Ulrich é a Pepa Xavier da nossa banca
Fernando Ulrich está a candidatar-se a grande provocador do ano. Primeiro foi o célebre "aguenta", e agora, não satisfeito com a primeira calinada, lá veio a segunda, comparando os portugueses a "sem-abrigos"! Isto de ser banqueiro e rico, ao que parece estraga a cabeça de uma pessoa.
Eu tenho um problema com os provocadores. Quando oiço Arménio Carlos, o líder da CGTP, a falar em "roubos", "greves" ou "direitos adquiridos", apetece-me logo ser de direita liberal, e mandá-lo bugiar.
Mas, quando oiço Fernando Ulrich, a dizer que o país "aguenta" mais austeridade, e que se os "sem-abrigo aguentam os portugueses também aguentam", apetece-me logo ser do MRPP e desatar a pintar paredes contra o grande capital.
Os provocadores despertam em mim instintos destes, opostos, e Ulrich, que parece um homem inteligente, não resiste a falar demais, e não teve o bom senso para sequer lamentar a sua primeira declaração.
Ele podia lamentar-se, dizer que o primeiro "aguenta" não lhe saiu bem. Um pouco de humildade não lhe fazia mal. Nada disso. Em vez de recuar, insiste e espalha-se ao comprido. Então agora os portugueses são tipo "sem-abrigos"? Sim, senhor, muito bem visto, muito fino o raciocínio do nosso Ulrich.
Um pouco antes da Revolução Francesa, a rainha Maria Antonieta ficou célebre também pela sua falta de lucidez. Quando lhe vieram dizer que o povo, nas ruas, estava faminto e pedia pão, ela arqueou a sobrancelha e perguntou: "E porque é que não comem brioches?"
Ulrich, obviamente, não é nenhuma Maria Antonieta, nem vai acabar guilhotinado, mas lá que entrou para o Top 2013 do ridículo, ai isso entrou. Com a sua declaração sobre o povo e os "sem-abrigo", Ulrich esteve à altura de uma verdadeira Pepa Xavier da banca nacional. Só faltou o tom de voz queque...