As várias desgraças e derrotas do Benfica
A derrota de ontem do Benfica contra o Sporting, clara e inequívoca, foi o ruir final das ilusões sobre a qualidade da equipa.
Depois do que se passou, já ninguém tem dúvidas.
Este ano, o Benfica não tem, nem um grande plantel, nem um grande treinador, preparado para voos destes.
Contudo, a derrota de ontem não aconteceu por acaso.
Ela é a consequência lógica de uma série de erros e apostas de alto risco, feitas pelas direção do Benfica.
O primeiro erro, é agora óbvio para todos, foi ter dispensado um treinador bicampeão nacional, chamado Jorge Jesus.
Sim, Vieira errou em tê-lo deixado à solta, mas é preciso dizer que muitos outros na Luz desejaram isso mesmo.
Moniz, Gomes da Silva, Rui Costa, Luisão, e muito mais gente, estavam fartos de trabalhar com Jesus, e queriam correr com ele.
A famosa "estrutura" rejeitava-o, e rejubilou quando ele partiu.
Ora, está à vista que a estrutura, sem Jesus, tem graves deficiências.
Foi ele que ergueu o Benfica a um patamar onde não tinha estado em várias décadas.
Não foi a "estrutura", e para quem pensava o contrário, os factos são avassaladores.
Em 11 jogos oficiais, o Benfica já leva 5 derrotas, três na Liga, uma na Champions e a Supertaça.
Pior era difícil de imaginar.
Esta situação quase confrangedora é uma consequência clara do segundo erro da "estrutura".
Ao escolher um treinador que nunca treinara um grande, a estrutura aumentou ainda mais o risco da época.
Rui Vitória é um cavalheiro, e até acredito que venha a ser um grande treinador, mas ainda não o é.
Não tem nem um curriculo admirável, capaz de atemorizar os adversários, nem um estilo combativo e agressivo, capaz de provocar mossa nos "mind games".
Dizer que o Sporting "são onze jogadores, mas não uma equipa", foi um dramático erro de principiante.
Como é evidente, teve de engolir uma humilhação no relvado, e já está há três meses a levar baile de Jorge Jesus.
Contudo, Rui Vitória não é o principal responsável de uma época que, no campeonato, está praticamente perdida.
O terceiro grave erro da estrutura foi quando decidiu "desinvestir".
Para quem viu passar pela Luz jogadores do calibre de Aimar, Saviola, Cardozo, Ramires, Di Maria, David Luiz, Fábio Coentrão, Matic, Enzo Pérez, Markovic, Lima, Rodrigo, olha-se para o onze actual e é quase deprimente.
Tirando três bons jogadores, Júlio César, Gaitan e Jonas, o resto ou são assim-assim - Jardel, Samaris, Pizzi, Jimenez, Mitroglu -, ou são muito fracos - Eliseu, Sílvio, Luisão, André Almeida - , ou são meros projetos de futuro, como Gonçalo Guedes.
E, por falar em jovens, apresente-se o quarto erro da "estrutura".
Fazer da aposta no Seixal uma bandeira é bonito, mas é arriscadíssimo, sobretudo quando isso se faz ao mesmo tempo que se muda de treinador e que se desinveste em bons jogadores estrangeiros.
Querer fazer tudo na mesma época foi uma tolice que o Benfica já está a pagar caro.
A não ser que se dissesse claramente que não íamos ser campeões no prazo de dois anos, preparando os sócios para uma travessia lenta mas necessária, a aposta dá no que se está a ver.
Mas se julgam que apenas isto correu mal, desenganem-se.
As desgraças não acabam no futebol.
Nos departamento jurídico e de comunicação, o Benfica tem dado tiros nos pés atrás uns dos outros.
Quem foi o brilhante génio que decidiu pedir 14 milhões de euros de indeminização a Jesus?
O absurdo da quantia descredibilizou o processo, em vez de o tornar sério.
Parece uma brincadeira de marketing, não uma verdadeira justa causa.
E, se a ideia era desestabilizar JJ, está à vista o fiasco da tontaria.
E que dizer do verdadeiro desastre que são as presenças televisivas de vários benfiquistas?
Que dizer dos embaraçosos "vouchers" de refeições?
Quando a estrela do Benfica é, não um jogador ou um treinador, mas um comentador televisivo quezilento e agressivo, como Pedro Guerra, está tudo dito.
Este ano, o objetivo máximo do Benfica é ser odiado?
Só nos faltava mesmo a UEFA ter-nos colocado em pena suspensa.
Basta uma "tocha" atirada por um energúmeno e lá virão os jogos à porta fechada, para nossa imensa vergonha.
Até o único motivo de alegria da época, vencer em Madrid, teve de ser ensombrado com selvajarias...
A verdade é esta: têm sido cinco meses de total desastre no meu clube.
Era bom que alguém parasse para pensar e esse algém tem de ser o presidente.
Por isso aqui lanço uma pergunta: presidente Vieira, acha mesmo que estas estratégias arriscadas e trapalhonas nos levam a algum lado?