O Bom do Borges
Era uma vez um senhor que vivia muito feliz com os 200 e tal mil euros que o Governo lhe pagava por ano para ele ler uns relatórios de contas e fazer uns contactos. Um dia, este senhor, que tinha o coração cheio de bondade e amor ao próximo, decidiu dizer em público o que pensava sobre os outros portugueses. Disse então ele que a única forma do país voltar a ser feliz era os portugueses todos descerem muito os seus salários.
É claro que este senhor, muito inteligente mas especialmente com o coração cheio de bondade e amor ao próximo se esqueceu de dizer que, já agora e para dar o exemplo, ele iria também descer o seu próprio salário para, vá lá, metade do que ganhava para ler relatórios de contas e fazer uns contactos. Isso ainda lhe deixaria cerca de 100 mil euros líquidos por ano para continuar a ser uma pessoa com o coração cheio de bondade e amor ao próximo.
Contudo ele, que tinha, é bom recordar, um coração cheio de bondade e amor ao próximo, achou melhor não dizer tal coisa, não fosse alguém considerar isso um sacrifício inútil, pois 100 mil euros por ano não mudam nada nas contas do país.
Assim, o Bom do Borges lá se ficou pela sua sugestão para terceiros, e com o coração cheio de bondade e amor ao próximo, continuou a ganhar 200 e tal mil euros por ano para ler relatórios de contas e fazer uns contactos. A ele se pode aplicar uma velha máxima, apenas com uma ligeria variante: "Bem prega frei Tomáz, não faças o que ele diz, faz o que ele faz"!