Zangam-se as comadres (FMI e Comissão Europeia) e descobrem-se as verdades...
As "troikas" têm os dias contados. O FMI e a Comissão Europeia já andam pegados, e há acusações mútuas e ressentimentos de parte a parte.
Embora não seja fácil o divórcio imediato, há pelo menos uma separação clara, e a "troika" já vive, por assim dizer, em casas separadas.
O que levou a zanga tão profunda? O reconhecimento da verdade, pela parte do FMI, e a continuação em "estado de negação", por parte da Comissão Europeia. Uns já admitem os erros, outros continuam cegos pelo seu próprio fanatismo.
Na semana passada, o FMI tornou público um documento onde diz, preto no branco, que a acção das "troikas" na Grécia, Portugal, Irlanda e Chipre foi um terrível falhanço!
E quais são as causas desse humilhante falhanço? Em primeiro lugar, os países credores nunca reconheceram a evidência de que a dívida dos países do Sul não era pagável, e tinha de se proceder a um imediato perdão geral, com renegociação da nova dívida.
Ou seja, o FMI vem reconhecer em meados de 2013 aquilo que muitos economistas, entre os quais me incluo, tinham defendido desde pelo menos 2010!
Era evidente, para quem estivesse de boa fé e percebesse um mínimo de economia, que jamais as dívidas públicas da Grécia e da Irlanda, mas também de Portugal e Chipre, poderiam ser pagas na totalidade. Não o aceitar, logo em 2010, foi uma perda de tempo e um sacrifício inútil para essas economias.
Mas, o FMI diz mais. Diz que foi sobretudo a teimosia de certos países (leia-se Alemanha) mas também da Comissão Europeia e do BCE, dominados ambos pela linha dura dos falcões da austeridade, que impôs o princípio de que só os devedores é que ajustavam, nunca os credores!
Esse princípio é totalmente errado, pois a irresponsabilidade foi mútua. Tanto foram irresponsáveis os devedores, que pediram demasiado dinheiro emprestado; como os credores, cegos pela ganância de ganhar dinheiro fácil e que fizeram péssimas avaliações de risco.
Porém, os falcões de Merkel e do Bundesbank, bem como o BCE e o patético Oli Rehn da Comissão, não aceitaram nenhum "perdão"! Era preciso fazer sofrer os "irresponsáveis" devedores do Sul da Europa.
Nasceu aí o segundo grave erro, que o FMI agora reconhece: os programas de "ajustamento" impostos pelas "troikas" foram demasiado rápidos, demasiado bruscos, e substimaram os efeitos recessivos de tanta austeridade!
Durante três anos, muitos economistas, entre os quais me incluo, pregaram no deserto, dizendo precisamente isso. A "austeridade" à bruta que foi imposta à Grécia, à Irlanda, a Portugal, mas também um pouco por todo o resto da Europa, não traria bons resultados.
Como está à vista de todos, foram os críticos que tiveram razão. A Europa está numa crise geral, o desemprego cresceu para valores tremendos, e nenhum dos países do Sul está hoje em melhores condições para pagar a sua dívida pública, pelo contrário, as dívidas cresceram imenso!
Infelizmente para todos nós, a lucidez e auto-crítica do FMI é tardia, e além disso parece-me que não mudará nada de essencial. A Europa continua cega e não quer admitir que errou e que é fundamental mudar de caminho.
A Europa toda? Não. Curiosamente, a Sra Merkel revelou há dias os seus planos de governo para os próximos anos. A Alemanha prepara-se para gastar 20 mil milhões de euros em "auto-estradas" e aumentar a despesa do Estado em muitos outros "subsídios"!
Viva Merkel, a dona da Europa, que obriga os outros a poderosos sacrifícios para depois poder gastar à tripa forra no seu país. Grande senhora, sem dúvida!