Quarta-feira, 23.01.13

Vítor Gaspar e os Universos Paralelos

Em Portugal, parece-me que existem dois universos paralelos, que quase nada têm a ver um com o outro, e só às vezes se tocam. 

O primeiro é o Universo da Alta Finança, onde reina Vítor Gaspar. Nessa galáxia, hoje foi um dia grande. Portugal voltou a emitir dívida a 5 anos, um feito histórico, e muito antes do que se previa, só lá mais para Setembro. O regresso aos mercados é, naturalmente e com justiça, festejado, e as nuvens negras sobre Portugal parecem estar defintivamente afastadas.

Porém, depois há o Outro Universo, o dos portugueses. Nesse universo, as coisas vão de mal a pior. O desemprego continua a crescer, as empresas não contratam, os impostos não param de subir, as falências não param de aumentar, e todos os portugueses se sentem a viver muito pior, desanimados e sem esperança.

A divergência entre os dois Universos Paralelos é cada vez maior. Enquanto no Universo da Alta Finança a crise geral do euro parece regredir todos os dias; cá em baixo, no Outro Universo, a depressão continua.

Esta cada vez mais aguda clivagem entre os dois Universos é preocupante, e paradoxalmente pode tornar-se um enorme sarilho para este governo. É que, enquanto existia uma crise no Universo da Alta Finança, havia uma grande justificação para as políticas fortíssimas de austeridade que Gaspar implementou. Com o Universo da Alta Finança em aflição, no Outro Universo criou-se uma sensação de inevitabilidade dos sacrifícios, e os portugueses foram aceitando tudo, mesmo o que nunca deviam ter aceite. Mas, era tudo em nome de uma grande causa, a salvação de Portugal no Universo da Alta Finança! Para salvar Portugal nesse planeta, era preciso o Outro Universo contrair, sofrer e penar.

Ora, se a crise acabou no Universo da Alta Finança, se Portugal já é tão bem visto que até já pode emitir dívida nos mercados, como justificar a penúria no Outro Universo? Como vai agora o Governo obrigar o país a tão profundos sacrifícios se no Universo da Alta Finança tudo voltou ao normal?

Esperemos para ver, mas a partir de agora, a ideia de inevitabilidade das políticas de austeridade perdeu grande parte da sua tração. Antes, era uma austeridade 4x4, às quatro rodas, mas agora perdeu a tração atrás e não sei mesmo se não a perdeu também à frente. 

publicado por Domingos Amaral às 14:46 | link do post | comentar
Quarta-feira, 17.10.12

Já leram o memorando da troika?

Sim, é a minha pergunta de hoje: já leram o memorando de entendimento com a troika, assinado por Portugal em Maio de 2011? Eu li, e em pé de página deixo o link para quem o quiser consultar, na sua tradução oficial. São 35 páginas, escritas num português desagradável e tecnocrático, que têm servido a este governo para justificar tudo.

Ainda ontem, com descaramento, um dirigente do PSD dizia que "este não era o Orçamento do PSD, mas sim da troika"! Ai sim? Então eu proponho a todos um breve exercício de leitura. Tentem descobrir, lendo o memorando, onde é que lá estão escritas as 4 medidas fundamentais pelas quais este governo vai entrar para história de Portugal!

Sim, tentem descobrir onde é que lá está escrito que se deve lançar uma sobretaxa no subsídio de Natal de todos os portugueses (decidida e executada em 2011); cortar os subsídios aos funcionários públicos e pensionistas (decidido e executado em 2012); alterar as contribuições para a TSU (anunciada e depois retirada em Setembro); ou mexer nas taxas e nos escalões do IRS, incluindo nova sobretaxa (anunciados no Orçamento para 2013), e definidos pelo próprio ministro das Finanças como "um aumento enorme de impostos"?

Sim, tentem descobrir onde estão escritas estas 4 nefastas medidas e verão que não estão lá, em lado nenhum. Ao contrário do que este Governo proclama, estas 4 medidas, as mais graves que o Governo tomou, não estão escritas no "memorando com a troika"! Portugal nunca se comprometeu com os seus credores a tomar estas 4 medidas! Elas foram, única e exclusivamente, "iniciativas" do Governo de Passos Coelho, que julgava atingir com elas certos objectivos, esses sim acordados com a "troika".

Porém, com as suas disparatadas soluções em 2011 e 2012, o Governo em vez de melhorar a situação piorou-a. Além de subir o IVA para vários sectores chave, ao lançar a sobretaxa e ao retirar os subsídios, o Governo expandiu a crise económica, e acabou com menos receita fiscal e um deficit maior do que tinha. Isto foi pura incompetência, e não o corolário de um "memorando de entendimento" onde não havia uma única linha que impusesse estes caminhos específicos! 

Mais grave ainda, o Governo de Passos e Gaspar, sem querer admitir a sua incúria, quer agora obrigar o país a engolir goela abaixo "um enorme aumento de impostos", dizendo que ele foi imposto pela "troika". Importa-se de repetir, senhor Gaspar? É capaz de me dizer onde é que está escrito no "memorando de entendimento" que em 2013 o IRS tem de subir 30 por cento, em média, para pagar a sua inépcia e a sua incompetência? 

Era bom que os portugueses aprendessem a não se deixar manipular desta forma primária. Foram as decisões erradas deste Governo que, por mais bem intencionadas que fossem, cavaram ainda mais o buraco onde já estávamos metidos. E estes senhores agora, para 2013, ainda querem cavar mais fundo o buraco, tentando de caminho deitar as culpas para a "troika"?

Só me lembro da célebre frase de Luís Filipe Scolari: "e o burro sou eu?"

 

Para ler o memorando vá a:

(http://www.portugal.gov.pt/media/371372/mou_pt_20110517.pdf).

publicado por Domingos Amaral às 14:24 | link do post | comentar | ver comentários (44)

Lá fora...e cá dentro

Uma das coisas mais irritantes deste Governo é colocar a opinião internacional como um valor muito mais importante do que a opinião dos portugueses. Para Passos Coelho, Vítor Gaspar e seus "muchachos", é muito mais importante a "credibilidade interncional" do que a "credibilidade nacional". O que se diz "lá fora" é que conta, o que se diz "cá dentro" é pouco menos que irrelevante.

O que importa é estar bem visto aos olhos da senhora Merkel, da "troika", das agências de rating, dos "hedge funds" de Nova Iorque e dos bancos de Londres ou Frankfurt. Que se lixem o Cavaco, o CDS, a Igreja, a UGT ou toda essa corja de boçais que urra e chia por aí, neste cantinho à beira-mar plantado. Portugal, para este governo, é uma entidade abstrata, um "brand" que tem de ter opinião positiva, se possível com aclamação, nos fóruns da alta finança e nos jantares dos credores. É isso que interessa.

Portugal, para este governo, não são os portugueses, enquanto comunidade, Portugal é apenas um activo, um aspirante a "bibelot" das bolsas, que tem de obter um "goodwill" a qualquer custo. Que os portugueses estejam deprimidos, confrontados com um verdadeiro colapso económico, é coisa de pouca monta. É muito mais fundamental um B+ de uma qualquer Moody´s do que um "basta" gritado em coro pela Nação que sofre. Desde que os juros desçam, a nação que se lixe.

Este terrível desprezo pelos portugueses, e este patético deslumbramento com os estrangeiros, é uma das principais causas do mal que nos aflige. Passos e Gaspar comportam-se como dois parolos, fascinados com o "estrangeiro" e com vergonha da terrinha. Fazem tudo "para inglês ver", ou mais concretamente, para "alemão aprovar". Se os credores franzem o sobrolho, lá vão eles a correr dar uns pontapés aos cães, fechar os filhos no sótão, gritar com as criadas, tratar mal os vizinhos do lado, só para ficarem "bem vistos".

Não há sinal maior da nossa pequenez, da nossa falta de confiança nacional, do que esta genoflexão patética e acéfala à opinião internacional. Para o Governo, a "credibilidade" é o valor supremo, o deus a quem temos de rezar, um terço, dois ou três, os que forem preciso mesmo que os joelhos já estejam em carne viva. Os portugueses que se lixem, que amochem e se calem, que o importante é fazer a vontadinha aos lá de fora, e mais nada!

Um dia, este governo vai acordar e perceber que foi eleito cá dentro, e não lá fora, e que o seu principal dever é para com os portugueses, e não para com essa fada madrinha chamada "credibilidade internacional". E nesse dia, vão ter uma terrível surpresa, e por mais que a fada madrinha branda a varinha, lá fora, não haverá cá dentro quem os salve...      

publicado por Domingos Amaral às 12:27 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Quinta-feira, 04.10.12

Melhor ou Pior que a TSU?

Depois da comunicação de ontem de Vítor Gaspar, os portugueses ficaram cheios de dúvidas, e não sabem se as novas medidas são melhores ou são piores que a TSU. É natural, pois como ainda não foram revelados os pormenores específicos de quase nada (novos escalões do IRS, novas taxas, etc), é prematuro dizer mais do que o ministro disse, que será um "aumento enorme de impostos". Há contudo algumas observações gerais que já se podem fazer:

 

1 - Politica e sobretudo culturalmente, as medidas ontem anunciadas são mais inteligentes do que as alterações à TSU, pois não provocam uma cisão grave na sociedade portuguesa. Com elas, o governo recuperou um pouco a legitimidade política e sobretudo cultural para governar, e isso é bom para Portugal, pelo menos no curto prazo, evitando-se uma crise política irresponsável. Posso não estar de acordo com muitas das políticas deste governo, mas não sou dos que pensam que uma explosão política resolva a difícil crise em que nos encontramos. Os portugueses revoltaram-se, e bem, contra uma medida que consideravam inaceitável, as alterações à TSU, e venceram essa guerra. Mas não se pense que, só por causa disso, desejam entrar no caos e na anarquia. Foi uma batalha vencida por Portugal, não contra Portugal, é bom que se entenda a diferença.

 

2 - As medidas ontem anunciadas vão no mesmo sentido geral de sempre. O governo acredita profundamente que é através da "austeridade" que nos iremos "ajustar" e recuperar a "credibilidade" e a "competitividade". Infelizmente, o que se passou no último ano foi que a política deste governo afundou a economia numa recessão profunda, que agravou a resolução do problema da "dívida soberana", pois o deficit do Estado em vez de diminuir, aumentou! Infelizmente, temo que o resultado deste "aumento enorme de impostos" anunciado por Vítor Gaspar produza efeitos semelhantes aos anteriores. A armadilha é a mesma, provavelmente os resultados serão parecidos. Com uma agravante: os portugueses estão hoje mais massacrados e mais descrentes do que estavam o ano passado, e portanto as revoltas serão mais fortes. Esperemos que o lento resvalar para a pobreza ou para um abismo de dificuldades de muitos portugueses não os leve a uma raiva descontrolada.

 

3 - Um dos maiores problemas que irá nascer em 2013 será o do aumento do IMI. Se os pagamentos deste imposto subirem o que se teme que subam, com a retirada da prudente "cláusula de salvaguarda", que obrigava a um certo travão nos aumentos, o governo tem centenas de milhares de pequenas bombas-relógio nas mãos, e acabou de marcar as datas do rebentamento de muitas delas. 

 

4 - Quanto ao IRS, sem saber quais serão os novos escalões e as respectivas taxas, é cedo para emitir opiniões pormenorizadas. Já todos percebemos que vai subir para a maioria dos portugueses, até porque irá incluir a sobretaxa de 4%, mas quanto vai subir ninguém sabe. Se o Governo for inteligente, e o CDS conseguir vitórias neste campo, poderá ser um problema político menos grave, mas será sempre uma quebra forte do rendimento disponível das pessoas e isso vai obviamente provocar péssimos efeitos recessivos. Acho muito optimista pensar que o PIB só irá contrair 1% e o desemprego só irá aumentar para 16,4%. O Governo corre um sério risco de falhar os seus objetivos e as suas previsões também no segundo ano.

 

5 - Porque será que o Ministro das Finanças continua a usar expressões que ninguém entende? O que significa uma taxa média efectiva de imposto que sobe de 9,8 para 13,2%? Taxa média de quê e de quem? Efectiva para quem? Não será melhor explicitar bem como se chega a este número, para que os portugueses o compreendam? Abstrações matemáticas inúteis só contribuem para confundir as pessoas. É assim que se informa um funcionário da subida de impostos? "Ó Sr. Joaquim, ó dona Adelaide, vão ambos subir de escalão no IRS, a vossa taxa de retenção na fonte também sobe, e ainda levam com a sobretaxa todos os meses, mas dêem-se por muito satisfeitos, que no fim a taxa média efectiva de imposto não ultrapassa os 13,2%"! Ó Gasparzinho, falar assim é falar chinês.

 

6 - Percebo perfeitamente a alegria esfusiante do sr. Ministro quando anunciou com pompa que Portugal tinha "voltado aos mercados"! Porém, convinha ser um pouco mais pedagógico. Na verdade, Portugal não "voltou aos mercados" no sentido habitual da expressão, pois não fez novas emissões de dívida pública, nem pagou dívida que se vencesse. O que Portugal fez foi uma "renegociação parcial" de uma dívida, com um grupo limitado e até agora desconhecido de credores (convinha saber quem são, era mais transparente), adiando para o ano de 2017 um pagamento de 3757 milhões de euros que estava previsto ser realizado em Setembro de 2015. Ou seja, Portugal "restruturou" uma pequena parte da sua "dívida soberana", e conseguiu mais dois anos de alguns dos seus credores, apesar de não sabermos quem são eles. Serão alemães, franceses, gregos, portugueses, ou, surpresa das surpresas, finlandeses? Não sabemos, foi uma coisa semi-secreta, mas sejam quem forem revelaram boa vontade, o que é bom e de aplaudir. Aliás, como sempre defenderam muitos economistas, este devia ter sido o caminho escolhido desde o início pela Europa, para tentar resolver a "dívida soberana" dos países aflitos (Grécia, Irlanda, Portugal, Chipre, Espanha e Itália). A austeridade brutal não é uma solução para pagar a dívida, a "renegociação" é o caminho, e com a ajuda do Banco Central Europeu, a única forma de resolver o problema sem obrigar a uma indesejável e humilhante bancarrota. A Grécia talvez já não vá a tempo, mas Portugal ainda pode conseguir.    

 

 

 

publicado por Domingos Amaral às 11:19 | link do post | comentar
Sexta-feira, 24.08.12

O governo e o deficit

Esta semana, Vítor Gaspar reconheceu o que já todos sabiam inevitável: o déficit vai ser bem maior do que aquele com que Portugal se comprometeu com a "troika". Apesar de terem existido imensos cortes na despesa, apesar do não pagamento dos subsídios de férias e de Natal aos funcionários públicos, apesar do enorme aumento dos impostos diretos e indiretos, as contas não vão bater certo no fim. E tal acontece porque, como muitos avisaram, as violentas doses de austeridade dão sempre nisto: a economia entra em espiral negativa, deprime-se, e o resultado é muito mais desemprego (o que aumenta muito a despesa do estado devido aos subsídios de desemprego) e muito menos impostos cobrados, porque com menos actividade há menos receitas do IVA e de outros impostos, como o IA. Isto já se sabia, mas a teimosia europeia é espantosa, e o nosso Governo ainda quis ser mais papista que o Papa. A "troika", inspirada moralmente pela sra Merkl, tem imposto estas políticas de forma brutal a todos os países que já estavam com problemas, e o resultado tem sido sempre o mesmo. Primeiro a Grécia, depois a Irlanda e Portugal, a seguir a Espanha e a Itália, todos estão a ser apertados neste torniquete cruel e inútil. Não conseguem crescer, têm cada vez mais desemprego, e não conseguem pagar as dívidas. E entretanto, o vírus da recessão está a espalhar-se. Com toda a periferia da Europa deprimida, a recessão já está a chegar ao Norte da Europa e à Alemanha, que tinham na exportação para os países do sul um dos seus motores de crescimento. Em breve, toda a Europa estará numa recessão cada vez mais cavada, e só talvez nesse dia os povos percebam que têm de se revoltar contra estas políticas de austeridade que os estão a massacrar. Infelizmente, nesse dia poderá já ser tarde para o euro e para a Europa, e décadas de prosperidade económica terão sido destruídas pelos zelotas da austeridade e pelos magos dos liberalismo radical. Como na Europa já se devia saber, o fanatismo ideológico, qualquer que seja a sua cor, só produz misérias e desastres.      

publicado por Domingos Amaral às 12:42 | link do post | comentar | ver comentários (4)
Segunda-feira, 20.08.12

O ministro Álvaro

Ao contrário da maioria das pessoas e dos jornalistas, eu gosto do ministro Álvaro Santos Pereira. É sorridente, parece ser uma pessoa simpática, é empenhado e tem "fair-play" e não tem aquela carga de gravidade do seu colega das Finanças, que carrega todos os males do mundo às costas. Além disso, em geral estou de acordo com as reformas microeconómicas deste governo e deste ministro. Acho bem as mudanças na lei laboral, na lei das rendas de casas; aplaudo o fim das rendas excessivas dos operadores de electricidade e energia; e acho que tem sido feito um bom esforço para poupar dinheiro ao Estado com as absurdas PPP´s (parcerias público-privadas), muito mal negociadas pelos governos anteriores. Portanto, na microecnomia e com Álvaro, as coisas vão bem. O pior é a macroeconomia e o senhor Vítor Gaspar. Aí é que vamos de mal a pior. 

publicado por Domingos Amaral às 11:05 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Sexta-feira, 20.07.12

Cavaco e a recessão

Cavaco Silva tem razão: em vez de pedir mais tempo à troika, deviam era aplicar-se políticas menos recessivas. O choque fiscal brutal que os portugueses têm sofrido - eu recebi o IRS e a sobretaxa que ainda tenho de pagar é elevadíssima - e os cortes nos subsídios e nos salários estão a dar cabo da nossa economia. Há maneiras melhores de reduzir os desequilíbrios mas duvido que os fanáticos das Finanças como o senhor Gaspar queiram dar o braço a torcer.

publicado por Domingos Amaral às 11:20 | link do post | comentar
 

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