Exportar-nos para fora da recessão não está a resultar
Ainda se lembram da forma gloriosa como o Governo apresentava os números positivos da balança comercial portuguesa?
Aqui há ano e meio, estávamos a exportar mais que a importar, coisa nunca antes vista em 50 anos!
Só o Salazar tinha conseguido tal coisa, dizia a propaganda governamental, de Gaspar, Passos e Portas.
Infelizmente, algum tempo depois, os indicadores voltaram a piorar, as exportações foram perdendo gáz, as importações cresceram, e lá voltou o deficit comercial.
Ou seja, o maravilhoso ajustamento que Gaspar dizia ter conseguido, acabando com o deficit comercial, não durou nada.
E o segundo ajustamento, que Gaspar e Passos também diziam ter conseguido, o do deficit orçamental, lá vai morrendo também.
É natural: não se mudam 300 anos de história económica de um dia para outro.
Apesar dos tontos acharem que sim, a realidade do mundo não muda só porque eles acham que sim.
Quase quatro anos depois, está à vista que a linha austeritária do Governo, que quis corrigir dois deficits ao mesmo tempo, para reequilibrar o país, não conseguiu atingir esses objetivos, e só deixou um rasto de recessão, desemprego, e ainda mais dívida pública.
Os pequenos indicadores positivos que melhoraram são isso mesmo, pequenos.
É duro, eu sei, mas a verdade é que temos hoje mais desemprego, crescimento menor, impostos mais altos e salários mais baixos do que há quatro anos, e com uma dívida pública muito maior.
A austeridade expansionista, que Passos e Gaspar defendiam que ia salvar o país depois de uma dieta intensa, nunca passou de austeridade, pois de expansionista não teve nada.
Como Mário Draghi veio dizer, era falsa e errada a convicção de que as taxas de juro da dívida pública estavam a subir porque os governos gastavam demais.
Entre 2009 e 2012, as taxas de juro da dívida subiram porque os investidores estavam em pânico com a perspectiva do euro acabar.
Não foi a austeridade brutal que recuperou a confiança, foi a intervenção do BCE, e as palavras de Draghi desde o verão de 2012.
A austeridade não trouxe qualquer melhoria, pelo contrário, só piorou as coisas, deixando um colossal rasto de desperdício e recessão.
Agora, como Draghi também disse, é tempo de estimular as economias, baixar impostos, e outras coisas assim.
Ou seja, é tempo de mudar de políticas, e abandonar em definitivo a austeridade desmiolada.
Contudo, não será fácil que isso aconteça com Passos e Maria Luís.
Enquanto na fustigada Grécia já se anunciam fortes baixas dos impostos, por cá continua a conversa da treta, de que não há "folga orçamental", etc, etc.
Parece-me que este Governo não tem qualquer capacidade já para efectuar uma mudança de políticas de 180 graus.
Está amarrado às suas ideias, e com elas irá para o fundo, sem salvação possível.
Para que as políticas mudem, não parece haver outra hipótese a não ser mudar de Governo.