O BES derreteu, parabéns Banco de Portugal!
Como aqui previ, há duas semanas, o Estado vai ter de entrar a sério no BES.
Os últimos meses já faziam adivinhar que a situação ia acabar muito mal.
Basta ler um pouco da história das crises bancárias, seja cá, na América, ou noutros países, para perceber que toda a gente estava a cometer os erros de sempre.
Passos Coelho mandava bocas, a dizer que aquilo era um problema "privado", que o Estado não ia meter-se.
O Banco de Portugal emitia comunicados, todas as semanas, a dizer que o BES estava "sólido".
E a imprensa fazia um festim com as más notícias, enquanto milhares queriam era ver a família Espírito Santo atrás das grades!
Ora, ninguém parece ter percebido que se estava perante um gravíssimo problema, para a economia portuguesa e para o sistema bancário nacional.
O BES é só o maior banco privado português, não é algo com que se possa brincar.
Os governantes e o Banco de Portugal deviam ter-se lembrado que também Bush decidiu não salvar o Lehman, e foi o que se viu, o maior colapso financeiro desde a segunda guerra mundial.
Quando estamos a falar de um banco tão importante para o sistema bancário de um país, convém não ser inocente, nem irresponsável.
Porém, o país parecia num teatro de tontos.
Os últimos meses são um chorrilho de asneiras do regulador, uma trapalhada desmiolada dos principais accionistas, um delírio para os abutres e para os especuladores profissionais, e uma irresponsabilidade permanente do Governo.
Como é que alguém acreditou, e muitos acreditaram, na história de que era possível separar os problemas do BES dos problemas do GES (Grupo Espírito Santo)?
Que raio de imprensa económica é a nossa, que julga que está a ter momentos de glória, quando está a afundar um sistema bancário?
Que raio de Governo é este que não percebe que não pode lançar bocas demagógicas, dizendo que não vai ajudar "famílias e negócios de amigos", quando se está perante o maior terramoto da história bancária de Portugal?
A crise do BES entrou directo para o número 1 do top das crises financeiras portuguesas.
Em dois meses, o valor do banco derreteu.
Os culpados deste desastre são muitos, a lista é espantosa.
Sim, a família, isso é óbvio.
Mas também o Banco de Portugal, que pilotou esta crise como uma criança de três anos guia um bólide, sem qualquer noção.
E o governo, os liberais que vão ter de engolir tudo o que disseram, e voltar usar o Estado para salvar o que resta do BES, para estabilizar um sistema bancário à beira de um ataque de nervos.
E nem quero falar em certos comentadores que se julgam heróis e não passam de carrascos...