Portas: a sua vitamina E(de economia) não está a funcionar!
Tenho lido por aí que a verdadeira razão pela qual Paulo Portas não foi no sábado à tomada de posse dos novos ministros, não foi por estar longe de Lisboa, mas sim por estar "amuado".
Como a remodelação do Governo não foi mais profunda, e o CDS não foi bem tratado por Passos, Portas fez uma pequena birra.
É bem possível que assim seja. Quem tenha seguido com alguma atenção os últimos meses de Portas, descobriu certamente uma tendência florescente na sua actividade ministrial: a sua enorme vocação para a Economia.
A maior parte das aparições de Portas pelo mundo, do Brasil ao Dubai passando pela Índia e pela Comporta, incluem intervenções de política económica.
Ele gaba as exportações nacionais, a sua vitalidade e o quanto são essenciais; e ele exorta os estrangeiros a investir, declarando que este é o melhor momento para isso.
Lá fora e cá dentro, há mais de um ano, Portas pratica um permanente discurso económico positivo, tentando apontar a luz ao fundo do túnel.
Na verdade, ele apresenta-se como um farol da esperança económica, usando uma espécie de kriptonite verbal para estimular os desanimados indígenas, ou administrando-lhes doses de Vitamina E (de economia), que revitalizem e relancem o país.
Dessa forma, Portas procura ser o contraponto de Vítor Gaspar. Enquanto Gaspar lança impostos, Portas lança investimentos; quando Gaspar deprime, Portas anima; sempre que Gaspar massacra os portugueses com mais austeridade, Portas tenta aliviá-los dessa canga. Se Gaspar é o pólo negativo das pilhas do Governo, Portas tenta ser o positivo.
Em termos de imagem isto tem funcionado, e Portas tem subido nas sondagens, mas na realidade as coisas são menos eficazes. Por mais que Portas tente espevitar a economia com infusões de optimismo e exportações para o resto do mundo, a verdade é que na terra natal o efeito Vitamina E pouco se sente, tal é a enxurrada de austeridade que Gaspar promove, com a benção e o apoio de Passos.
Além disso, os discursos de Portas tornaram evidente o seu oculto desejo: ser Ministro de Estado e da Economia. Era uma espécie de brinde 2 em 1. Por um lado, Portas era promovido na hierarquia do Governo, por outro e com a ajuda do seu talento, rapidamente se transformaria num "ministro do Bom Estado da Economia", dando agradáveis notícias a todos, baixando IRC´s, semeando investimentos e colhendo exportações, aplicando um choque vitamínico E Super Plus ao nosso tão mal-tratado país.
Contudo, é melhor Portas tirar esse cavalinho da chuva, pois tal nunca irá acontecer. Passos Coelho não é ingénuo e não vai entregar o ouro, não ao bandido, mas ao parceiro da coligação. Dar ao CDS a pasta da Economia seria convocar a tragédia para o PSD e para o Governo, e é fácil perceber porquê.
Desde Setembro de 2012, com a questão da TSU, que se tornou clara a guerrilha de Portas às ideias de Gaspar, que o "enorme aumento de impostos" que se seguiu só serviu para amplificar. Portas está contra a estratégia "hard line" de Gaspar na austeridade, e tudo tem feito para a minar.
Dar-lhe a pasta da Economia seria transformar uma guerrilha de atrito numa guerra aberta. Ministro de Estado e da Economia, Portas teria um poder de fogo enorme para afrontar Gaspar e tentar, a prazo, correr com ele.
Ora, Passos não vai cair nessa armadilha. O primeiro-ministro, mal ou bem, confia em Gaspar e nada fará para o afrontar ou incomodar. Dar a Portas a Economia seria transformar cada conselho de ministros numa arena semanal de luta entre a Vitamina E, de Portas, e a Quimioterapia Financeira, de Gaspar. Tal batalha de gigantes só causaria desgaste interno e cisões profundas no Governo, podendo acelerar o seu prematuro fim.
Assim sendo, Portas terá de se contentar com minúsculas retaliações cirurgícas, enquanto incentiva os queixumes públicos do leal escudeiro Pires de Lima, e viaja pelas Arábias a vender azeites, vinhos ou chouriços.
A Vitamina E de Portas tem os limites que Passos deixa, não os que Portas quer...