Há anos assim, imprevistos, impossíveis de imaginar, e no entanto quase perfeitos.
Há um ano, o nosso coração encheu-se de dor com a crueldade do que nos aconteceu.
Porém, como diz Fernando Pessoa, quem quer passar além do Bojador, tem de passar além da dor.
E assim passámos, vencemos a dor com os dentes cerrados e começámos um novo ano porque não havia outra forma de ultrapassar a tristeza.
Mas, Deus não estava ainda satisfeito e deu-nos mais provações.
De repente, no espaço de pouco mais de um mês, morre-nos o maior mito da nossa história, e morre-nos também o maior capitão de sempre.
Eusébio e Coluna deixaram-nos sem terem visto como fomos todos capazes de vencer a adversidade e sem terem visto o nosso renascimento.
Mas, foram também eles, com a sua morte e o seu exemplo, que nos deram ainda mais força e coragem.
E que força! E que coragem!
Quando um dia olharmos para trás vamos-nos dar conta de que esta foi também uma das épocas mais duras de sempre para os jogadores do Benfica.
Sálvio, Cardozo, Ruben Amorim, Jardel e a sua máscara, Sílvio, Sálvio outra vez, agora Garay, um massacre permenente de lesões, um calvário de sofrimento para eles.
E, no entanto, mal caía um jogador logo outro se levantava e tomava o seu lugar.
Raramente vi no Benfica um grupo tão unido, tão solidário, tão valente.
O jogo de ontem, a primeira batalha de Turim, foi um símbolo da época.
Contra todas as contrariedades, dores, sem um ai que se ouvisse, sem um queixume, sem um momento de quebra, os jogadores combateram como os gigantes que são.
Eu só me lembrava daquela música, menos ais, menos ais, queremos muito mais!
E agora olhem para estes números, olhem todos e respeitem o fantástico trabalho que este ano se fez na Luz.
52 jogos, 52 batalhas e esta é a evidência: 40 vitórias, 8 empates e apenas 4 derrotas.
Uma percentagem de vitórias absolutamente histórica de 84,6%!
Um campeonato nacional já conquistado e ainda 3 grandes finais para disputar!
Um quarteto de títulos ao nosso alcance, meu Deus, quem diria?
Jorge Jesus, Luís Filipe Vieira e todos os jogadores já estão de parabéns, mas isto ainda não acabou.
Para o espectáculo ser total, temos de olhar para a frente e perceber que nos faltam 5 jogos até a época acabar e são todos para ganhar.
Queremos ganhar ao Setúbal e ao FC Porto para o campeonato e queremos ganhar as 2 taças contra o Rio Ave.
Os adversários que nos desculpem, mas desta vez não há misericórdia, é tudo para ganhar e ninguém vai levantar o pé do acelerador até ao fim.
O facto de Enzo, Markovic e Salvio não poderem jogar a final da Liga Europa é uma má notícia para eles, para a equipa, mas é também uma péssima notícia para os nossos adversários nacionais.
É que, não podendo jogar em Turim, esses nossos três génios vão explodir nos 4 jogos nacionais que nos faltam!
Mas, se há jogo que este ano todos queremos ganhar, esse é a final europeia.
A segunda batalha de Turim será a mais importante do ano.
A este Benfica, a estes jogadores, a este treinador, falta uma glória assim, uma vitória que nos faça brilhar aos olhos de todo o mundo.
E não me venham com a história da maldição do Bela Guttman mais uma vez!
Nunca conheci nenhuma maldição que não fosse vencida um dia por um príncipe encantado, e estes rapazes são os nossos príncipes, os senhores da Luz.
Que ninguém pense porém que será fácil.
O Sevilha é uma equipa perigosíssima, que o digam os nossos rivais azuis.
Nada está ganho, e o mais importante está ainda por fazer.
Chegar até aqui é lindo e merecido, mas agora é que está a chegar o momento da verdade!
Nas próximas duas semanas, tudo se pode ganhar, mas muita coisa se pode perder.
Portanto, lembrem-se do que aconteceu o ano passado, lembrem-se da dor, e concentrem-se.
Agora, chegou a hora de entrar para a História, mas para isso acontecer é preciso dar tudo e muito mais.
E ainda mais.