Segunda-feira, 25.03.13

O país dos ex-políticos sempre ativos

Está a imaginar um dia abrir a TVE e dar com Zapatero como comentador político? Ou um dia ligar a Fox e aparecer-lhe George W. Bush a perorar sobre os acontecimentos da semana? Ou Sarkozy, por exemplo na TF1, a dar palpites sobre a política francesa?

É provável que isso nunca aconteça em países como Espanha, França ou Estados Unidos da América, mas em Portugal é a coisa mais comum do mundo. Abre-se um canal de televisão qualquer, público ou privado, e lá está um ex-político a elucidar-nos com as suas augustas opiniões relativas ao estado da nossa Nação.

Muda-se de canal, e lá aparece outro ex-político, da mesma ou de outra cor, a presentear-nos com a sua magnífica prosa.

Nas televisões portuguesas há uma verdadeira praga de ex-políticos a darem opiniões, uma overdose de malta que um dia teve a sua oportunidade na política e as coisas não lhe saíram bem, e portanto saltou para os canais televisivos, e passou a massacrar os espectadores com as suas ideias, numa espécie de vingança por não terem tido sucesso como políticos. 

Assim, de repente, e só de memória, eis a lista de ex-políticos que temos de aturar todas as semanas nas televisões portuguesas. Dois ex-primeiro-ministros, Santana Lopes e Sócrates; vários ex-líderes do PSD, como Marques Mendes, Ferreira Leite e Marcelo Rebelo de Sousa.

Há também três ex-bloquistas com sortes diferentes na vida: Francisco Louçã, Fernando Rosas e Daniel Oliveira; alguns políticos do PS, como António Costa e o regressado Jorge Coelho. Outros do PSD, como Paulo Rangel ou Morais Sarmento, e ainda outros do CDS, como Bagão Felix. Isto para não falar nos que estão em pousio há mais tempo mas que também foram políticos, como Pacheco Pereira e Lobo Xavier.

Na verdade, Portugal é o país dos ex-políticos sempre activos. Um político em Portugal não sai da política, nunca sai. Se o obrigam pelo voto a deixar o seu lugar, logo ele se ressuscita a si próprio com a ajuda dos canais de televisão, e entra-nos uns tempos depois pela casa dentro, com um sorriso na cara e uma magnífica opinião sobre o mundo, que obviamente deseja partilhar connosco.

Somos, de facto, um país muito original. No entanto, não deixa de me preocupar a promiscuidade que isto revela entre os canais de televisão e os políticos. Na verdade, parece que há mesmo uma relação muito boa entre a política e o jornalismo televisivo. Boa demais...    

publicado por Domingos Amaral às 10:56 | link do post | comentar | ver comentários (11)
Sexta-feira, 15.02.13

"The Walking Dead" e os nossos "mortos-vivos"

Passei a terça-feira de Carnaval a ver a série de "The Walking Dead", e é uma coisa bastante viciante. Passa na Fox e na quarta-feira recomeçou a 3ª temporada, para alegria dos milhões de fãs por esse mundo fora.

A ideia dos "mortos-vivos" não é propriamente original no cinema, nem em televisão, mas mesmo assim a série é muito boa. Uma espécie de praga de "mortos-vivos" espalha-se pelo mundo, e os humanos são atacados por hordas de seres que caminham devagar, e os tentam matar, à dentada.

O pior é que se um humano for mordido, ou se morrer por qualquer outra razão, transforma-se de imediato num "morto-vivo", o que obriga os outros humanos a matá-lo, com um tiro ou uma catanada na cabeça, pois só assim os "mortos-vivos" morrem mesmo.

Este cenário dantesco e apocalíptico é o pano de fundo da série, mas o importante não são os "mortos-vivos", mas os humanos, que tentam sobreviver em grupo, fugindo dos monstros que os perseguem. E, no grupo de humanos, há os bons e os maus, os que aguentam e os que não aguentam, os que traiem e os que são leais.

Na terceira temporada, há também uma pequena cidade, que conseguiu construir umas muralhas para se defender dos "mortos-vivos", e onde existe um Governador, uma espécie de político tirano, que é muito mau, e que não quer humanos a fazerem-lhe concorrência. 

É evidente que "The Walking Dead" é uma série de terror, e quem não gosta do género dificilmente gostará da série, mas quem gosta fica normalmente um fã fiel e atento. Por vezes, é difícil convencer as meninas da família para verem a série, mas os homens - eu e o meu filho - lá conseguem e ficam colados, como que viciados neste mundo aterrador de mosntros sangrentos.

Na verdade, a série não é sobre isso, mas sim sobre como podem os humanos sobreviver em situações difíceis, e o que elas mudam o carater das pessoas. A coragem, a resistência, a confiança, a lealdade, a mentira, o egoísmo humano, são os ingredientes principais da série, para além dos efeitos especiais de terror e da excelente caracterização.

De certa forma, "The Walking Dead" é também uma espécie de estranha metáfora sobre um mundo que está submetido a grandes calamidades. Às vezes, tenho a sensação de que a Grécia, e também um pouco Portugal, já estão num mundo de "mortos-vivos". Somos uma espécie de zombies económicos, todos as tentar sobreviver, mas nem sempre é fácil, pois há sempre uns monstros que nos dão umas dentadas nos rendimentos...

publicado por Domingos Amaral às 12:00 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Sexta-feira, 04.01.13

Adoro (e odeio) a Dona Doroteia!

Como todos sabem, sou um fã incondicional da telenovela Gabriela. Os diálogos são fantásticos, o enredo magistral, os personagens soberbos, os atores e as atrizes quase todos muito bons. Mas, é preciso reconhecer: sem a Dona Doroteia, a Gabriela não seria a mesma!

Qualquer boa telenovela, como qualquer bom filme, tem de ter maus! E a Dona Doroteia é má como as cobras! Como uma talibã, ela vigia Ilhéus, para garantir que "a moral e os bons costumes" são respeitados. Faz mexericos, lança intrigas, apresenta denúnicas, espia quem lhe parece suspeito, e nunca baixa a guarda, arrasando todos com a sua bengala e com a sua virtude. Dona Doroteia quer ser tão boa que é má. 

Mas, não é uma má qualquer. É má mesmo, é verrinosa, malévola, castradora, vingativa, e além disso tudo, ainda é gulosa, o que é a única qualidade que lhe podemos ver em tantos episódios. Mulheres adúlteras, invertidos, quengas, meninas namoradeiras ou maridos cornudos, todos são atingidas pelo veneno permanente de Dona Doroteia e suas aliadas. 

A interpretação de Laura Cardoso é simplesmente fenomenal. Consegue que a odiemos, que tenhamos raiva dela, que lhe desejemos mal, e isso diz bem da força do personagem. Só com uma má tão má é que os outros, à sua volta, podem ser bons. Aliás, basta-lhes serem um bocadinho melhores que ela para já serem bons. 

Como é evidente, este pilar da moral conservadora, maligno e doentio, tinha um segredo. Soube-se esta semana que Dona Doroteia foi quenga na juventude, e prostituía-se alegremente e com gosto, sendo conhecida pelo seu maravilhoso e grande traseiro! Mas, se pensam que ela se calou por causa disso, estão enganados. Má como sempre, continuou igual a si própria, massacrando as mulheres mais novas e dando uma tareia ao filho, o coronel maricas.

A dona Doroteia é uma genial criação, e vou ter saudades dela e do seu "Jesus, Maria, José"! 

publicado por Domingos Amaral às 16:42 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Quinta-feira, 11.10.12

Cada vez gosto mais da Gabriela

Cada vez gosto mais da telenovela Gabriela, que a SIC emite de segunda a sexta. Adoro o professor-poeta e a sua Malvina; o coronel Jesuíno e o seu "eu vou-lhe usar"; a Sinhazinha e o seu amado dentista, infiéis já descobertos pela criada chantagista; a Ivete Sangalo como Maria Machadão; o Beto que desvirginou a noiva que perdeu os pais num acidente, e com quem ele já não quer casar; a mulher do Tonico Bastos que lhe adora morder as nádegas; o próprio Tonico Bastos, que faz do Bataclan o seu cartório; a Jeruza que se apaixona pelo Mundinho; o Mundinho que desafia o poder do coronel Ramiro Bastos; o coronel Ramiro Bastos que chama "deputado de merda" ao filho; o coronel Melck, sempre pronto para mandar matar alguém; o Juvenal que é virgem e joga às cartas com a puta; a Gabriela que gosta de papagaios, de saltar ao eixo com as crianças, e não quer vestir sapatos nem ouvir falar em casar; e o Nassib, o "meu turquinho", apaixonado pela natureza bela, em estado puro, que vê na sua cozinheira, a mulher cravo e canela.

Sim, adoro Ilhéus, a sua política primitiva, a sua Igreja, os seus cafés, a sua cachaça que fala em vez de falarem as pessoas, os seus mexericos e intrigas, as manhas das mulheres e os truques dos homens; adoro as expressões, a reinvenção do português que nos ensinam, com os seus "chamegos", as suas "quengas", os seus "cabras". O livro que Jorge Amado escreveu já era uma obra de arte literária, mas a Globo conseguiu, pela segunda vez, transformá-la numa obra prima televisiva. No mundo das telenovelas, esta Gabriela reinará para sempre no Olimpo, onde só existia, até agora, Roque Santeiro. Mas Gabriela consegue ser ainda melhor!

Num país massacrado pelas más notícias, que bom é perdermo-nos todas as noites naquele universo fantástico do Nordeste brasileiro, que bom é emocionarmo-nos, que bom é rir, que bom é comovermo-nos, que bom é excitarmo-nos com aquela dança sexual permanente, que bom é voltar às origens básicas e primárias que existem dentro de cada homem e de cada mulher. Quem não ama a telenovela Gabriela é porque já morreu por dentro...  

publicado por Domingos Amaral às 11:00 | link do post | comentar | ver comentários (5)
Terça-feira, 18.09.12

A Gabriela contra a Casa dos Segredos

Começou esta semana em Portugal a grande batalha televisiva do ano, que coloca frente a frente dois monstros sagrados da nossa televisão. De um lado, a Gabriela, o remake da mais famosa telenovela da Globo, a primeira a ser emitida no Portugal livre nascido da revolução de Abril de 74. Do outro, a Casa dos Segredos, o mais espantoso monumento nacional produzido no Portugal do século XXI para o pequeno ecran.

De um lado e na SIC, "as putas" do Bataclan, com a Maria Machadão, a Zarolhinha, e um harém de fru-frus, coxinhas e mamocas ao léu. Do outro e na TVI, as boazonas com ar de putéfias, nascidas na obscuridade das casas de alterne ou de bares manhosos do país profundo, cujo sonho de futuro é colocarem mais mililitros de silicone nas mamonas!

De um lado vão estar os coronéis agressivos, putanheiros e arrogantes, que dominavam o Nordeste do Brasil há mais de cem anos. Do outro, vão estar os musculados exemplares nacionais, lusitanos de pura gema, com pinta de segurança de discotecas e expressões de grunhos analfabetos, que dominam a noite de Portugal.

De um lado vai estar o erotismo picante das mulatas, o desejo de fornicação permanente, a alegria das putas e dos maridos infiéis, o terror dos conservadores e dos católicos. E do outro vão estar hectolitros de mamonas a quererem sair dos decotes, danças sexuais com calças a comprimirem órgãos genitais, pérfidos jogos de encornanços e traições, famílias em sofrimento com os seus heróis privados, o terror dos conservadores e dos católicos.

Que belo combate televisivo. E ainda por cima, em ambos os programas é difícil compreender o que dizem os personagens. Na Gabriela, há o sotaque carregado do Nordeste, pretas, putas, senhoras e coronéis falam um dialecto quase incompreensível. Na Casa dos Segredos, há os pontapés na gramática, as expressões de um calão inculto que invadiu a nação, os microfones que emudecem aos soluços, e às vezes, tipos e tipas que comem e falam ao mesmo tempo, só para atrapalhar o nosso entendimento. É claro que eu prefiro a Gabriela, prefiro as mamocas às mamonas. Mas, não resisto a espreitar a Casa dos Segredos. Nunca tão poucos fizeram rir tantos!

 

 

publicado por Domingos Amaral às 11:48 | link do post | comentar | ver comentários (5)
Quinta-feira, 06.09.12

Gabriela, Cravo e Canela

Tremo de excitação sempre que na SIC aparece a promoção do remake "Gabriela", a telenovela brasileira. É que para mim a "Gabriela" é um marco, um mito, uma lenda. A "Gabriela" foi "o" ato fundador da nossa televisão, onde tudo começou, há muitos anos. Foi a primeira telenovela que Portugal viu, estreou-se em 1975, e era um portento de erotismo, sexualidade e emoção, mas também uma belíssima narrativa. Baseada no romance de Jorge Amado, "Gabriela, Cravo e Canela", conta a história de uma mulher lindíssima e selvagem que se casa um comerciante árabe, o famoso Sr. Nassib, que entre outras coisas a obriga a calçar sapatos, o que ela rejeita com aquela que se tornou talvez a mais famosa frase nacional daqueles tempos: "sapato não, sô Nassib!" Gabriela, interpretada pela fogosa e misteriosa Sónia Braga, que tinha o sexo estampado no sorriso, era um hino à perdição, e lá em casa rapidamente os meus pais decidiram que as crianças não podiam ver aquilo. Foi a única proibição televisiva de que me lembro, mas não foi muito eficaz. Quase sempre eu e o meu irmão, com oito ou nove anos, conseguíamos furar o embargo parental e espreitar a televisão, onde se desenrolavam mil e uma intrigas, muitas delas em redor do famoso e inesquecível "Bataclan", o mais entusiasmante cabaret da história de televisão. Nem Hollywood conseguiu inventar um local tão mítico como o "Bataclan" e eu tenho pena de nunca na vida ter encontrado um sítio como aquele. Gabriela foi um hino à subversão, mas foi também provavelmente a melhor telenovela de sempre que a Globo produziu. Depois dela, vi muitas. Vi "O Casarão", vi "O Astro", "Dancing Days", "Águia Viva", e muitas mais, incluindo as mais recentes, mas só "Roque Santeiro" chegou ao mesmo patamar de qualidade, ao mesmo Olimpo televisivo, onde vive e viverá sempre "Gabriela". "O que fazemos na vida faz eco na eternidade" e só Gabriela e Roque Santeiro serão eternas e imortais. Nunca mais ninguém tomou conta do ecran como Sónia Braga tomava, nunca mais se viu uma mulher felina como ela a deixar os homens de cabeça perdida e as mulheres a rezar, com medo que ela lhes roubasse os maridos. Estou ansioso para ver o "remake" e espero que Juliana Paes esteja à altura. Pelas imagens que tenho visto agrada-me, embora seja uma ousadia atrevida fazer concorrência aos mitos. Mas não vou perder, ai isso não vou. E vou estar lá, no "Bataclan", todas as noites, fiel freguês de um mundo fascinante e imaginário, que nos enfeitiçou para sempre.     

publicado por Domingos Amaral às 12:33 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Quinta-feira, 30.08.12

Passos Coelho e a RTP

Passos Coelho esteve bem acalmar a "histeria" sobre a RTP, a expressão é dele. E disse o que tem de ser dito. Primeiro, que é importante sabermos que serviço público queremos ter. Segundo,que é importante saber quanto dinheiro queremos gastar com ele. São exactamente esses os dois pontos fundamentais da questão. Pela minha parte, quero uma RTP 1 que faça aquilo que os privados não fazem bem, e não o que eles fazem. Não faz sentido o Estado gastar o nosso dinheiro com concursos, filmes de Hollywood, jogos de futebol, ou séries de segunda categoria. Isso existe a granel nos canais privados e no cabo. Só faz sentido a RTP fazer informação, nacional e regional; fazer revelação, documentários, etc; fazer recordação (memória); e fazer ficção nacional de qualidade, nomeadamente séries históricas que os privados não fazem porque são muito caras. Assim, parece-me que chegava perfeitamente ter um canal aberto (RTP 1) e depois ter quatro canais no cabo (RTP 2, RTP Memória, RTP Informação, e RTP ficção). A RTP África e a Internacional podiam ser substituídas por estes canais nos satélites, que ninguém perdia nada com isso. E para pagar um canal aberto e quatro no cabo chegam perfeitamente os 160 milhões de euros que o Estado ganha com o pagamento da taxa de televisão. Neste cenário, a RTP 1 não devia ter publicidade, e devia ser vendida mais uma licença a um operador privado, para tomar o lugar da RTP 2 nos canais abertos.  

publicado por Domingos Amaral às 10:30 | link do post | comentar
Sexta-feira, 27.07.12

SIC Mulher

 

Hoje vou estar no programa "Entre Nós", na SIC Mulher, por volta da meia-noite e meia. Foi cerca de uma hora de entrevista, muito bem conduzida pela Adelaide de Sousa, e uma das vezes que mais gostei de aparecer na televisão. Ainda por cima tive uma bonita de surpresa, com a presença de alguns amigos em directo. Obrigado Sofia e obrigado SIC Mulher.

publicado por Domingos Amaral às 14:03 | link do post | comentar
Terça-feira, 24.07.12

Frente fria

Estavam a candidatar-se a melhores férias dos últimos dez anos, mas subitamente ao início do décimo primeiro dia, o tempo pregou-nos uma partida. Eis que apareceu uma frente fria, carregada de nuvens, e a temperatura desceu para aí dez graus, estando agora na casa dos vinte e cinco graus celsius. É uma contrariedade complexa, pois sem bom tempo torna-se difícil enfiar as crianças na piscina ou na praia, têm frio, e então há que procurar alternativas para elas, o que nem sempre é fácil. Maldita frente fria, és pior e incomodas mais que maus programas na televião. 

publicado por Domingos Amaral às 12:27 | link do post | comentar
 

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