Europa: União ou Morte?
Há cada vez mais gente, por essa Europa fora, a lutar e a defender que o euro e a Europa são as causas de todos os nossos males.
Em França, cresce a extrema-direita, que abomina o euro. Na Grécia, a mesma coisa, bem como na Áustria.
Na Alemanha, o partido anti-euro não entrou no parlamento, mas a corrente é forte, em especial à direita.
Em Portugal é ao contrário: como é a esquerda que está fora do poder, é à esquerda que se ouvem as vozes mais hostis ao euro e à Europa.
Jerónimo de Sousa disse há dias que temos de abandonar o euro.
Daniel Oliveira também culpa a Europa pela resposta à crise financeira de 2008, que está a destruir as democracias nacionais.
O ataque ao euro é muitas vezes também um ataque à Alemanha, país mais forte e poderoso, e que liderou a Europa nos últimos anos.
Sem uma visão europeia clara, sempre relutante, a Sra Merkel não foi a líder de que a Europa precisava, e decidiu quase sempre tarde demais.
Mas, será que o fim do euro e da Europa é a melhor solução para as democracias europeias?
Eu nunca fui um grande entusiasta do euro, desde há mais de 15 anos que acho que está mal pensado, e que dificilmente ia funcionar bem.
Para que o euro fosse uma união monetária completa, era necessário uma união política a suportá-lo.
Eram necessários, desde o início, uns Estados Unidos da Europa, que elegessem um presidente de todos os europeus, por voto directo e universal.
Era necessário um governo europeu, um Orçamento europeu, um Tesouro europeu.
Era necessária uma dívida europeia, a mutualização; bem como uma segurança social europeia.
Era necessária uma união bancária, com supervisão europeia, e um Banco Central Europeu capaz de intervir sempre que fosse necessário, como fazem o inglês, o japonês e o americano.
Nada disso foi feito quando devia ter sido feito, há vinte ou quinze anos.
O euro fez-se sem esses poderes, e resultou mal.
Não havendo um sólido poder político e económico europeu que sustentasse o euro, os erros multiplicaram-se.
Cada um fez o que lhe apeteceu, e quando o conjunto ficou em risco, só se procuraram soluções nacionais, e não europeias.
Na realidade, há um drama europeu complicado.
Os 17 países do euro já não são bem países soberanos, mas também ainda não são Estados de uma União.
São seres híbridos, a meio caminho entre uma coisa e outra, e por isso confundidos.
Sempre me pareceu, e escrevi-o muitas vezes, que Portugal teria feito melhor em ficar de fora.
Porém, isso não aconteceu, e perante a realidade atual a melhor solução não é a desintegração ou saída unilateral do euro.
O melhor, para todos, da Grécia à Alemanha passando por Portugal, era uma União verdadeira, cada vez mais sólida e forte.
A Europa precisa de se unir cada vez mais, pois só assim estabiliza.
Ou há união, ou há morte.
Ficar no limbo em que estamos não é nada.
A senhora Merkel disse ontem que temos de avançar para uma união mais sólida, e todos têm de perder soberania.
Pena que só o diga agora, e que seja tão lenta a dar cada passo.
A andar tão depressa como um caracol, a Europa corre o risco de ser odiada e culpada por tudo e por todos, e de morrer aos bocados...