Conseguirá Passos destruir Portas?
É a grande dúvida do momento!
Além de ter andado quase um ano a humilhar Paulo Portas de formas mais ou menos subtis, Passos Coelho fez ontem uma sibilina destruição de carácter de Portas.
Quando falou ao país, Passos não mencionou as razões de Portas para a sua demissão. Nem por uma vez referiu o ponto da discórdia: a escolha de uma ministra, uma mera continuadora de Gaspar.
Nada disso. Passos levou as coisas para o plano do carácter.
Deu a entender que Portas era imprevisível, "surpreendera-o com o pedido de demissão"; que era instável, "é preciso manter a serenidade nestes momentos"; e que "não se demitia e não fugia", quando Portas acabara de se demitir.
Por fim, Passos traçou um paralelo terrível entre ele, o "referencial da estabilidade", e Portas, o instável.
Depois dessa hora, os comentadores e os portugueses passaram a discutir, não a substância política das divergências, mas o carácter de Portas.
Este profundo momento de cinismo já era grave, mas Passos foi mais longe.
Na verdade, o que ele fez foi um verdadeiro apelo a um golpe de Estado no CDS. O que ele pretende é decepar a liderança do CDS, ou seja Portas, e substituí-la por outra, fiável e obediente, que salve o Governo de uma morte mil vezes anunciada.
E, ao que tenho ouvido dizer hoje, esse golpe de Estado parece estar prestes a acontecer no CDS.
"Ofendidos", "traídos", "surpreendidos" (como?) pela súbita decisão de Portas, e tremendo de medo e pânico com a chantagem que Passos e os famosos "mercados" estão a fazer, há muitos no CDS dispostos a deixar cair Portas o mais depressa possível.
Conseguirá Portas sobreviver a esta pressão intensa? E como entender um partido que passa os dias a criticar o Governo por tudo e por nada, e agora, no momento da verdade, se corta e acanha, refugiando-se debaixo das saias protectoras de Passos?
Será uma tragédia para Portugal se Portas acabar hoje, e se demitir da presidência do CDS-PP. Mas para o CDS será pior que uma tragédia, será a prova final da sua absoluta irrelevância na sociedade portuguesa. A partir dessa data o CDS será um empregado, submisso e caladinho, de Passos Coelho.
E Passos acabará como o grande vencedor destas "72 horas", desaparecido o seu ministro mais impopular (Gaspar) e o único político que os portugueses respeitam mais do que Passos, que é Portas.
Ainda dizem que isto é uma brincadeira de garotos! Isto é digno de um filme medieval, com Maquiavel no principal papel.