Quinta-feira, 19.12.13

As razões porque este Governo melhorou muito desde Julho

Nada como uma crise grave para obrigar um Governo a governar melhor.

O susto que Passos Coelho apanhou, quando viu Portas a fugir, e Cavaco a desejar um acordo com o PS, produziu bons resultados.

E, de então para cá, mesmo sem o dizer, o Governo tem corrigido alguns dos seus mais óbvios erros políticos e económicos.

Aqui se apresenta uma pequena lista das melhorias evidentes:

 

1 - O Governo passou a dar mais importância ao consenso político e social.

Nos primeiros dois anos, a teimosia de Gaspar e Passos conduziu a uma crispação evidente, seja com o PS, seja com os parceiros sociais.

No entanto, de Julho para cá, e mesmo apesar dos primeiros encontros com o PS terem sido inconclusivos, a verdade é que o Governo se tem esforçado por ir ao encontro da oposição e dos desejos dos parceiros sociais.

O acordo sobre o IRC é a melhor prova disso.

António José Seguro pode não ser o melhor político do mundo, mas é preferível o Governo entender-se com ele em certas áreas do que passar o tempo todo a criticar o PS.

 

2 - O Governo mudou a política orçamental e o país agradeceu.

Mesmo contrariado, o Governo foi obrigado a abandonar a política de cortes cegos na despesa, que em 2012 tão maus resultados produziram.

Para 2013, aumentou-se muito o IRS e o resultado foi..."um milagre económico"!

A recessão amainou, o desemprego começou a descer, e as receitas fiscais cresceram muito.

Ao contrário do que se passara em 2012, em 2013 a política do Governo não afundou o país, e isso fez diminuir a tensão em Portugal.

Lamentávelmente, não é certo que o Governo tenha aprendido esta lição, e para 2014 anunciam-se mais "cortes na despesa".

É pena que não se aprenda com os erros, mas se a economia melhorou, muito se deve à excelente adaptação do país ao aumento do IRS. 

 

3 - O Governo moderou os ataques ao Tribunal Constitucional

Sobretudo nos últimos meses, os ataques ao TC diminuíram, e foi executada pelo Governo uma estratégia mais inteligente, em parte de sedução, em parte de pressão internacional indireta, mas não um ataque frontal, como fizera Passos nos primeiros meses do ano.

Foi correto, e diminui a crispação.

Não se pode dizer que as culpas da má situação económica sejam do TC quando, como explicou um estudo do Jornal de Negócios, o TC deixou passar 80% da austeridade que o Governo queria aplicar! 

Veremos se hoje essa estratégia mais "soft" dá frutos positivos na questão das pensões.

 

4 - O Governo tem somado vitórias importantes nas privatizações

Depois da EDP e da Ana, vieram os CTT e em breve a Caixa Seguros.

São vitórias importantes e que melhoram as contas públicas.

Podemos discutir em teoria se é bom ou não privatizar certas empresas, mas uma vez tomada a decisão, é justo reconhecer que os objetivos estabelecidos foram atingidos. 

 

5 - O Governo desviou-se subtilmente da estratégia germânica de combate à crise na Europa

Em certos momentos, o Governo conseguiu deslocar ligeiramente das posições alemãs, mais duras; e já defendeu uma União Bancária mais profunda, ou mesmo a mutualização de certas dívidas. 

Ao mesmo tempo que a Europa se vai afastando subtilmente do nefasto discurso da austeridade (Oli Rehn, por exemplo, já diz que é preciso moderar o ritmo da consolidação!), o Governo vai também corrigindo o tiro.

 

Em conclusão: há males que vêm por bem, e Passos aprendeu muito com a crise de Julho!

publicado por Domingos Amaral às 10:29 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Terça-feira, 17.12.13

Draghi acabou com as esperanças de Passos?

Sem ser muito específico, Mário Draghi, presidente do Banco Central Europeu, foi ontem taxativo quando disse que Portugal precisará de outro programa quando acabar o programa da "troika".

O que quer isto dizer? Se bem entendi as palavras de Draghi, isto significa que ele não acredita numa solução à irlandesa, numa "saída limpa", direta para os mercados.

Portugal, apesar da melhoria da situação económica e sobretudo financeira, não terá ainda em Junho capacidades para andar pelo seu próprio pé, e portanto vai precisar de algum tipo de ajuda.

Na verdade, se formos mais precisos, teremos de reconhecer que Draghi não afasta totalmente a possibilidade de um segundo resgate, mas é suficientemente subtil para não abrir a porta a mais especulações.

Portanto, o mais provável, para o presidente do BCE, é Portugal precisar do chamado "programa cautelar", uma espécie de assistência do BCE às idas ao mercado para vender dívida.

Quais serão as regras desse programa, ainda ninguém sabe, e foi essa uma das razões porque a Irlanda quis seguir sozinha, temendo a confusão europeia.

É provável que Portugal não consiga fazer o mesmo, mas talvez seja ainda cedo para ter certezas.

Daqui até Junho ainda muita água vai correr.

Mas, se assim for e Portugal tiver necessidade de um programa cautelar, será apenas uma meia vitória para o Governo de Passos.

Sair do programa da troika é uma vitória política, mas seguir para um cautelar é menos bom, pois continuará a austeridade forte.

publicado por Domingos Amaral às 11:07 | link do post | comentar
Sexta-feira, 13.12.13

O erro do FMI e o erro de Passos Coelho

Às vezes, é preciso olhar para os números para percebermos a gravidade do que se passou em Portugal.

Eis os números da austeridade, quatro anos depois.

 

Em 2010, o PIB português era de 172,8 mil milhões de euros.

Em 2013, deverá rondar os 164 mil milhões de euros.

Ou seja, a austeridade anulou-nos mais de 8 mil milhões de euros de riqueza produzida em Portugal! 

 

Em 2010, a taxa de desemprego portuguesa foi de 10,8.

Em 2013, a taxa de desemprego portugesa deverá ficar pelos 15,8, um aumento de quase 50%.

Quatro anos de austeridade criaram mais 300 mil desempregados do que havia antes.

 

Em 2010, a dívida pública portuguesa rondava os 160 mil milhões de euros, já incluindo aqui muita coisa que na altura não estava contabilizado.

Em 2013, quatro anos depois, a dívida pública portuguesa está em cerca de 230 mil milhões de euros, um aumento de 70 mil milhões de euros!

É este o resultado de quatro anos de austeridade, Portugal tem mais 70 mil milhões de dívida do que tinha!

 

Em 2010, a taxa de juro da dívida portuguesa no mercado secundário era no início do ano de 5,5%.

Em 2013, a taxa de juro da dívida pública portuguesa é no final do ano de 5,8%.

Ou seja, para curar o trágico perigo das dívidas soberanas, estivemos quatro anos em austeridade, e a taxa de juro é agora mais alta do que quando começámos!

 

A directora do FMI, a sra Lagarde, já admitiu o óbvio, que as políticas de ajustamento cometeram muitos erros, e que os resultados foram muito piores do que se esperava, especialmente em Portugal e na Grécia.

No entanto, por cá temos um primeiro-ministro que continua apaixonado pela ideia da "austeridade expansionista", e que fica muito irritado quando ouve o FMI reconhecer os erros.

Infelizmente, Passos Coelho jamais terá a humildade do FMI, e jamais reconhecerá que as suas políticas, que ele implementou e implementa com entusiasmo, não produziram bons resultados, bem pelo contrário.

Os fanáticos de uma ideia não querem saber da realidade, querem é ter razão!

 

 

 

 

publicado por Domingos Amaral às 11:14 | link do post | comentar | ver comentários (5)
Terça-feira, 10.12.13

A estranha contradição de Passos Coelho

"O Estado deve ajudar a economia a crescer contendo a despesa".

É esta a afirmação mais forte de Passos Coelho na entrevista que dá hoje ao Jornal de Negócios, e que a publicação puxa para título de capa.

Aposto que todos os meus amigos de centro-direita assinariam por baixo, e que adoram que o primeiro-ministro diga estas coisas.

Mas, há um pequeno problema, que pelos vistos escapa a Passos Coelho e a muita gente.

É que a frase é uma enorme contradição, tanto em termos teóricos como em termos práticos, como Portugal bem demonstra nos últimos dois anos.

Vamos primeiro à teoria.

Qualquer aluno de macroeconomia, no segundo ano do seu curso universitário, sabe que a despesa do Estado aumenta sempre o crescimento económico, e que o corte na despesa do Estado diminui sempre o crescimento económico de um país.

É isto que os alunos de economia aprenderam, ao longo de muitas décadas, e não há qualquer economista considerado, em qualquer país do mundo, que ensine outra coisa.

Ou seja, na teoria económica, a frase de Passos é um aborto, nunca se "ajuda" o crescimento com cortes na despesa do Estado.

Mas, além de ser um aborto teórico, é um aborto na prática.

Veja-se por exemplo o que aconteceu em Portugal.

Em 2012, o governo decidiu fazer profundos cortes na despesa do Estado.

Cortou os subsídios de férias e de Natal aos funcionários públicos e aos pensionistas, e cortou muitos "consumos intermédios" na despesa do Estado.

E qual foi o resultado?

Como previa a teoria económica, o resultado foi uma recessão dos diabos!

Caiu o PIB, aumentou drasticamente o desemprego, e caíram também as receitas fiscais, levando a que o deficit orçamental do Estado diminuisse muito pouco, e muito menos que o Governo desejava.

E tanto assim foi que o ministro das Finanças, Vítor Gaspar, se demitiu envergonhado com os resultados.

Ou seja, o corte de 2012, ou "contenção", como lhe chama Passos, na despesa do Estado foi um brutal fiasco económico, com efeitos destrutivos sobre Portugal.

Agora vejamos o que aconteceu em 2013.

Em 2013, impedido pelo Tribunal Constitucional de repetir a dose de cortes, o Governo foi obrigado a subir muito o IRS, com o já famoso "enorme aumento de impostos".

E o que aconteceu?

Bem, o que aconteceu foi que o PIB voltou a crescer, o desemprego começou a descer, as receitas fiscais do Estado cresceram imenso, e o deficit vai reduzir muito, até podendo acontecer que Portugal consiga ficar abaixo dos 5,5% que combinou com a "troika".

Ou seja, e citando o ministro Pires de Lima, em 2013 aconteceu um "milagre económico"!

E reparem que as exportações estiveram sempre a crescer, fosse em 2012 ou em 2013, portanto não foram elas, nem as responsáveis pela queda em 2012, nem pelo aumento do PIB em 2013.

A verdade nua e crua é esta: a economia portuguesa ajustou-se muito melhor ao aumento do IRS de 2013 do que aos brutais cortes de despesa de 2012!

Isto não é uma questão de ideologia ou crença, isto são factos!

Portanto, a frase de Passos Coelho é um estranho absurdo, só explicável por uma crença política.

Ele acredita mesmo numa ideia que é um aborto teórico e num aborto prático!

É isso que é pena, pois devia haver, ao fim destes anos e com estes resultados, mais lucidez em Passos.

Se ele tivesse aprendido alguma coisa com o que se passou em Portugal, o que Passos devia dizer era: "o Estado deve ajudar a economia a crescer mantendo o IRS alto, pois era baixo demais".

Ou: "a melhor maneira do Estado ajudar a economia a crescer é não fazendo cortes à bruta na despesa".

Ou ainda: "há duas maneiras de descer um deficit, uma são os cortes na despesa, outra são os aumentos de impostos, e esta última é muito mais eficaz e não destrói tanto a economia". 

Porém, Passos parece nem perceber de teoria económica, nem sequer olhar para a realidade da economia do seu país, e em 2014 vai repetir a receita de 2012, e massacrar Portugal com mais cortes de salários e pensões.

Sendo assim, como prevê a teoria e como a prática vem mostrando, é muito provável que em 2014 entremos em nova recessão.

Lá se irá o "milagre económico" de Pires de Lima para o lixo e a frase de Passos vai mostrar, mais uma vez, o esplendor do seu absurdo.

 

 

publicado por Domingos Amaral às 11:54 | link do post | comentar | ver comentários (3)
Segunda-feira, 09.12.13

O tempo de Rui Rio ainda não chegou

Há um certo sebastianismo à volta da Rui Rio que me incomoda.

Dá a sensação que, se de repente o PSD mudasse de líder, tudo em Portugal mudaria, como se todo o mal do país fosse ter Passos Coelho como primeiro-ministro.

Nesse mal estar, cresce a popularidade de Rui Rio, como se ele fosse um desejado, capaz de tudo mudar e de governar muito melhor o país.

No entanto, não se percebe bem porque é que existe esta mitologia à volta de Rio.

Sim, foi um bom presidente da câmara do Porto, e talvez tenha mais sensibilidade social do que Passos, que provou ser demasiado liberal.

Contudo, isso não chega, nem para governar o país, nem sequer para vencer Passos no partido.

Os portugueses têm de meter na cabeça que a grande maioria das suas políticas não são determinadas por eles, mas sim por Bruxelas, ou pela "troika".

A direção geral que Portugal está obrigado a seguir, é uma direção decidida na Europa, independentemente de quem seja o primeiro-ministro da nação.

Já foi assim com Sócrates, entre 2008 e 2011, e é assim com Passos, desde meados de 2011 até hoje.

O que faria Rio, ou qualquer outro, de diferente?

Por outro lado, se Passos conseguir sair do programa de assistência directo para os mercados, hipótese possível, terá vencido politicamente em toda a linha.

Porquê então mudar?  

Mas, mesmo que as coisas não corram assim tão bem, e tenhamos de ir para um programa cautelar, porque haveria o PSD de mudar de líder?

O que poderia Rio fazer diferente que Passos não faça? 

O PSD e o CDS têm maioria na Assembleia, o presidente Cavaco não quer causar distúrbios, onde haverá espaço para Rio aparecer?

É evidente para todos sabemos que este Governo cometeu muitos erros, em muitas questões diferentes, e que há muito mal estar no país.

Mas, o que faria Rio de diferente?

Falar é fácil, manter uma aura de salvador da Pátria também, mas na realidade as coisas são muito mais complicadas, e não se vê ainda uma boa razão para Rio ser melhor que Passos.

A não ser que, daqui até Junho, aconteça um cataclismo, o tempo de Rui Rio ainda não é este.

Mais vale andar por aí do que ir à luta para perder... 

publicado por Domingos Amaral às 13:28 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Sexta-feira, 22.11.13

Soares sempre foi assim: no poder um cordeiro, na oposição um Che Guevara!

Mário Soares sempre foi assim.

Aqueles que agora se espantam com as suas frases, deviam lembrar-se do que ele tantas vezes disse noutras circunstâncias.

Soares, sempre que estava na oposição, insultava tudo e todos, atacava tudo e todos, e não descansava enquanto não atirava abaixo quem estava no poder.

Era, sempre foi, um Che Guevara sem mota e sem boina, mas sempre ao ataque.

Foi assim contra Salazar, contra Marcello Caetano, contra Cunhal, contra Eanes, contra Sá Carneiro, contra o meu pai nas eleições presidenciais, contra Cavaco, contra Guterres, contra tudo e contra todos.

Ninguém se deve pois espantar que ele esteja contra Passos Coelho e, mais uma vez, contra Cavaco.

Como muitos outros políticos de esquerda, antes e depois dele, é um fanático na oposição, mas torna-se um cordeiro no poder.

Lula, por exemplo, seguiu-lhe as pisadas. 

Antes de ser presidente, era um sindicalista perigoso, um metalúrgico radical, o terror da direita e dos mercados.

Quando se viu em Brasília amansou, como Soares amansou sempre, fosse em São Bento, como primeiro-ministro, fosse em Belém como presidente.

Portanto, ninguém se deve espantar com as diatribes do nosso "avôzinho Che", ele sempre foi assim.

É um coelinho Duracell de esquerda, só se cala quando as pilhas oposicionistas se gastam, e lhe metem as pilhas do poder.

A mim, a única coisa que me espanta é que Soares diga agora tão mal da "troika" e do Governo, quando foi ele que convenceu Sócrates a pedir a vinda da "troika".

Ainda se lembrará o nosso "avôzinho Che" do telefonema que fez a Sócrates, obrigando-o a pedir o resgate de Portugal?

Pois é, nessa altura e como muitos portugueses, Soares não percebeu nada e não percebeu o que implicava a chegada da "troika" e das políticas de austeridade, não é verdade?

Eu compreendo o seu arrependimento posterior, mas a verdade é que, quando tudo isto começou, onde estava o "avôzinho Che"?

Pois é, estava do lado errado, e quis a "troika" em Portugal...

É por essas, e por outras, que eu há muito que já não ligo ao que ele diz. 

publicado por Domingos Amaral às 10:33 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Quarta-feira, 13.11.13

Dr. Passos, isto não é uma questão de pessimismo!

Com um triunfalismo um pouco excessivo, Passos Ceolho afirmou que "o tempo do pessimismo está a acabar"!

Por vezes, tenho a sensação que está na moda este uso de explicações psicológicas e sentimentais para explicar as flutuações da economia.

É como se tudo se reduzisse a "estados de alma", "emoções", "comportamentos desviantes", coisas assim.

É evidente que a psicologia e as expectativas dos povos têm efeitos sobre a economia, mas convinha não exagerar.

A nossa crise não foi uma crise de pessimismo, nem de pessimistas.

A crise portuguesa existiu por muitas e variadas razões, e nenhuma delas foi psicológica.

Existiu porque houve uma terrível crise financeira internacional, em 2008.

Existiu porque essa crise gerou outra, uma crise do euro, a partir de 2009.

Existiu porque a crise do euro gerou a crise das dívidas soberanas, lançando muitas dúvidas sobre a capacidade de certos países conseguirem pagar as suas dívidas, e as taxas de juro subiram.

E existiu porque a linha que as troikas escolheram, e que Passos aplicou como aluno empenhado, provocou uma recessão brutal!

Reduzir tudo isso a "pessimismo" é um doce engano.

As pessoas não deixaram de consumir apenas porque estivessem "apreensivas" ou "pessimistas"!

As pessoas deixaram de consumir sobretudo porque pura e simplesmente têm muito menos dinheiro disponível agora, ou porque foram parar ao desemprego, o que é bem diferente de pessimismo...

Quem pensar que é com excitações psicológicas que tira o país da crise, está a alimentar uma estranha ilusão.

A melhoria recente da economia portuguesa não se deve a uma diminuição do pessimismo, ou a um súbito aumento de optimismo.

A verdade é que houve mais turismo, mais exportações, e taxas de juro um pouco mais baixas.

Ou seja, quem está optimista são os estrangeiros, os turistas que nos vêm visitar, os países que nos compram as exportações, e os investidores que compram a nossa dívida pública nos mercados internacionais.

Esses sim, já não estão pessimistas!

E isso melhora um pouco a nossa vida, mas não muito.

A verdade é que os portugueses, em geral, ainda não sentem grandes melhorias na sua vida.

Optimistas ou pessimistas, o pilim no final do mês continua curto.

E enquanto for assim, não há psicologia que nos valha...  

publicado por Domingos Amaral às 12:23 | link do post | comentar | ver comentários (4)
Segunda-feira, 11.11.13

Governo: há as boas notícias...e há o Rui Machete!

O Governo só pode andar contente com as últimas notícias.

O desemprego baixou um pouco, o que é bom.

Pode ser por más razões (emigração), pode ser passageiro (sazonalidade), ou por boas razões (mais turismo).

Mas, ninguém no seu juízo perfeito pode considerar isso mau para Portugal.

As exportações também continuam a crescer bem, o que é bom.

Pode ser porque há uma nova fábrica da Galp, ou porque China está a aumentar a procura, mas ninguém no seu juízo perfeito pode dizer que isso é mau, para Portugal.

As taxas de juro da dívida pública também estão a descer, o que é muito relevante.

Pode ser porque o Banco Central Europeu desceu as taxas, pode ser porque algumas agências de rating mudaram um pouco a sua opinião sobre o nosso país, ou porque o Governo é visto como mais credível.

Mas, ninguém no seu juízo perfeito pode dizer que isso é mau para Portugal.

Embora estes sinais positivos não sejam, nem de perto nem de longe, um "milagre económico", são positivos.

Porém, e infelizmente, o Governo não parece perceber três coisas.

A primeira é que a estratégia para 2013, aumentar o IRS cortando menos da despesa, parece ter sido bem menos negativa do que a estratégia de 2012, onde se cortou salários e pensões.

Ou seja, a austeridade do lado dos impostos é menos gravosa para a economia.

A segunda coisa que o Governo não percebe, é que repetir para 2014 a mesma estratégia de 2012 (cortes fortes nos salários e nas pensões), será um risco muito forte, pois pode gerar uma nova recessão.

Para quê provocar nova recessão quando os sinais de recuperação são relevantes?

Não será, digo eu, pouco inteligente voltar a cometer o mesmo erro que se cometeu em 2012?

Por fim, a terceira coisa que este Governo não parece perceber é que Rui Machete é uma tragédia de relações públicas permanentes!

Este Governo, pelos vistos, precisa de ter sempre uma maçã podre, que vai degradando a sua imagem, sem pressa, mas também sem pausas.

Na primeira fase, foi o inimitável Miguel Relvas.

Agora, é o sempre incompreensível Machete. O pobre ministro não acerta uma!

Agora até se aventurou a falar em taxas de juro, como se fosse ministro da economia ou das finanças! 

É um marreta, que só diz inconveniências, como se fosse uma tia velha que já não tem a noção das coisas...

E curiosamente, Passos parece aturá-lo exactamente como se atura uma tia velha.

Por mera caridade, não o expulsa da sala e não o mete num lar de idosos.

publicado por Domingos Amaral às 14:20 | link do post | comentar
Sexta-feira, 08.11.13

Europa: a armadilha da dívida e da deflação

Ontem, o sr. Mario Draghi, governador do Banco Central Europeu, admitiu pela primeira vez que a Europa pode estar confrontada com um novo e grave problema, a deflação!

A deflação é o oposto da inflação, é um processo continuado de descida de preços, e é tão perigosa ou mais que a inflação.

Numa deflação, as pessoas esperam que os preços desçam, e por isso não consomem, pois amanhã poderão comprar mais barato do que hoje.

Portanto, em vez de consumirem, poupam.

Assim, o crescimento económico é mais difícil, e é isso que se está a passar na zona euro, e por isso Draghi desceu as taxas de juro do BCE.

Mas, a deflação traz outro grave problema: embora os preços dos bens e dos ativos desçam, as dívidas não descem de valor, pelo contrário, há um aumento real do seu valor!

Com deflação, é muito mais difícil pagar dívidas, e é esse também o drama da zona euro, sobretudo dos países que estão muito endividados, como Portugal, Grécia, Irlanda, Espanha, Itália ou Chipre.

Porém, ninguém se deve espantar que isto esteja a acontecer.

Já nos anos 30, o economista Irving Fischer tinha escrito sobre esta situação, a chamada "armadilha da dívida e da deflação". 

Nessa armadilha, quando os países caem nela, quanto mais dívida pagam, mais devem!

Os esforços para reduzir a dívida, se forem muito pronunciados, se a austeridade for muito forte, provocam recessão, e isso leva à subida da dívida em percentagem do PIB!

É o chamado "paradoxo da desalavancagem": quando todos cortam as despesas ao mesmo tempo, isso gera uma tal contração, que todos ficam pior no fim, ainda com mais dívida.

Ao mesmo tempo, a deflação faz com que as pessoas poupem mais, e nasce o segundo paradoxo, o "paradoxo da poupança"!

Supostamente, é boa ideia poupar, ainda por cima em tempos difíceis como os que atravessamos. Contudo, se toda a gente poupar ao mesmo tempo, consome-se menos e a economia encolhe.

Lembram-se de Passos Coelho ter dito recentemente que os portugueses "tinham poupado demais"?

Pois é, tanto os assustaram, e tanto lhes cortaram o rendimento disponível, que eles se assustaram e pouparam muito, o que retraiu ainda mais a nossa economia!

São esses mecanismos que geram o sarilho em que a Europa está hoje metida.

A cruzada austeritária liderada pela Sra Merkel deu nisto: uma Europa sem crescimento económico, cheia de desempregados, e confrontada com o drama da deflação!

As fúrias contra a despesa do Estado, os ajustamentos austeritários, os programas das "troikas", conduziram a Europa a este terrível cenário.

E, pelo meio, os únicos que estão bem são os alemães, que batem recordes de excedentes comerciais, enquanto os outros se afundam em déficits.

O caminho da austeridade está a dar cabo da Europa, de Portugal e de vários outros países, e mais tarde ou mais cedo vai gerar-se um abismo entre os alemães e todos os outros. 

Ou as políticas europeias mudam, e se volta a apostar no crescimento e na despesa dos Estados, ou todo o edifíico do euro e da união monetária ficará em risco, e a divisão entre um Norte rico e um Sul pobre vai provocar um cisma poderoso!

 

publicado por Domingos Amaral às 12:36 | link do post | comentar
Segunda-feira, 04.11.13

O 1640 do Dr. Portas é um divertido delírio!

Na semana passada, Paulo Portas teve um dos seus momentos de delírio, e comparou a saída da "troika" à libertação de Portugal do jugo dos Felipes de Espanha.

2014 seria assim um 1640 financeiro, um momento épico da história do país, onde voltaríamos a ser gloriosamente independentes! 

Estas comparações históricas não deixam de ser divertidas, mas são normalmente um bocado superficiais, e não resistem a um confronto mais pormenorizado com a realidade.

Convém lembrar ao Dr. Portas que, em 1640, Portugal era um reino cujo rei era espanhol.

Depois de umas escaramuças, e de um vazio de liderança por cá, os reis espanhóis tomaram conta disto, e mandavam em nós.

A "ocupação" durou 60 longos anos, e só quando se encontrou um candidato à altura de ser rei de Portugal, é a que a coisa se resolveu, com mais uma guerra pelo caminho.

1640 foi pois um momento de libertação de uma ocupação política, militar e económica.

Ora, que eu saiba, não é isso que se passa em 2013.

Que eu saiba, Portugal não foi invadido pela "troika", contra a sua vontade.

Pelo contrário, foi o país que pediu ajuda, candidatando-se a uma resgate internacional.

E quem é que nos ajudou? 

Bem, que eu saiba, foram países que, como Portugal, fazem parte de uma entidade política comum, a União Europeia.

Que eu saiba, ninguém nos obrigou, pelas armas, a pertencer à União Europeia e ao euro.

Foi uma coisa voluntária, e bastante consensual, por cá.

Não fomos invadidos, nem ocupados, cedemos a soberania porque quisemos, e porque achámos que isso era bom para nós.

Portanto, que eu saiba, a "troika" não representa potências ocupantes, pelo contrário, representa-nos a nós mesmos, e aos nossos aliados e amigos, que responderam ao nosso pedido de ajuda.

É claro que podemos dizer que esses nossos amigos não são muito generosos, e nos obrigam a fazer coisas que nós não gostamos.

Mas dizer que isso é uma "ocupação" semelhante à dos espanhóis, é capaz de ser um pouco exagerado, não é verdade?

Acrescente-se ainda que não tenho notado que este Governo seja contra a "troika".

Bem pelo contrário, desde o primeiro dia disse que queria ir além da "troika"!

O que nos deixa um pouco perplexos, pois se a troika é uma potência ocupante, e queremos libertar-nos dela, talvez seja um pouco complicado de perceber porque é o Governo cumpre rigoramente o que a "troika" manda, e até faz mais do que o mandam.

O estranho é que, se admitirmos o raciocínio de Portas, de que estamos ocupados, então a conclusão lógica é de que Passos e Portas não passam dos meros executores da política de ocupação, e portanto são umas "marionetas espanholas", como foram muitos durante os 60 anos da ocupação dos Felipes...

Mas, a coisa é ainda mais estranha, se pensarmos que, depois de 2014, da famosa "hora da libertação", do Dia da Independência do Dr. Portas, nós vamos continuar exactamente na mesma, a pertencer à União Europeia, no euro, e a ter de fazer tudo o que eles nos mandam!

Não se consegue perceber bem onde é que estará a independência nesse dia, mas se calhar o burro sou eu!

Portanto, o 1640 do Dr. Portas vai ser o dia em que vamos...continuar exactamente na mesma, a receber ordens de Bruxelas!

Os Filipes, caro Dr. Portas, foram-se embora, corridos daqui numa guerra.

Os europeus vão continuar por cá, e a mandar cada vez mais.

Não se iluda, Dr. Portas, o dia da Independência é uma fantasia da sua cabeça.

Os senhores da "troika" podem deixar de cá vir ter reuniões, mas o senhor continuará a andar às ordens da Sra Merkel...  

publicado por Domingos Amaral às 11:30 | link do post | comentar | ver comentários (11)
 

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