Segunda-feira, 18.02.13

Um penalty no último minuto dá cá um gozo!

Há sonhos assim, que acabam com a nossa equipa a vencer com um golo marcado em cima da hora, já no final dos descontos, o que nos dá uma importântíssima vitória! Mas, ontem não foi um sonho, foi mesmo realidade! 

O jogo contra a Académica, que fui ver ao estádio da Luz com o meu filho Duarte, foi o mais difícil que lá jogámos este ano. Um jogo chato, chatíssimo, contra uma equipa desagradável e sem ambição, chatíssima, como ontem foi a Académica.

Eles não meteram o autocarro em frente à baliza, eles meteram um porta-aviões em frenta à baliza! E ainda por cima têm um bom guarda-redes, um jovem português chamado Ricardo que, ou muito me engano, ou vamos ouvir falar muito dele no futuro.

Também é verdade que o Benfica esteve um bocado perro, sem grande imaginação ou velocidade, e portanto o jogo transformou-se num sofrimento. À medida que o tempo passava, o nosso nervosismo crescia, e ao chegarmos aos 90 minutos ainda com o 0-0, já muitos comentavam que o campeonato ia acabar ali, pois o FC Porto ficaria à frente, e nós já não os conseguiríamos agarrar.

Porém, o futebol é terrível para os nervos mas é também maravilhoso, e a um minuto do fim dos descontos, um jogador da Académica comete um penalty, e o estádio explode de alegria. Lima marca bem o golo, e lá ganhamos o mais difícil jogo, com a mais saborosa vitória, aquela que se consegue a um minuto do final e ainda por cima de penalty! Melhor era impossível, e foi um justo castigo para a pior Académica dos últimos anos que vi no meu estádio.

Contudo, passada a alegria esfusiante que nos consumiu, dei por mim a pensar que o Benfica está num momento menos bom, apesar da excelente vitória em Leverkusen.

Espero que o cansaço que se sente em alguns jogadores - Ola John, Salvio, Garay - e a desinspiração de outros - Rodrigo, Maxi - não nos provoque uma quebra nesta altura. O FC Porto já nos deu uma abébia, ao empatar em casa contra o Olhanense. Mas não dá mais...

publicado por Domingos Amaral às 11:32 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Sexta-feira, 01.02.13

Joana Vasconcelos, a portuguesa genial

Portugal não tem muitos génios. Somos poucos, e onde há pouca gente há poucos génios. Homens ou mulheres.

Mas, há alguns. Joana Vasconcelos é um génio, a melhor artista plástica que Portugal viu nascer em muitas décadas, quem sabe a melhor de sempre. As suas obras já são mundialmente aclamadas e reconhecidas, e expõe em todo o mundo, do Japão a Veneza, de São Paulo a Moscovo.

Agora, soube-se que a sua exposição recente em Versailles foi a mais visitada em Paris desde 1960. Foram 1 milhão e 600 mil os visitantes da nossa Joana, que entrou direta para o primeiro lugar do top das 5 exposições mais visitadas em Paris, que inclui por exemplo os nomes de dois pintores mundialmente famosos, como Claude Monet (está em 4º lugar) ou Dali (está em 5º).

Para além da sua extraordinária criatividade, há uma qualidade que eu aprecio particularmente em Joana Vasconcelos. Ela raramente fala. É muito raro dar entrevistas, e falar sobre si, sobre a sua arte ou sobre as questões do mundo.

Como é uma artista genial, Joana Vasconcelos não precisa de comunicar connosco através de palavras. A sua arte chega, e fala mais alto que qualquer frase que ela possa dizer.

É essa humildade verbal, esse apagar do ego e da visibilidade da artista, que catapulta ainda com mais força o valor da sua arte. Os génios são assim, não precisam de nos cansar com palavreado inútil, mas tocam-nos na alma com aquilo que nos mostram, e mudam, de um momento para o outro, a nossa percepção do mundo.

Obrigado por ser como é, Joana Vasconcelos.

publicado por Domingos Amaral às 17:16 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Sexta-feira, 25.01.13

O FC Porto é o principal candidato ao título?

Agora que estamos precisamente a meio da época, está na altura de fazer um balanço. Quem está melhor, Benfica ou FC Porto?

Por mais que eu quisesse escrever o contrário, é preciso reconhecer que ainda é o FC Porto, e por isso acho que o clube azul é o principal candidato ao título.

As razões são as que passo a enumerar. Vejamos primeiro um indicador importante, a percentagem de vitórias. Chega-se a esse número dando dois pontos a cada vitória e um ponto a cada empate, somando esse total de pontos obtidos, e depois dividindo pelo total máximo que se poderia obter.

O FC Porto realizou 28 jogos, para as quatro competições e Supertaça. Conseguiu 21 vitórias, 5 empates e sofreu 2 derrotas. Ou seja, conseguiu um número total de 47 pontos em 56 possíveis, o que dá uma percentagem de vitórias de 83,9%.  

Já o Benfica realizou o mesmo número de jogos, 28, pois tem mais um na taça de Portugal do que o FC Porto mas não disputou a Supertaça. Conseguiu 20 vitórias, 6 empates e sofreu duas derrotas. Obteve pois 46 pontos em 56 possíveis, o que dá uma percentagem de vitórias de 82,1%, ligeiramente abaixo do FC Porto. 

No campeonato, o Benfica lidera pois tem melhor goal-average, e é o melhor ataque, embora o FC Porto seja a melhor defesa. Porém, o calendário da segunda volta é mais difícil para o Benfica, que tem duas deslocações de elevada dificuldade, a Braga e ao Dragão, enquanto o FC Porto só tem de ir a Alvalade, recendo Braga e Benfica em casa.

Na Europa, o FC Porto foi claramente melhor, pois continua na Liga dos Campeões, enquanto o Benfica caiu para a Liga Europa. Na Taça de Portugal, está melhor o Benfica, que já está nas meias-finais, enquanto o FC Porto foi eliminado. Na Taça da Liga estão iguais, ambos nas meias-finais, embora exista uma possibilidade real do FC Porto ser eliminado, devido a uma alegada irregularidade.

Para além disso, parece-me ainda que, no mercado de Inverno, o FC Porto se reforçou muito, contratando dois bons jogadores, Ismailov e Liedson, enquanto o Benfica vendeu Bruno César e ainda não contratou ninguém.

Acresce que, e como defendo no meu livro, normalmente quem gasta mais em salários é campeão, e o FC Porto tem também aqui uma ligeira vantagem, que deve aumentar depois da chegada dos dois jogadores já referidos.

Portanto, e em balanço, embora o Benfica esteja em quatro competições e à frente do campeonato, o FC Porto está mais forte, seja na percentagem de vitórias total, seja nos salários, seja no reforço do plantel, além de financeiramente ir ganhar mais porque continua na Champions. Por isso, é o mais forte candidato ao título e não me parece que existam razões para Vítor Pereira andar tão nervoso com as arbitragens!

publicado por Domingos Amaral às 16:18 | link do post | comentar | ver comentários (4)
Segunda-feira, 21.01.13

A queda de um herói é sempre triste

Durante muito tempo, acreditei fortemente na inocência de Lance Armstrong. O homem era, e para mim continua a ser, um herói. Tudo na história dele me comovia, especialmente a luta contra um cancro nos testículos, que ele vencera, ainda antes de se tornar um campeão da Volta à França.

Desde muito novo que gosto de ciclismo. Acompanhava o relato da rádio, ainda criança, das subidas à Torre, na Volta a Portugal, mas sobretudo das infindáveis montanhas dos Alpes e dos Pirinéus, aquando do Tour. O meu primeiro herói foi, é evidente, Joaquim Agostinho, mas também admirei Hinault e sobretudo Indurian. 

Só que Lance Armstrong parecia um ser de outro planeta, um deus do Olimpo, como só encontrei igual em Maradona, no futebol, e Jordan, no basquetebol. Parecia de outro mundo, completo como só os deuses, estético, poderoso, impressionante. E, pormenor fundamental, parecia-me simpático e cavalheiro, como nunca foi, por exemplo, Schumacher, na Fórmula 1.

O ciclismo é provavelmente o mais duro desporto do mundo. Subir montanhas àquele ritmo é coisa de seres únicos, diferentes do comum dos mortais. Nutro pelos grandes ciclistas uma admiração semelhante à que tenho pelos que atravessam a Mancha a nado, ou pelos exploradores dos Pólos. Parece-me sempre um esforço desumano, uma luta desigual contra as circunstâncias.

Nos últimos anos, o ciclismo tem vindo a destruir-se a si próprio. Já não recordo quantos vencedores de Voltas à França, Giros de Itália ou Voltas à Espanha ou a Portugal, foram desclassificados por "doping". Nem quero saber, o ciclismo parece-me já um mundo demasiado pantanoso para ter a certeza de alguma coisa.

Mas, de uma coisa estou certo. Lance Armstrong pode estar marcado hoje pela desonra e pela vergonha, mas um dia foi um deus, foi grande e por mais que lhe retirem os títulos e as vitórias, ele perdurará na minha memória como eu quero e não como querem os moralistas de hoje.

Para mim, será sempre um herói, e sempre um vencedor. E aos meus heróis eu tendo a desculpar quase tudo. Só não lhes desculpo quando morrem cedo demais, o que não foi o caso.

publicado por Domingos Amaral às 16:47 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Terça-feira, 08.01.13

O Sporting pode acabar?

O principal problema do Sporting chama-se instabilidade. Instabilidade na presidência do clube, instabilidade no banco de treinadores, e instabilidade nas políticas de gestão desportiva. No Sporting, aplica-se diariamente a célebre máxima de Pimenta Machado, uma espécie de cúmulo da instabilidade: "no futebol, o que hoje é verdade, amanhã é mentira". 

Veja-se a instabilidade na presidência. Nos últimos 30 anos, enquanto o FC Porto teve 1 presidente, o Sporting teve 10. Vários deles, nem duraram dois anos no lugar, como foi o caso de Amado de Freitas, Jorge Gonçalves, Pedro Santana Lopes ou José Eduardo Bettencourt. E o actual, Godinho Lopes, não parece ir durar muito mais do que estes antecessores.

Depois, há a instabilidade no banco dos treinadores. Em 30 anos, desde 1982, o Sporting teve 44 treinadores, se contarmos com Oceano, e Jesualdo será o quadragésimo quinto! Apenas em 12 temporadas não mudou de treinador a meio, e em certos anos, como o actual, chegou a ter 4 treinadores numa época. Nesta temporada, até Janeiro, já se sentaram no banco Sá Pinto, Oceano, Vercauteren e agora será a vez de Jesualdo. 

É claro que esta dupla instabilidade, na presidência e no banco, não trouxe nada bons resultados. O Sporting apenas foi campeão 3 vezes em 30 anos, em 1982, 2000 e 2002.

E a política desportiva foi mudando de rumo, como um imprevisível vento. Umas vezes estava nortada, outras de este, e outras ainda levante. Primeiro apostava-se na formação, depois comprava-se galáticos (Sousa Cintra); voltava a virar-se para os meninos, juntando-lhe uns brasileiros e a seguir apostava-se forte nas estrelas (Jardel e João Pinto), para mais à frente se entrar numa grande redução salarial, que impediu Paulo Bento de lutar por campeonatos.

No entanto, mal Paulo Bento saiu, logo se descobriu o dinheiro, que Bettencourt e Godinho não souberam gastar, pois não têm talento para presidentes de clubes de futebol profissionais. Quando tinha talentos, o Sporting não tinha dinheiro e por isso vendia os talentos. Quando tinha dinheiro, já os talentos tinham fugido.

Godinho Lopes é mais uma demonstração cabal de incompetência. Começa a comprar que nem um desalmado, acho que foram 19 jogadores, todos apresentados com grande fanfarra em Alvalade. Mas mal o barco abana, despede o treinador, Domingos, num absurdo de gestão impossível de compreender. De então para cá, não pára o chorrilho de disparates. Sá Pinto, Oceano, Vercauteren, todos já queimados na fogueira dos resultados.

Há quem diga que o problema é outro: não há dinheiro, e os salários já estão atrasados, por isso os jogadores não correm e não estão comprometidos com as vitórias do clube. Não sei se é verdade, mas parece. O que é verdade é que esta queda a pique é confrangedora e não se vêem saídas airosas.

Um clube grande pode acabar? Não é provável. Não se conhecem histórias de grandes clubes europeus, com muitos sócios, que tenham fechado as portas. Mas podem passar por momentos duríssimos, como foi o caso da Fiorentina e agora do Glasgow Rangers. Talvez seja necessária uma cura purificadora. Os bancos terão de perdoar a já impagável dívida, os notáveis terão de desamparar a loja, e alguém com capital e juízo terá de pegar neste zombie actual e ressuscitá-lo.

Talvez o BES possa comprar o clube, ou aterrem na Portela os russos do Bruno de Carvalho. Para um clube com tantos sócios como o Sporting, morrer não é uma opção. Mas também ninguém quer um morto-vivo, a arrastar-se pelos relvados.   

 

publicado por Domingos Amaral às 16:10 | link do post | comentar
Sexta-feira, 04.01.13

Adoro (e odeio) a Dona Doroteia!

Como todos sabem, sou um fã incondicional da telenovela Gabriela. Os diálogos são fantásticos, o enredo magistral, os personagens soberbos, os atores e as atrizes quase todos muito bons. Mas, é preciso reconhecer: sem a Dona Doroteia, a Gabriela não seria a mesma!

Qualquer boa telenovela, como qualquer bom filme, tem de ter maus! E a Dona Doroteia é má como as cobras! Como uma talibã, ela vigia Ilhéus, para garantir que "a moral e os bons costumes" são respeitados. Faz mexericos, lança intrigas, apresenta denúnicas, espia quem lhe parece suspeito, e nunca baixa a guarda, arrasando todos com a sua bengala e com a sua virtude. Dona Doroteia quer ser tão boa que é má. 

Mas, não é uma má qualquer. É má mesmo, é verrinosa, malévola, castradora, vingativa, e além disso tudo, ainda é gulosa, o que é a única qualidade que lhe podemos ver em tantos episódios. Mulheres adúlteras, invertidos, quengas, meninas namoradeiras ou maridos cornudos, todos são atingidas pelo veneno permanente de Dona Doroteia e suas aliadas. 

A interpretação de Laura Cardoso é simplesmente fenomenal. Consegue que a odiemos, que tenhamos raiva dela, que lhe desejemos mal, e isso diz bem da força do personagem. Só com uma má tão má é que os outros, à sua volta, podem ser bons. Aliás, basta-lhes serem um bocadinho melhores que ela para já serem bons. 

Como é evidente, este pilar da moral conservadora, maligno e doentio, tinha um segredo. Soube-se esta semana que Dona Doroteia foi quenga na juventude, e prostituía-se alegremente e com gosto, sendo conhecida pelo seu maravilhoso e grande traseiro! Mas, se pensam que ela se calou por causa disso, estão enganados. Má como sempre, continuou igual a si própria, massacrando as mulheres mais novas e dando uma tareia ao filho, o coronel maricas.

A dona Doroteia é uma genial criação, e vou ter saudades dela e do seu "Jesus, Maria, José"! 

publicado por Domingos Amaral às 16:42 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Terça-feira, 11.12.12

Quando a cabeça (do Sporting) não tem juízo...

Já cantava o António Variações que o corpo é que paga quando a cabeça não tem juízo, e foi disso que me lembrei ontem ao ver o Sporting-Benfica. Os leões correram demais na primeira parte, tal era a ânsia de vencer o rival, que depois pagaram um preço alto, e acabaram por ser derrotados sem qualquer dúvida por 1-3.

Na segunda parte, chegou a ser penoso ver alguns dos jogadores do Sporting a perderam bolas da maneira que perderam, por puro cansaço. Capel, por exemplo, quase não existiu depois do intervalo. No princípio, Maxi Pereira parecia estar a levar um banho de bola, mas ele é uma velha raposa, e sabia que quem corre como Capel correu em 45 minutos...Na segunda parte, era Maxi que passava por ele sem problemas.

Quanto a Carrillo, um excelente jogador, quase só se viu uma vez, quando acelerou e ofereceu a Elias um golo que Artur negou, com mais uma das suas espantosas defesas. O Sporting acabou aí, e depois só deu Benfica. Antes do jogo, na brincadeira, tinha enviado um sms a um amigo a dizer que os leões iam levar 4 na segunda parte e quase adivinhei. 

Jesus teve mais uma vez razão ao dizer que a esta corrida é a dois. Provavelmente assim será até ao final do campeonato. Benfica e FC Porto estão colados, e nenhum quer ser o primeiro a ceder.

Como digo no meu livro "Porque é que o FC Porto é campeão e o Benfica só ganha Taças da Liga?", o elemento determinante para vencer são os salários que os clubes pagam a jogadores e treinadores. Quem paga mais, normalmente é campeão.

Ora, este ano as coisas estão muito próximas. Segundos os relatórios de contas, no primeiro trimestre desta época, o FC Porto gastou 11,7 milhões de euros em salários e o Benfica 11,2, o que os coloca quase lado a lado na possibilidade de ser campeão.

Talvez por isso, a igualdade de resultados é a norma. Até agora, o FC Porto disputou 21 jogos (11 para o campeonato, 6 para a Champions, 3 na Taça de Portugal e a Supertaça). Ganhou 16, empatou 3, e perdeu 2, o que dá uma percentagem de vitórias de 83,3 por cento. Para calcular este número, a vitória vale 2 pontos e o empate um, e depois é preciso dividir pelo total de pontos em 21 jogos (35/42). 

Já o Benfica disputou apenas 19 jogos, pois falta-lhe um na Taça e não disputou a Supertaça. Desses, venceu 13 jogos, empatou 4 e perdeu 2. Ou seja, conseguiu 30 pontos em 38 possíveis, o que dá uma percentagem de vitórias de 78,9 por cento, já mais próxima da do FC Porto, e melhor que há um mês atrás. Portanto, a coisa está mesmo renhida! 

publicado por Domingos Amaral às 11:55 | link do post | comentar | ver comentários (13)
Quarta-feira, 07.11.12

Lá vai formoso e bem Seguro

Há um ano, confesso, não dava nada por ele. António José Seguro nunca perdera completamente aquele ar de "jotinha", rapaz que começara cedo a aparecer na televisão e a falar de política, mas não crescera, mantendo ainda um "look" um bocado imberbe, em que era difícil confiar.

Além disso, e apesar de nunca ter apoiado José Sócrates, qualquer líder do PS que lhe sucedesse carregava o fardo pesado da responsabilidade por muitos e gritantes erros de política e de economia. Seguro, ou outro, tinham (e ainda têm) gravado na testa esse ferrete, e por isso parecia que ao PS só restava o papel de espetador calado, embraçadamente comprometido com a governação de Passos Coelho, que não podia nem evitar nem alterar. 

Contudo, os erros de Passos Coelho, em apenas um ano e meio, foram de tal ordem, que Seguro tem vindo a crescer na vida política nacional, e ontem declarou mesmo na SIC que "está preparado". Para governar, entenda-se, o que poderia parecer um absurdo, visto que esta legislatura ainda não chegou sequer a meio, e o governo PSD-CDS tem maioria absoluta parlamentar, mas só não é um absurdo porque o desnorte do governo é de tal ordem, e a fúria da populaça tão profunda, que ninguém aposta muito na sua longevidade. 

Na questão central, Seguro está certo. É absolutamente verdade que este governo se "desviou" do memorando original de acordo com a troika, assinado pelo PS e como o apoio do PSD e do CDS. Passos e sobretudo Vítor Gaspar, impuseram uma linha de aumento de impostos, que provocou uma exagerada recessão, e só agravou o problema do deficit e da dívida. É evidente que o PS, como Seguro bem diz, não tem de aprovar um corte de 4 mil milhões de euros na despesa do Estado, pois esse corte nunca foi aceite pelo PS no memorando original de 2011, e só se tornou necessário devido às graves incompetências do governo e da "troika". 

A defesa de uma negociação mais firme com a "troika" é também correcta. Passos e Gaspar optaram pela "via germânica", aceitando com subserviência e sem contestação, a imposição de um tempo curto e uns juros altíssimos no resgate a Portugal, acompanhados por uma verdadeira enxurrada de austeridade fiscal, sobretudo nos impostos. Ora, a "via germânica" é uma tragédia para a Europa, mas é sobretudo uma tragédia para a Grécia, para Portugal e para a Irlanda, pois transforma as economias numa espécie de "zombies", mortos-vivos sem qualquer hipótese de regressar ao crescimento ou de pagar a dívida. 

Portanto, faz bem Seguro em defender uma estratégia diferente, mais alinhada com Monti e Hollande, e menos lambe-botas da Sra. Merkel. Se ela vai ou não resultar, isso só saberemos no futuro, mas pelo menos tem a virtude de ser uma alternativa possível e menos miserável que a seguida pelo governo. E, se não a tentarmos, nunca saberemos se ela pode funcionar ou não. 

Contudo, só opor-se não chega. Opor-se a Passos Coelho é, neste momento, até bastante fácil. O governo quase se auto-destruiu sozinho, não foi preciso Seguro esforçar-se muito. Mas, para se constituir como uma alternativa real, Seguro ainda tem muito que trabalhar. O povo português, e bem, ainda desconfia do PS, e Seguro terá de dar provas de que os tempos dos despesismo exagerado de Guterres, ou da fase final de Sócrates, não são para repetir.

Ontem, na SIC, Seguro disse que "está preparado", mas parece-me que o país ainda não está preparado para ele. 

publicado por Domingos Amaral às 15:24 | link do post | comentar | ver comentários (2)
Quinta-feira, 25.10.12

Os limites da troika

Vítor Gaspar, ministro das Finanças, disse ontem no Parlamento que Portugal está muito próximo dos limites de tolerância da "troika", no deficit orçamental e na dívida pública. Disse-o de uma forma tranquila e serena, naquele tom lento e monocórdio a que já nos habituou, como se as suas políticas em nada tivessem contribuído para isso. Parecia que o ministro tinha acabado de aterrar, vindo de Júpiter, ou mesmo de Saturno, tendo encontrado uma situação grave com a qual nada tinha a ver, mas que queria resolver com as melhores intenções. 

Mas, é sempre bom lembrar que foram as políticas recessivas deste governo (aumentos no Iva, sobretaxas, retirada dos subsídios aos funcionários públicos e pensionistas) que agravaram o deficit orçamental do Estado, pois as receitas fiscais em vez de subirem, como desejava o governo, desceram; além de terem provocado desemprego, e portanto aumento dos subsídios a pagar! Como consequência direta, tivemos menos crescimento económico (quedas no PIB), o que fez aumentar o rácio da dívida pública sobre o PIB.

Desta forma, se Portugal está hoje mais próximo dos limites de tolerância aceites pela "troika", seja no deficit orçamental seja na dívida pública, isso em muito se deve ao exagero austeritário deste governo, do qual Vítor Gaspar é o principal responsável e defensor. É estranho ouvir o ministro das Finanças a constatar uma evidência, como se ela não fosse da sua responsabilidade. Se calhar, para Vítor Gaspar, a recessão é culpa dos portugueses. Ou de quem vive em Júpiter ou Saturno, já agora.

publicado por Domingos Amaral às 11:50 | link do post | comentar
Quarta-feira, 10.10.12

Pequeno Dicionário do Governo

Como já devem ter reparado, este Governo é muito original na forma como comunica as suas medidas. Nas últimas semanas, ouvimos expressões como "mitigar", "modelar", "afinar", "rebalancear", "calibrar" ou "regressar aos mercados". É um léxico novo e rico, aquele que o Governo nos tem oferecido. No entanto, é preciso ter alguma atenção, pois a maior parte destas expressões não têm apenas um significado literal, mas também um significado escondido, e é preciso decifrá-lo. Aqui deixo pois um curto dicionário do Governo.

 

Afinar - usado na expressão "vamos afinar essa situação". Significa que é preciso aperfeiçoar uma medida para ela ser mais eficaz. Na prática, o que isto quer dizer é que o Governo vai tentar tramar-nos o mais possível da forma mais eficaz possível. Ex: "Ó Sr. Rudolfo, vou afinar a sua retenção na fonte, que ainda está abaixo do que deve ser".


Afinco - usado na expressão "vamos trabalhar com afinco". À primeira vista significa esforço, dedicação, e soa bem.  Contudo, o que o Governo quer mesmo dizer é que vai trabalhar entusiasticamente para encontrar mais formas de nos esmifrar. Ex: "Ó Zé, no próximo 5 de Outubro, vens para a oficina com afinco!"


Ajustamento - usado em "Portugal está a conseguir fazer o seu ajustamento". Significa que estamos a deixar de ter déficit externo, a consumir menos importações, e deveria significar que o Estado está a baixar o seu déficit. Contudo, o que verdadeiramente significa a palavra ajustamento é que estamos a viver cada vez pior, e são os portugueses que estão a fazer o esforço todo, enquanto o Estado continua na mesma cepa torta. Ex: "Ó menina Carla, com o ajustamento acaba-se o carro de empresa e passa a vir trabalhar de metro!".


Balancear - usado na expressão "vamos balancear essa medida". Significa que o Governo admite alterar uma determinada taxa, por exemplo a TSU, em relação ao que tinha inicialmente anunciado. Contudo, o verdadeiro significado da expressão é que o Governo começou finalmente a perceber que foi longe demais, mas é teimoso, e ainda só admite pequenas mudanças e não deixar cair a medida. (ver também Rebalancear). Ex: "Ó filho, parece-me que temos de balancear a tua marmita, é pequena para lá caber o almoço todo!"


Calibrar - É semelhante às expressões "afinar" ou "modelar", mas é menos grave do que "balancear" ou "rebalancear", pois aí já se percebeu que a medida vai mesmo cair. Ex: "Ó dona Adelaide, como seu patrão, já calibrei a sua TSU com a minha, e isto é um sarilho, não me parece boa ideia..."


Consolidar - usado na expressão "Portugal tem de consolidar as suas finanças públicas". Significa que temos de diminuir o déficit, mas na prática o que isto quer dizer é que vamos todos pagar mais impostos, e as despesas do Estado vão continuar sem serem cortadas. Ex: "Ó Chico, vou consolidar a tua sobretaxa extraordinária todos os meses, ok?"


Cortar - usado em "cortar na despesa". Significa que o Governo quer diminuir a despesa do Estado, mas como não tem coragem para cortar em muitas áreas, o verdadeiro significado da expressão é "cortar nos subsídios dos funcionários públicos e dos pensionistas". Ex: "Ó Cátia, preferes que eu te feche o instituto ou te corte o subsídio da Natal?"

 

Mitigar - usada em "vamos procurar mitigar o aumento de impostos". Significa que o Governo pretende encontrar soluções alternativas que permitam que os impostos não subam tanto. Na realidade, o que isto significa é que algum qualquer sector de actividade se vai tramar para que uma qualquer taxa do IRS não suba um qualquer meio ponto percentual. Ex: "Ó Vanessa, mitigas aí a falta de chouriço no caldo verde com mais couves?" 


Modelar - ninguém sabe o que significa, mas parece bem. Mexe-se numas taxas e já ninguém protestará tanto. Na verdade, quando se fala em modelar uma medida, ela já está com os pés para a cova e vai ser abandonada em breve, como se passou com a TSU. Ex: "Ó meu amor, vamos ter de modelar essa ida às Caraíbas, em vez de oito dias só vamos três ou quatro..."


Rebalancear - usado em "vamos rebalancear essa medida". Significa que o Governo já percebeu que tem mesmo de alterar uma medida, mas ainda não está preparado psicologicamente para o dizer. (ver Balancear). Ex: "Ó meu amor, vamos ter de rebalancear essa ida às Caraíbas, em vez de quatro dias só vamos dois..."


Remodelar - usado em "remodelar o Governo". Significa trocar de ministros, o que é algo que para este Governo está fora de questão, e portanto vamos ter de continuar a gramar com o Relvas e o seu sorrisinho. Ex: "Ó Sr. Padre, em bem queria, mas não posso remodelar o Manel, ele é meu marido, sabe todos os segredos da minha vida."


Recuar - expressão que o Governo desconhece. Mesmo quando recua, o Governo não recua, apenas avança noutra direção. Ex: "Ó Joana, se não levas por trás, levas pela frente..."

 

Regressar ao mercado - usado na expressão "Portugal conseguiu regressar aos mercados". Significa que Portugal já conseguiu convencer os credores a comprarem mais dívida pública. Na verdade o que isto quer dizer é que os políticos portugueses vão voltar a poder contrair mais dívida e com isso voltar a arruinar o país só para ter mais autoestradas e submarinos. Ex: "Ó Aninhas, estou farto de fazer dieta, temos de regressar ao mercado para que eu possa comer como mereço". 

publicado por Domingos Amaral às 11:29 | link do post | comentar
 

Livros à venda

posts recentes

últ. comentários

  • Li com prazer o seu primeiro volume volume de assi...
  • Caro Domingos Amaral, os seus livros são maravilho...
  • Caro Fernando Oliveira, muito obrigado pelas suas ...
  • Gostei muito dos dois volumes e estou ansiosamente...
  • Bela e sensata previsão!Vamos ganhar a Final?!...
  • A tua teoria do terceiro jogo verificou-se!No enta...
  • Gostei de ler, os 2 volumes de seguida. Uma aborda...
  • Neste momento (após jogo com a Croácia) já nem sei...
  • Não sei se ele só vai regressar no dia 11, mas reg...
  • No que diz respeito aos mind games humildes, é pre...

arquivos

Posts mais comentados

tags

favoritos

mais sobre mim

blogs SAPO

subscrever feeds