Soares é o bisavô zangado e rezingão que está ao canto da sala

Desde que deixou de ser Presidente da República, há quase vinte anos, que a carreira política de Mário Soares entrou em lenta, mas permanente, decadência.

Depois das candidaturas falhadas ao Parlamento Europeu e a Belém, Soares limita-se a intervir na vida política através das palavras.

Fala, fala muito, fala sobre tudo e sobre nada, e usa um radicalismo verbal que espanta em muitos casos.

Desta vez, atacou Cavaco Silva, chamando-lhe "salazarista convicto"!

 

 

Nem vale a pena tentar racionalmente explicar esta adjectivação, mas vale a pena constatar que é mais um remate ao lado.

Sim, doutor Soares, mais uma vez falhou o golo.

É que, se há coisa que Cavaco não tem sido, é salazarista!

Salazar mandava em Portugal, tinha convicções profundas, dava ordens graves, mantinha o regime controlado pelo seu pulso de uma forma autoritária, perseguindo os inimigos.

Cavaco salazarista? Nada mais longe da verdade.

Não manda, pouco influencia, fala mal, tem intervenções infelizes, perdeu carisma, autoridade e influência.

Ou seja, tudo ao contrário de Salazar. 

 

Como arma política, as diatribes do doutor Soares são cada vez mais ineficazes.

Ele, que nos seus tempos foi um político hábil, contundente, certeiro, capaz de arrastar multidões atrás de si, hoje não é nada disso, e limita-se a parecer um incontinente verbal, que não fica calado porque não quer.

Ora, dá-me a sensação que, não só Soares perde muito do seu prestígio, como parece violentamente frustrado com o facto de ter envelhecido.

A ideia que fica é que ele não lida bem com a ausência de poder que hoje tem, e por isso tem de ser cada vez mais radical nas suas palavras para ser ouvido.

Se eu berrar com mais força, pode ser que alguém me oiça, parece ser essa a estratégia permanente de Soares.

 

A verdade é que isso não resulta.

Ninguém muda os seus comportamentos políticos só por causa dos "soundbites" de Soares.

Nem no PS, nem no resto do país.   

Há quem já não o suporte, há quem ainda tenha ternura por um velho combatente, mas para a maior parte das pessoas este radicalismo verbal, esta matraca que não pára, é apenas ligeiramente incómodo.

Soares é o bisavô zangado e mal disposto, que está sentado ao canto da sala que é a democracia portuguesa.

As pessoas ouvem os seus berros, e depois encolhem os ombros, como quem diz: pronto, lá está ele outra vez com as manias dele.

Apetece perguntar: já bebeu o seu chá, já fez o seu xixizinho?

Então porque é que está tão maldispostinho, bisavô Soares?

Vá lá, está aqui a sua bengala, vamos dar um volta ao jardim, apanhar sol...

 

Churchill disse um dia que, em democracia, todas as carreiras políticas acabam mal, pois ou acabam com uma grande derrota, ou acabam com a morte.

Esqueceu-se de dizer que podem acabar também como a vida de muitas pessoas, que envelhecem devagar e lentamente, castigando-nos com berrarias exageradas e caprichos inúteis, que nós somos forçados a aturar.

 

publicado por Domingos Amaral às 10:21 | link do post | comentar