Terça-feira, 29.10.13

O muito original "milagre económico" de Pires de Lima

O senhor ministro da Economia, Pires de Lima, disse hoje que Portugal está a viver um verdadeiro "milagre económico".

É verdade, juro que é, vejam as declarações que ele fez e verão que não estou a mentir.

O que me preocupa é esta estranha dissonância entre a realidade do que vai acontecendo e o discurso de Pires de Lima.

Será que não é um pouco, vamos lá, excessivo, considerar que uns pontinhos décimais de crescimento do PIB são um "milagre económico"?

Será que o ministro não está a exagerar?

Antigamente, nos tempos em que a economia era uma ciência, e não uma questão de fé religiosa, só se podia considerar um "milagre económico" uma década de alto crescimento do PIB.

Um milagre económico era a Alemanha, nos anos 50 e 60, que cresceu brutalmente e se levantou da ruína em que Hitler a deixara.

Um milagre económico era o Japão, que teve vinte anos de fantástico crescimento industrial, e se transformou num dos países mais ricos e poderosos do mundo, recuperando do descalabro depois da guerra.

Um milagre económico era a Coreia do Sul, que depois da guerra da Coreia, em que se separou da parte Norte, se transformou numa sociedade poderosa e livre, que gerou altos crescimentos económicos.

Um milagre económico era, por exemplo, o equilíbrio de certos países nórdicos, que apesar de terem um Estado muito forte, com elevada despesa social, conseguiam apresentar forte crescimento e uma distribuição de riqueza e um nível de vida ímpares.

Sim, no tempo em que eu estudei, eram esses os exemplos de "milagres económicos".

Mas, pelos vistos, nos dias que correm qualquer 0,5% de crescimento num trimestre, já é considerado um "milagre económico".

Há um trimestre ou dois menos maus e logo um ministro grita: é milagre, é milagre!

É evidente que isto cria uma certa perplexidade nos portugueses

A mim, Pires de Lima lembrou-me um pouco aqueles profetistas meio tontos, de certa idade, que estão no Rossio com cartazes sobre a religião, Deus e o apocalipse que pode vir...

Mas, nós já nos habituámos a tudo!

Já nem nos faz impressão que um ministro diga que estamos a viver um "milagre económico" quando o orçamento corta brutalmente salários, corta pensões até às viúvas, sobe impostos por todo o lado, e coisas assim.

E ninguém estranha que para o ministro seja perfeitamente possível estar ao mesmo tempo a acontecer um "milagre económico" e o país ter de suportar uma carga fiscal altíssima, um desemprego enorme, uma recessão grave, e um orçamento carregado de toneladas de austeridade!

É, de facto, um "milagre económico" muito especial, muito original, muito português...

Não duvidem: o milagre de Pires de Lima vai certamente entrar para a história de económica do planeta, e em breve será ensinado nas universidades de Harvard e Oxford!

publicado por Domingos Amaral às 18:19 | link do post | comentar
Segunda-feira, 09.09.13

O trambolhão de Portugal no ranking da felicidade mundial

Todos os anos, a Universidade de Columbia, em Nova Iorque, (onde tirei o meu mestrado, que saudades!), publica um Relatório Mundial sobre a Felicidade.

Examina items como a capacidade económica, a qualidade da educação, das família, da saúde pública e privada, das instituições públicas; a esperança de vida, a liberdade de escolha, ou as relações com a comunidade. 

Com base nestes indicadores, é avaliada a felicidade dos países, e atribuída uma média.

Em 2012, Portugal estava na 73ª posição, com um nível médio de feliciade de 5,4, numa escala de 0 a 10.

Mas, este ano caiu 12 lugares, para a 85ª posição entre 156 países, e para um nível médio de 5,1.

Segundo o estudo, a quebra deve-se ao "impacto da crise da zona euro", que obviamente também fez descer de posição outros países do Sul da Europa, como a Itália, a Espanha e a Grécia. 

O que é interessante é que no topo da lista estão a Dinamarca, a Noruega, a Suíça, a Holanda e a Suécia.

O Canadá é o 6º classificado, e os Estados Unidos só aparecem em 17º lugar, enquanto a Alemanha ainda aparece mais atrás, em 26º lugar. 

Mas, fiquemo-nos pelos primeiros seis.

Em cinco deles (Dinamarca, Noruega, Suíça, Suécia e Canadá) impera um modelo quase social-democrata, de muita despesa pública, muito Estado Social, e elevados impostos. 

Em certos casos, como a Suécia, a despesa do Estado chega a ultrapassar os 60 por cento do PIB.

O que nos diz isto sobre os princípios liberais que estão tão em voga em Portugal e em muitos países da Europa?

Será que a redução da despesa do Estado é a melhor via para chegar a uma sociedade feliz e equilibrada?

Será que um modelo de Estado mínimo e impostos baixos, como parece ser a ambição da direita liberal portuguesa, é o melhor e mais eficaz?

As pessoas preferem um Portugal mais parecido com Marrocos ou com a Suécia?

A Suécia também teve um grave crise de excesso de dívida, porém nunca pôs o seu modelo em causa.

E, pelos vistos, os nórdicos são os "top model" da Europa, felizes, ricos e com muita despesa do Estado e muitos impostos.

Será que cortar a despesa do Estado é a única via para a felicidade, ou o centro direita poderá ter de admitir, num futuro próximo, que é absolutamente inevitável vivermos numa sociedade com impostos elevados?

Eu sei que dizer isto, nos tempos que correm, é quase uma heresia que merece que me queimem na fogueira, mas será a redução drástica da despesa do Estado o único caminho para Portugal? 

Se fossemos todos menos dogmáticos e ideológicos, como no Canadá, não seríamos mais felizes como país?

publicado por Domingos Amaral às 12:48 | link do post | comentar | ver comentários (3)
 

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