Sexta-feira, 09.05.14

Passos Coelho e a esquizofrenia dos impostos

Na última semana, fiquei completamente baralhado com as variadas e contraditórias declarações de Passos Coelho sobre os impostos.

Num dia, o Governo apresenta um documento onde revela as subidas do IVA e da TSU.

No mesmo dia, Passos Coelho declara que "os impostos não vão aumentar".

Uns dias depois, o Governo faz saber que admite descer o IRS em 2015.

Há notícias de que o facto é "escondido" ao FMI, mas que o Governo tem mesmo essa ideia, no âmbito da reforma fiscal que está a ser preparada.

Elementos do CDS fazem saber que essa é uma óptima notícia.

A seguir, há mais notícias de que Passos quer mesmo descer o IRS, mas no mesmo dia, ou seja hoje, o primeiro-ministro declara na Assembleia da República que, se o Tribunal Constitucional não deixar passar certas medidas, os impostos terão de subir.

Em que é que ficamos?

Sobem, descem, ficam na mesma, ou tudo ao mesmo tempo?

Com tanta mudança de ideias, não admira que a questão dos "impostos" já seja uma esquizofrenia que ninguém entende.

Provavelmente, já nem o Governo sabe o que irá acontecer...

 

publicado por Domingos Amaral às 16:45 | link do post | comentar
Segunda-feira, 05.05.14

Uma saída limpa mas sem brilho político

A "saída limpa" do programa de assistência é uma vitória política do Governo.

Há seis meses, poucos acreditavam que era possível, mas foi.

É claro que a conjuntura internacional ajudou, mas o Governo fez o seu papel, e geriu bem as expectativas dos mercados financeiros.

E pronto: o "regresso aos mercados", o grande objectivo de Passos Coelho, que ele apregoa desde 2011, está cumprido.

Foi para isto que o Governo trabalhou e tudo fez, mesmo o que fez muito mal.

 

No seu estilo político de "gestão por objectivos", Passos Coelho atingiu o objectivo a que se propôs, mas já todos perceberam que um país não é uma empresa.

Pelo caminho, muita coisa se perdeu, e muita coisa correu mal, e Passos, que colocou o imperativo financeiro à frente de todos os outros, só tardiamente percebeu que os caminhos escolhidos foram, muitas vezes, errados e exagerados.

Só assim se compreende que agora, à pressa, o Governo venha anunciar para 2015 o início da reposição de salários e pensões, como se fosse possível passar uma esponja e apagar o que aconteceu.

 

A verdade é esta: para regressar aos mercados não era preciso austeridade tão violenta como a que foi praticada, sobretudo em 2011 e 2012.

Bastaria este Governo ter subido o IRS muito, como fez em 2013 com bons resultados, e tudo teria sido mais fácil.

Em vez de andar a fazer experimentalismos fanáticos nos cortes nos salários e nas pensões, que pelos vistos vão ser todos repostos, o Governo teria tido muito mais sucesso se tivesse optado por uma estratégia mais "light".

2013 e 2014 são a prova dos nove que é possível ter crescimento económico com o IRS alto, e o déficit do Estado a diminuir, o que é o mais importante.

 

Mas, os caminhos foram outros, e agora Passos percebe que o país, embora lhe reconheça o objetivo atingido, não lhe perdoa as violências austeritárias.

Se o PS tivesse um líder mais forte, as europeias seriam uma verdadeira hecatombe para o Governo, e para a Aliança PSD-CDS.

Porém, como a esquerda permenece dividida e mal liderada, não há onda que eleitoral que varra o "regresso aos mercados".

A coligação poderá pois aguentar mais um ano, e terá algum tempo para recuperar.

Mas, sem qualquer emoção.

Passos, com o seu estilo duro e antipático, sempre a dar más notícias, já saiu do coração dos portugueses e não é dando "borlas" como o dia 17 de Maio que os vai recuperar.

A vitória do "regresso aos mercados" é uma vitória sem brilho político, e dificilmente será uma arma eleitoral poderosa.

É uma "saída limpa", mas politicamente é um tiro de pólvora seca. 

publicado por Domingos Amaral às 11:17 | link do post | comentar | ver comentários (4)
Quinta-feira, 24.04.14

O "tabu" da saída limpa

Há um novo "tabu" na política portuguesa.

Portugal vai ter uma saída limpa do programa de ajustamento, ou vai precisar de um programa cautelar?

Ninguém dá certezas, mantém-se o mistério, o tabu adensa-se.

Não fala a "troika", não fala a Europa, não fala o Governo.

Pior: membros dispersos, seja do Governo, seja do PSD, vão dizendo o que pensam, e enviando palpites.

Porém, ninguém dá a certeza de nada.

 

A política portuguesa já teve um "tabu", que envolvia Cavaco Silva e o seu futuro político, nos anos 90.

Ninguém sabia, nem o próprio, o que iria fazer, se iria deixar de ser primeiro-ministro, ou se iria continuar.

O tempo foi passando e a certa altura o tema já enjoava, de tão desgastado e batido.

É como o tema da saída limpa, já enjoa.

Sai não sai, limpa ou suja, cautelar ou sem rede, andamos nisto há tantos meses que o tema perdeu a nobreza, a relevância, e está gasto e enferrujado.

 

Portugal não vai conseguir uma surpresa enorme, tal como conseguiu a Irlanda.

Nesse altura, o ano passado, a "saída limpa" foi um acto de coragem irlandês, de confiança, de segurança, e a Europa inteira admirou-se com os celtas.

Mas, seis meses já passaram, muita água correu debaixo das pontes, e a saída portuguesa já não terá qualquer efeito "surpresa".

As pessoas vão achar normal, que com taxas de juro quase a 3 por cento, um país como o nosso se consiga financiar nos mercados.

É também por isso que o "tabu" é tão irritante.

Na verdade, não é qualquer "tabu", pois qualquer pessoa com um mínimo de conhecimentos de economia percebe que, nas actuais circunstâncias, é óbvio que o país vai ter uma "saída limpa".

Economicamente, seremos "limpos", mas politicamente este longo e enjoativo "tabu" tornou a nossa saída um bocado "sujinha". 

publicado por Domingos Amaral às 10:00 | link do post | comentar
Quarta-feira, 16.04.14

O estranho "Perdoa-me" de Passos Coelho

Ontem à noite, Passos Coelho deu uma entrevista à SIC onde, entre outras pérolas, se saiu com uma espécie de "Perdoa-me".

A dada altura, o primeiro-ministro disse que "lamenta profundamente" a forma como a austeridade e o ajustamento prejudicou as pessoas.

Só faltou pedir desculpa, ou como antes se dizia no programa da SIC dos anos 90: "perdoa-me".

Sim, parecia um pedido de perdão, um lamento honesto, e por uns segundos quase fiquei tentado a acreditar que ele estava genuinamente arrependido de ter praticado tantas políticas erradas.

Porém, rapidamente perdi as ilusões.

Ao longo da entrevista, Passos Coelho mantém firme a sua crença que é preciso prejudicar ainda mais as pessoas, pois o que ele já fez não é suficiente.

E, com requintes de malvadez, lá vai dizendo que os cortes supostamente transitórios vão ser substituídos por outros, agora permanentes, e que serão isto e aquilo, mais ou menos, ele ainda não sabe bem, não leu os relatórios, mas sim haverá correções, etc, etc.

Ou seja, aquele "perdoa-me" é absolutamente falso.

Engane-se quem acha que Passos Coelho está a fazer isto tudo por causa da "troika". 

Nada disso, ele genuinamente acredita que a única maneira de o Estado gastar menos é cortar pensões, salários, e portanto prejudicar seriamente a vida das pessoas.

Para ele, não há outra forma, e isso é bom.

A questão que fica é: se ele acha que isso é bom, porque é que lamenta o prejuízo das pessoas?

Ele acha que é importante prejudicar as pessoas, porque o Estado lhes está a pagar demais.

Mas, se acha isso, porquê lamentar-se? Quem pensa ele que engana?

Na verdade, Passos Coelho está muito contente com o resultado do ajustamento, e não quer saber dos "danos colaterais" ou mesmo dos "danos primários".

Ele veio para provocar danos às pessoas, não para lhes dar mimos. E gosta de ser assim.

E é por isso que ele é tão popular em certas áreas da direita moral e da direita dos interesses.

publicado por Domingos Amaral às 11:55 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Quinta-feira, 30.01.14

Os "mercados" são mares nunca dantes navegados!

Quando se discute se Portugal deve ou não ter um programa cautelar ou uma "saída limpa", costuma-se sempre pensar que essa decisão depende da vontade do Governo.

É uma doce ilusão. 

Na verdade, o regresso aos mercados ou o programa cautelar, dependem muito mais das condições dos próprios mercados do que de nós.

É evidente que, se o Governo conseguir manter os números do déficit e da economia dentro ou até acima dos objectivos, isso ajuda e é importante, mas não chega.

Se usarmos uma analogia marítima, podemos dizer que é essencial ter um bom barco, e uma boa tripulação, mas isso não significa que se controle o estado do mar, as tempestades ou as calmarias.

É assim também com o regresso aos mercados: o barco Portugal pode estar em melhores condições, e a tripulação preparada, mas não sabemos como estarão as correntes, se vai haver borrasca ou se as ondas sobem muito até Maio.

Ou seja, essa parte não depende de nós, e nem sequer é possível fazer grandes previsões.

Na passada semana, por exemplo, no mesmo dia que o Governo anunciava um número muito bom para o déficit, as taxas de juro da dívida, em vez de subirem, desciam, por causa da Argentina e dos mercados emergentes!

De um dia para o outro, a turbulência dos mercados logo criou um contexto mais difícil para Portugal.

Ora, até Maio, ninguém sabe o que se vai passar nos mercados financeiros. 

O FED pode cortar os estímulos monetários, a Turquia pode entrar em crise, a Ucrânia pode ir para uma guerra civil, o BCE pode mudar de ideias e subir taxas, etc, etc. 

Os mercados financeiros são sempre mares nunca dantes navegados, e por isso mais vale esperar para ver o que acontece, em vez de decidir à pressa.

publicado por Domingos Amaral às 11:28 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Quinta-feira, 09.01.14

Porque é que 2013 foi melhor do que 2012?

Hoje, que Portugal regressou de novo aos mercados, vai haver muitas mensagens triunfalistas, dizendo que o caminho da "austeridade" deu os seus frutos e coisas assim.

É evidente, para qualquer pessoa que seja honesta intelectualmente, que a persistência de Passos Coelho foi importante, e ele conseguiu recuperar uma parte da credibilidade perdida pelo país entre 2009 e 2011.

No entanto, não se deve concluir daí que as políticas escolhidas por este Governo foram as mais indicadas. 

Pelo contrário.

Na verdade, em 2012, no ano em que este Governo fez o que queria, cortar na despesa à bruta, retirando os subsídios aos funcionários e pensionistas, e cortando muitos consumos intermédios do Estado, os resultados foram desastrosos.

Em 2012, o PIB desceu a pique, o desemprego subiu terrivelmente, as receitas fiscais caíram, e o deficit quase não diminuiu.

Porém, em 2013 as coisas foram bem diferentes.

Contrariado, o Governo foi obrigado pelo Tribunal Constitucional a não repetir a dose de austeridade, e optou por uma enorme subida no IRS.

O que se verificou foi que a economia portuguesa se adaptou muito melhor à subida do IRS de 2013 do que aos cortes na despesa de 2012.

Em 2013, apesar da subida do IRS, houve já crescimento económico, o desemprego desceu, e as receitas fiscais cresceram muito, o que permitiu diminuir o déficit bem mais do que em 2012!

Quem negar esta evidência está a ser intelectualmente pouco sério.

Para além disso, para o desanuviar das tensões na Europa, muito contribuiu a acção do BCE, que acalmou os mercados financeiros; bem como a recuperação económica dos EUA, da China e do Japão.

O que podemos dizer é que, apesar dos graves erros cometidos pelo Governo, sobretudo em 2012, em que exagerou claramente na dose de austeridade, instituições fundamentais da nossa vida coletiva (como o Tribunal Constitucional e o Banco Central Europeu) deram uma grande ajuda à economia portuguesa.

Tal como os turistas europeus, e os exportadores portugueses, também os juízes do TC e o Sr. Mário Draghi deviam ser considerados obreiros desta viragem no rumo da economia portuguesa.

A Passos Coelho reconheço um mérito: o de ter mostrado determinação e sangue-frio em não abandonar o posto, mesmo nos momentos mais difíceis.

Vai agora recolher os frutos políticos dessa determinação, mesmo não percebendo nada do que fez à economia. 

publicado por Domingos Amaral às 12:24 | link do post | comentar | ver comentários (3)
Sexta-feira, 20.12.13

O Tribunal Constitucional é bom para economia mas mau para as finanças!

As decisões do Tribunal Constitucional têm sempre consequências importantes. Umas são negativas, mas outras são positivas.

As negativas são financeiras, as positivas são económicas.

Comecemos pelas primeiras: o corte de 10% nas pensões, que o TC ontem chumbou, levanta problemas ao país, sobretudo em termos de percepção dos mercados financeiros.

É esse o receio do Governo: que os mercados duvidem da capacidade portuguesa em cumprir as metas acordadas com a "troika", levando os juros a subir.

Nesse caso, dificilmente se consegue evitar um programa cautelar, e mesmo um segundo resgate voltaria a ser possível.

Seria uma situação péssima para Portugal, que ninguém tenha dúvidas disso.

 

Porém, curiosamente, os juros da dívida pública portuguesa hoje ainda não subiram!

Será que os mercados estão distraídos, ou não há muita ligação entre uma coisa e outra, como diz o Governo?

O que me parece estar a acontecer é que "os mercados" estão à espera para ver o que o Governo apresenta como medidas de substituição, e só aí farão o seu juízo.

Se o IVA subir, se o IRS subir, se subir a CES, talvez se consigam os milhões em falta, e nesse caso não haverá grande drama, e não há razões para os juros subirem muito. 

Seja como for, o chumbo do TC provoca efeitos financeiros negativos, mesmo que menos graves e dramáticos do que o Governo tem dito.

 

E quanto aos efeitos positivos?

Esses serão sobretudo económicos. O corte de 10% nas pensões era muito recessivo, havia muita gente que via o seu rendimento disponível baixar, e teria de cortar nos seus consumos.

Seriam muitos milhões a menos, e isso podia representar uma contração do PIB adicional.

Como o TC chumbou o corte das pensões, esse dinheiro continuará a ser pago aos pensionistas, e não haverá contração dos consumos e do PIB por essa via, o que é bom.

Já em 2013 se verificou isso: o TC chumbou os cortes nos subsídios de Natal e férias, e isso foi uma óptima notícia para a economia.

Se houve alguma lição a retirar dos anos de 2012 e 2013, é que a economia portuguesa se adapta bem melhor à subida no IRS, de 2013, do que aos cortes na despesa, de 2012.

 

Portanto e em resumo: notícias menos boas para as finanças, mas boas para a economia portuguesa!   

publicado por Domingos Amaral às 12:27 | link do post | comentar
Segunda-feira, 09.12.13

O tempo de Rui Rio ainda não chegou

Há um certo sebastianismo à volta da Rui Rio que me incomoda.

Dá a sensação que, se de repente o PSD mudasse de líder, tudo em Portugal mudaria, como se todo o mal do país fosse ter Passos Coelho como primeiro-ministro.

Nesse mal estar, cresce a popularidade de Rui Rio, como se ele fosse um desejado, capaz de tudo mudar e de governar muito melhor o país.

No entanto, não se percebe bem porque é que existe esta mitologia à volta de Rio.

Sim, foi um bom presidente da câmara do Porto, e talvez tenha mais sensibilidade social do que Passos, que provou ser demasiado liberal.

Contudo, isso não chega, nem para governar o país, nem sequer para vencer Passos no partido.

Os portugueses têm de meter na cabeça que a grande maioria das suas políticas não são determinadas por eles, mas sim por Bruxelas, ou pela "troika".

A direção geral que Portugal está obrigado a seguir, é uma direção decidida na Europa, independentemente de quem seja o primeiro-ministro da nação.

Já foi assim com Sócrates, entre 2008 e 2011, e é assim com Passos, desde meados de 2011 até hoje.

O que faria Rio, ou qualquer outro, de diferente?

Por outro lado, se Passos conseguir sair do programa de assistência directo para os mercados, hipótese possível, terá vencido politicamente em toda a linha.

Porquê então mudar?  

Mas, mesmo que as coisas não corram assim tão bem, e tenhamos de ir para um programa cautelar, porque haveria o PSD de mudar de líder?

O que poderia Rio fazer diferente que Passos não faça? 

O PSD e o CDS têm maioria na Assembleia, o presidente Cavaco não quer causar distúrbios, onde haverá espaço para Rio aparecer?

É evidente para todos sabemos que este Governo cometeu muitos erros, em muitas questões diferentes, e que há muito mal estar no país.

Mas, o que faria Rio de diferente?

Falar é fácil, manter uma aura de salvador da Pátria também, mas na realidade as coisas são muito mais complicadas, e não se vê ainda uma boa razão para Rio ser melhor que Passos.

A não ser que, daqui até Junho, aconteça um cataclismo, o tempo de Rui Rio ainda não é este.

Mais vale andar por aí do que ir à luta para perder... 

publicado por Domingos Amaral às 13:28 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Quarta-feira, 04.12.13

Portugal pode regressar aos mercados sem programa cautelar?

A maioria das pessoas parece pensar que estão mais próximas tanto a hipótese má, segundo resgate, quanto a menos má, programa cautelar.

Mas, há quem pense que o regresso direto aos mercados é uma possibilidade.

A Irlanda conseguiu-o, e justificou-o de duas formas.

Em primeiro lugar, com as condições dos mercados, as baixas taxas que a Irlanda usufrui. Em segundo, com a confusão ou dúvida europeia perante um programa cautelar.

Como ninguém na Europa sabe o que implica um programa cautelar, os irlandeses temiam, e bem, que a trapalhada europeia os pudesse prejudicar.

E são essas duas situações idênticas ou semelhantes no caso português?

A resposta é sim e não.

Sim, no caso da confusão europeia. Se Portugal necessitar de um programa cautelar, terá de haver mais uma ou duas ou três rondas de conselhos europeus que duram até às tantas da manhã, e no final a solução pode ser desagradável para Portugal, para pacificar alemães e outros.

Nisso, devemos suspeitar da Europa, como a Irlanda fez.

Quanto ao não, é porque as condições de mercado de que Portugal beneficia são ainda muito piores do que as da Irlanda.

Neste momento, em Dezembro, é difícil fazer um regresso directo aos mercados, mas isso não significa que até Junho tal não seja possível.

 

O regresso de Portugal aos mercados vai depender de 3 factores essenciais:

1) A política monetária do BCE. Se Draghi praticar uma política monetária expansionista, seja com novas baixas de juros, seja com outros instrumentos, as taxas de juro da dívida pública de todos os países tenderão a cair, pois haverá mais liquidez no mercado. A queda da taxa portuguesa poderá ser maior, e isso ajudará muito.

2) A política monetária do FED. Se o banco central americano mantiver a sua política monetária expansionista mais alguns meses, as taxas também terão tendência para descer. No entanto, se começar a reduzir a liquidez, o FED pode provocar, como já aconteceu a meio de 2013, uma subida das taxas. A primeira hipótese ajuda Portugal, a segunda prejudica.

3) As medidas orçamentais portuguesas. Se o Tribunal Constitucional vetar a convergência das pensões e os cortes salariais, o governo terá de encontrar medidas para substituir essas, mas pode ver afectada a sua credibilidade. O rating da república pode voltar a descer, e isso impedirá um regresso directo aos mercados. 

No entanto, se o TC não vetar as medidas, haverá um efeito positivo, o rating poderá até melhorar, e nesse caso o regresso aos mercados é perfeitamente possível.

 

Em conclusão: o regresso directo de Portugal aos mercados em 2014, depende da força ou intensidade destes três efeitos. Se todos eles ajudarem, o regresso é possível. Se isso não acontecer, o mais certo é um programa cautelar, seja lá o que isso for...

publicado por Domingos Amaral às 09:55 | link do post | comentar
Segunda-feira, 18.11.13

As 7 razões porque 2013 está a ser melhor que 2012

Parece evidente a todos que a economia portuguesa está melhor em 2013 do que esteve em 2012.

O desemprego baixou um pouco, e a recessão não foi tão forte, com dois trimestres seguidos de algum crescimento.

O déficit orçamental não baixou muito, mas também não piorou, e as taxas de juro da dívida estão agora abaixo de 6%.

Mas, o que é que mudou entre 2012 e 2013?

Muita coisa, e convém perceber o quê.

 

1) Lá fora, mudou o ambiente financeiro.

Em 2012, as taxas de juro da dívida portuguesa, e de quase todos os países europeus, foram vítimas de enorme instabilidade, com crescimentos muito acentuados.

Porém, a partir de Setembro, quando o BCE anunciou o programa OMT, as coisas desanuviaram, e esse diminuir das tensões prolongou-se por 2013.

Tanto o BCE, como sobretudo o FED americano e o Banco do Japão, aplicaram uma política monetária expansiva em 2013, com quedas das taxas de juro ou "quantitative easing".

É sobretudo por isso que se verifica uma calmaria nos mercados das dívidas públicas, pois os investidores, "os mercados", têm mais garantias de liquidez e portanto não estão tão desconfiados.

E foi sobretudo isso que permitiu à Irlanda voltar "aos mercados", e poderá auxiliar Portugal nesse objectivo em 2014.

 

2) Lá fora, as bolsas internacionais têm estado a subir.

Uma das consequências da política monetária expansiva que tem sido seguida nos EUA, no Japão e um pouco na Europa, foi a subida das bolsas internacionais.

Em 2013, as bolsas de Nova Iorque batem recordes, e as europeias e japonesas também têm estado sempre a subir.

Além do que isso significa em termos psicológicos, há também um "efeito riqueza" que se vai espalhando à economia.

Como as suas carteiras de ações se valorizam, os consumidores podem aproveitar para consumir mais, e as empresas para investir. 

 

3) Lá fora, houve várias economias que melhoraram os seus crescimentos económicos.

A América continuou a crescer, o Japão começou a crescer, a na Europa, a Alemanha e o Reino Unido também conseguiram algum crescimento.

Até a própria Espanha, tão deprimida em 2012, melhorou a sua situação!

Embora a China tenha estado abaixo do esperado, há indicadores que os chineses irão estimular mais o seu mercado interno, e isso já se sentiu um pouco em 2013.

Os rebocadores da economia mundial, embora tenham crescido pouco, estão pois em terreno positivo, e isso possibilitou a que os países mais pequenos, como Portugal, tenham conseguido exportar mais em 2013 do que em 2012.

 

4) Cá dentro, sentiu-se a melhoria do cenário internacional.

As exportações portuguesas beneficiaram com os crescimentos de vários países, e bateram vários recordes.

Além do mérito nacional, isso só foi possível porque as "economias rebocadoras" aumentaram a procura dos nossos bens.

No teatro financeiro, Portugal também beneficiou muito das descidas das taxas de juro da dívida que a actuação dos bancos centrais europeu e americano possibilitaram. 

Por fim, também a nossa bolsa de Lisboa esteve bem, sobretudo no segundo semestre de 2013, o que valorizou muito as carteiras dos que têm valores mobiliários, e produziu um efeito positivo extra, que pode ter tido algum efeito positivo no consumo.

 

5) Cá dentro, o turismo português teve um ano excelente.

Seja por mérito próprio, seja devido à instabilidade no Norte de África, que desviou para Portugal muitos turistas, a verdade é que o ano foi muito bom, o que permitiu uma entrada de receitas adicional que muito jeito nos deu. 

Esta crescimento adicional foi importante para compensar os efeitos negativos da recessão interna.

Foram os estrangeiros que nos ajudaram, e o mesmo aconteceu à Grécia.

 

6) A economia portuguesa adaptou-se melhor ao aumento do IRS do que aos cortes na despesa.

Em 2012, os cortes nos subsídios de férias e Natal, e os muitos cortes em despesas intermédias do Estado, provocaram uma recessão interna muito cavada. O desemprego disparou, e o PIB caiu muito mais do que se esperava, tendo por isso também diminuído muito as receitas fiscais.

A brutal austeridade provocou uma brutal recessão.

No entanto, em 2013 a política orçamental mudou.

Em vez de cortar à bruta na despesa, o Governo subiu o fortemente IRS.

O que se verificou, em 2013, foi que a economia absorveu muito melhor o aumento do IRS, e a recessão foi muito menos forte.

Aumentar os impostos provocou menos danos do que cortar na despesa, é essa a lição a retirar.

 

7) O Tribunal Constitucional deu, mais uma vez, uma boa ajuda à economia.

O veto do TC ao corte de um dos subsídios em 2013 ajudou a economia portuguesa.

Ao impedir que o Governo aplicasse esse corte, o TC permitiu que esse dinheiro fosse parar ao bolso das pessoas, ajudando a economia pela via do consumo.

Em vez de criticar TC, o Governo devia agradecer ao TC por ter ajudado ao crescimento da economia.

Embora não exista ainda qualquer "milagre económico", algum do crescimento económico que existiu em 2013 deve-se ao TC e não ao Governo.  

 

Em resumo: 2013 foi melhor do que 2012, mas era bom perceber que, se o Governo tivesse feito o que queria, cortar os 2 subsídios a funcionários e pensionistas, provavelmente não estaria agora a festejar o regresso ao crescimento económico, pois a recessão teria sido bem mais forte, como foi em 2012.

A estranha conclusão é esta: este Governo beneficiou, não das suas políticas desejadas, mas daquilo que foi obrigado a fazer contrariado.

E é pena que ainda não tenha aprendido a lição, e que anuncie para 2014 mais cortes na despesa.

Já devia ter percebido que isso é pior para a economia do país, e no limite para o próprio Governo.

 

 

publicado por Domingos Amaral às 10:49 | link do post | comentar | ver comentários (1)
 

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