Os mortos-vivos de Passos Coelho
A frase que mais me impressionou, na entrevista de Passos Coelho ontem à TVI, foi quando ele disse que "vamos sair disto vivos!" É uma revelação deveras impressionante, porque admite a possbilidade, ou o perigo, de "morrermos". Frases destas são normalmente ouvidas na boca de comandantes de navios, ou de tropas militares, ou de companhias cercadas pelos inimigos. Quando a desesperança aumenta, há sempre um chefe mais optimista e vivaço, que tenta animar as hostes com estas proclamações na certeza da sobrevivência.
Que Portugal tenha chegado a este ponto é que é grave. Quando um primeiro-ministro, para convencer o país, nos tem de prometer que vamos "viver", é porque já tudo cai à sua volta e quase só ele ainda acredita que tudo vai correr bem. Vivos? Vamos sair disto vivos? Talvez a expressão mais correcta fosse mortos-vivos, pois é isso que está a acontecer à nossa economia, tal como aconteceu à da Grécia.
O desemprego altíssimo, a falência de muitas de empresas, os bancos que não podem nem querem dar crédito, a terrível sensação de que só lá fora é que há oportunidades, a falta de confiança no futuro, transformaram Portugal num território de "zombies". Dead Men Walking, seres sem grande crença no dia de amanhã, que se arrastam penosamente, à espera ninguém sabe bem de quê.
Antigamente, na Idade Média, os reis e os nobres mandavam matar quem tinha divídas, cortando-lhes as cabeças. Hoje, cortam-nos os sonhos, os projectos de futuro, decapitam-nos as ideias, dizendo que 2013 vai ser terrível, 2014 também, e quem sabe lá para 2045 estaremos salvos. Ou vivos, como ele diz.