O estranho "Perdoa-me" de Passos Coelho
Ontem à noite, Passos Coelho deu uma entrevista à SIC onde, entre outras pérolas, se saiu com uma espécie de "Perdoa-me".
A dada altura, o primeiro-ministro disse que "lamenta profundamente" a forma como a austeridade e o ajustamento prejudicou as pessoas.
Só faltou pedir desculpa, ou como antes se dizia no programa da SIC dos anos 90: "perdoa-me".
Sim, parecia um pedido de perdão, um lamento honesto, e por uns segundos quase fiquei tentado a acreditar que ele estava genuinamente arrependido de ter praticado tantas políticas erradas.
Porém, rapidamente perdi as ilusões.
Ao longo da entrevista, Passos Coelho mantém firme a sua crença que é preciso prejudicar ainda mais as pessoas, pois o que ele já fez não é suficiente.
E, com requintes de malvadez, lá vai dizendo que os cortes supostamente transitórios vão ser substituídos por outros, agora permanentes, e que serão isto e aquilo, mais ou menos, ele ainda não sabe bem, não leu os relatórios, mas sim haverá correções, etc, etc.
Ou seja, aquele "perdoa-me" é absolutamente falso.
Engane-se quem acha que Passos Coelho está a fazer isto tudo por causa da "troika".
Nada disso, ele genuinamente acredita que a única maneira de o Estado gastar menos é cortar pensões, salários, e portanto prejudicar seriamente a vida das pessoas.
Para ele, não há outra forma, e isso é bom.
A questão que fica é: se ele acha que isso é bom, porque é que lamenta o prejuízo das pessoas?
Ele acha que é importante prejudicar as pessoas, porque o Estado lhes está a pagar demais.
Mas, se acha isso, porquê lamentar-se? Quem pensa ele que engana?
Na verdade, Passos Coelho está muito contente com o resultado do ajustamento, e não quer saber dos "danos colaterais" ou mesmo dos "danos primários".
Ele veio para provocar danos às pessoas, não para lhes dar mimos. E gosta de ser assim.
E é por isso que ele é tão popular em certas áreas da direita moral e da direita dos interesses.