Pedimos desculpa por esta democracia, venha a ditadura?
Nos últimos tempos, oiço cada vez mais portugueses que dizem que a nossa democracia não tem capacidade para lidar com esta crise, e que só uma ditadura pode resolvê-la. Cada vez mais frustrados, cansados dos políticos, muitos portugueses fantasiam com a alvorada de uma ditadura, onde um ser providencial qualquer, montado num cavalo branco, aparecia numa manhã de nevoeiro para acabar com a barafunda e meter "isto tudo na ordem"!
É muito fácil pensar assim. Isto está uma merda, a democracia não resolve, venha de lá uma ditadura! É fácil, mas não passa de uma miragem, igual à daqueles que vêm oásis falsos no deserto. Quem julga que uma ditadura poderia resolver alguma coisa, está redondamente enganado. Na actual situação portuguesa, sendo nós uma pequena economia dentro do sistema monetário europeu, com uma moeda chamada euro, o que poderia fazer de diferente uma ditadura?
Imaginemos que daqui a um ano, no meio da miséria e da revolta geral, os militares dão um golpe e colocam no poleiro um ditador. O que poderia ele fazer? Saía do euro, provocando ainda mais miséria? Despedia 200 mil funcionários públicos, provocando ainda mais miséria? Deixava de pagar as dívidas aos credores internacionais, ficando sem dinheiro para pagar salários uns meses depois? Sim, digam-me lá, o que podia um Fidel tuga ou um Pinochet lusitano fazer à nossa economia? Que milagre podia executar, o da multiplicação dos euros?
E que garantia tínhamos nós que o ditador tomava as decisões certas para tirar o país da crise? A grande maioria dos ditadores, por esse mundo e por esses séculos fora, seja na Europa, seja na Ásia, seja na América do Sul seja em África, fossem eles de esquerda ou de direita, só fizeram merda da grossa por onde passaram! Será que as pessoas pensam que, só por um ditador poder meter a oposição na cadeia e calar as pessoas, ele consegue resolver os problemas económicos de um país? Falsa ilusão. Perguntem aos cubanos, aos argentinos, aos brasileiros, aos cambodjanos, aos russos, aos paraguaios, se os ditadores lhes resolveram as crises económicas e verão a resposta que têm.
Falar na necessidade forte de uma ditadura em Portugal é como mandar uma mijinha na rua. Alivía no momento, mas não muda a nossa vida.