Portugal e a recessão em W
Os economistas gostam muito de usar as letras do abecedário para classificar as recessões.
Há a recessão em V, com uma queda que é muito profunda, uma estadia curta no fundo, e uma recuperação tão rápida como a queda.
Há a recessão em L, onde há uma queda inicial muito profunda, e depois não há qualquer tipo de recuperação, apenas um prolongamento do fundo.
E depois há a recessão em W, que são duas recessões, dois V seguidos, onde por vezes a zona central do W é menos cavada.
Nesse caso, há uma primeira queda violenta, descendo pelo primeiro V, depois chegamos a uma zona de recuperação, que é mais pequena que a descida.
De seguida, a meio do W, há uma segunda descida para o fundo, que pode ser menos forte que a primeira
Só depois se volta a recuperar fortemente, subindo pelo segundo V acima.
Será isso que irá acontecer em Portugal, uma recessão em W?
Olhando para o que foram os dois últimos anos, podemos admitir que em 2012, com um corte na despesa pública, os efeitos recessivos foram fortes, e caímos pelo primeiro V abaixo.
Depois, em 2013, houve o aumento enorme de impostos, mas a recessão foi bem menos forte.
Não sendo ainda uma subida, foi uma melhoria ligeira, uma subidinha a meio do W.
Contudo, para 2014, o orçamento prevê brutais cortes na despesa e por isso arriscamo-nos a nova recessão.
É muito possível uma nova queda, embora menos grave que a primeira, e que vamos parar a um ponto recessivo semelhante ao acontecido em 2012.
Segue-se depois um crescimento rápido, subindo o segundo V depressa?
É cedo para fazer esse tipo de previsões.
Como diz toda a gente, incluindo Passos Coelho, há muitos "riscos".
Mais do que riscos, ou além deles, há um evidente dilema português.
O que é melhor: tentar corrigir o déficit do Estado, aumentando a recessão?
Ou tentar evitar a recessão, deixando o déficit ser maior do que a troika pede?
Eu pela minha parte, prefiro a segunda opção; mas a Europa e o Governo, é evidente, preferem a primeira.