Regressar aos "mercados" é bom?
Pelo que tenho ouvido, o grande objectivo deste governo é que Portugal possa recuperar "credibilidade" para poder "regressar aos mercados" em 2013 ou 2014. Isto dito assim, parece um propósito correcto e grandioso, que tudo justifica. No entanto, convinha pensar um pouco sobre o que significa "regressar aos mercados". Essa intenção, na aparência tão límpida, significa que estamos a fazer um monte de sacrifícios hoje para que, no futuro, os políticos e governantes portugueses possam outra vez endividar alegremente o país, contrair mais e mais dívida, e provavelmente tomar decisões tão irresponsáveis como as que tomaram ao longo desta última década, construindo auto-estradas desnecessárias, comprando submarinos desnecessários, e gastando uma enormidade de dinheiro de uma forma absolutamente indecorosa, como o fizeram todos os governos, sem excepção, desde que entrámos no euro.
"Regressar aos mercados" é pois voltar a dar aos políticos portugueses a possibilidade de endividarem o país exageradamente. Ora, pergunto eu, isto faz sentido? Faz sentido que os portugueses paguem um preço tão alto, em sacrifícios e em perda de nível de vida, para que em 2015, 2016 ou coisa assim, um qualquer primeiro-ministro imbecil desate a querer fazer mais "obras" e que vá então "aos mercados" buscar mais dinheiro para financiar a sua ambição? Pela minha parte, acho que não faz sentido nenhum.
Preferia mil vezes que a Europa me dissesse que garantia as nossas dívidas em troca da impossibilidade futura de os nossos políticos fazerem mais disparates. Se os nossos políticos ficassem a partir de agora impedidos pela Europa de realizar despesas absurdas e megalómanas, ou seja impedidos de contrair mais dívida pública e sem qualquer possibilidade de ir "aos mercados", acho que o problema se resolvia bem mais depressa do que com esta austeridade brutal. "Regressar aos mercados" é dar aos políticos portugueses um poder que eles não deveriam ter depois do espectáculo de incompetência que deram. Por mim, quando mais tardio o "regresso aos mercados", mais descansado eu fico.