Soares sempre foi assim: no poder um cordeiro, na oposição um Che Guevara!
Mário Soares sempre foi assim.
Aqueles que agora se espantam com as suas frases, deviam lembrar-se do que ele tantas vezes disse noutras circunstâncias.
Soares, sempre que estava na oposição, insultava tudo e todos, atacava tudo e todos, e não descansava enquanto não atirava abaixo quem estava no poder.
Era, sempre foi, um Che Guevara sem mota e sem boina, mas sempre ao ataque.
Foi assim contra Salazar, contra Marcello Caetano, contra Cunhal, contra Eanes, contra Sá Carneiro, contra o meu pai nas eleições presidenciais, contra Cavaco, contra Guterres, contra tudo e contra todos.
Ninguém se deve pois espantar que ele esteja contra Passos Coelho e, mais uma vez, contra Cavaco.
Como muitos outros políticos de esquerda, antes e depois dele, é um fanático na oposição, mas torna-se um cordeiro no poder.
Lula, por exemplo, seguiu-lhe as pisadas.
Antes de ser presidente, era um sindicalista perigoso, um metalúrgico radical, o terror da direita e dos mercados.
Quando se viu em Brasília amansou, como Soares amansou sempre, fosse em São Bento, como primeiro-ministro, fosse em Belém como presidente.
Portanto, ninguém se deve espantar com as diatribes do nosso "avôzinho Che", ele sempre foi assim.
É um coelinho Duracell de esquerda, só se cala quando as pilhas oposicionistas se gastam, e lhe metem as pilhas do poder.
A mim, a única coisa que me espanta é que Soares diga agora tão mal da "troika" e do Governo, quando foi ele que convenceu Sócrates a pedir a vinda da "troika".
Ainda se lembrará o nosso "avôzinho Che" do telefonema que fez a Sócrates, obrigando-o a pedir o resgate de Portugal?
Pois é, nessa altura e como muitos portugueses, Soares não percebeu nada e não percebeu o que implicava a chegada da "troika" e das políticas de austeridade, não é verdade?
Eu compreendo o seu arrependimento posterior, mas a verdade é que, quando tudo isto começou, onde estava o "avôzinho Che"?
Pois é, estava do lado errado, e quis a "troika" em Portugal...
É por essas, e por outras, que eu há muito que já não ligo ao que ele diz.