A Gabriela contra a Casa dos Segredos

Começou esta semana em Portugal a grande batalha televisiva do ano, que coloca frente a frente dois monstros sagrados da nossa televisão. De um lado, a Gabriela, o remake da mais famosa telenovela da Globo, a primeira a ser emitida no Portugal livre nascido da revolução de Abril de 74. Do outro, a Casa dos Segredos, o mais espantoso monumento nacional produzido no Portugal do século XXI para o pequeno ecran.

De um lado e na SIC, "as putas" do Bataclan, com a Maria Machadão, a Zarolhinha, e um harém de fru-frus, coxinhas e mamocas ao léu. Do outro e na TVI, as boazonas com ar de putéfias, nascidas na obscuridade das casas de alterne ou de bares manhosos do país profundo, cujo sonho de futuro é colocarem mais mililitros de silicone nas mamonas!

De um lado vão estar os coronéis agressivos, putanheiros e arrogantes, que dominavam o Nordeste do Brasil há mais de cem anos. Do outro, vão estar os musculados exemplares nacionais, lusitanos de pura gema, com pinta de segurança de discotecas e expressões de grunhos analfabetos, que dominam a noite de Portugal.

De um lado vai estar o erotismo picante das mulatas, o desejo de fornicação permanente, a alegria das putas e dos maridos infiéis, o terror dos conservadores e dos católicos. E do outro vão estar hectolitros de mamonas a quererem sair dos decotes, danças sexuais com calças a comprimirem órgãos genitais, pérfidos jogos de encornanços e traições, famílias em sofrimento com os seus heróis privados, o terror dos conservadores e dos católicos.

Que belo combate televisivo. E ainda por cima, em ambos os programas é difícil compreender o que dizem os personagens. Na Gabriela, há o sotaque carregado do Nordeste, pretas, putas, senhoras e coronéis falam um dialecto quase incompreensível. Na Casa dos Segredos, há os pontapés na gramática, as expressões de um calão inculto que invadiu a nação, os microfones que emudecem aos soluços, e às vezes, tipos e tipas que comem e falam ao mesmo tempo, só para atrapalhar o nosso entendimento. É claro que eu prefiro a Gabriela, prefiro as mamocas às mamonas. Mas, não resisto a espreitar a Casa dos Segredos. Nunca tão poucos fizeram rir tantos!

 

 

publicado por Domingos Amaral às 11:48 | link do post | comentar