Quarta-feira, 18.09.13

O PSD ataca finalmente o FMI!

E, de repente, o partido que sempre disse que iria "além da troika", nas reformas e nas políticas, desata a atacar o FMI!

É verdade: o PSD, em palavras ditas pelo seu porta-voz e vice-presidente, Marco António Costa, defendeu que é preciso "combater a hipocrisia institucional do FMI, que faz proclamações muito piedosas, mas depois revela uma atitude inflexível nas negociações"!

Traduzindo por miúdos, para que todos entendam: o PSD acha que é lamentável e hipócrita o FMI publicar relatórios e documentos onde constata que "as políticas de austeridade foram um erro"; e que "é preciso ir mais devagar no corte nas despesas"; e depois, quando vem a Portugal, como membro da "troika", obriga a medidas cada vez mais duras e não mostra um pingo de flexibilidade nas metas do deficit.

Há aqui várias coisas importantes para notar.

A primeira é que o PSD, partido que sustenta o Governo, foi o grande defensor da necessidade da "troika" vir para Portugal.

Antes das eleições, muitos no PSD exigiam o "resgate internacional" e a "vinda do FMI", julgando eles que o resgate seria um poço de virtudes.

Por calculismo político, para derrotar Sócrates; e por crença ideológica na "diminuição do Estado", o PSD tornou-se o grande aliado da "troika" e do FMI.

Disse mesmo que "iria para além da troika", o que se revelou verdadeiro e ao mesmo tempo desastroso.

Em segundo lugar, é preciso relembrar que, ao longo de quase três anos, o PSD e o Governo nunca defenderam mais "flexibilidade", e Passos chegou mesmo a dizer, orgulhosamente, que Portugal não precisava nem de "mais tempo", nem de mais "dinheiro".

No entanto, os resultados da austeridade foram terríveis, e os vários países a quem foi aplicada a receita das "troikas" afocinharam em recessões muito mais duras do que se previa.

Aos poucos, Europa fora, todos foram percebendo que esta fórmula não estava a dar resultados, mas ninguém quis dizer isso muito alto, para não perder a face.

Honra lhe seja feita, o FMI foi até agora a única instituição que, em vários documentos e relatórios, já reconheceu os graves erros das políticas de austeridade, seja na Grécia, seja em outros países como Portugal.

Contudo, amarrado que está ao BCE e à Comissão Europeia, nas "troikas", e com muito dinheiro enterrado nesses países, o FMI não irá facilitar muito até ao final deste programa de resgate.

É evidente que há uma certa hipocrisia em dizer que se está a fazer mal, e contudo continuar a fazê-lo.

Mas, não haverá maior hipocrisia ainda no PSD, que sempre quis ir além "da troika" e agora se queixa dela?

Este partido, cujo líder é primeiro-ministro há mais de dois anos, e que implementou com convicção todas as medidas, agora vem dizer que é preciso a "troika" mostrar "flexibilidade"?

A verdade é que o PSD está preso no labirinto que criou para si próprio.

Acreditou tanto na troika e na austeridade, que agora que as coisas falharam, tem de arranjar um inimigo novo. 

Dos ataques ao Tribunal Constitucional, por não deixar executar cortes na despesa, passamos aos ataques ao FMI, por não praticar o oposto, deixando a despesa crescer mais! 

Coitado do PSD, está esquizofrénico mas ainda não percebeu. 

publicado por Domingos Amaral às 14:44 | link do post | comentar | ver comentários (6)
Terça-feira, 17.09.13

Portas é muito mais hábil do que Passos Coelho

Ontem, e pela primeira vez em mais de dois anos, a reunião do Governo com os parceiros sociais correu bem.

No final, com a excepção da CGTP, todos os parceiros sociais alhinharam a uma só voz com o Governo.

UGT, patrões, confederações, num consenso raro, pediram o mesmo que o Governo: a troika deve aceitar um deficit maior para 2014.

A isto chama-se "consenso nacional", e foi isto que muita gente criticou o Governo por não fazer.

Nem Passos, nem Gaspar, nem o pobre Santos Pereira, conseguiram gerar esses consensos, e foram criticados por isso.

Ora, logo na primeira reunião a que presidiu, já com as suas novas funções depois da remodelação de Julho, Paulo Portas conseguiu "o consenso" de forma natural.

E conseguiu-o porque trabalhou para isso acontecer.

Para chegar a um "consenso" é preciso trabalho, cedências, paciência. 

O "consenso nacional" não nasce de geração espontânea, como as ervas ou o sol todos os dias. Dá muito trabalho chegar a um consenso, e é por isso que ele é sempre tão raro e valioso.

Mas, há uma coisa que eu sei: é que para chegar a um consenso não se pode ficar na nossa trincheira ideológica, não se pode ser radical nas posições.

Infelizmente, foi isso que o Governo de Passos e Gaspar sempre foi, radical e inflexível. O resultado foi péssimo, para todos.

Paulo Portas, está visto, tem uma habilidade diferente. 

Não está tão preocupado com ideologia radical liberal, nem com princípios vagos e modelos de Excel. Sabe que, para uma política ser aceite pelas populações, é necessária a participação dos parceiros sociais, o seu envolvimento nas decisões.

E, para isso, contrói unidade, em vez de semear discórdia. 

Como eu sempre aqui disse, Portas pagou um preço alto por ter dado um murro na mesa, mas no fim ganhou, e tem hoje mais poder para influenciar a governação do país.

Pelo que já podemos ver, Portugal só ficou a ganhar com isso.

Pelo menos consenso económico e social já voltámos a ter, e isso a Portas se deve.

publicado por Domingos Amaral às 11:19 | link do post | comentar | ver comentários (4)
Terça-feira, 09.07.13

Portas devia gritar bem alto: "é a economia, estúpidos!"

Em Portugal há uma célebre frase popular que diz: "quem não percebe a bem, percebe a mal".

Assim foi durante quase dois anos com Paulo Portas, não o entenderam "a bem".

Sempre que Portas tentou usar o seu poder positivo, foi ignorado por Passos e Gaspar.

Foi assim na TSU, nos afrontamentos ao Tribunal Constitucional, na taxa dos pensionistas, no "aumento enorme de impostos".

"A bem", dentro do Governo, Portas tentava persuadir Passos e Gaspar que esse não era o caminho certo. E "a bem", ninguém lhe ligava.

O poder de persuasão de Portas revelara-se pois ineficaz. O PSD de Passos ignorava-o, humilhava-o, e pior do que tudo, não reconhecia o erro. 

Quando a carta de Gaspar é conhecida, na segunda-feira, gera-se um novo momento de possibilidade de mudança, mas Passos rapidamente mostra que nada quer mudar. Ou seja, que nada percebera, e nada mudaria "a bem".

Ora, "quem não percebe a bem, percebe a mal", e por isso Portas passou do poder positivo ao poder negativo, demitiu-se e lançou um início de caos em Portugal.

Com isso, arriscou tudo: a sua permanência no Governo, a sua popularidade crescente, a sua carreira política.

Foi um jogo de alto risco, mas no final talvez tenha valido a pena.

Confrontado com a sua eminente queda, que lhe seria fatal, Passos Coelho percebeu a linguagem do poder negativo de Portas de uma forma límpida.

Ele, que sempre o ignorara, acabou a pedir-lhe para ficar, pois sabia que a saída de Portas seria o fim da linha.

Não entendeu "a bem", mas entendeu "a mal".

E o que fica depois disto?

Bom, pelo menos a esperança que Portas consiga convencer a "troika" que muita coisa tem de mudar para Portugal sair deste buraco. 

Não se trata tanto de "bater o pé à troika", com trejeitos de toureiro, mas sim de persuadir a Europa a mudar linhas essenciais do programa do ajustamento.

A "troika" não admite já baixar o IVA da restauração na Grécia? Porque não também por cá? 

Mudar de uma estratégia de "austeridade dura" para uma "amiga do crescimento económico" não será simples, nem fácil, mas vale a pena tentar.

Pela minha parte, já aqui escrevi que a única forma da Europa resolver o problema das "dívidas soberanas excessivas" é através da "mutualização das dívidas", num fundo Europeu comum.

Não haverá infelizmente crescimento antes de se arrumar a questão do peso brutal das dívidas. 

Mas, mesmo que isso não seja possível no curto prazo, é imperioso largar a "austeridade dura" e relançar a economia, pois não é com um milhão de desempregados que se pagam as dívidas do país.

Aos críticos de Portas apetece relembrar a frase de James Carville, o estratega eleitoral de Bill Clinton: "é a economia, estúpidos"! 

publicado por Domingos Amaral às 11:00 | link do post | comentar | ver comentários (6)
Terça-feira, 25.06.13

Zangam-se as comadres (FMI e Comissão Europeia) e descobrem-se as verdades...

As "troikas" têm os dias contados. O FMI e a Comissão Europeia já andam pegados, e há acusações mútuas e ressentimentos de parte a parte.

Embora não seja fácil o divórcio imediato, há pelo menos uma separação clara, e a "troika" já vive, por assim dizer, em casas separadas.

O que levou a zanga tão profunda? O reconhecimento da verdade, pela parte do FMI, e a continuação em "estado de negação", por parte da Comissão Europeia. Uns já admitem os erros, outros continuam cegos pelo seu próprio fanatismo.

Na semana passada, o FMI tornou público um documento onde diz, preto no branco, que a acção das "troikas" na Grécia, Portugal, Irlanda e Chipre foi um terrível falhanço!

E quais são as causas desse humilhante falhanço? Em primeiro lugar, os países credores nunca reconheceram a evidência de que a dívida dos países do Sul não era pagável, e tinha de se proceder a um imediato perdão geral, com renegociação da nova dívida.

Ou seja, o FMI vem reconhecer em meados de 2013 aquilo que muitos economistas, entre os quais me incluo, tinham defendido desde pelo menos 2010!

Era evidente, para quem estivesse de boa fé e percebesse um mínimo de economia, que jamais as dívidas públicas da Grécia e da Irlanda, mas também de Portugal e Chipre, poderiam ser pagas na totalidade. Não o aceitar, logo em 2010, foi uma perda de tempo e um sacrifício inútil para essas economias.

Mas, o FMI diz mais. Diz que foi sobretudo a teimosia de certos países (leia-se Alemanha) mas também da Comissão Europeia e do BCE, dominados ambos pela linha dura dos falcões da austeridade, que impôs o princípio de que só os devedores é que ajustavam, nunca os credores!

Esse princípio é totalmente errado, pois a irresponsabilidade foi mútua. Tanto foram irresponsáveis os devedores, que pediram demasiado dinheiro emprestado; como os credores, cegos pela ganância de ganhar dinheiro fácil e que fizeram péssimas avaliações de risco.

Porém, os falcões de Merkel e do Bundesbank, bem como o BCE e o patético Oli Rehn da Comissão, não aceitaram nenhum "perdão"! Era preciso fazer sofrer os "irresponsáveis" devedores do Sul da Europa.

Nasceu aí o segundo grave erro, que o FMI agora reconhece: os programas de "ajustamento" impostos pelas "troikas" foram demasiado rápidos, demasiado bruscos, e substimaram os efeitos recessivos de tanta austeridade!

Durante três anos, muitos economistas, entre os quais me incluo, pregaram no deserto, dizendo precisamente isso. A "austeridade" à bruta que foi imposta à Grécia, à Irlanda, a Portugal, mas também um pouco por todo o resto da Europa, não traria bons resultados. 

Como está à vista de todos, foram os críticos que tiveram razão. A Europa está numa crise geral, o desemprego cresceu para valores tremendos, e nenhum dos países do Sul está hoje em melhores condições para pagar a sua dívida pública, pelo contrário, as dívidas cresceram imenso!

Infelizmente para todos nós, a lucidez e auto-crítica do FMI é tardia, e além disso parece-me que não mudará nada de essencial. A Europa continua cega e não quer admitir que errou e que é fundamental mudar de caminho.

A Europa toda? Não. Curiosamente, a Sra Merkel revelou há dias os seus planos de governo para os próximos anos. A Alemanha prepara-se para gastar 20 mil milhões de euros em "auto-estradas" e aumentar a despesa do Estado em muitos outros "subsídios"!

Viva Merkel, a dona da Europa, que obriga os outros a poderosos sacrifícios para depois poder gastar à tripa forra no seu país. Grande senhora, sem dúvida!

 

publicado por Domingos Amaral às 11:41 | link do post | comentar | ver comentários (4)
Quarta-feira, 19.06.13

Será que eu estou a resvalar perigosamente para a esquerda?

Nos últimos meses, vários bons amigos têm chegado perto de mim e, num tom preocupado, manifestado a sua perplexidade por eu andar "tão à esquerda"!
Eu fico um pouco surpreendido, pois não me sinto nada a resvalar para a esquerda só por ter as opiniões que tenho.
O que há em mim é uma grande preocupação com o actual estado da Europa e de Portugal, e uma rejeição de muitas políticas que têm sido impostas. 
Para mim, a receita da "troika" "criou um ciclo vicioso de contracção do PIB, aumento do desemprego, quebra da actividade económica e aumento consequente de alguma despesa do Estado o que, em última análise, agrava o défice”.
Além disso, considero que “não existe realismo em alguns dos objectivos fixados nos programas de ajustamento”.
Sei bem que “é preciso rigor, mas é também necessária flexibilidade e, sobretudo, bom senso”.

É evidente que  “as dívidas são para pagar”, mas isso “não pode ser feito à custa das famílias e das empresas”, nem pode ser “uma hipoteca do futuro”.

O que temos de seguir é “um caminho sustentável de rigor, mas flexível o suficiente para não matar de exaustão e desespero quem o empreende”.

Além disso, acho que a Europa se tem portado muito mal, e tem tomado péssimas decisões.
A situação é ainda mais grave quando o assunto são os resgates à Grécia e a Chipre onde "o processo de decisão política é inconsequente, mal conduzido e quase infantil”.
Acredito sinceramente que "isso destrói a confiança dos cidadãos, dos investidores e dos mercados”.
Se dizer tudo isto é ser de esquerda, então graças a Deus estou bem acompanhado.
Todas as citações a bold deste post são retiradas da moção dos eurodeputados Nuno Melo e Diogo Feio, que será levada ao próximo Congresso do CDS.
Será que também o CDS já é "de esquerda"? 

 

 

 

 

 

 

publicado por Domingos Amaral às 15:26 | link do post | comentar | ver comentários (4)
Sexta-feira, 10.05.13

A Europa e a Sra. Merkel deviam pagar os nossos subsídios de desemprego

Já é evidente para todos que a Europa se espetou ao comprido no combate à crise económica e financeira que a invadiu.

O desemprego europeu é avassalador, há cinco países a serem resgatados (Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha e Chipre) e as más notícias não param.

Quase cinco anos depois do início da Grande Crise Financeira de 2008, são por demais evidentes os graves erros cometidos pelos europeus, na resposta àquela que era apenas uma crise financeira e bancária, entre 2008 e meados de 2010.

O primeiro erro foi precisamente esse: os europeus não compreenderam que uma crise financeira devia ser resolvida com medidas financeiras, e não com a economia. Ao obrigarem as economias a sofrer, os europeus transformaram uma crise financeira grave numa crise económica gravíssima.

Em 2009, bastaria o Banco Central Europeu ter dito o que disse três anos mais tarde, em 2012 - que faria o que fosse preciso para "salvar o euro" - e as coisas teriam sido bem mais fáceis para todos.

Contudo, os europeus preferiram um caminho diferente. Liderada pela Alemanha, a Europa decidiu dar sermões e pregar moralidade e aplicar "um castigo" aos países com dívidas excessivas.

O ajustamento teria de ser feito exclusivamente pelos "devedores", esses irresponsáveis que viveram "acima das suas possibilidades"! Esta moralidade durona, típica de Merkel e Schauble, esquecia uma verdade essencial: para existirem devedores "irresponsáveis" também têm de existir credores "irresponsáveis", e os ajustamentos devem ser feitos por ambos, e não apenas pelos "devedores".

Mas, a fúria punitiva e castigadora dos alemães levou a vitória, e os programas de ajustamento aplicaram-se somente aos devedores. E à bruta. As "troikas" dedicaram-se à violência e à rapidez. A austeridade tinha de ser depressa e muita, para funcionar.

Vários anos depois, os resultados desta "Cruzada Austeritária" estão à vista de todos: desemprego brutal, recessão económica profunda nos países intervencionados, e recessão económica geral no resto da Europa.

É claro que, em certos casos, como o de Portugal, os efeitos nefastos foram amplificados por um Governo mais "troikista" do que a própria "troika", e agora ninguém vê forma de Portugal sair deste buraco negro. Mas, a culpa principal é da Europa, e não nossa.

É por todas estas razões que faz cada vez mais sentido a proposta de ser a Europa a pagar os subsídios de desemprego dos países que estão sob intervenção. Se a política europeia foi um erro de proporções gigantescas, o fardo das consequências devia ser suportado sobretudo pela Europa, e não pelos países.

Uma importante parte do desemprego criado em Portugal, na Grécia, na Irlanda, em Chipre e até em Espanha ou Itália, resulta directamente das erradíssimas políticas que os alemães nos impuseram a todos. Ora, porque não mandar-lhes a conta?

Era assim que devia ser. Merkel impôs uma política brutal, essa política falhou e gerou um desemprego brutal, pois então que seja a causadora disto tudo a suportar o preço, pagando os nossos subsídios de desemprego. Talvez assim a senhora aprendesse...

   

publicado por Domingos Amaral às 16:28 | link do post | comentar | ver comentários (4)
Terça-feira, 23.04.13

Barroso e a austeridade insuportável...

O presidente da Comissão Europeia, o nosso magnífico Durão Barroso, veio finalmente constatar o óbvio, dizendo que a austeridade chegou ao limite do aceitável na maior parte da Europa, e que provoca perigosos riscos, sociais e políticos.

É espantoso como durou mais de quatro anos o discurso salvífico da austeridade, tão do agrado de tanta gente neste país e por esse mundo fora. E é espantoso que venha agora Durão Barroso criticar esse discurso de austeridade, quando durante esses mesmos quatro anos, foi um dos seus defensores mais empenhados. 

Sim, por mais cambalhotas que a Comissão Europeia e o seu presidente queiram dar em 2013, alguém terá de lhes esfregar na cara a memória do que foi a política europeia activamente promovida pela Comissão, por Barroso e pelo fanático Oli Rehn, que desde finais de 2009 apoiaram, constantemente e com grande vigor, as políticas austeritárias impostas pela Alemanha da Sra Merkel. 

Durante praticamente quatro anos, a Comissão Europeia foi um pau mandado da Sra Merkel e do Sr. Schauble. Quando eles diziam "mata", a Comissão dizia "esfola"! Os programas de ajustamento, as troikas, as austeridades violentas que caíram sobre a Grécia, Portugal, a Irlanda, a Espanha, a Itália, Chipre, e mais tarde começaram também a cair sobre a França e a Holanda, tiveram o apoio entusiástico desta gente.

Tivesse a Comissão Europeia mais lucidez e jamais teria apoiado um caminho em que só os loucos podem acreditar. A Europa está cada vez pior, cada vez com mais desemprego e mais crise, e quem quisesse ter pensado um pouco antes, bastava olhar para a história económica dos últimos 100 anos para saber que a austeridade sempre produziu desastres enormes.

Mas, é claro que Merkel e a Comissão e toda essa gente que governa a Europa não quis saber da História! Com aquela arrogância que costuma caracterizar os fanáticos, avançaram a toda a velocidade para uma austeridade bruta, cega e injusta. O resultado está à vista de todos, a Europa está moribunda, e no meio dela só a Alemanha obviamente resiste. 

Quatro anos depois, Barroso vem agora dizer o óbvio, que este caminho chegou ao fim. Pois veremos se os alemães estão pelos ajustes, mas é evidente que já ninguém na Europa acredita na austeridade. Os desastres crescem a olhos vistos e o terror de uma multiplicação de Chipres pela periferia europeia é bem real. 

Se este caminho da austeridade for invertido a tempo, e o mais depressa possível, a Europa ainda se poderá salvar. Mas, a descrença é imensa, a crise muito profunda, e a Alemanha não está ainda preparada para mudar o seu discurso e as suas políticas. Por isso, bem pode Barroso falar, mas como ele não manda nada, temo que o desastre continue.  

publicado por Domingos Amaral às 11:35 | link do post | comentar | ver comentários (4)
Quarta-feira, 20.03.13

Os seis graves erros deste Governo

Quase dois anos depois de ter tomado posse, é já possível listar quais foram os seis erros mais graves deste Governo, que o fizeram perder muita credibilidade e legitimidade aos olhos dos portugueses. Aqui vai a lista:

 

1 - Desvio estratégico em relação ao memorando original assinado com a "troika".

Como ontem aqui escrevi, as principais medidas emblemáticas deste Governo (sobretaxa de IRS, corte nos subsídios dos funcionários públicos e pensionista, tentativa de mudar a TSU, e aumento enorme de IRS) não estavam escritas no memorando original assinado entre Portugal e a "troika" em Maio de 2011. Na ânsia de despachar o ajustamento, o Governo decidiu medidas de austeridade muito mais graves e profundas do que aquelas que estavam acordadas. Com isso, agravou brutalmente a recessão e o desemprego subiu para valores altíssimos. A estratégia da austeridade "dura e rápida", cuja responsabilidade é de Vítor Gaspar, falhou rotundamente. 

 

2 - Falta de equidade nos sacrifícios. 

Ao decidir cortar os subsídios de férias e Natal para funcionários públicos e pensionistas, deixando os trabalhadores do sector privado de fora, o Governo dividiu os portugueses, passando a existir portugueses de primeira, que não se sacrificavam tanto, e portugueses de segunda, que suportavam mais sacrifícios. Isso foi um erro grave, de equidade e de moral, além de ter sido uma ilegalidade jurídica, como muito bem o Tribunal Constitucional veio dizer, proibindo a solução para 2013. Mas, o mal estava feito. 

 

3 - Incapacidade para cortar na despesa permanente do Estado

Desde o Verão de 2011 que o Governo decidiu que, em vez de cortar na despesa estrutural do Estado, como estava previsto no memorando original, era mais fácil sobrecarregar o país com impostos, ou então retirar subsídios a certos grupos de pessoas (funcionários públicos e pensionistas). Com isso, demonstrou a sua incapacidade total para perceber a raiz do problema, e preferiu as soluções mais fáceis e rápidas. Como se viu, gerou um problema ainda maior e não conseguiu resolver o problema original. 

 

4 - Desprezo pelo consenso político e social

Em Maio de 2011, quando o memorando original foi assinado, existia um amplo consenso político e social em Portugal, que permitia ao Governo contar com o apoio do PS e dos parceiros sociais. No entanto, durante quase um ano e meio, Passos Coelho desprezou o PS e os parceiros sociais, nunca os tratando com o respeito que eles mereciam. Evidentemente, com o tempo a passar, e sentindo a hostilidade permanente do Governo, tanto o PS como os parceiros sociais se foram afastando, e o consenso nacional necessário rompeu-se. Foi a arrogância do Governo que criou esta situação, o que foi um erro grave. 

 

5 - Colagem patética às posições da Alemanha na Europa.

Desde que iniciaram a sua governação, Passos Coelho e Vítor Gaspar alinharam, de forma acéfala e seguidista, com as ideias da Alemanha sobre como resolver a crise europeia e as crises nacionais dos países com elevadas dívidas. Em momento algum o Governo percebeu que essa colagem era prejudicial aos interesses de Portugal, e que por mais que fosse necessário ganhar credibilidade nos mercados financeiros, era igualmente necessário ter uma posição mais crítica contra a linha dura da Sra Merkel e do Sr. Schauble. Como se viu na questão da renegociação dos prazos da dívida, o Governo da Alemanha está-se nas tintas para os nossos problemas, e só pensa em ser reeleito, e não mostrará qualquer boa vontade para com Portugal antes de isso acontecer. Qual foi então o benefício de estarmos colados à Alemanha?

 

6 - Relvas e companhia

É evidente que manter Relvas no Governo foi um erro, bem como alguns outros personagens menores. No entanto, comparado com os outros erros e o que eles custaram ao país, este foi o menos grave. Mas, o seu simbolismo é ainda assim bastante degradante da credibilidade de Passos Coelho.  

 

 

 

 

 

publicado por Domingos Amaral às 14:47 | link do post | comentar | ver comentários (14)
Terça-feira, 19.03.13

O PSD e o memorando da troika: a mentira

Nos últimos dias, muitas pessoas próximas do PSD e do Governo têm procurado passar a ideia de que o "memorando da troika" estava mal desenhado desde o princípio (Maio de 2011), e que é por isso que as medidas do Governo estão a falhar, e não por culpa do próprio Governo. Há poucas ideias mais falsas do que esta, e convém que os portugueses não se deixem manipular assim.

Vamos por partes. Em primeiro lugar, quem quiser ler o memorando original que foi assinado entre o Governo de Sócrates e a "troika", em Maio de 2011, pode ir lê-lo, o link está no final deste post. Relembro apenas que o documento teve o apoio expresso não só do PS, mas também do PSD e do CDS.

Se o lerem com atenção, vão verificar que não existem em lado nenhum as quatro medidas mais emblemáticas do Governo de Passos Coelho. Não está lá escrito que é necessária uma sobretaxa no IRS (aplicada no Natal em 2011); nem que é necessário cortar os subsídios de férias e de Natal aos funcionários públicos e pensionistas (aplicada em 2012); nem que é necessária uma alteração na TSU (tentada sem sucesso em Setembro de 2012); nem está lá dito que é necessário um "enorme aumento" do IRS (aplicado em 2013).

Ou seja, no memorando original, a estratégia escolhida era muito mais de cortes no lado da despesa, e não de aumentos de impostos ou de cortes salarias ou de subsídios. Foi Vítor Gaspar que, mal se viu ministro das Finanças, decidiu escolher uma via diferente, e optar pelas escolhas que optou. 

Pode mesmo dizer-se que, não fossem as invenções graves de Gaspar, e a sua mudança abrupta de estratégia relativamente ao que estava acordado com a "troika", e certamente a recessão não teria sido tão grave como está a ser.

Vítor Gaspar, bem como um grupo de pessoas em seu redor (António Borges, Carlos Moedas, Braga de Macedo) é que conseguiram impor a sua via ao Governo, convencendo um inábil e pouco preparado Passos Coelho de que o ajustamento na sua versão PSD, ultra-rápida e à bruta, iria resultar muito melhor do que o ajustamento "light" que estava previsto no memorando original. 

O PSD é pois responsável por este ajustamento e pelos seus resultados cruéis, e não pode agora vir dizer que era o memorando que estava mal desenhado. Isso é absolutamente falso. Foi Gaspar quem adulterou o memorando, e seguiu outro caminho. A culpa não é da "troika", a culpa é de Vítor Gaspar e do Governo.

Contudo, não se pense que a culpa é só deles, porque não é. Há muita gente inteligente e poderosa que apoiou de uma forma acéfala e acrítica a estratégia "hard line" de Vítor Gaspar, que falhou rotundamente. Infelizmente, o PSD contou com o apoio expresso de muita luminária, em todos os sectores.

Nem vale a pena falar de António Borges, mas há mais gente. Na banca, Fernando Ulrich foi o grande campeão do apoio ao Governo, chegando a falar em "ditadura do Tribunal Constitucional" (!!!!) e a dizer, com um certo gozo, que o país "aguentava" mais austeridade!

Na sociedade civil, Isabel Jonet também foi uma grande apoiante desta estratégia, e na maior parte da comunicação social escrita, houve muita gente que deve andar agora envergonhada do que escreveu há dois anos! Nem vou falar em Camilo Lourenço, pois esse está para além da salvação possível...

Era bom que toda esta gente levasse a mão à consciência e a sentisse pesada, pois foi com o apoio de muitos deles que chegámos onde chegámos. Mas, é esperar demais. A humildade não é uma característica dos iluminados... 

 

Para ler o memorando original vá a:
(http://www.portugal.gov.pt/media/371372/mou_pt_20110517.pdf).

publicado por Domingos Amaral às 10:42 | link do post | comentar | ver comentários (14)
Sábado, 09.03.13

Ninguém lixa a troika!

Por mais que os portugueses queiram ver-se livres da troika, isso não está para acontecer, nem para breve! A "troika" decidiu ficar por cá mais uns dias e isso é uma péssima notícia, para Portugal e para o Governo.

Pelos vistos, não vai acontecer aquilo que o Governo queria, que fossem suavizados ou mesmo adiados os famosos cortes de 4 mil milhões de euros na despesa pública. A "troika" não vai deixar, e foi por isso que ficou mais uns dias em Portugal, para impor esses cortes ao Governo e ao país.

Não valeu de nada a tentativa de Paulo Portas e Vítor Gaspar, que há pouco mais de uma semana, no Parlamento, deram a entender que era possível "suavizar" os cortes e adiá-los no tempo. Qual suavização, qual quê! A "troika" não vai deixar que isso aconteça, e Portas e Gaspar andaram a criar expectativas erradas nos portugueses.

É preciso os portugueses todos perceberem finalmente uma coisa: o Governo não manda nada. Quem manda são os patrões de Bruxelas e Berlim, os senhores Rehn e a senhora Merkel, que controlam a "troika" e mandam executar o que desejam, sem os portugueses terem qualquer hipótese de se opor.

Na verdade, como já aqui escrevi, eles são os patrões da quinta. Passos Coelho e Gaspar não passam de meros feitores da quinta, de caseiros que fazem o que os patrões mandam. Os 4 mil milhões são para cortar, queiram eles ou não, e não há nada que Portugal possa fazer para parar esta carnificina que está a acontecer ao país.

Isto não vai ser nada bonito de se ver... 

publicado por Domingos Amaral às 18:24 | link do post | comentar
 

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