Foi-se um Soprano, o melhor de todos...
Morreu James Gandolfini, o melhor e mais importante Soprano da minha vida.
Morreu de repente, de ataque cardíaco, o mais inesquecível mafioso da televisão americana.
Mais conhecido como Tony Soprano, foi o único mafioso que quase chegou ao estatuto olímpico de Marlon Brando ou Al Pacino, esses imortais.
Mas Gandolfini andou perto, com os seus relógios e fios dourados, com os seus tiques, as suas zangas, os seus sorrisos, as suas amantes e as suas malícias.
"Os Sopranos", que há umas semanas foi eleita a série mais bem escrita de sempre da televisão americana, são uma obra de arte, episódios espantosos, um atrás do outro, sobre a vida daquela família nos arredores de Nova Iorque.
Passei meses a fio a ver "Os Sopranos". Nunca na televisão, à hora que davam, sempre em DVD, pois não aguento o ritmo semanal, a espera por um novo episódio.
Quando gosto de uma série, e foram muito poucas as que gostei tanto como "Os Sopranos", mergulho nela dia e noite, vejo sete, oito, dez episódios de seguida, até os meus olhos se renderem e já sentir martelos na cabeça.
Os diálogos são inesquecíveis. Tony e Carmela, Tony e os amigos, Tony e os filhos, Tony e os inimigos, num caos suburbano perigoso e sangrento, mas também neurótico e desequilibrado.
Que saudades, já não se fazem coisas destas há quanto tempo?
Tony era inimitável, com aquele seu ar de urso afável e meigo, mas com precipícios lá dentro, capaz de num segundo passar ao ataque, enfurecido.
Nunca tinha existido na história do cinema e da televisão um mafioso que vai ao psiquiatra, que tem angústias, ataques de pânico, desmaios, que é atormentado pela mãe dominadora.
Era essa bipolaridade de Tony Soprano que nos fascinava, e Gandolfini era um mestre a encarná-la.
No fim, ontem, ele teve sorte. Morreu no país mais bonito em que se pode morrer, Itália.
E morreu no país onde a lenda dos mafiosos começou, o que para um actor que se tornou famoso como um deles, é um encontro histórico com o destino.