Terça-feira, 09.09.14

Exportar-nos para fora da recessão não está a resultar

Ainda se lembram da forma gloriosa como o Governo apresentava os números positivos da balança comercial portuguesa?

Aqui há ano e meio, estávamos a exportar mais que a importar, coisa nunca antes vista em 50 anos!

Só o Salazar tinha conseguido tal coisa, dizia a propaganda governamental, de Gaspar, Passos e Portas.

Infelizmente, algum tempo depois, os indicadores voltaram a piorar, as exportações foram perdendo gáz, as importações cresceram, e lá voltou o deficit comercial.

Ou seja, o maravilhoso ajustamento que Gaspar dizia ter conseguido, acabando com o deficit comercial, não durou nada.

E o segundo ajustamento, que Gaspar e Passos também diziam ter conseguido, o do deficit orçamental, lá vai morrendo também.

É natural: não se mudam 300 anos de história económica de um dia para outro.

Apesar dos tontos acharem que sim, a realidade do mundo não muda só porque eles acham que sim.

 

Quase quatro anos depois, está à vista que a linha austeritária do Governo, que quis corrigir dois deficits ao mesmo tempo, para reequilibrar o país, não conseguiu atingir esses objetivos, e só deixou um rasto de recessão, desemprego, e ainda mais dívida pública.

Os pequenos indicadores positivos que melhoraram são isso mesmo, pequenos.

É duro, eu sei, mas a verdade é que temos hoje mais desemprego, crescimento menor, impostos mais altos e salários mais baixos do que há quatro anos, e com uma dívida pública muito maior.

A austeridade expansionista, que Passos e Gaspar defendiam que ia salvar o país depois de uma dieta intensa, nunca passou de austeridade, pois de expansionista não teve nada.

 

Como Mário Draghi veio dizer, era falsa e errada a convicção de que as taxas de juro da dívida pública estavam a subir porque os governos gastavam demais.

Entre 2009 e 2012, as taxas de juro da dívida subiram porque os investidores estavam em pânico com a perspectiva do euro acabar.

Não foi a austeridade brutal que recuperou a confiança, foi a intervenção do BCE, e as palavras de Draghi desde o verão de 2012.

A austeridade não trouxe qualquer melhoria, pelo contrário, só piorou as coisas, deixando um colossal rasto de desperdício e recessão.

Agora, como Draghi também disse, é tempo de estimular as economias, baixar impostos, e outras coisas assim.

Ou seja, é tempo de mudar de políticas, e abandonar em definitivo a austeridade desmiolada.

 

Contudo, não será fácil que isso aconteça com Passos e Maria Luís.

Enquanto na fustigada Grécia já se anunciam fortes baixas dos impostos, por cá continua a conversa da treta, de que não há "folga orçamental", etc, etc.

Parece-me que este Governo não tem qualquer capacidade já para efectuar uma mudança de políticas de 180 graus.

Está amarrado às suas ideias, e com elas irá para o fundo, sem salvação possível.

Para que as políticas mudem, não parece haver outra hipótese a não ser mudar de Governo.

 

 

publicado por Domingos Amaral às 10:50 | link do post | comentar | ver comentários (2)
Quinta-feira, 27.03.14

Um Audi A6 não é viver acima das nossas possibilidades?

Há algumas coisas que me causam perplexidade nesta ideia de oferecer Audis A6 e A4 às pessoas que pedem facturas com o nº do contribuinte.

A primeira perplexida é moral.

Este Governo passou 3 anos a dizer-nos que não podíamos "viver acima das nossas possibilidades".

Disse-nos que não era possível "gastar mais", que tínhamos de "poupar", e ajustar as nossas despesas.

Eram precisos sacrifícios em nome do país.

E agora oferece Audis A4 e A6 às pessoas?

 

Um Audi A6 não é um Audi A1, nem sequer A3.

Um Audi A6 é um carro de administradores de grandes empresas.

E agora vamos dá-lo à Dª Adelaide, ou ao Sr. Joaquim, que vencem o sorteio?

E não é isso uma aberração moral para quem diz que não podemos viver acima das nossas possibilidades?

Um Audi A6 consome muito, é muito caro. 

Não causa estranheza que o mesmo Governo que nos disse que não podíamos viver assim, agora nos venha oferecer Audis A6, para que nós possamos viver "acima das nossas possibilidades"?

 

Mas, tenho mais duas perplexidades sobre esta questão.

Então não era suposto o Governo não estimular a importação de bens caros, para que o nosso deficit comercial diminua?

E vai-se comprar Audis, que são importados, aumentando o deficit comercial?

Não haverá aí uma contradição simbólica entre o que é o discurso nacional do Governo, todo ele de promoção às exportações e diminuição às importações, e a oferta de Audis importados?

Não havia bens portugueses que se pudessem oferecer às pessoas?

Não podia ser dinheiro?

 

A terceira perplexidade é esta: se a ideia era oferecer carros, porque se escolheram carros alemães?

Tem o Governo algum pacto especial e secreto com os fabricantes alemães?

Não podiam ser carros italianos, ou franceses, que são bem mais baratinhos?

Os Audis são exportações alemãs, e importações portugueseas.

Ou seja, estão a aumentar o excedente comercial da Alemanha e a aumentar o deficit comercial português.

Mas não era precisamente o contrário disso que o Governo desejava?

Será que a subsverviência total à Alemanha já chegou ao ponto de eles nos obrigarem a comprar carros deles para oferecer ao nosso povinho bem comportado?

 

 

publicado por Domingos Amaral às 11:52 | link do post | comentar | ver comentários (4)
 

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