade, tão do agrado de tanta gente neste país e por esse mundo fora. E é espantoso que venha agora Durão Barroso criticar esse discurso de austeridade, quando durante esses mesmos quatro anos, foi um dos seus defensores mais empenhados. 

Sim, por mais cambalhotas que a Comissão Europeia e o seu presidente queiram dar em 2013, alguém terá de lhes esfregar na cara a memória do que foi a política europeia activamente promovida pela Comissão, por Barroso e pelo fanático Oli Rehn, que desde finais de 2009 apoiaram, constantemente e com grande vigor, as políticas austeritárias impostas pela Alemanha da Sra Merkel. 

Durante praticamente quatro anos, a Comissão Europeia foi um pau mandado da Sra Merkel e do Sr. Schauble. Quando eles diziam "mata", a Comissão dizia "esfola"! Os programas de ajustamento, as troikas, as austeridades violentas que caíram sobre a Grécia, Portugal, a Irlanda, a Espanha, a Itália, Chipre, e mais tarde começaram também a cair sobre a França e a Holanda, tiveram o apoio entusiástico desta gente.

Tivesse a Comissão Europeia mais lucidez e jamais teria apoiado um caminho em que só os loucos podem acreditar. A Europa está cada vez pior, cada vez com mais desemprego e mais crise, e quem quisesse ter pensado um pouco antes, bastava olhar para a história económica dos últimos 100 anos para saber que a austeridade sempre produziu desastres enormes.

Mas, é claro que Merkel e a Comissão e toda essa gente que governa a Europa não quis saber da História! Com aquela arrogância que costuma caracterizar os fanáticos, avançaram a toda a velocidade para uma austeridade bruta, cega e injusta. O resultado está à vista de todos, a Europa está moribunda, e no meio dela só a Alemanha obviamente resiste. 

Quatro anos depois, Barroso vem agora dizer o óbvio, que este caminho chegou ao fim. Pois veremos se os alemães estão pelos ajustes, mas é evidente que já ninguém na Europa acredita na austeridade. Os desastres crescem a olhos vistos e o terror de uma multiplicação de Chipres pela periferia europeia é bem real. 

Se este caminho da austeridade for invertido a tempo, e o mais depressa possível, a Europa ainda se poderá salvar. Mas, a descrença é imensa, a crise muito profunda, e a Alemanha não está ainda preparada para mudar o seu discurso e as suas políticas. Por isso, bem pode Barroso falar, mas como ele não manda nada, temo que o desastre continue.  

publicado por Domingos Amaral às 11:35 | link do post | comentar | ver comentários (4)
Segunda-feira, 08.04.13

As crises da dívida são como o teatro: aí está o 3º acto!

Aqui há uns meses, escrevi neste blog um post em que comparava as crises da dívida ao teatro ou à ópera, pois têm sempre uma estrutura em 3 actos, como esses espectáculos culturais. 

O primeiro acto é o "incidente inicial", que em Portugal foi o pedido de resgate, feito precisamente há dois anos. É o pico inicial da crise, com os seus culpados e os seus defensores, com muita trapalhada e eleições, normalmente com um novo governo que diz muito mal do anterior, e promete fazer tudo bem para o futuro.

Em 2011, Passos Coelho não só derrubou Sócrates prometendo acabar com a austeridade, como prometeu ir muito para além do memorando da troika, inventando um novo país, bem gerido e cumpridor!

O segundo acto, tal como no teatro, é passado em enormes dificuldades, de mini-crise em mini-crise, mas com a situação económica sempre a piorar.

O Governo vai aplicando mais e mais austeridade, a economia vai definhando, a dívida e o desemprego crescem, e o país vai-se cansando cada vez mais desta crise e deste governo.

Por cá, foram óbvias as mini-crises. Primeiro, foi o primeiro veto do Tribunal Constitucional, em 2012, seguiu-se a crise da TSU, e agora viveu-se mais uma mini-crise, com o segundo chumbo do Tribunal Constitucional.

O ambiente está de cortar à faca, e a situação piora a olhos vistos, tanto cá dentro como lá fora. Como era esperado, o "mau da fita", o sr. Schauble, já veio dizer que Portugal tem é de cortar mais e que não espere simpatia dos credores!

Estamos pois a entrar em pleno 3º acto da crise. Tal como no teatro é aqui que se vai viver o climax desta história. Com a situação económica sempre a piorar, o Governo vai implementar mais austeridade, vai cortar mais na despesa, os credores vão endurecer a posição, e Portugal vai passar de "bom aluno" a "mau aluno".

A situação de crise económica e social ameaça tornar-se insustentável, e a crise política vai ser permanente, com um Governo cada vez mais incapaz de resolver o que quer que seja, e com a população enfurecida com ele.

E, um dia destes, a coisa estoira. E estoira à séria. É evidente que ainda ninguém sabe qual será o final, mas prevejo que vai dar-se uma mega-crise política, e também uma mega-crise económica, que pode passar ou por um segundo resgate, ou mesmo por uma saída do euro no espaço de um ou dois anos.

Infelizmente para todos nós, o guião desta peça de teatro já estava escrito há muito tempo e nós não nos afastámos muito do que tem acontecido por esse mundo fora nos países a quem é imposto um ajustamento deste tipo. É sempre o mesmo filme: a violência da austeridade violenta as sociedades e eles revoltam-se!

Em 120 ajustamentos feitos pelo FMI nos últimos 50 anos, apenas 19 tiveram resultados mais ou menos safisfatórios, e sempre em casos que era possível desvalorizar a moeda do país, como se passou em Portugal em 1983. 

Ao contrário do que dizem os "falcões da austeridade", como a Sra Merkel e o sr. Schauble, o sr. Rehn ou o sr. Barroso, os senhores Passos e Gaspar, bastava olhar para a história económica do último século para saber que esta "onda austeritária" que varre a Europa ia acabar mal, muito mal.

Um a um, a austeridade está a empurrar os países para uma catástrofe, e se não parar depressa vai levar com ela a Europa e o euro.

Nós portugueses, somos apenas mais uma vítima desta decisão europeia de castigar os devedores com austeridade e proteger os ricos credores de qualquer perda. O que se está hoje a passar em Portugal, é mais um episódio da saga "Como Destruir o Euro com a Austeridade", que pode ver num teatro grátis perto de si, ou seja, todas as noites ao vivo na televisão.  

Como somos um país inculto em economia, passamos o tempo a discutir os draminhas da paróquia, quem tem culpa do quê e outras coisas do género. A culpa é do Sócrates, do Cavaco, do Gaspar e dos Passos, do Estado que é grande demais, dos portugueses que viveram acima das suas possibilidades, dos bancos que emprestaram demais, etc, etc, etc. E todos têm razão, e têm as suas razões e as suas culpas.

Porém, há uma coisa que os portugueses deviam perceber. Portugal, e muitos outros países da Europa, têm dois problemas pela frente. O primeiro chama-se Alemanha, pelas condições que impôs desde o início ao funcionamento do euro. E o segundo chama-se Alemanha, pelas regras draconianas que impôs aos "programas de resgate", obrigando a que o ajustamento fosse feito só pelos devedores e não também pelos credores. 

Portanto, podemos ir zangando-nos todos uns com os outros cá na paróquia que não mudamos o essencial. Enquanto a Alemanha impuser aos outros país as suas regras de austeridade, não há saída para o problema.

Esta peça de teatro só tem dois fins: ou a Alemanha muda a sua orientação e aceita um perdão geral e substancial das dívidas dos países pequenos, ou vários países terão de sair do euro. O resto é conversa para entreter...

 

 

publicado por Domingos Amaral às 11:39 | link do post | comentar | ver comentários (3)
Quinta-feira, 13.12.12

Os alemães deviam lembrar-se melhor da sua História!

Sempre que vejo na televisão o ministro das Finanças alemão, o Sr. Schauble, penso que se calhar ele já não se lembra bem da História do seu próprio país, a Alemanha.

Quando fala na dívida pública dos países como Grécia, Portugal e Irlanda, ele nunca quer ouvir falar em "perdão de dívida", nem sequer em "renegociação" ou "reestruturação" da dívida. Para ele, esses países têm de pagar o que devem, e mais nada! Quanta falta de memória...

A História da Alemanha no século XX é uma lição sobre o que se deve e o que não se deve fazer quando a dívida pública atinge valores astronómicos, e o Sr. Schauble, e outros que tais, deviam meditar sobre os ensinamentos que se podem, e devem, retirar do passado.

Logo após o fim da I Guerra Mundial, o tristemente célebre Tratado de Versailles obrigava a Alemanha, que perdera a guerra, a pagar elevadíssimas "reparações". Com sede de vingança, vontade de castigar e muita cegueira, americanos, franceses e ingleses, obrigaram a Alemanha a enormes sacrifícios, fazendo a dívida pública do país crescer para valores astronómicos.

O resultado não foi bonito de se ver. Atrofiada num mar de dívidas, a Alemanha sofreu horrores. Dois surtos de hiperinflação brutais, nos anos 20, e duríssima austeridade, em especial entre 1930 e 1933, aplicada pelo chanceler Bruning, que viria a ficar conhecido como "o chanceler da fome". A recessão, o desemprego e a fome foram de tal ordem, que geraram um caos de onde emergiu uma calamidade maior ainda: Hitler. A austeridade fanática gerou um monstro.

Contudo, europeus e americanos não aprenderam à primeira. Depois da Segunda Guerra Mundial, em 1945, também foram impostas fortíssimas obrigações à Alemanha, uma enorme austeridade que fez crescer brutalmente a sua dívida pública, provocou uma recessão e impediu a recuperação económica.

Só oito anos depois do fim da guerra (!), em 1953, é que o mundo percebeu que esse caminho não funcionava, e decidiu finalmente perdoar a dívida pública alemã. 63 por cento da dívida da Alemanha foi perdoada, naquela que foi uma decisão histórica e que permitiu ao país sair do buraco em que se encontrava, ao mesmo tempo que aplicava o Plano Marshall.

Para quem pense que a história acabou aqui, não é assim. Nos anos 90, depois da reunificação das Alemanhas, o novo país ficou com uma enorme dívida pública, e foi com a ajuda dos europeus que a conseguiu reestruturar, absorvendo assim a Alemanha de Leste.

Há lições a retirar destes casos, em especial para a Alemanha, e a principal é esta: a partir de certo limite, não vale a pena forçar os países a enormes sacrifícios para pagar as suas dívidas, porque isso não resulta. O melhor é perdoar, e recomeçar do zero.

Se há país que sofreu na pele com a teimosia e a estupidez dos credores, esse país é a Alemanha, e por isso mesmo devia saber o que funcionou e o que não resultou. Quem tanto sofreu, não devia ser tão duro com os outros.   

 

publicado por Domingos Amaral às 11:20 | link do post | comentar
Terça-feira, 04.12.12

Um Governo subserviente aos alemães e desorientado com os portugueses

Se há coisa que incomoda neste Governo é a subserviência à Alemanha, que é todos os dias evidente. Na semana passada, depois do Eurogrupo ter tomado importantes decisões sobre a Grécia, muitas delas contra a vontade da Alemanha, vieram logo Passos e Gaspar dizer, com alegria e entusiasmo, que Portugal ia beneficiar dessas decisões, talvez com descidas de juros e mais tempo.

Mas, logo nos dias seguintes, e apesar da fanfarra dos jornais em Portugal, começaram a ouvir-se vozes europeias e dizer que não eram bem assim. Ontem, foi a vez do ministro alemão Schauble "desaconselhar" Portugal a ir por esse caminho. A Alemanha falou, e o que se viu logo? Passos Coelho e Vítor Gaspar corrigiram de imediato o discurso, dizendo que afinal não queriam nada as condições da Grécia!

A Alemanha manda, Portugal diz amen, é a estratégia do Governo em todo o seu esplendor, mesmo que isso implique que Passos e Gaspar se tenham de contradizer a si próprios, apenas sete dias depois. Esta impressão de subserviência é fatal para a credibilidade interna do governo, embora possa ser muito importante para ficarmos "bem vistos" aos olhos do alemães, o que parece ser o principal e único objectivo do Governo.

Mas, os sinais deste tipo de desorientação são cada vez mais evidentes, e não só na questão internacional. Veja-se por exemplo na Educação. Na entrevista à TVI, Passos disse que as famílias iriam ter de partilhar o financiamento da educação pública. No dia seguinte, o ministro Crato negou tal ideia, e uns dias depois, o mesmo Passos proclamou que nunca falara em tal coisa, os chamados co-pagamentos. Em que é que ficamos?

E nem vale a pena referir a RTP, sobre a qual há mais ideias do que canais. Primeiro era a privatização total, depois era só a de um canal (a RTP 2), depois ouvimos o magnífico António Borges lançar a ideia mirabolante da concessão; e agora já vamos na privatização parcial (só 49%) mas entregando a gestão a privados! Enfim, para a semana ou coisa assim deve haver uma ideia nova, não vale a pena preocuparmo-nos de mais.

Mais valia perguntar ao Sr. Schauble o que ele pensa da educação pública paga e da privatização da RTP! Assim sempre sabíamos o que pensa quem realmente manda em Portugal, e acabava-se esta cacofonia permanente de palavras ocas!

publicado por Domingos Amaral às 12:28 | link do post | comentar
Terça-feira, 27.11.12

A falência da Grécia salvou a Grécia!

A Grécia faliu, mas felizmente nada de muito grave aconteceu, pelo contrário, a falência da Grécia salvou o país. Ontem à noite, a Europa decidiu finalmente reconhecer o óbvio, e ajudar a Grécia a sair do caos onde se encontra. A dívida grega, insustentável, vai agora poder ser paga em muito mais tempo, e as taxas de juro exigidas vão baixar. Além disso, é muito provável que seja necessário que a "troika" perdoe cerca de 50 por cento do dinheiro que emprestou à Grécia, libertando o país desse fardo.

Era a única hipótese, a Grécia falir dentro do euro, a Europa ser solidária, os credores públicos e europeus aceitarem as perdas, e todos perceberem finalmente que a austeridade exagerada que se exigiu à economia grega não resolveu nada, pelo contrário, só piorou a situação.

Os grandes derrotados de ontem são a Alemanha da Sra Merkel e do Sr. Schauble, que tudo fizeram em três anos para impor a austeridade, e que agora foram obrigados a engolir a derrota da sua estratégia e das suas políticas. Com a austeridade, perderam todos, devedores e credores. Os devedores ficaram com a economia de rastos, e os credores nunca viram o seu dinheiro devolvido. A falta de solidariedade alemã, a austeridade fanática que impuseram aos gregos, levou ao caos e à quase destruição da Grécia, mas três anos depois os restantes europeus obrigaram a Alemanha a tomar juízo. 

Agora, chegou o tempo da solidariedade, da partilha de perdas entre credores e devedores. Finalmente, reconheceu-se que existe muita responsabilidade também dos credores, e que não se resolve nada atirando com os devedores para uma crise económica, pois isso ainda os impossibilita mais de pagar as suas dívidas. Finalmente, a Europa tomou juízo, e deu passos importantes para resolver esta armadilha que criou a si própria.

Infelizmente para Portugal, os efeitos positivos das decisões de ontem chegaram tarde demais. Em 2013, à conta das ideias do ministro Gaspar, a recessão vai continuar por cá, com cada vez mais desemprego e cada vez mais deficits. Será infelizmente uma austeridade totalmente inútil, pois se Portugal em vez de esmagar a economia começasse já amanhã a renegociar a dívida, sairia muito mais depressa deste inferno em que está.

Assim, o ministro Gaspar é adorado pelos alemães, e nós lixamo-nos, e daqui a um ano o país estará a fazer o mesmo que a Grécia, e a "troika" vai dizer que os credores serão obrigados a perdoar-nos as dívidas, e a pergunta que fica é: para quê perder um ano? O melhor economista europeu, Paul de Grauwe, esteve ontem em Portugal, e aconselhou o seu amigo Vítor Gaspar a "não exagerar na austeridade". Infelizmente, Vítor Gaspar não ouve ninguém, nem os seus amigos, e com ele a situação do país não vai melhorar.

 

 

publicado por Domingos Amaral às 12:34 | link do post | comentar
 

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