Quinta-feira, 27.09.12

Um casal e as 50 sombras de Grey

Estavam lado a lado, na cama. Ela lia as "50 Sombras de Grey", ele consultava o seu iPad. De vez em quando, ela suspirava, mas ele nem ligava, pois sentia que já não existia entre eles muito "chamego", como diz a Zarolinha da telenovela Gabriela. Continuaram assim, ela a ler e a suspirar, ele a ver páginas sobre gadgets na net.

Algum tempo depois ela pousou o livro à cabeceira, murmurou um "boa noite" que ele retribuiu, desligou a luz do seu candeeiro, e enrolou-se para dormir, virando costas ao marido. Este deixou-se estar, mas dez minutos depois pressentiu que ela já estava ferrada a dormir e começou a visitar sites pornográficos no seu iPad. Num deles, descobriu uma loira espectacular, de grandes pernões, seios volumosos e um sorriso malandro na cara. Sentiu a excitação a chegar e levou a mão ao baixo ventre. 

Precisamente nesse momento, a mulher soltou um gemido. Não foi um gemido qualquer, era um gemido parecido aos que ela soltava quando...Foi por isso que ele franziu a testa, surpreendido. Segundos depois, ela voltou a gemer. Ele reparou também que ela mexia a perna esquerda ligeiramente, e que tinha o punho esquerdo fechado. Aquilo enervou-o.

Num gesto brusco, pousou o iPad fechando a capa, tocou-lhe nos ombros, abanou-a, e ela acordou, estremunhada. Piscou os olhos e olhou para ele:

- O que foi?

- O que foi pergunto eu! - exclamou ele, com ar sério.

Ela piscava muito os olhos, sem perceber.

- O que eram esses gemidos? - perguntou ele.

Ela sentou-se na cama, ainda a piscar os olhos.

- Gemidos? Que gemidos?

Ele imitou-a, num tom de voz forçado e ela sorriu e mentiu.

- Eu..., eu estava a ter um pesadelo.

Ele indignou-se:

- Desculpa lá, mas isso não era um pesadelo! 

- Então? - perguntou ela, com ar inocente.

Ele respirou fundo, tentando controlar-se:

- Tu estavas a ter um sonho erótico! Parecia que estavas a ter um orgasmo!

Ela abriu muito os olhos, deu uma pequena gargalhada, quase infantil, de menina apanhada em contrapé, e reconheceu a verdade.

- Pois estava!

Ele ficou ainda mais enervado. Ela percebeu o que ele temia e tentou acalmá-lo, com mais uma mentirola.

- Mas...o sonho era contigo! 

Ele esperou, em silêncio, um esclarecimento mais detalhado.

- Estávamos a fazer amor...Eu estava de joelhos no chão e tu puxavas-me os cabelos por tráz, e possuías-me...

- Eu? - perguntou ele.

- Sim, tu...e davas-me palmadas no rabo!

Ele ficou siderado, estupefacto a olhar para ela.

- Estava a ser bom... - murmurou ela.

Ele sentiu os primeiros sintomas de apoplexia, e gritou:

- Mas eu nunca te bati! Nem nunca te puxei os cabelos!

Ela revirou os olhos, exasperada. Ele prosseguiu, exaltado:

- E como é que sabes que era eu? Segundo percebo, estavas de costas, não era?

- Sim - confirmou ela

- Então, podia não ser eu!

Ela revirou de novo os olhos, encolheu os ombros e mentiu outra vez:

- Por favor, achas que eu não sei se és tu?

Na verdade, ela não tinha a certeza. No seu sonho, parecia que quem a possuía era o herói das "50 Sombras", o Grey. Mas como ele era um herói imaginário, a quem ela não conhecia a cara, podia muito bem ser quem ela quissesse.

Mas ele não estava convencido. 

- Se calhar era o Pedro, o teu ex, de quem gostavas tanto! Ou o teu chefe, toda a gente sabe que isso acontece a muitas mulheres!

Ela voltou a revirar os olhos, o seu chefe era gordo e baixo, e o Pedro há meses que não lhe enviava sequer um sms...

- Isto é do livro... - suspirou ela.

- O quê? - perguntou ele, sem perceber.

Ela pegou no livro "As 50 sombras de Grey" e mostrou a capa ao marido.

- É muito intenso, cheio de sexo, ao pormenor...

O marido estava de novo perplexo. Então ela, num gesto brusco e sem que ele a conseguisse impedir, pegou no iPad que estava pousado ao lado dele e disse:

- Li outro dia uma crítica, dizia que era "pornografia para mamãs", vou procurar na net para te...

Ao levantar a capa do iPad, ela descobriu a foto da loira explosiva e mamalhuda. Ficou paralisada. Depois, virou-se para ele:

- O que é esta merda? Andas a ver sites pornográficos? 

Atrapalhado, ele tentou justificar-se, meteu os pés pelas mãos, balbuciou uma mentirola qualquer.

Ela levantou-se da cama, irada. Nesse momento, umas das alças da camisa de noite tombou sobre o seu ombro e desceu pelo antebraço, deixando à mostra uma parte do seu peito. Ele viu o disco do mamilo dela a aparecer e gostou.

Mas ela estava furiosa.

- Mas o que é isto? Quem é esta gaja, esta badalhoca de perna aberta?

Ele tentou pacificá-la:

- Isso não interessa, é só uma fotografia. Essas gajas são todas iguais, cheias de mamas falsas, é só silicone...Não são como as tuas, bonitas e naturais...

Ela acalmou ligeiramente, mas não quis dar o braço a torcer.

- Eu não acredito nisto, és um porco!

Ele encolheu os ombros, sorriu-lhe.

- Vá lá, não fiques assim. Tu estavas a ler um livro, eu a ver a net, cada um para seu lado, aconteceu, não tem significado especial...Vem cá. 

Estendeu-lhe a mão, e ela, com alguma relutância, estendeu a dela. Voltou à cama, embora ainda com cara de amuada.

Ele abraçou-a, beijou-a no ombro e depois na boca e disse:

- És muito melhor que qualquer dessas mulheres...

Desceu os beijos para o pescoço e depois para o peito dela, excitado. Ela murmurou:

- Cuidado, os miúdos podem ouvir...

Ele levantou-se e foi fechar a porta do quarto. Entretanto, ela pegou no iPad. A loira da fotografia deu uma volta sobre si própria, enquanto o ecran virava de vertical para horizontal. Ela fez desaparecer a galdéria num segundo, e procurou um wallpaper novo para o desktop, um fundo mais apropriado. Depois, apagou a luz do lado dele e o quarto tomou uma tonalidade vermelha, picante e sensual. Ele murmurou:

- Uau...esse livro...

Começaram a tocar-se, a amassar-se, a rolar pela cama. Quando estavam já nus, e ele se preparava para entrar dentro dela, perguntou:

- Como é que era o teu sonho?

E ela explicou-lhe.

 

 

 

 

 

publicado por Domingos Amaral às 11:49 | link do post | comentar | ver comentários (4)
Terça-feira, 11.09.12

As 50 sombras de Grey (episódio 3)

Os pontos fortes de "As 50 sombras de Gray" são os e-mails trocados entre os dois personagens. São muito bem escritos, divertidos, intensos, cheios de pormenores notáveis, e só por isso acho que o livro vale a pena ser lido. Por isso e também pela cena das palmadas no rabo. Sim, há muitas cenas de sexo, umas mais habituais - na cama, na banheira - outras mais originais - no quarto escuro, com cabedais e chicotes - mas a cena mais divertida e bem escrita é para mim a das palmadas no rabo. A meio do livro, sentado na cama do quarto dela, Grey executa o seu primeiro castigo a Anastasia dando-lhe dezoito palmadas nas nádegas, uma a uma. Mas a execução é feita de forma a não doer demais, e até a excitar fortemente a rapariga. É divertido, eu diria mesmo hilariante, e uma pessoa fica verdeiramente convencida que o sexo e a violência podem andar lado a lado e ninguém deixar de gostar. Para mim, essa é a cena mais genial, e não precisou de ser especialmente "kinky" ou mostrar Grey como um "tarado sexual". Bastaram umas palmadas de mão aberta naquele rabo giro e temos o sucesso literário do ano!  

publicado por Domingos Amaral às 12:15 | link do post | comentar | ver comentários (4)

As 50 sombras de Grey (episódio 2)

Acabei ontem à noite a leitura de "As cinquenta sombras de Grey" e deixem-me dizer que percebo perfeitamente o sucesso do livro. No fundo, tudo se resume a isto: as mulheres adoram o desafio de "mudar um homem". As mulheres olham para nós como uma espécie de homens das cavernas, uns seres animalescos, um bocado abrutalhados, e que elas têm a certeza que, com ajudinha feminina, se tornariam em pessoas muito melhores e mais correctas. Sim, elas apaixonam-se por nós, com os defeitos e as lacunas, as taras e as manias, as falhas e as limitações, a acham sinceramente que elas, com os seus talentos, serão capazes de nos mudar. É assim com Grey, que Anastasia tem a certeza que vai conseguir mudar. "Ele tem lá as suas taras, gosta de dar palmadas nas mulheres, chicotadas e fiveladas, mas no fundo é bom rapaz, e eu vou ser capaz de mudá-lo", é isso que a rapariga pensa desde o início, mesmo sabendo que é difícil. Para tal, até está disposta a ir com ele para o Quarto Vermelho da Dor, pois às vezes é preciso as mulheres serem manhosas e fazer de conta que estão a fazer o que gostam, dando de caminho a ilusão ao homem amado de que estão a fazer o que ele gosta, para no final o conseguirem mudar e acabarem com aquele disparate dos cabedais e das algemas. Eu por mim acho bem, é importante que as mulheres pensem isso, mesmo que no fim a maioria delas se desiluda...Assim como assim, sempre tiveram bom sexo, não se podem queixar demais!  
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Segunda-feira, 10.09.12

As 50 sombras de Grey (episódio 1)

As mulheres gostam de homens dominadores? É uma pergunta à qual tenciono responder nos próximos dias, aqui neste blog. Estou a ler "As Cinquenta Sombras de Grey", o grande sucesso literário do ano, uma história sobre como um homem dominador atrai e seduz uma rapariga virgem e a transporta para um universo de prazer sexual radical, com muitas algemas e chicotes pelo caminho. Como ainda não terminei o livro, não quero dar já uma opinião, apenas me fico pelas perguntas e por uma constatação, a de que um livro destes só podia ser escrito por uma mulher, e com um ponto de vista feminino. Se fosse um homem dominador a escrever, as feministas e muitas mulheres dariam cabo dele, chamando-lhe porco, sexista, maligno e muito mais. Mas, como é uma mulher a escrever, há uma certa condescendência nestes temas. Regresso à minha pergunta inicial: será que as mulheres gostam de homens dominadores? Pelo que tenho visto e ouvido, parece-me que sim, que gostam de homens que mandem nelas, que lhes saibam dar ordens, que as subjuguem, e esse é um dos segredos do sucesso de Grey e dos seus brinquedos. Mas amanhã falo mais sobre isto...

publicado por Domingos Amaral às 12:39 | link do post | comentar | ver comentários (22)
Terça-feira, 04.09.12

Traições à portuguesa (episódio 2)

Quais os tipos de traições que se podem encontrar? Depois de muito investigar, cheguei à conclusão que existem cinco tipos diferentes de traições, sejam elas praticadas por homens ou por mulheres. O primeiro tipo é a "Traição-Paixão", que como o próprio nome indica acontece quando um homem ou uma mulher se apaixonam por alguém que não é a pessoa com quem estão. É a traição mais compreensível, embora seja provavelmente a traição que mais dói aos traídos. Apaixonar-se pode acontecer a qualquer pessoa, ninguém está livre de amanhã encontrar uma pessoa que lhe acerta como um raio e que lhe muda o mundo em segundos. E se isso acontecer, é muito difícil qualquer ser humano, homem ou mulher, resistir aos apelos. O coração é assim mesmo, e quando se dá por ela, está consumada a traição. Nestes casos, não há muito a fazer. É chorar, partir uns pratos, tomar uns comprimidos, e tentar seguir em frente, isto no caso dos traídos, porque os pombinhos de certo andarão felizes, pelo menos por uns tempos.

O segundo tipo é a "Traição-Engate", que é aquela traição que acontece de forma imprevisível, numa noite, já às tantas da manhã, quando já está tudo bêbado e todos os homens parecem interessantes e todas as mulheres parecem boas. Lá estava ele, no Lux, encostado ao balcão, ela apareceu a dançar, riram-se, bambolearam-se um à frente do outro e quando deram por eles estavam no carro nos amassos, a comparar anatomias. Foi tudo muito rápido, muito intenso, ninguém se lembra bem dos pormenores, e no dia seguinte há uma dor de cabeça arreliante e também uma recordação onde se mistura a estranheza com um certo gozo. Com sorte, nem trocaram telemóveis, e o melhor é esquecer o que aconteceu, embora isso seja sempre impossível. Esta é a traição mais fácil de negar, mas se descoberta pode ainda assim trazer muitas complicações.

O terceiro tipo é a "Traição-Prostituição", que é muito mais corrente nos homens do que nas mulheres, embora aqui e ali já existam algumas que a pratiquem. É a traição quando se vai às meninas, mandar uma para esvaziar a tensão. É uma traição apenas física, normalmente os homens não se apaixonam por prostitutas, embora existam histórias dessas, que fascinam sempre pela sua improbabilidade. É a traição mais comum nos homens, mas também é que a menos consequências traz, porque as prostitutas podem falar umas com as outras mas não falam com as amigas da mulher, e por isso essa traição nunca terá perigo social de ser descoberta.

Um tipo de traição parecido é a "Traição-Avião", ou seja a traição que só existe depois de uma viagem de avião que coloca no mínimo seiscentos quilómetros de distância entre um homem e uma mulher. É a traição "no estrangeiro não conta", uma das que tem menos possibilidade de ser descoberta devido a passar-se num ambiente completamente diferente do habitual. É claro que esta traição pode ser engate ou prostituição, mas isso é irrelevante quando se está em Berlim ou Honolulu. Em casos raríssimos, também pode ser uma paixão, mas para isso é preciso muita sorte. Encontrar a Bar Refaeli num bar de Cincinatti, conseguir engatá-la, e ela ainda por cima ficar apaixonada por nós, é acontecimento com uma propabilidade mais rara do que ganhar o Euromilhões.

Por fim, existe ainda a "Traição-Patrão", que como o próprio nome indica é aquela que se passa quando a secretária se apaixona pelo patrão, ou por um qualquer homem importante para a vida profissional da moçoila. Era uma traição muito comum no passado, mas engana-se quem pense que caiu em desuso no presente. Na verdade, muitas traições com colegas de trabalho não passam de "traições-patrão", com pessoas que estão acima, ou abaixo, umas das outras na hierarquia das empresas. É a menina do marketing que se encanta com o director de produção, é a estagiária que se cega com o diretor de informática, é a diretora de vendas que estremece em palpitações por aquele rapaz giro do telemarketing, tudo isso são variações modernas da "traição-patrão". E bem sabemos como têm saída nos dias de hoje.

publicado por Domingos Amaral às 12:03 | link do post | comentar
Sexta-feira, 31.08.12

Perdoar uma traição

Homens e mulheres à volta da mesa, a conversa chega ao perturbante tema das traições. É possível perdoar? É possível esquecer? É possível uma relação sobreviver depois de um, ou ambos, terem sido infiéis? Há quem ache que sim, mas eu, que sou pessimista por natureza, acho que não. Para mim, é impossível esquecer, uma traição é um dano tão grave que nunca se apaga da memória. Os traídos, sejam homens ou mulheres, sentem-se humilhados, insultados, substituídos, e mesmo que amem a pessoa que os traiu, irão sempre recordar aquele dia em que foram os últimos a saber que estavam a ser encornados e o chão lhes fugiu debaixo dos pés. Nasce a raiva, não só à pessoa que nos traiu, mas uma raiva que se estende ao sexo todo. Mulheres traídas passam a odiar os homens, aquele e todos os outros; homens traídos passam a odiar as mulheres, aquela e todas as outras do mundo. Alguns nunca recuperam e tornam-se azedos. Em certas circunstâncias, dependendo da idade das pessoas, da importância que dão à família e aos filhos, pode tentar-se reconstruir a relação, e há casos em que isso se consegue. Mas a mim parece-me uma intenção impossível. Acho que a perda de confiança é irrecuperável, quem nos mentiu uma vez pode mentir a vida toda, e se aceitarmos essa situação estamos a enviar a mensagem errada ao traidor. Quem perdoa e continua, está a convidar os traidores a traírem mais outra vez. Quem trai e escapa impune, sente sempre um sentimento de orgulho individual, de auto-satisfação, e um dia voltará a sentir a mesma tentação. Não se aprende com os erros, aprende-se é a errar melhor, e assim quem traiu refina-se, torna-se ainda mais inteligente e volta a trair diminuindo as possibilidades de ser apanhado. Os seres humanos são assim, não há volta a dar-lhe. Além disso, existe nos traídos uma vontade de vingança que é uma bomba-relógio para o futuro. A vingança é muitas vezes uma necessidade, a única forma de recuperar a auto-estima perdida, e começa então o ciclo das traições. Ele traiu, depois traiu ela, ou ao contrário, e a história nunca mais acaba. Mais vale cortar o mal pela raiz e seguir em frente. Com a facilidade com que hoje se arranja outra pessoa, para quê ficar com quem nos traiu?

publicado por Domingos Amaral às 11:56 | link do post | comentar | ver comentários (7)
Quinta-feira, 30.08.12

"Comer gajas" noutras línguas

Ainda sobre a expressão "comer gajas", parece-me interessante comparar o que dizem os homens e as mulheres noutras línguas que não a nossa. Os de língua inglesa - americanos, ingleses, irlandeses, australianos - usam normalmente a expressão "fuck". A tradução todos sabem qual é, e tem a virtude de ir direta ao assunto. Não há cá comes e bebes, é "fuck" e não se fala mais nisso. No entanto, nos últimos anos, o calão americano impôs também o verbo "bang". "I´ve banged her", que é uma forma mais violenta e militar, com o seu quê de explosivo, o que não deixa de ser engraçado, pois na literatura os orgasmos são muitas vezes comparados a explosões de prazer. Já na língua francesa, o termo mais utilizado é "coucher", que é uma maneira igualmente direta de apontar para a cama, embora nem sempre seja lá que as pessoas têm sexo. Quanto aos argentinos, usam a curiosa expressão "ganchar". "Ganchaste" alguém na Argentina?, perguntou-me uma vez um deles. A ideia pegou devido à semelhança entre o órgão masculino erecto e um gancho, e embora original, não deixa de ser ligeiramente arrepiante, com um vago sabor a Freddy Kruger. Por fim os brasileiros, que são mais poéticos, usam o "transar", que é uma mistura entre "transacionar" e "deitar", e que faz sentido se pensarmos que existe no sexo uma certa transação de sentimenos e líquidos e que normalmente se pratica deitado. Mas, os portugueses são os únicos que equiparam o sexo à alimentação. É como se o maior prazer deles fosse a comidinha. A gastronomia e a culinária atingiram por cá um estatudo inalcançável, e assim um prazer supostamente ainda mais forte como o sexo é transformado numa mera refeição, com garfo e faca, e se calhar guardanapo. 

publicado por Domingos Amaral às 12:34 | link do post | comentar | ver comentários (5)
Quarta-feira, 29.08.12

As "gajas-gajo"

Na sequência do que ontem escrevi sobre os homens gabarolas, decidi escrever hoje sobre uma nova espécie de mulheres que apareceu nos últimos dez ou quinze anos e que são as "gajas-gajo". Como o próprio nome já indicia, as "gajas-gajo" são mulheres que falam como um gajo e agem como um gajo. Talvez por terem ouvido dizer muitas vezes que os homens são uns egoístas, uns infiéis e uns gabarolas, que só pensam em dormir com o máximo de mulheres possível e depois gabar-se disso aos amigos, muitas mulheres começaram a mudar os seus comportamentos e decidiram imitar os homens, tornando-se assim em "gajas-gajo". Quem as ouve, ouve-as gabarem-se às amigas dos "gajos que já comeram", ouve-as falar dos engates que tiveram ou vão ter nos próximos tempos, ouve-as classificar os homens como se eles não passassem de bifes de peru (escolhi o peru intencionalmente pois como se sabe os órgãos sexuais masculinos têm vagas semelhanças com a cabeça dos perus).

As "gajas-gajo" antigamente eram mal vistas, e apelidadas de adjetivos desagradáveis e maldosos, como "ninfomaníacas", "malucas" ou coisas bem piores. No entanto, isso foi ASC (Antes do Sexo na Cidade), a série televisiva que apresentava vários exemplos de "gajas-gajo" e que é a grande responsável pela proliferação explosiva da espécie "gaja-gajo". No presente, as "gajas-gajo" são pois um tipo de mulheres com as quais os homens têm de aprender a lidar, até porque à conta das "gajas-gajos" muitos se têm safado, e o sexo tornou-se muito mais fácil de obter para os homens. Antes, eles tinham que investir muito do seu tempo para tentar convencer uma mulher a dormir com eles. Agora, com as "gajas-gajo" é uma loucura, são elas que querem e eles nem sequer têm de perder tempo a ser sedutores. E se elas querem dizer às amigas, pois que contem, bem ou mal o que é preciso é um gajo safar-se!   

publicado por Domingos Amaral às 14:30 | link do post | comentar | ver comentários (15)
Terça-feira, 28.08.12

"Comer gajas"

Se há expressão portuguesa que me intriga é: "ando a comer uma gaja". É muito usada pelos homens portugueses, mas causa-me perplexidade pois dá-me sempre a sensação que a gaja que eles andam a comer é uma espécie de natureza morta, uma espécie de bife que se come ao almoço, ou perna de presunto a quem se vai cortando uma fatia quando dá vontade. É como se a mulher - a gaja - não tivesse vida, fosse um ser passivo, um animal morto que se limitasse a ser comido sem mexer sequer uma pálpebra. Quando um homem diz "ando a comer aquela gaja", é claro que isso é dito com orgulho, soa a vitória épica, mas a expressão coloca toda a movimentação sexual na parte do homem, é ele o activo e ela não passa do elemento passivo. É como se ele andasse a comer uma morta, e não um ser vivo, com capacidade para várias coisas, para ser comido mas obviamente também para comer. Quando um homem "come uma gaja" ele está também e ao mesmo tempo "a ser comido por ela", a refeição é mútua e não unilateral. Não faz qualquer sentido tratar as mulheres que se acabou de comer como inertes e frios camarões a quem se chupou a cabeça, ou pastéis de nata cobertos de canela que se enfiaram pela goela abaixo. É certo que há algo de animalesco no sexo, mas caramba neste caso os animais estão vivos e para grande felicidade e sorte nossa, também nos comem de volta! Em certos casos, a mulher pode tratar-se de uma coelhinha, muito dada ao sexo, ou de uma cabrita que dá pinotes, ou mesmo de uma porquinha que faz de tudo com um sorriso nos lábios. Mas está sempre viva e não morta. Portanto, os homens devem rapidamente substituir a expressão "ando a comer uma gaja" pela expressão "aquela gaja e eu andamo-nos a comer que nem uns desalmados". É mais preciso, e também mais cavalheiresco.  

publicado por Domingos Amaral às 14:40 | link do post | comentar | ver comentários (156)
Quinta-feira, 23.08.12

Os homens "amorosos"

A pior coisa que as mulheres podem dizer de um homem não é que ele é um cabrão, um egoísta, um mulherengo, nem sequer um paneleiro. A pior coisa que as mulheres podem dizer de um homem é que ele é "amoroso". Se algum dia uma mulher disser isso de um homem, tal significa que ele não tem qualquer hipótese com ela, que não sente um pingo de desejo por ele e já o colocou na gaveta VSSA (Vamos Ser Só Amigos). Se uma mulher disser que um homem é um egoísta ou um cabrão, isso significa que ele já a comeu, uma ou mais vezes, mas não está a fim de a comer só a ela e quer andar na boa a comer outras. Se uma mulher disser que um homem é um mulherengo, isso quer dizer que tem vontade de o comer, mas também receio. Até se decidir, ela vai andar sempre com um pé atrás e outro à frente, em luta entre a força carnal e a força mental, e por isso vai dizer que ele é um mulherengo, como quem diz "estou doida por te saltar para a espinha mas tenho um terror de morte pois acho que me vais deixar logo depois de me foderes". Quando uma mulher diz que um homem é paneleiro, ela diz isso com alguma pena mas sem qualquer raiva, pois para ela já não conta como hipótese de cama. Agora, mau mesmo é ser "amoroso". Ser "amoroso" é pior do que ser paneleiro, porque o paneleiro não é sequer considerado, e o "amoroso" é considerado por uns minutos e depois é desconsiderado, pois não tem qualquer ponta por onde se lhe pegue, a não ser a amizade, que neste caso se limita a uma espécie de prémio de consolação. Um gajo "amoroso" é um gajo que não dá tesão às mulheres, não lhes causa fraquezas nos joelhos, não provoca nós nas gargantas nem dores de estômago. É uma simpatia doce, um urso de peluche com pilhas permanentes, mas que para mais não serve. Ser "amoroso" é o fim da linha, é o desastre maior que pode acontecer a um pobre homem que goste de mulheres. Eu não sei com quem os amorosos acabam por namorar (provavelmente com a raríssima espécie, quase em vias de extinção, das "mulheres amorosas"), mas sei que raramente seduzem mulheres interessantes, giras e vivaças. E sabem porquê? Porque os amorosos anulam o seu instinto sexual! Na ânsia de serem gostados esquecem-se de ser homens, assexuam-se socialmente na presença das mulheres, e o resultado é um desastre: as mulheres gostam deles mas só para companhia, o que significa que se calhar mais valia serem gays. Pelo menos assim comiam alguém.

   

publicado por Domingos Amaral às 10:38 | link do post | comentar | ver comentários (46)
 

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