Segunda-feira, 08.10.12

Percentagem de vitórias

Desde há uns anos para cá, os ingleses inventaram uma nova forma de medir o sucesso de um treinador, a que chamaram "win percent", ou percentagem de vitórias. Para obter esse número, devemos somar dois pontos por cada vitória e um por cada empate, e depois dividir o total pelo número máximo de pontos que se poderia obter. Por exemplo, se um treinador já conduziu uma equipa em 30 jogos, dos quais venceu 20, empatou 5 e perdeu outros 5, ele obteve 40 pontos em vitórias (20x2), mais 5 pontos em empates, ou seja 45 pontos, num total de 60 pontos possíveis (30x2). Assim, a sua percentagem de vitórias será de 45/60, ou seja 75 por cento. 

Apliquemos este conceito a FC Porto e Benfica este ano. O FC Porto já fez seis jogos para o campeonato, tendo obtido 4 vitórias e 2 empates. Venceu também a Supertaça, e os seus dois jogos na Champions. Tem pois 7 vitórias e 2 empates, o que dá 16 pontos em 18 possíveis, ou seja uma percentagem de vitórias de 88,8%, da qual se pode orgulhar Vitor Pereira, pois é bem alta. 

Já Jorge Jesus está um pouco abaixo disso. Tem 4 vitórias e 2 empates no campeonato, mais um empate e uma derrota na Champions. Ou seja, conseguiu 11 pontos em 16 possíveis, o que dá um "win percent" de 68,75%, consideravelmente abaixo do de Vítor Pereira.  

Além disso, o FC Porto marcou 19 golos em nove jogos (média de 2,1 por jogo) e sofreu 4 golos nos mesmos 9 jogos (média de 0,44 por jogo). Já o Benfica, marcou 16 golos em 8 jogos (média de 2 por jogo) e sofreu 8 golos em oito jogos (média de 1 golo por jogo).

Portanto, embora ainda só tenham existido poucos jogos, as estatísticas levam-me a pensar que o FC Porto continua mais forte que o Benfica, pois vence mais jogos, marca mais golos e, sobretudo, sofre menos golos.

O que me vale é que, nesta altura da época, a estatística ainda não significa muito.


 

publicado por Domingos Amaral às 11:49 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Terça-feira, 02.10.12

Camões no Purgatório

Há uns dias atrás, estava Camões no Purgatório sentado a um canto, com o cotovelo pousado no joelho e o punho a segurar o queixo, de cara fechada e sombria. No seu habitual passeio diário, passou por ele John Fitzgerald Kennedy (JFK para os amigos), antigo presidente americano, e perguntou:

- Então, pá, que é essa cara?

Camões encolheu os ombros, mas não disse nada. JFK, sempre dado a pequenas provocações, avisou-o:

- Olha que essa posição de mão no queixo, pensativo, à Rodin, não é nada original. E sabes como o gajo é picuinhas, vai ficar irritado se te vir a copiares a sua obra-prima.

Camões desfez de imediato a postura, suspirou e explicou-se:

- Estou farto que me citem fora do contexto. É uma mania dos portugueses. A gente escreve uma obra prima da literatura lusitana, e depois tem de aturar, ao longo de séculos, gente que usa e abusa das nossas palavras!

JFK riu-se:

- A quem o dizes! Mas, quem é que usou mal os teus versos?

Camões encolheu de novo os ombros:

- Não é ninguém de importância, é o primeiro-ministro actual, um tal de Passos Coelho. Como deves imaginar, eu já vi muitos a mandar em Portugal, já aqui estou há séculos. Mas, não deixo de ficar incomodado. Sempre que eles fazem disparates, lá aparecem as citações do velho poeta zarolho! Lá aparecem os meus "ventos", as minhas "tempestades", como se eu estivesse do lado deles, ou tivesse escrito o que escrevi a pensar neles...

JFK, brincalhão, provocou-o outra vez:

- É pá, é a imortalidade, é esse o prémio! A malta escreve uma coisa e o nosso povo fica a repetir isso pela eternidade fora! Não é razão para ficar deprimido!

Camões percebeu o ponto de vista dele e admitiu:

- Tens razão, um homem não se pode enervar com estas coisas. Mas, caramba, escrevi tanta coisa bonita e eles só se lembram das tormentas, do Velho do Restelo...Livra, que neura de gente!

JFK sentou-se ao lado dele. Reparou que o olho direito de Camões continuava ausente, e lamentou que não houvesse maneira de alguém concertar as mazelas das pessoas. Ele, por exemplo, tinha ainda a cabeça furada por uma bala, o cérebro à mostra, um horror. A parva da Jaqueline nem se chegava ao pé dele, agora que tinha um nome grego. 

- Olha...é Camões, não é? 

Camões acenou com a cabeça, confirmando o seu nome. JFK prosseguiu:

- Comigo é o mesmo. Lembras-te do que eu disse no meu discurso de tomada de posse, quando fui investido Presidente? 

Camões desculpou-se, era velho demais, não se lembrava. JFK arqueou as sobrancelhas, achou estranho, mas não comentou aquela falha cultural grave do português. 

- Aquela célebre frase "não perguntes o que o teu país pode fazer por ti, pergunta antes o que tu podes fazer pelo teu país", sabes?

Camões animou-se, conhecia a frase:

- Sim, claro. Mas isso é teu? Pensei que fosse do Churchill! Do gajo do charuto, esse é que tinha jeito para tiradas dessas.

JFK ficou paralisado de raiva um segundo, mas rapidamente se disciplinou. Por ordem de Deus, tinha frequentado na semana anterior um curso de "Contenção Emocional", para não ser tão incontinente nas suas paixões. Respirou fundo e esclareceu:

- Não, essa frase é minha, 100 por cento.

Depois tossiu:

- Bem, aqui só entre nós, na verdade a frase não é minha, mas do gajo que escrevia os meus discursos. Mas, isso agora não interessa. O que eu te queria dizer é que também me passam a vida a citar fora do contexto. Sempre que algum político quer impor sacrifícios excessivos ao seu povo, lá vem a minha citação, para justificar tudo. É uma aberração. Na verdade, aquela citação foi feita com uma intenção: começar a preparar os americanos para irem lutar para o Vietnam...Estás a perceber? O que "tu podes fazer pelo país", ir à guerra...Era evidente não era?

Camões não achava assim tão evidente, mas não o quis contrariar. Afinal, JFK podia enviar pessoas para uma guerra, poder que ele nunca tivera.

Entretanto, distraídos como estavam, os dois não se deram conta que haviam chegado perto deles duas personagens. Uma era Martin Luther King, outra era Churchill, o tal do charuto. Este último, ao ouvir a justificação de JFK, murmurou para Luther King:

- Vá lá, não estavam a falar de mulheres...

Camões e JFK olharam os dois ao mesmo tempo para cima e viram a dupla recém-chegada. Saudaram-se todos, e Camões justificou-se:

- Estavamos a falar de citações nossas retiradas do contexto.

Churchill deu umas baforadas no charuto e sorriu:

- O reverendo King que me perdoe, mas fazia mais sentido estarem a falar de mulheres. Um escreveu sobre a Ilha dos Amores, o outro viveu nela a vida toda!

Camões e JFK abriram um enorme sorriso, mas o antigo presidente americano viu que Luther King estava sério, e desfez o sorriso.

Churchill prosseguiu:

- Mas, o campeão das frases fora de contexto é aqui o reverendo, não é? 

Luther King franziu a testa, sem compreender. Churchill explicou-se:

- É cada maluco a gritar por aí "I Have a Dream!!!" Dá para tudo, não é verdade? Até houve um gajo, aqui há uns anos, que fez uma música a gritar "I Have a Dream, a Wet Dream"! 

Camões, JFK e Churchill deram uma violenta gargalhada e obviamente que Martin Luther King se afastou, decepcionado, convicto de que gente daquela laia não tinha emenda, nem no Purgatório. Depois de limparem as lágrimas de tanto rirem, Camões e JFK revelaram a Churchill o início da conversa, o uso de Passos Coelho dos Lusíadas, para justificar aos portugueses o estado do país.

Churchill escutou-os calado, e no final olhou para Camões e perguntou:

- Tens maneira de comunicar com o teu povo? 

Camões observou-o espantado:

- Comunicar como?

Churchill sorriu:

- Sms, Facebook, Twitter, qualquer coisa moderna...É fácil, crias uma página na net e deixas lá ideias, como se fosses tu mesmo a falar directamente. Não imaginas o número de pessoas que me lê! 

Os outros estavam incrédulos. Churchill era o maior, um espertalhão, conseguia tudo o que queria. Mesmo quando fazia qualquer coisa errada, todos gostavam dele. Mas também, desde que Roosevelt se recusava a passear fora de casa, porque estava farto da cadeira de rodas, e desde que há muitos anos Estaline fora despromovido com fúria para o inferno infinito, Churchill reinava no Purgatório, pois era o único naquele jardim que dera uma abada a Hitler.

- Sugiro o seguinte - continuou Churchill - Diz aos portugueses para "lutarem em todas as ruas, em todas as casas, em todos os campos"! Diz-lhes para "nunca se renderem"!  

Camões estranhou:

- Lutarem contra quem? Nunca se renderem a quem?

JFK sorriu, Churchill parecia ter sido apanhado em contrapé. Mas o homem do charuto deu nova baforada e afirmou:

- Ao governo, à troika, aos credores, sei lá eu! E o que é que isso interessa? O importante é que a citação seja minha, compreendes Camões? As nossas célebres palavras servem para tudo o que quisermos! É por isso que somos génios e a Humanidade nos vai recordar para sempre!

Piscou-lhe o olho e acrescentou, em voz baixa:

- Os pormenores não são relevantes!

JFK aplaudiu, entusiasmado. Deu o braço a Churchill e ambos se afastaram. Quanto a Camões, permaneceu sentado e um bocado baralhado. Mas pronto, pensou o poeta: aqueles dois eram políticos, estavam habituados a manipular as palavras, tinha de lhes dar um desconto.

 

 

 

 

publicado por Domingos Amaral às 10:15 | link do post | comentar
Segunda-feira, 01.10.12

Messi na Luz!

Já só faltam pouco mais de 24 horas para o grande Benfica-Barcelona, e o meu entusiasmo cresce a cada minuto. Que bom que é poder ver grandes jogos no nosso estádio, que provavelmente irá encher para receber o génio Messi e seus colegas. O futebol é grande também por causa desta excitação antecipatória. Como será que o Benfica vai jogar? Estará Jorge Jesus à altura do embate? Iremos enfrentar o Barça de igual para igual, ou optar pela manha? O Barça joga sempre da mesma maneira, e de uma forma tão apurada que raramente se desconjunta. São as outras equipas que se costumam adaptar ao Barça e não o contrário. Chelsea, o ano passado, e Real Madrid, seja este ano ou nos anteriores, nem esses jogaram de igual para igual com os catalães. Optaram por adaptar o seu jogo ao Barça e adaptaram-se bem, conseguindo ultrapassá-lo. Não vale a pena tentar o impossível, pois homens como Xavi, Iniesta, Villa e Messi sabem mais do que os nossos jogadores todos juntos. Portanto, o Benfica de Jesus, cujo DNA é atacante, veritiginoso, quase sôfrego, e por isso muitas vezes sofre golos e perde pontos e jogos, terá de se adaptar. Jogar à maluca, de pernas e asas abertas, é um suicídio colectivo contra o Barcelona. É preciso uma equipa que se saiba fechar, jogadores rapidíssimos a atacar o portador da bola, e expressões desse género em futebolês. É preciso ser manhoso, é preciso ser duro, é preciso ser solidário, para enfrentar o Barça. Se formos tudo isso e ainda conseguirmos dar umas estocadas de agressividade no ataque, pode ser que tenhamos a sorte de não perder. Até porque o Barça tem menos um dia descanso que nós, teve um jogo esgotante em Sevilha, e já está com a cabeça no jogo do próximo domingo, em casa contra o Real Madrid. Talvez o Benfica descubra uma janela de oportunidade...Seja como for, será certamente um grande espectáculo, que não vou perder, eu e o meu filho amanhã lá estaremos.

publicado por Domingos Amaral às 12:36 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Segunda-feira, 24.09.12

Benfica em Coimbra

A propósito do empate do Benfica em Coimbra, e das reações que têm tido Jorge Jesus e os dirigentes do clube, culpando a arbitragem de Carlos Xistra pelos pontos perdidos, lembro-me logo do provérbio "em Roma, sê romano". O que é que eu quero dizer com isto? Desde que chegou a presidente do FC Porto, nos anos 80, Pinto da Costa habituou o país às suas arengas dominicais na televisão a protestar contra os árbitros, e a verdade é que isso parece ter-lhe dado muita força. A partir desses longínquos tempos, toda a gente o imitou e começou a atacar os árbitros, para "pressionar" o sistema. A inovação de Pinto da Costa fez escola no Sporting, no Benfica, no Braga e em qualquer outro clube, mesmo das divisões inferiores. Portanto, "em Roma, sê romano". O que o Benfica faz é o que o mestre em pressionar o sistema ensinou a todos há trinta anos. O futebol português viciou-se nisto e não é possível ninguém ser diferente. Não há treinador, nem dirigente, nem clube, nem jornal desportivo, nem comentador, que escape a esta teoria populista. E mais vale começar logo a guinchar no início da época do que esperar pelo fim...  

publicado por Domingos Amaral às 16:36 | link do post | comentar | ver comentários (2)
Quinta-feira, 20.09.12

As "maminhas" da Kate

Uma revista francesa teve a ousadia de publicar fotos de Kate Middleton em "topless", o que é uma javardice indecorosa. Não é por Kate ser mulher do príncipe William, e portanto futura rainha de Inglaterra daqui a muitos anos, que o mundo inteiro tem direito a ver as suas "maminhas"! As "maminhas" da Kate não são dos seus súbditos, nem do público da revista francesa; as "maminhas" da Kate são delas, e não nossas! Só Kate as pode contemplar e tratar, como ela bem quiser, e só ela tem o direito de escolher a quem quer mostrar as suas "maminhas"!

É provável que, sendo ela casada com William, ele possa naturalmente contemplar as "maminhas" da esposa, é isso que maridos e mulheres costumam fazer. Contemplar e se quiser espalhar creme, num dia de sol, ou muitas outras coisas que lhe passem pela real cabeça. Mas sempre, sempre, com a autorização de Kate. As "maminhas" de Kate, como as maminhas de qualquer rapariga ou mulher, são delas. Não são um bem público para a malta apreciar à má fila. Só quando uma mulher decide que, por qualquer razão, deseja mostar as "maminhas" em público, é que as "maminhas" dela passam também a ser nossas e já não apenas dessa mulher.

Ora, não foi isso que aconteceu. Kate não estava na praia em Albufeira, a fazer monoquini. Nem sequer estava na piscina de um hotel, ou num iate de luxo atracado à frente de Monte Carlo. Nada disso: Kate estava numa quinta de um amigo, na piscina. Num local privado, recatada e em sossego junto do seu marido. Que haja um paparazzi troglodita que trepe a uma árvore a 800 metros de distância e a fotografe em "topless" é uma pulhice sem nome! E que revistas publiquem estas fotos é uma canalhice absurda que lhes vai custar muito caro.

Não se pode permitir que isto aconteça. Publicar as fotos das "maminhas" da Kate é o exemplo perfeito de um "media rape", uma "violação mediática". E nós, leitores, se compramos essas revistas, transformamo-nos em espectadores dessa violação. É uma brutalidade, e atenção: as "maminhas" da Kate serem ou não serem bonitinhas não é uma atenuante! Eu não vi as fotos, por isso não sei se são grandes ou pequeninas, redondas ou em forma de pêra. Isso não interessa. As "maminhas" da Kate são dela e que eu saiba ela não me quis mostrá-las.

publicado por Domingos Amaral às 11:20 | link do post | comentar | ver comentários (5)
Terça-feira, 18.09.12

A Gabriela contra a Casa dos Segredos

Começou esta semana em Portugal a grande batalha televisiva do ano, que coloca frente a frente dois monstros sagrados da nossa televisão. De um lado, a Gabriela, o remake da mais famosa telenovela da Globo, a primeira a ser emitida no Portugal livre nascido da revolução de Abril de 74. Do outro, a Casa dos Segredos, o mais espantoso monumento nacional produzido no Portugal do século XXI para o pequeno ecran.

De um lado e na SIC, "as putas" do Bataclan, com a Maria Machadão, a Zarolhinha, e um harém de fru-frus, coxinhas e mamocas ao léu. Do outro e na TVI, as boazonas com ar de putéfias, nascidas na obscuridade das casas de alterne ou de bares manhosos do país profundo, cujo sonho de futuro é colocarem mais mililitros de silicone nas mamonas!

De um lado vão estar os coronéis agressivos, putanheiros e arrogantes, que dominavam o Nordeste do Brasil há mais de cem anos. Do outro, vão estar os musculados exemplares nacionais, lusitanos de pura gema, com pinta de segurança de discotecas e expressões de grunhos analfabetos, que dominam a noite de Portugal.

De um lado vai estar o erotismo picante das mulatas, o desejo de fornicação permanente, a alegria das putas e dos maridos infiéis, o terror dos conservadores e dos católicos. E do outro vão estar hectolitros de mamonas a quererem sair dos decotes, danças sexuais com calças a comprimirem órgãos genitais, pérfidos jogos de encornanços e traições, famílias em sofrimento com os seus heróis privados, o terror dos conservadores e dos católicos.

Que belo combate televisivo. E ainda por cima, em ambos os programas é difícil compreender o que dizem os personagens. Na Gabriela, há o sotaque carregado do Nordeste, pretas, putas, senhoras e coronéis falam um dialecto quase incompreensível. Na Casa dos Segredos, há os pontapés na gramática, as expressões de um calão inculto que invadiu a nação, os microfones que emudecem aos soluços, e às vezes, tipos e tipas que comem e falam ao mesmo tempo, só para atrapalhar o nosso entendimento. É claro que eu prefiro a Gabriela, prefiro as mamocas às mamonas. Mas, não resisto a espreitar a Casa dos Segredos. Nunca tão poucos fizeram rir tantos!

 

 

publicado por Domingos Amaral às 11:48 | link do post | comentar | ver comentários (5)

Mourinho e Jesus

Para o Real Madrid, o início do campeonato tem sido penoso. Em quatro jogos, ganhou um, empatou outro e perdeu dois. Pelos vistos, ter sido campeão o ano passado criou dificuldades inesperadas no arranque desta temporada. Curiosamente, há dois anos atrás algo semelhante se tinha passado com o Benfica, que depois de ser campeão entrou na época seguinte com três derrotas e apenas uma vitória. Porém, veja-se a diferença na reação. Há dois anos, o Benfica e Jesus recusaram-se a reconhecer as culpas próprias - fraca motivação, um péssimo guarda-redes (Roberto) - e desataram a culpar as arbitragens de todos os males do mundo. Não foi isso que fez Mourinho esta semana. Não barafustou com os árbitros, nem fugiu às responsabilidades. Primeiro, revelou que muitos jogadores do Real não estavam motivados e concentrados, com "as cabeças nos jogos". Depois, disse que ele era o primeiro e o principal responsável. Em Portugal, todos deviam aprender com quem sabe ser líder. Jesus, claro, mas já agora também Passos Coelho... 

publicado por Domingos Amaral às 11:08 | link do post | comentar
Segunda-feira, 17.09.12

Deus e o Diabo

Lá diz o povo que é difícil ficar bem com Deus e com o Diabo ao mesmo tempo. Mas é isso que Paulo Portas está a tentar, numa manobra de equilibrismo perigoso. Por um lado, coloca-se do lado da opinião pública, das manifestações, dos protestos gerais contra o Governo por causa das mexidas na TSU. Diz que sempre foi contra, que não está de acordo com a medida, e que há outras soluções alternativas para cortes. Ou seja, quer estar bem com Deus. Mas por outro lado, diz que não quer provocar uma grave crise política e que portanto não bloqueia a medida, podendo mesmo aprová-la se o PSD insistir nela, só para não deitar abaixo o Governo. Ou seja, também quer ficar de bem com o Diabo, que neste exemplo metafórico é personificado pela teimosia de Passos Coelho. Mas é possível, num momento tão dramático para Portugal, adoptar esta posição de "não, não, mas se tu quiseres mesmo, então é sim"? A mim parece-me que este é um momento clarificador: ou se está a favor ou se está contra, não há espaço para meias tintas e sofisticações florentinas. É uma tentação perigosa querer o melhor de dois mundos, querer ser ao mesmo tempo "popular" e "responsável". São, neste caso e neste momento, dois objectivos mutuamente exclusivos. Ou me engano muito, ou a intervenção dominical de Portas vai dar maus resultados. Ou Deus se desilude, ou o Diabo chateia-se à séria.   

publicado por Domingos Amaral às 10:18 | link do post | comentar | ver comentários (2)
Quinta-feira, 06.09.12

Gabriela, Cravo e Canela

Tremo de excitação sempre que na SIC aparece a promoção do remake "Gabriela", a telenovela brasileira. É que para mim a "Gabriela" é um marco, um mito, uma lenda. A "Gabriela" foi "o" ato fundador da nossa televisão, onde tudo começou, há muitos anos. Foi a primeira telenovela que Portugal viu, estreou-se em 1975, e era um portento de erotismo, sexualidade e emoção, mas também uma belíssima narrativa. Baseada no romance de Jorge Amado, "Gabriela, Cravo e Canela", conta a história de uma mulher lindíssima e selvagem que se casa um comerciante árabe, o famoso Sr. Nassib, que entre outras coisas a obriga a calçar sapatos, o que ela rejeita com aquela que se tornou talvez a mais famosa frase nacional daqueles tempos: "sapato não, sô Nassib!" Gabriela, interpretada pela fogosa e misteriosa Sónia Braga, que tinha o sexo estampado no sorriso, era um hino à perdição, e lá em casa rapidamente os meus pais decidiram que as crianças não podiam ver aquilo. Foi a única proibição televisiva de que me lembro, mas não foi muito eficaz. Quase sempre eu e o meu irmão, com oito ou nove anos, conseguíamos furar o embargo parental e espreitar a televisão, onde se desenrolavam mil e uma intrigas, muitas delas em redor do famoso e inesquecível "Bataclan", o mais entusiasmante cabaret da história de televisão. Nem Hollywood conseguiu inventar um local tão mítico como o "Bataclan" e eu tenho pena de nunca na vida ter encontrado um sítio como aquele. Gabriela foi um hino à subversão, mas foi também provavelmente a melhor telenovela de sempre que a Globo produziu. Depois dela, vi muitas. Vi "O Casarão", vi "O Astro", "Dancing Days", "Águia Viva", e muitas mais, incluindo as mais recentes, mas só "Roque Santeiro" chegou ao mesmo patamar de qualidade, ao mesmo Olimpo televisivo, onde vive e viverá sempre "Gabriela". "O que fazemos na vida faz eco na eternidade" e só Gabriela e Roque Santeiro serão eternas e imortais. Nunca mais ninguém tomou conta do ecran como Sónia Braga tomava, nunca mais se viu uma mulher felina como ela a deixar os homens de cabeça perdida e as mulheres a rezar, com medo que ela lhes roubasse os maridos. Estou ansioso para ver o "remake" e espero que Juliana Paes esteja à altura. Pelas imagens que tenho visto agrada-me, embora seja uma ousadia atrevida fazer concorrência aos mitos. Mas não vou perder, ai isso não vou. E vou estar lá, no "Bataclan", todas as noites, fiel freguês de um mundo fascinante e imaginário, que nos enfeitiçou para sempre.     

publicado por Domingos Amaral às 12:33 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Quinta-feira, 16.08.12

Outra vez Luisão

Já toda a gente percebeu que Luisão vai ser castigado durante uns tempos pelo encostão que levou um árbitro ao chão. Porém, o que me parece estranho é que não se considerem as condições atenuantes da situação. Primeiro, não há uma agressão, nem sequer uma tentativa de agressão, embora possa existir uma ofensa corporal não intencional. Em segundo lugar, há evidentemente um exagero de consequência, pois o árbitro teatralizou intencionalmente, ao ponto do ridículo, as suas maleitas. Em terceiro lugar, há uma recusa clara e não justificada do árbitro em prosseguir o jogo. Já vimos situações de agressões mais graves a árbitros e eles prosseguiram o seu trabalho, não se recolheram aos balneários amuados. Esse acto do árbitro era escusado mas é da sua responsabilidade e não de Luisão. Esperemos que os orgãos competentes saibam distinguir o trigo do joio e sejam justos. O que me parece lamentável é a imprensa desportiva portuguesa tentar transformar uma comédia numa tragédia. De facto, o Benfica tem contra si forças muito poderosas e já perdeu a batalha mediática há muitos anos, embora ainda não o tenha percebido. Luís Filipe Vieira devia aproveitar as próximas eleições para dar uma "vassourada" na lamentável comunicação do clube. 

publicado por Domingos Amaral às 12:07 | link do post | comentar | ver comentários (3)
 

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