Serial killers ou monogamia em série?

Estava outro dia à conversa com um amigo que se entitulava um "serial killer". Não de pessoas, bem entendido, ele não era um assassino tipo "Silêncio dos Inocentes". Ele era um "serial killer" de mulheres, matava-as uma atrás da outra, mas em sentido figurado.

Mal uma lhe passava à frente, tirava-lhe as medidas e atacava. Primeiro, fazia-lhe a ronda. Tirava informações sobre ela, pesquisava no Facebook a página dela, frequentava os locais que ela frequentava, e quando a oportunidade surgia, zás, lançava o seu anzol.

Normalmente, embora isso nem sempre acontecesse na primeira noite, era bem sucedido. Como tinha graça, lata, jeito, e sobretudo como se concentrava muito nelas, o meu amigo tinha, e tem, um enorme sucesso entre as mulheres.

Pelo menos nas primeiras semanas, era raro quem lhe resistisse. Solteiras ou casadas, estrangeiras ou nacionais, novas ou mais entradotas, quase todas caíam na sua encantadora lábia, e rendiam-se, umas mais depressa, outras mais devagar.

Contudo, passadas as primeiras semanas de encantamento, elas começavam a perceber que ele já estava noutra. O "serial killer" é assim. O que lhe interessa é faturar, mas estando o registo feito, é tempo de começar a pensar noutro, ou neste caso, noutra mulher.

E é rara a mulher que consegue fazer durar a coisa muito tempo. Embora ele já tenha estado casado duas vezes, nunca foi fiel, e namoriscou sempre, mesmo de aliança no dedo.

O que é curioso nisto é que as mulheres não se queixam dele, não dizem mal dele, não acham que ele seja um porco ou um egoísta. Há muitas que o tratam mesmo por "serial killer", aceitando perfeitamente a sua natureza. Quando lhe perguntei qual era o segredo para isso, para essa ausência de raiva nas mulheres que ele abandona, ele disse-me só:

- Nunca lhes menti. 

Era tão simples como isso. Ele nunca as enganava, nunca lhes dizia que as amava, que eram a mulher da vida dele, que estava louco de paixão e não via mais nada à frente. Ele apenas lhes dizia que estava interessado nelas, que gostava da conversa delas, que gostava de se divertir com elas, de lhes provocar emoções fortes (normalmente na cama), mas que, como era um "serial killer", e não podia negar a sua natureza, era melhor não ser namorado delas, e muito menos marido, pois isso é que lhes iria causar infelicidade!

Não me perguntem como, mas a verdade é que isto funcionava quase sempre. Sim, havia uma ou outra que se afastavam, mas a maioria ficava curiosa, fascinada com o interesse dele nelas, acabando por ir na conversa. E ele todo contente, com mais uma conquista no currículo.

Além da conversa, havia também outro princípio que ele aplicava: nunca andava com duas mulheres ao mesmo tempo. Se andava com uma, andava com ela e não dormia com outras. Quando queria dormir com outra, despedia-se da primeira, e seguia em frente. Ele costumava dizer que era uma espécie de estação de combóios só com duas linhas. Quando chegava um novo combóio, estava na altura de partir o que estava parado na estação!

Quando o ouvi explicar esta teoria, disse-lhe que ele não era um "serial killer". Ele era, tal como a maioria dos seres humanos, monógamo, só que era em série! É claro que há casos de poligamia, ou de pessoas que andam com várias ao mesmo tempo. Mas a verdade é que a grande maioria dos humanos é monógama em série.

Hoje anda com um, mas daqui a uns tempos (às vezes muitos anos) esse relacionamento acaba e depois começa outro, e por aí fora. Os relacionamentos têm é duração variável. Há casos rápidos e há casos lentos, e alguns podem até durar a vida toda, embora isso seja cada vez mais raro. 

O meu amigo era um caso rápido. Era, e é, um monógamo em série, mas a coisa com ele anda tão depressa, que ele até se pode chamar a si próprio "serial killer"!

publicado por Domingos Amaral às 16:13 | link do post | comentar