O Médio Oriente é uma esquizofrenia geral, mas criminosos são criminosos
Logo após os atentados de Paris, muitos foram os que não tiveram dúvidas.
A culpa disto tudo é de George W. Bush e da intervenção no Iraque, que lançou a região no caos.
Se fosse tão fácil de explicar, seria simples, mas não é.
Se há coisa que não falta no Médio Oriente são culpados, existem para todos os gostos.
Quem começou tudo? Foi o Xá da Pérsia ou o Khomeni? Foi o Saddam ou o Ben Laden? Foi o Bush ou o Arafat? Foi Israel ou o Assad?
Não há maneira de encontrar um rasto de lógica em quase nada, no Médio Oriente.
A balbúrdia dura há seculos e ninguém tem as mãos limpas.
A esquerda adora culpar a América e Israel, e ninguém no seu juízo perfeito pode contestar que ambos têm muitas culpas. Porém, não são os únicos.
A culpa é de Bush? Sim, mas também é da Al-Qaeda e dos iraquianos, dos xiitas e dos sunitas, do Irão e da Rússia, de Assad e das milícias sírias em revolta.
Culpados são os curdos e a Turquia, os mujahedins e os taliban, os egípcios e os líbios, os israelitas e os palestinianos, o Qatar e a Arábia Saudita, a França e a Inglaterra, o Hamas e o Hezbolhah, e por aí fora.
Arranjem-me um país inocente na região, uma potência local que tenha as mãos limpas, um grande país mundial que nunca lá tenha metido o bedelho!
Se há coisa certa no Médio Oriente é que aquilo é uma esquizofrenia absoluta, onde os amigos de hoje são os inimigos de amanhã e onde todos já apoiaram, de uma forma ou de outra, as matanças cíclicas da região.
Quem queira culpar uns mais que os outros, pode ficar a sentir-se muito bem, mas não acrescenta nada.
Desta vez há porém algo novo: o Estado Islâmico, ou ISIS, ou Daesh, ou lá como se chama a coisa, tem características especiais de selvajaria e não tem comparação fácil.
As atrocidades que esse movimento tem cometido no Iraque e na Síria são inimagináveis.
Ainda a semana passada ouviram-se notícias do fuzilamento de centenas de crianças, a sangue-frio.
O nível de brutalidade deste movimento é único e infelizmente é por isso que ele se tornou tão forte e tão popular entre os seguidores.
Para nós, europeus e ocidentais, é difícil de compreender que existam pessoas que sonham com o califado, que adoram cortar cabeças e matar gente, e que desejam destruir a civilização ocidental.
Mas elas existem e passeiam-se nas ruas de Paris de Kalashnikov aos tiros.
Estão dispostos a tudo, são criminosos treinados para matar e não vão parar.
É essencial que a Europa perceba que está perante um movimento bárbaro, que junta o regresso à violência medieval com as novas tecnologias e armas do século XXI.
Perante tal ferocidade, não podemos continuar a fazer de conta que os terroristas podem circular livremente, entrar e sair pelas fronteiras europeias e nada lhes acontece.
Se há coisa que me causa perplexidade é essa: como é que a Europa permite que voltem a entrar pelas suas fronteiras homens que vão à Síria, ao Iraque, ao Iemen, à Líbia, fazerem cursos de pós-graduação em terrorismo?
A complacência e a tolerância com estes selvagens tem de acabar.
Se perseguimos pedófilos, traficantes e serial killers, porque é que deixamos a porta aberta para terroristas?
São criminosos e é como criminosos que têm de ser tratados.
O resto é conversa.
A culpa do Bush, a vaga de refugiados, a má integração dos imigrantes, a guerra da Argélia, a crise económica da Europa, os bairros da periferia de Paris, é tudo muito interessante para nos entretermos em longos debates, mas não muda o essencial.
Crime é crime, assassinos são assassinos, e são eles que têm de ser combatidos e impedidos.