Terça-feira, 16.04.13

Living by Numbers (estou farto de códigos e passwords!)

O século XXI é o século dos códigos e das passwords. Qualquer um de nós está absolutamente cercado por combinações cada vez mais complexas de números, letras e PIN´s. É preciso ter um livro de suporte, onde tudo está escrito, para não endoidecermos.

Ele é código para o Multibanco, para o VISA, para o cartão de cidadão ou para o cartão de gasolina, para o portão do condomínio ou para a porta da garagem.

Ele é password para o portal das Finanças, para a Amazon, para o mail, para o Facebook, para o Twitter, para o Linkedin, para a Nespresso ou para qualquer site de compras online.

Ele é Pin para o telemóvel, para o Ipad, para a box da televisão, e password para a wi-fi em casa. Ele é número de contribuinte, cartão da segurança social, número do utente, conta do banco, NIB próprio de uma conta, NIB da outra, mais códigos de cartões de outras contas; NIB para as transferências; referências para o multibanco para pagamentos vários; etc, etc.

E os códigos secretos? Sim, o que dizer quando nos chega uma folha de papel a casa dizendo que o nosso código secreto é zkl999Gaxykl223? O que se está a passar naquelas cabeças? Porque é que o G vem em maiúsculas e o resto são números ou minúsculas? O que é aquele suspeitíssimo 999? Porque é que o kl aparece sempre antes dos números?

Pior ainda é quando nos mandam mudar a password. A sua password expirou, tem de a renovar, avisou-me um mail outro dia. Expirou? Como? Morreu, dando um último suspiro valente, antes de esticar o pernil? Mas, a minha password era um hamster e ninguém me disse?

E que tal os auxiliares de secretismo das passwords? Já apanharam algum? É uma espécie de amigo secreto que, à medida que vamos colocando a password letra a letra, nos vai informando se ela é fácil de descobrir ou não.

Um dia, uma pessoa já irritada, escreveu a password "vai-tefod" e o amigo secreto informou "vai-tu" e foi aí que ele percebeu que estava alguém do outro lado! Meses depois, foi internado, mas é óbvio que isto perturba qualquer um...  

Antigamente, quando éramos adolescente, sabíamos os números de telefone principais da nossa vida todos de cor. Sabíamos o de casa, os dos avós dos dois lados, e os de vários de amigos e namoradas. Agora ninguém sabe nada de nada. Já não temos megabytes suficientes nos cérebros para decorar telemóveis mutantes de toda a gente!

Ainda por cima, com o Grande Regresso dos Telefones Fixos, as pessoas têm 1, 2 e às vezes 3 números de telefone cada uma! É de um homem dar em doido! Fala-se para o telemóvel 1, e nada. Fala-se para o telemóvel 2, nada também. Bem, a seguir vem o Fixo e se ninguém atende o que fazer? Lá vamos nós para o mail, para o Facebook, para o What´s Up, qualquer coisa...E qualquer coisa com código, ou com password, só para chatear!

Há quem tenha estratégias altamente sofisticadas para lidar com esta praga de códigos e combinações absurdas. Sim, há quem simplifique códigos e use sempre o mesmo. Tipo 1406, dia do casamento, a 14 de Junho. Pois, mas e se há divórcio? Lá se tem de mudar tudo e ainda por cima o ex-cônjuge percebe logo!

Qualquer dia, a presença das combinações de números e letras será de tal forma complexa, que até as conversas de engate terão de ter código e password. Ele, num bar, aborda-a e diz, com convicção:

- Aposto que a tua password e a minha são compatíveis!

- A tua tem números ou só letras? - pergunta ela, a rir.

- 14 caracteres...passam de minúsculas a maiúsculas quanto estão contentes.

E pronto, já estava. Era bom, não era? Se ao menos as passwords e os códigos facilitassem a vida, sempre se ganhava algum tempo!

 

publicado por Domingos Amaral às 11:58 | link do post | comentar | ver comentários (4)
Quinta-feira, 29.11.12

Uma casa dá tanto trabalho...

Uma casa dá tanto trabalho. É a porta para o terraço que está perra e não quer fechar; o cano do lavatório da cozinha que tem de levar com um gel desentupidor, dia sim dia não, para não se encher de calcário; os brinquedos das crianças espalhados pela sala todas as noites; a porta do frigorífico cujas dobradiças tiveram de ser substituídas; o tapete da sala que estava velho, sujo e cheirava mal; a torneira do bidé que se estragou; o cão que patanha o chão sempre que chove em Lisboa; a box da televisão que se desliga sem ninguém lhe tocar; o estore de um quarto que bloqueou e o estore de outro quarto que ameaça bloquear; o cesto da roupa suja que está gasto pelo tempo; o canudo do rolo de papel higiénico que espera ser trocado por um novo rolo; uma rede pendurada no tecto de um quarto que acabou de ceder e tem de voltar a ser pendurada; o pêlo dos cães que se esconde nos cantos das assoalhadas, como um bandido fugido da prisão que evita ser apanhado; os posters colados nas paredes que estão rasgados e feios; as cortinas da sala que estão a precisar de ser lavadas; os livros para os quais já não há espaço nas prateleiras e têm de ser deitados por cima dos outros; o comando da garagem que necessita de trocar a pilha; a lenha que ainda não foi encomendada apesar de o frio já ter aparecido; a máquina de lavar a loiça que desatou a produzir estranhos barulhos ao ser ligada num programa qualquer; as facas que deviam de ser afiadas; os tupperwares que já não cabem no seu local no armário e caem, sempre em grupo, talvez por solidariedade; as ervas daninhas que crescem impunemente nos canteiros do terraço; as camas dos cães que eles, num acesso de brincadeira irracional, acabaram de destruir à dentada; o despertador de uma criança que toca a estranhas horas e precisa de ser reprogramado; a lista de supermercado onde falta sempre alguma coisa; a televisão que avariou com uma trovoada; as gavetas da mesinha de cabeceira que estão atolhadas de inutilidades que nunca usamos. Uma casa dá tanto trabalho...Contudo ontem, ao pensar nisto, adormeci feliz. 

publicado por Domingos Amaral às 12:35 | link do post | comentar | ver comentários (1)
 

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