Cada vez gosto mais da Gabriela
Cada vez gosto mais da telenovela Gabriela, que a SIC emite de segunda a sexta. Adoro o professor-poeta e a sua Malvina; o coronel Jesuíno e o seu "eu vou-lhe usar"; a Sinhazinha e o seu amado dentista, infiéis já descobertos pela criada chantagista; a Ivete Sangalo como Maria Machadão; o Beto que desvirginou a noiva que perdeu os pais num acidente, e com quem ele já não quer casar; a mulher do Tonico Bastos que lhe adora morder as nádegas; o próprio Tonico Bastos, que faz do Bataclan o seu cartório; a Jeruza que se apaixona pelo Mundinho; o Mundinho que desafia o poder do coronel Ramiro Bastos; o coronel Ramiro Bastos que chama "deputado de merda" ao filho; o coronel Melck, sempre pronto para mandar matar alguém; o Juvenal que é virgem e joga às cartas com a puta; a Gabriela que gosta de papagaios, de saltar ao eixo com as crianças, e não quer vestir sapatos nem ouvir falar em casar; e o Nassib, o "meu turquinho", apaixonado pela natureza bela, em estado puro, que vê na sua cozinheira, a mulher cravo e canela.
Sim, adoro Ilhéus, a sua política primitiva, a sua Igreja, os seus cafés, a sua cachaça que fala em vez de falarem as pessoas, os seus mexericos e intrigas, as manhas das mulheres e os truques dos homens; adoro as expressões, a reinvenção do português que nos ensinam, com os seus "chamegos", as suas "quengas", os seus "cabras". O livro que Jorge Amado escreveu já era uma obra de arte literária, mas a Globo conseguiu, pela segunda vez, transformá-la numa obra prima televisiva. No mundo das telenovelas, esta Gabriela reinará para sempre no Olimpo, onde só existia, até agora, Roque Santeiro. Mas Gabriela consegue ser ainda melhor!
Num país massacrado pelas más notícias, que bom é perdermo-nos todas as noites naquele universo fantástico do Nordeste brasileiro, que bom é emocionarmo-nos, que bom é rir, que bom é comovermo-nos, que bom é excitarmo-nos com aquela dança sexual permanente, que bom é voltar às origens básicas e primárias que existem dentro de cada homem e de cada mulher. Quem não ama a telenovela Gabriela é porque já morreu por dentro...