BES: falharam as estratégias de todos, desde Salgado a Bento.

O BES vai ficar para a história como um falhanço coletivo e generalizado de todos os que o podiam ter salvo.

Falhou Ricardo Salgado e a sua estratégia, falhou Ricciardi, falhou Carlos Costa, falhou o Governo e falhou Vítor Bento.

O traço comum é que todos tinham uma estratégia para resolver o problema, e todas as estratégias falharam.

 

Ricardo Salgado foi fugindo para a frente.

Queria manter-se ao leme, queria a ajuda do Estado, queria salvar o BES e o GES ao mesmo tempo. 

Falhou rotundamente.

Nem ficou ao leme, nem salvou o GES e o BES, nem teve a ajuda do Estado a tempo.

A sua estratégia "Resistir até ao fim" colapsou e agora terá de arcar com as suas responsabilidade.

 

Ricciardi tinha uma estratégia diferente, a da confrontação do primo.

Propôs-se como candidato à liderança do GES e do BES, quis mudar o líder, mas nunca o conseguiu.

Nem ficou ao leme, nem evitou o colapso do GES e do BES.

Falhou também, e nem o facto de dizer "Eu é que avisei" o salva neste naufrágio colectivo e familiar.

Nota-se a sua frustração, o seu ressentimento, o seu acinte, mas isso não serve de nada.

 

Carlos Costa também falhou.

A estratégia do governador era o "Cerco do Animal".

Desde meados de 2013 que vinha cercando Ricardo Salgado, de forma lenta mas persistente.

Começou pela questão da idoneidade, depois passou ao GES, tentando isolar o BES, de seguida quis retirar a família do BES aceitando Vítor Bento, mas acabou com um banco em cacos.

Nunca fez um confronto direto com Salgado, talvez por receio de desestabilizar o sistema bancário.

E a verdade é que o seu cerco a Salgado foi demasiado lento, e depois tudo se descontrolou.

Portanto, Carlos Costa falhou também, pois não conseguiu evitar uma crise sistémica e o colapso do BES.

A solução final encontrada já foi tardia.

 

O Governo também falhou.

A estratégia de Passos era dizer que não tinha nada a ver com o assunto.

Eram assuntos privados, o Estado não tinha de se meter, o contribuinte não ia gastar um cêntimo com o BES.

Não quis nacionalizar, como pedia o PCP, nem emprestar dinheiro da "troika", como pediam muitos.

Como se sabe, esta estratégia também falhou.

Perante o colapso do BES, o Estado foi obrigado a emprestar 4,9 mil milhões de euros ao Novo Banco, para ele poder nascer.

Ninguém sabe quanto isso custará ao contribuinte, mas todos sabemos que vamos pagar pela trapalhada, além dos custos indirectos para a economia portuguesa.

 

Por fim, Vítor Bento também falhou.

Foi convidado a meias, o ponto de equilíbrio entre Salgado e Carlos Costa para tentar salvar o BES.

Queria falar verdade, expor os prejuízos, e capitalizar o BES com dinheiro da "troika".

De repente, tudo lhe fugiu do controle, e a separação entre banco bom e banco mau não era o que desejava.

A sua estratégia ruiu mais depressa do que ele pensava, e saiu pela porta dos fundos sem honra nem glória.

 

É esta a história do BES: a história de colossais falhanços de toda a gente, desde a gestão à família, desde a supervisão ao governo. 

É evidente que há graus de gravidade diferentes, mas todos falharam, essa é que é essa.

 

 

 

publicado por Domingos Amaral às 11:55 | link do post | comentar