Quinta-feira, 09.01.14

Porque é que 2013 foi melhor do que 2012?

Hoje, que Portugal regressou de novo aos mercados, vai haver muitas mensagens triunfalistas, dizendo que o caminho da "austeridade" deu os seus frutos e coisas assim.

É evidente, para qualquer pessoa que seja honesta intelectualmente, que a persistência de Passos Coelho foi importante, e ele conseguiu recuperar uma parte da credibilidade perdida pelo país entre 2009 e 2011.

No entanto, não se deve concluir daí que as políticas escolhidas por este Governo foram as mais indicadas. 

Pelo contrário.

Na verdade, em 2012, no ano em que este Governo fez o que queria, cortar na despesa à bruta, retirando os subsídios aos funcionários e pensionistas, e cortando muitos consumos intermédios do Estado, os resultados foram desastrosos.

Em 2012, o PIB desceu a pique, o desemprego subiu terrivelmente, as receitas fiscais caíram, e o deficit quase não diminuiu.

Porém, em 2013 as coisas foram bem diferentes.

Contrariado, o Governo foi obrigado pelo Tribunal Constitucional a não repetir a dose de austeridade, e optou por uma enorme subida no IRS.

O que se verificou foi que a economia portuguesa se adaptou muito melhor à subida do IRS de 2013 do que aos cortes na despesa de 2012.

Em 2013, apesar da subida do IRS, houve já crescimento económico, o desemprego desceu, e as receitas fiscais cresceram muito, o que permitiu diminuir o déficit bem mais do que em 2012!

Quem negar esta evidência está a ser intelectualmente pouco sério.

Para além disso, para o desanuviar das tensões na Europa, muito contribuiu a acção do BCE, que acalmou os mercados financeiros; bem como a recuperação económica dos EUA, da China e do Japão.

O que podemos dizer é que, apesar dos graves erros cometidos pelo Governo, sobretudo em 2012, em que exagerou claramente na dose de austeridade, instituições fundamentais da nossa vida coletiva (como o Tribunal Constitucional e o Banco Central Europeu) deram uma grande ajuda à economia portuguesa.

Tal como os turistas europeus, e os exportadores portugueses, também os juízes do TC e o Sr. Mário Draghi deviam ser considerados obreiros desta viragem no rumo da economia portuguesa.

A Passos Coelho reconheço um mérito: o de ter mostrado determinação e sangue-frio em não abandonar o posto, mesmo nos momentos mais difíceis.

Vai agora recolher os frutos políticos dessa determinação, mesmo não percebendo nada do que fez à economia. 

publicado por Domingos Amaral às 12:24 | link do post | comentar | ver comentários (3)
Quarta-feira, 08.01.14

Sócrates ou os perigos da internet

É muito fácil manipular as pessoas na internet.

Na RTP, José Sócrates contou que, no dia do Portugal-Coreia do Norte, em 1966, quando saiu de casa Portugal perdia por 3-0, e quando chegou à escola já a seleção vencia por 5-3.

A ideia era realçar os feitos de Eusébio, mas a cotação de Sócrates em certas almas é tão baixa, que logo correu a net que ele tinha contado mais uma mentira.

Foi o blog "O Insurgente", assinado por Ricardo Campelo Magalhães, que lançou a confusão.

O autor insinua que o relato socrático não podia ser verdadeiro, pois o Portugal-Coreia do Norte jogou-se a 23 de Julho de 1966, que foi um sábado!

Parecia evidente ao autor deste comentário que Sócrates contara mais uma das suas petas, e foi isso que pegou fogo à net.

As pessoas que já têm o preconceito formado, de que Sócrates é mentiroso, caíram de imediato na esparrela.

Então não se estava mesmo a ver que o homem tinha inventado aquela historieta para se fazer interessante?

Acontece que, antes de escrever na net é preciso ter algum cuidado, não vá escapar-nos alguma coisa.

E de facto, ao Ricardo Campelo Magalhães escapou um detalhe: é que em 1966 havia aulas ao sábado de manhã, e à tarde havia outras actividades escolares.

Além disso, existiam actividades escolares e outras (escuteiros, etc) nas escolas até ao final de Julho!

Ou seja, no dia 23 de Julho, um sábado, Sócrates podia perfeitamente ir à escola àquela hora, e portanto não há qualquer razão para desconfiar da veracidade da sua história.

Não que eu seja grande admirador da personagem, mas este episódio é um excelente exemplo de como é fácil as pessoas correrem atrás de foguetes!

publicado por Domingos Amaral às 10:22 | link do post | comentar | ver comentários (163)
Segunda-feira, 06.01.14

Eusébio e o eco na eternidade

No filme "O Gladiador", há uma frase muito bonita que transmite bem o que penso sobre Eusébio.

Num discurso às tropas, antes de um combate, o general romano Maximus (Russel Crowe) declara:

"O que fazemos na vida, faz eco na eternidade".

 

Eusébio, os seus golos, as suas fabulosas jogadas pelo Benfica, as suas lágrimas por Portugal, fará eco na eternidade.

Daqui a cem anos, ou mesmo daqui a mil anos, ainda haverá que veja os filmes dos seus talentos dentro do campo.

É assim sempre com os génios.

Hoje ainda ouvimos a música de Mozart ou Beethoven, e ainda lemos as obras de Shakespeare ou Eça.

Não precisamos de ter sido contemporâneos deles para apreciar, com admiração e emoção, aquilo que fizeram. 

É por isso que eu não estou de acordo quando me dizem que eu não vi jogar Eusébio.

Vi e não vi.

Não vi porque nasci em 1967 e quando comecei a adorar futebol já ele estava no fim da sua carreira.

Mas, vi-o sempre, a vida toda, em imagens e sempre verei.

A magia da televisão permite-nos isso e Eusébio, um dos pais fundadores do futebol da era moderna (com Di Stefano, Bobby Charlton ou Pelé), emocina-me hoje como se eu estivesse lá para viver o que se passou, em 62 ou 66.

Eu vi, e vou continuar a ver porque coisas daquelas são para ver e rever e admirar sempre.

Coisas dessas, maravilhosas, vão continuar a fazer eco, pela eternidade fora.

publicado por Domingos Amaral às 11:26 | link do post | comentar | ver comentários (2)
 

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