Sexta-feira, 18.10.13

Em Portugal toda a gente protesta...e ainda bem!

Muita gente tem a ideia que só a CGTP e os sindicatos de esquerda é que protestam.

No entanto, não é bem assim.

Qualquer ramo de actividade, quando é atingido nos seus interesses, protesta de imediato.

Não são só os funcionários públicos a protestar. Também as associações de reformados, recém formadas, protestam muito.

E os bancos? Nas últimas semanas, protestaram pelo menos 2 vezes, e bem.

A primeira foi contra uns certificados que o Governo vai lançar, e que para os bancos são concorrência "desleal".

E a segunda vez foi contra a subida do imposto extraordinário sobre a banca, que logo levantou um coro de protestos!

E a EDP, não protesta, contra os cortes nos subsídios? Sim, protesta.

Até os chineses que a compraram logo vieram protestar, enviando uma cartinha, e logo o defensor dos chineses, Eduardo Catroga, veio dizer que eles tinham razão. 

E a Galp, não a ouviram também a protestar?

E o ACP, não levantou a voz, dizendo que mais impostos sobre os carros a gasóleo era um erro?

E a associação dos restaurantes, não protesta contra a manutenção da taxa máxima do IVA? Sim, protesta e até ameaça com manifs.

Como se vê, não são só os do costume, os sindicatos da função pública, ou os trabalhadores das empresas públicas.

Esses vão fazer o que fazem sempre.

Mas, os outros também protestam e por vezes têm formas muito eficazes de levar a água ao seu moínho.

E quem achar que Portugal é irreformável só por causa disto, não percebe nem gosta das democracias modernas.

Nessas, todos se podem defender, e protestar é uma forma de defesa.

Seja os interessados "de direita", ou sejam os interessados "de esquerda", todos protestam e ainda bem, é sinal de que estão vivos. Só os mortos não protestam.

Qualquer ser vivo reage mal ao sacrifício e à dor, mesmo que seja apenas no seu bolso.  

Isto não quer dizer que certas medidas não sejam necessárias, mas pensar que todos devíamos ser carneirinhos mansos e submissos, e aceitar tudo com um sorriso nos lábios, é um instinto totalitário assustador.

Antes uma sociedade onde todos protestam e é difícil mudar, do que uma sociedade de mortos-vivos, subjugados por um poder totalitário.

Protestar é sinal de vida, e de democracia. E nisso não somos muito diferentes dos outros.

Não há nenhuma democracia ocidental onde não haja protestos quando alguém se sente prejudicado.

Contudo, há muitos que preferiam uma sociedade diferente, mansa e amorfa, que nunca protestasse.

É compreensível.

Debaixo de muitas pessoas que odeiam os protestos, há um ditadorzinho doméstico, um fanático do come e cala.

É o que há mais por aí, os ditadorzecos de sofá, que resolviam tudo em duas penadas...

publicado por Domingos Amaral às 09:56 | link do post | comentar | ver comentários (3)
Sexta-feira, 21.06.13

Alguém me explica o que se passa no Brasil?

Embora tenha gostado muito de lá ir por quatro vezes, a verdade é que conheço muito mal o Brasil.

Fui um mero turista, um mero consumidor apressado de sol e mar e calor. Visitei o Rio, Salvador, Fortaleza, as praias e pouco mais, e tenho pena de me ter ficado por aí.

Tenho saudades daquilo que nunca fiz no Brasil. Alimento a fantasia de um dia destes pegar nos filhos e na Sofia e ir fazer uma grande viagem de carro, de São Luís a Porto Alegre.

Enquanto esse dia não chega, tento perceber o que se passa lendo a Veja, visitando sites brasileiro, ou espreitando os canais que por cá existem.

Ora, no presente isso não chega.

De repente, as notícias encheram-se de um Brasil diferente, um país que protesta nas ruas, como a Grécia e a Turquia, com cartazes e cânticos e lutas com a polícia de choque. 

Como um dique que rebenta, a multidão, como diz uma minha amiga brasileira, "meteu o foda-se" e saiu protestando, assobiando, culpando os poderes políticos. 

No princípio, a justificação era "o preço dos transportes públicos", foi essa a primeira narrativa. Depois, surgiu a "a indignação contra os custos dos estádios de futebol", aproveitando a Taça das Confederações.

Mas logo se deu nova metamorfose na narrativa, nascendo um "protesto geral, contra a corrupção, a imoralidade, a falta de limpeza e moral da classe política". Ou seja, uma questão de regime, de apodrecimento das instituições.

Também ouvi que a culpa era do fim da bonança económica, que bafejou o Brasil na última década, da crise que já morde as pessoas.

Li igualmente que estas manifestações eram o espelho de um "novo Brasil", onde a classe média já bramava por direitos e serviços de qualidade, como num país desenvolvido e já não como num país "em vias de". 

Porém, nenhuma destas explicações me satisfez. Tenho de de tentar perceber melhor. 

O que se está a passar naquele país onde a direita não existe há décadas, e a esquerda, desde Fernando Henrique a Lula, tão bem tem governado?

O Brasil merece que vamos além da superfície, das racionalizações apressadas de sociologia, ciência política ou economia.

É preciso percebê-lo também com o coração, não só com a cabeça e é isso que tenho de tentar.

publicado por Domingos Amaral às 10:34 | link do post | comentar | ver comentários (14)
 

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