Sexta-feira, 14.02.14

O mau tempo é o novo vilão do mundo

Nestes tempos escorregadios, já não há maus como deve de ser.

A URSS implodiu, a China mudou, Pinochet morreu, Fidel está em estado terminal.

E mesmo na Coreia do Norte, o novo ditador não parece mais que um psicopata pateta, que não provoca o medo que outrora os ditadores provocavam.

Putin, por mais defeitos que tenha, não chega aos calcanhares dos antigos homens do Politburo, e nas Américas latinas e centrais já não há generais foleiros, nem comunistas criminosos, e os Maduros e Morales são uma versão light dos líderes do passado.

A verdade é que, na época que atravessamos, há cada vez mais maus políticos, mas cada vez menos "maus" históricos.

Assim sendo, temos de descobrir um novo vilão para as narrativas do dia a dia, especialmente as mediáticas.

Os principais candidatos a vilões são o mau tempo e as catástrofes naturais.

No inverno, há nevões, avalanches, tempestades, chuvas e cheias.

No verão, há vagas de calor, furacões, incêndios.

Uma vez por outra, há mesmo uma catástrofe natural de grandes dimensões, como terramotos ou tsunamis.

E óbviamente, há as vítimas de todas estas balbúrdias atmosféricas, pessoas ou estruturas, que sofrem, morrem, ou são destruídas.

Enquanto espectadores, ficamos espantados com tanta fúria, tanta maldade dos elementos.

O mais difícil é que neste caso não é fácil encontrar culpados.

As narrativas têm de ter sempre vítimas e culpados, mas enquanto nas guerras e nos conflitos políticos ou económicos é mais fácil encontrar culpados, nas narrativas sobre o mau tempo e as catástrofes é difícil.

Excepto nos incêndios, onde estão eles? De quem é a culpa das tempestades, dos nevões, das cheias?

De Deus, de Alá, do Buda?

Até há uns anos, era viável a explicação de que era o Homem o culpado, pois o aquecimento global era causado pelo Homem e era essa mutação climatérica que explicava todas as outras.

Porém, nos últimos anos era teoria perdeu força. Mesmo nos meios académicos, há cada vez menos defensores dela, o que nos deixa sem culpados.

Pelos vistos, os climas mudam porque mudam, porque foi sempre assim na história do planeta Terra, e sempre será.

Não havia homens na Idade do Gelo, e no entanto os glaciares derreteram, e o clima mudou.

No presente, o clima também parece estar a mudar, mas ninguém consegue prever em que sentido.

O espectáculo permanente das tempestades vai prosseguir, pois o mundo comunicacional em que vivemos alimenta-se dele.

O fascínio aterrador da fúria do planeta vai continuar, e nós vamos continuar a vê-o, sentados no sofá. 

 

publicado por Domingos Amaral às 10:23 | link do post | comentar
Segunda-feira, 10.02.14

Stephanie: princesa ou lap dancer?

A tempestade que ontem se abateu sobre Portugal tinha um bonito nome: Stephanie.

É, sem sombra de dúvida, um nome simpático, doce, amoroso, para uma borrasca tão forte.

À primeira vista, parece mesmo contraditório dar um nome tão mignon e queridinho a uma ventania daquelas, mas a verdade é que alguém o deu.

Em quem estariam a pensar os senhores da metereologia quando deram o nome à tempestade?

A primeira pessoa que me veio à cabeça foi a óbvia: a princesa Stephanie do Mónaco.

Se foi a pensar nela que eles batizaram a tempestade, já não há assim uma contradição tão grande entre o nome e o fenómeno atmosférico.

Quando era mais nova, a princesa Stephanie era um fenómeno atmosférico violento, estava sempre a provocar grandes dramas e escândalos, e a afligir a mãe e o pai. 

Então com os homens, aquilo era ventania da grossa! Um verdadeiro tornado de machos à volta dela, era o que provocava a nossa Stephanie.

Portanto, se foi essa a razão do nome, até que não está mal pensado.

Ontem, no Estádio da Luz, voou lã de vidro, o que me parece um material apropriado, muito Stephaniesco.

Por um lado, é lã, quentinha, amorosa; por outro, é de vidro, cortante e perigosa. Assim a modos que me lembra a Stephanie do Mónaco, pois então!

 

Mas, também pode ter sido a pensar noutro tipo de mulheres que foi dado o nome à intempérie. 

Embora eu não seja propriamente um frequentador habitual, a verdade é que das vezes que fui a casas de lap dance, havia sempre uma "Stephanie"!

Juro que não estou a inventar, havia mesmo. 

Aliás, as dançarinas de lap dance têm todas nomes desse tipo: Pamela, Erika, Janine, e claro, Stephanie.

Parece que oiço a voz do speaker da casa, a anunciá-la: "E agora em palco, vinda do Canadá, a inimitável Stephanie!"

Ontem, foi nisso que pensei quando ouvia as notícias na televisão. 

A Stephanie, a nossa tempestade, parecia uma lap dancer aos volteios no seu varão, e depois passeando pelo palco, cada vez mais próxima de nós.

E a malta em grande entusiasmo, a correr para ela, para ver as suas habilidades.

Aquela gente que vai para os paredões mirar o mar e a sua violência fá-lo com a alegria dos rapazes jovens que assistem a um show de lap dance!

Ah, olha para aquilo, que lindo, nunca vi nada assim!

Ai Stephanie, pára com isso que dás cabo de mim! 

O que vale é que foi só uma noite...

 

publicado por Domingos Amaral às 10:47 | link do post | comentar | ver comentários (1)
 

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