Barroso não deixa saudades
Durão Barroso despediu-se de presidente da Comissão Europeia com um discurso carregado de auto-elogios, e grande satisfação pelo que fez em dez anos no cargo.
É natural que ele faça o seu auto-marketing, mas a verdade é que deixa poucas saudades.
Por mais que ele diga que não, Barroso nunca foi uma força determinante nos destinos da Europa.
E, quando escolheu um rumo, normalmente escolheu mal.
Durante a crise europeia, quando muitos lhe diziam que a austeridade não ia resolver a crise, Barroso foi sempre a reboque da Alemanha, e das suas teses castigadoras e violentas.
Defendeu e apoiou os programas das "troikas", que correram muito mal, deixando as economias de rastos, e sem resolverem o problema das suas dívidas excessivas.
Em vez de promover uma solução europeia forte e duradoira, como mais união política, um governo europeu, e a mutualização da dívida e da segurança social, Barroso sempre cedeu às fúrias austeritárias de Merkel e Schauble.
Depois, quando tudo correu muito mal, sobretudo em 2011 e 2012, foi dos últimos a perceber que as taxas de juro das dívidas públicas de quase todos os países europeus só desceriam quando o BCE interviesse, e nunca o exigiu.
Foi mais um dos náufragos que Mário Draghi salvou.
Entretanto, foi durante estes dez anos que a Europa se dividiu mais, que os partidos radicais e extremistas europeus mais cresceram, que o Reino Unido mais se afastou, que a Rússia cresceu e quase invadiu a Ucrânia, que o Islão se tornou mais agressivo, depois de uma estúpida invasão americana que Barroso tanto apoiou.
Olha-se para a Europa e pergunta-se: o que fez Barroso por ela de significativo?
Admito que nos bastidores tenha evitado desastres, e que tenha lutado na sombra por convencer estes e aqueles, sobre isto ou aquilo.
Mas, nem foi um homem poderoso, nem foi um homem influente.
Andou quase sempre a reboque de outros, de Rehn, de Merkel, de Sarkozy, de Schauble, e pouco ou nada disse que possamos relembrar.
Tentou ser a bissetriz entre fortes e fracos, entre ricos e pobres, entre devedores e credores, e acabou não sendo nada de muito relevante.