Cavaco é um "ganda" maluco!

O que quiz fazer e dizer Cavaco, ontem à noite?

Indigitar Pedro Passos Coelho era um gesto esperado, e consistente com a prática política portuguesa.

A surpresa não foi essa.

Mesmo sabendo que Passos dificilmente terá um programa aprovado no parlamento, Cavaco decidiu que valia a pena tentar.

Nada a dizer por aí.

 

Contudo, ao criticar duramente o PS, o Bloco e o PCP, o presidente deu a entender que jamais nomeará um governo apoiado pelas três forças de esquerda.

Com isso, elimina uma segunda solução possível para o Governo de Portugal.

Ao insistir que Bloco e PCP não apoiam a Europa e a Nato, Cavaco anula uma hipótese viável, sem dar qualquer alternativa.

 

Mas, o erro maior foi o apelo à desunião do PS.

Ao falar na consciência individual dos deputados, o presidente deu o seu aval à revolta no PS, tentando que a ala dos seguristas se afastasse de Costa, votando a favor do Governo de Passos Coelho.

Ora, os partidos são entidades que não gostam de ser atacadas, e quando o são, têm tendência para se unirem à volta do líder.

 

Assim foi com o PS.

Horas depois da comunicação de Cavaco, já o PS dizia que ia chumbar o governo de Passos, e até os moderados, como Assis, consideravam inaceitáveis as palavras do presidente. 

O "boomerang" regressou e bateu na cara de Cavaco.

 

Em resumo: o discurso do presidente dividiu ainda mais as águas, afastando cada vez mais as forças de direita das forças de esquerda.

Agora, ou se está de um lado, ou se está do outro.

Contudo, esta clarificação não adianta nada.

O que fará Cavaco, se Passos for chumbado na Assembleia?

Mantém em gestão o governo, sem Orçamento, até que seja eleito novo presidente?

 

A outra hipótese é a nomeação de um governo de iniciativa presidencial.

Cavaco chamaria alguém de fora dos partidos, para governar o país durante seis meses.

Mas, quem apoiará esse mal amado governo?

Nem a direita nem a esquerda o quererão fazer...

 

O discurso de Cavaco lançou Portugal numa guerra política sem precedentes.

Os próximos tempos serão divisionistas, duros e complexos para todos.

A direita está radicalizada e unida, a esquerda está radicalizada e unida.

E a eleição presidencial vai transformar-se também numa guerra entre esquerda e direita.

Um dos principais prejudicados do discurso de Cavaco foi Marcelo, e o maior beneficiado foi Sampaio da Nóvoa.

 

Se a intenção de Cavaco era deixar a presidência da República com um governo da sua área política em São Bento e um presidente da sua área política em Belém, acho que fez tudo errado.

Passos vai ser derrubado, e quem sabe se Marcelo não começou a perder as eleições.

Ontem, Cavaco foi mesmo um "ganda" maluco. 

 

publicado por Domingos Amaral às 10:29 | link do post | comentar