Afinal, o mundo não acaba amanhã!
Ontem, o meu filho perguntou-me se eu, na sexta-feira, ia sair à noite. Assim como assim, ele preferia garantir que tinha o pai por perto, caso o mundo acabasse mesmo. Como se o fim do mundo fosse um terramoto, um tsunami, uma explosão enorme, ou qualquer coisa que o pai pudesse, com um piparote, resolver num segundo.
Que as crianças temam o fim do mundo, é compreensível e até é bom, estimula-lhes a imaginação. Agora que milhões de adultos andem a perder tempo com calendários maias e tontarias no género, está para além da minha inteligência. Como se o mundo pudesse acabar num dia determinado, e os maias, há milhares de anos, já o soubessem!
A própria noção de Fim do Mundo é um pouco absurda. É como o Pai Natal: não existe mas todos os dias há deles a passear nas ruas de uma cidade qualquer. Com o Fim do Mundo passa-se algo semelhante: não existe, enquanto conceito geral, mas todos os dias o mundo acaba para as pessoas que morrem.
Para mim, o verdadeiro Fim do Mundo é isso, a morte. Não é nada tão épico como um rebentamento geral, uma mega-terramoto, cometas a cair do espaço. Isso são patranhas de Hollywood, imaginações delirantes, efeitos especiais "spielberguianos".
Suspeito que o fim do mundo não terá nada disso, nem será assim, num dia explícito. Se o mundo tiver de acabar um dia, será de uma forma lenta, demorada, e as pessoas só darão por isso tarde demais, quando já não existirem árvores, nem pássaros, e a água não se puder beber.
Na verdade, o que as pessoas gostavam era de um Fim do Mundo para colocar no Facebook, uma coisa tipo "furacão Sandy alia-se a terramoto no Haiti e formam conjunto com tsunami na Tailândia"!
É isso que as pessoas querem: um Big Bang Instagram, um maremoto Twitter, em que milhões poderiam colocar fotos de destruição online, contentes por terem sobrevivido e aterrados com o que viam! Não vai acontecer. Ninguém fará um like na página do Fim do Mundo.
Mas, só para descansar o meu filho, na sexta-feira janto em casa.