Segunda-feira, 22.10.12

A Bruxa Má da Europa

Angela Merkel é a Bruxa Má da Europa. Como as bruxas más das histórias para crianças, tudo tem feito para ser odiada por todos os europeus, excepto os que ainda acreditam que ela não é uma bruxa má mas sim uma bela rainha, que são muitos dos alemães, mas não todos. Merkel consegue ser odiada na Grécia, na Irlanda, em Portugal, em Espanha, em Itália, no Reino Unido, e agora até começa a ser cada vez mais odiada em França, o que não deixa de ser preocupante para a Europa.

A única coisa que a Bruxa Má tem oferecido aos europeus não-alemães são palavras azedas, recusas de ajuda, moralismos rápidos, e muitas maçãs envenenadas. Desde 2009, tem sido ela o grande travão a uma Europa diferente. No início, lembro-me bem, chegou mesmo a recusar o "resgate" dos países em dificuldades, e a dizer que a Grécia talvez devesse sair do euro. A Bruxá Má foi porém obrigada a reconhecer que estava errada, e lá acabou por aceitar os resgates. Depois, não queria mecanismos europeus de ajuda financeira. Disse que não três vezes, mas à última da hora lá teve de os aceitar.

De seguida, a Bruxa Má não queria o Banco Central Europeu a comprar dívida dos países, para ajudar a baixar as taxas de juro. Recusou várias vezes, mas depois teve de aprovar. Agora, é a vez da "união bancária", aceitou-a a contragosto mas tenta sabotá-la e adiá-la o mais possível. A Bruxa Má não quer resolver a crise europeia, quer apenas fazer o mínimo possível para o euro não implodir, e de caminho ganhar as suas eleições em Setembro de 2013. É esse o seu único plano: resistir no poder, dizer que não, e os outros europeus que se lixem.

Como todas as bruxas más, esta também não resiste a dar-nos maçãs envenenadas. Desde 2009 decidiu que a única receita para a crise é a "austeridade". À bruta, se for preciso. O pior é que acha genuinamente que isso nos vai salvar! A maçã é luzidia, parece tão saborosa vista de fora! Mas, quando nos entra pelo estômago dentro, começa logo a largar o seu veneno, e rapidamente nos aniquila. E a Bruxa Má lá se vai embora, consciente que nos transformou em meras belas adormecidas, semi-mortas.

Assim, a Bruxa Má vai reinando, deixando a Europa cada vez mais sombria, abafada pelas crises, envenenada pelas maçãs que a Bruxa Má nos vai obrigando a engolir. Mas, como todas as bruxas más, esta também se esqueceu que se envenenar os povos, a alegria vai-se e o reino torna-se mais triste. O que nos vale é que, mais tarde ou mais cedo, vai aparecer um Princípe, e nesse dia o reinado de Merkel chegará ao fim. Quando um dia a Bruxa Má se olhar ao espelho e perguntar se há alguém mais belo do que ela, o espelho vai rachar-se em mil bocadinhos. 

publicado por Domingos Amaral às 12:41 | link do post | comentar | ver comentários (2)
Sexta-feira, 19.10.12

A arte e as marcas

Nos últimos anos, têm-se multiplicado os exemplos de cooperação entre a arte e as marcas, entre os criadores, sejam eles músicos, escultores, pintores, designers, artistas plásticos, e as marcas de roupa, acessórios, relógios, sapatos, carros e muitas mais. É uma boa tendência, que muitas vezes produz resultados interessantes e inovadores, como Jeff Koons e a BMW, Jeremy Scott e a Swatch ou a Adidas, entre imensos casos.

Depois da ligação às celebridades, que sendo líderes de opinião e tendo enorme exposição mediática, são importantes para as marcas como símbolos da cultura popular, vemos cada vez mais a ligação às artes, não só para promover indirectamente a venda dos seus produtos ou a visita às lojas, mas sobretudo para associar às marcas uma ideia cultural positiva, que as posicione bem na opinião dos seus consumidores preferenciais.

Esta semana, por exemplo, a Fashion Clinic deu mais um passo na sua iniciativa FC art - when fashion meets art - e na sua loja na Avenida da Liberdade, no Tivoli Forum, apresentou o site specific da artista plástica Ana Vidigal, que se pode ver na foto publicada neste post. Parabéns à marca e à criadora pelo resultado final, que vale a pena visitar se passar pela Avenida da Liberdade.    

publicado por Domingos Amaral às 11:16 | link do post | comentar | ver comentários (1)

35 milhões é muita massa!

Mais de 35 milhões de euros de prejuízo num ano é mesmo muito! A crise, a nacional mas também a europeia, está tão intensa, que até aquele que era considerado um dos clubes de futebol mais bem geridos da Europa, o FC Porto, que muitos consideram um "case study" de sucesso na indústria, teve este ano um resultado negativo fortíssimo.

Depois de cinco anos consecutivos a dar lucro, o que é um caso raro na Europa e sobretudo em Portugal, o FC Porto teve em 2011-2012, na época que terminou em Junho passado, um péssimo ano económico e financeiro (35,7 milhões de prejuízo), muito pior do que o Benfica (11,6 milhões de prejuízo) mas apesar de tudo melhor do que o Sporting (45,9 milhões de prejuízo).

Quais os motivos de tão grande rombo? A SAD do FC Porto fala no custo dos juros dos empréstimos e na perda do valor dos passes dos jogadores (as célebres imparidades), mas não deixa de ser um pouco surpreendente que um clube que, no exercício em causa, vendeu Falcão pela astronómica quantia de 40 milhões de euros, dê mesmo assim prejuízo. Talvez o gasto excessivo nas compras de Danilo e Alex Sandro (num total de 28 milhões de euros) seja a verdadeira causa deste inesperado "buraco". Pela primeira vez em muitos anos, o FC Porto comprou mal, comprou caro demais, e o resultado desse exagero está à vista. Bem sei que as vendas de Hulk e Álvaro Pereira não entraram neste exercício, pois já foram depois de Junho, mas mesmo assim, e mesmo tendo sido campeão nacional, foi um ano péssimo para o clube.

No entanto, que ninguém se ria desta situação, pois tirando o Braga, que teve um lucro de 5 milhões de euros, ninguém ficou positivo este ano. A crise toca a todos.

publicado por Domingos Amaral às 10:54 | link do post | comentar | ver comentários (2)
Quinta-feira, 18.10.12

Um amor antigo (parte II)

Uma semana depois, o telefone dele voltou a tocar. Quer dizer, o telefone tocava muitas vezes ao dia, mas aquele toque era especial. Era o toque que ele escolhera para ela, o seu amor antigo que regressara à procura de mais. Tracy Chapman, "Baby Can I Hold You". Tinham ido ao concerto juntos, um mês antes de ela lhe pôr dois palitos grossos no alto da testa. Escolhera-o para saber que era ela e para não a atender, por se lembrar do que sofrera, da "saliva que gastei para te mudar", como cantava o Rui Veloso, noutro concerto a que tinham ido juntos. "Foda-se, já passaram mesmo muitos anos", pensou ele antes de atender o telefone, pois quando se tratava de mulheres nunca conseguia cumprir o que prometia a si próprio quando estava sozinho.

- Olá, disse ela, a rir.

Porque é que ela ria? Será que era tão convencida ao ponto de pensar que ele estaria sempre pronto para ela? Ele não sabia que era nervosismo, mas é sempre difícil imaginar o que vai na cabeça de outra pessoa.  

- Olá, tudo bem?

Porque é que perguntava se estava tudo bem com ela se já sabia a resposta? 

- Tudo, disse ela. E contigo?

Está sempre tudo bem, pensou ele. É um bordão irritante, nunca ninguém diz, logo a frio, "estou na merda, farto de tudo e de todos". É como quando perguntamos "o que tens feito?", e do lado de lá respondem "nada de especial", e apetece logo ripostar "e que não seja de especial, o que é que tens feito?". 

- Tudo bem, respondeu

Não era dado a originalidades, embora as exigisse aos outros. Decidiu ir direito ao assunto e perguntou:

- A festa no Porto, que tal?

Ela nunca iria admitir que fora uma decepção, o João não lhe ligara nenhuma, estava casadíssimo, e nenhum dos amigos deles era interessante. Havia vários que eram giros, dois tinham investido nela, mas nem sabiam conversar. Eram egocêntricos, só falavam deles, do surf que faziam, das festas a que tinham ido e de quantas caipirinhas haviam bebido. Pilinhas com pilhas, tinha pensado ela, desconsolada, no regresso pela A1 no Domingo. E apesar de um deles já a ter abordado no Facebook ontem, não estava para aí virada.

- Foi gira, deitei-me às seis da manhã.

E aposto que sozinha, pensou ele, senão não me estavas a falar hoje. 

- Queres ir ao cinema?, perguntou ela.

- Hoje não posso, respondeu ele.

Devia ser dia de jantar com os filhos, foi o que ela concluiu. 

- Não tem de ser hoje, podemos ir amanhã, ou no sábado.

Quem é que vai ao cinema ao sábado, pensou ele? Está tudo cheio, mesmo com a crise.

- Mas se não quiseres cinema, podemos alugar um filme em casa, no Meo. 

Isso já lhe parecia mais interessante, refletiu ele. Casa, filme, sofá, sexo, cama, mais sexo: é a ordem natural das coisas.

- Amanhã?, perguntou ele.

Ficou decidido. Falaram de mais assuntos, mas o importante já estava dito, e no dia seguinte ele tocou à porta dela, com uma garrafa de vinho e dois queijos comprados nas Amoreiras. Para a ceia, que ambos já tinham jantado à pressa, uma qualquer comida retirada de uma qualquer embalagem descongelada no microondas, que é o jantar do costume de quem vive sozinho e tem mais pressa que tino. 

- Obrigado, agradeceu ela.

Ele abriu o vinho, ela foi buscar um prato e uma faca, cortaram os queijos e no fim falaram. Sobre o que lhes tinha acontecido, sobre o que lhes podia acontecer. Usaram expressões como "precisamos de tempo", "eu não sei bem o que quero", "o problema é meu", "depois de um divórcio é complicado gostarmos de alguém", mas cerca de vinte minutos depois ele já estava com as mãos nas cuecas dela (que reparou que eram novas), e a partir daí foi impossível parar. Depois, semi-nus e ainda no sofá, demoraram algum tempo a estabilizar a respiração, e por fim riram-se, bem dispostos, e voltaram a comer queijo e a beber vinho. Ela perguntou se ele queria ver o filme, e ele sorriu e disse:

- Já vi.

Ela riu-se, divertida. Ele observava-a com atenção, curioso, e uns segundos depois perguntou:

- Onde é que aprendeste a fazer...aquilo?

Ela revirou os olhos. O que raio era esta pergunta? Encolheu os ombros, mas não respondeu.

Então ele murmurou:

- No meu tempo, não havia disto.

Era verdade, no tempo em que ele a namorara, ela era mais contida, mas depois tinha estado casada muitos anos, sempre às ordens, e agora que se soltara das amarras do marido mais valia aproveitar o que aprendera. Sorriu-lhe:

- Tenho visto muitos filmes...

Raça da miúda, esperta como um alho. Teria sido inteligente da parte dele parar por aqui, mas a curiosidade que o assaltava levou a melhor. Perguntou-lhe:

- Desde que te separaste, sou eu o primeiro?

Ela olhou para ele um bocado desiludida. Porque é que os homens davam tanta importância aos outros homens? Se ela quisesse estar com outro homem não estaria ali com ele, no sofá, a beber vinho, a comer queijo, a fazer "aquilo". Decidiu ripostar:

- E eu, vou ser a última?

Ao ouvi-la, ele sentiu um ligeiro mal estar interior. Não gostava de pensar que a boa vida que tinha tido nos últimos meses podia acabar. Tinha tido muitas mulheres e sabia que cuecas novas eram sinal de muito sexo. Mas, ela era apesar de tudo diferente, era especial. E agora até fazia "aquilo". 

- Não nos vamos precipitar, disse ele. Vamos andando e vamos vendo.

Ela olhou-o nos olhos e perguntou:

- E enquanto vais andando e vendo, vais andando e vendo outras pessoas?

Isto começou a enervá-lo. O que é que ela queria? Queria "ser namorada", queria um "voto de fidelidade", uma promessa na Igreja, uma declaração reconhecida pelo Notário? 

- E tu?, perguntou ele. Vais mais vezes ao Porto?

A conversa estava em risco de azedar, por isso ela premiu o botão do comando e começaram a ver o filme na televisão. Hora e meia mais tarde, ele saiu de casa dela, não combinaram nada certo para os dias seguintes, mas a história é capaz de não acabar por aqui. 

publicado por Domingos Amaral às 11:59 | link do post | comentar | ver comentários (2)

A alma de um país

Um dos mais graves erros deste governo foi ter aumentado o IVA na restauração, passando-o para a taxa máxima de 23 por cento. A restauração é uma parte da nossa alma enquanto nação. Como qualquer povo latino, adoramos comer, adoramos estar à mesa, adoramos ir à procura de novos prazeres em novos locais, adoramos tascas e barzinhos, adoramos cafés e pastelarias. Comer, o ato em si, mas também o ato social de comer, o que ele implica de reunião, de encontro com os outros, de ligação aos amigos, aos companheiros de trabalho, à família, faz parte da nossa forma de viver, do nosso "lifestyle".

Não há português que não adore um bom peixinho grelhado, umas prateadas sardinhas, um consistente bife com batatas fritas a boiar em molho, uns delicados filetes, umas robustas favas, um multidisciplinar cozido ou uma rica caldeirada. Nós adoramos comer, acompanhar a comida com um saboroso vinho ou uma fresca cerveja, enquanto falamos dos amores e desamores dos que nos rodeiam, da telenovela de ontem, do jogo que aí vem, ou da última intriga que corre, como um foguete descontrolado, no nosso local de trabalho. Para nós, comer é viver, é à mesa que nascem risos e gargalhadas, é à mesa que se muda o destino do país em dez segundos, e muitas vezes é à mesa que nos apaixonamos por aqueles olhinhos que, brilhantes, nos sorriem. 

É por isso que a "restauração" não é um sector de actividade qualquer. A "restauração" somos nós, é Portugal que vive todos os dias, é a nossa forma preferida de existir em conjunto. Os ingleses e os irlandes encontram-se nos pubs, nós nos restaurantes, e só nos levantamos da mesa por bons motivos. Para levantar da mesa muitos portugueses é preciso um "bulldozer", ou uma grua, que muitas vezes tem duas pernas e é bem gira, ou está em casa à nossa espera, deitadinha na cama. E é por essas e por outras que a "restauração" tem de ser estimada por nós, enquanto sociedade. Sufocar a "restauração" é, como dizia Souto Moura, tirar o "oxigénio de uma sala que está cheia", é causar um dano a uma parte da nossa alma. 

Enquanto portugueses, devemos orgulhar-nos da nossa "restauração", protegê-la, incentivá-la, porque ela é um bocado de nós, e ainda por cima um bocado bom!

No meio desta crise grave, há sectores "estratégicos" que devem ser estimados e ajudados, não só porque geram mais emprego, mas sobretudo porque nos dão orgulho e auto-estima. O turismo, a restauração, o desporto, o mar, não são apenas meros "sectores de actividade", são pilares essenciais da nossa identidade, e é por isso que se transformaram também em fundações da nossa economia. Se não os tratarmos bem, sobretudo nestes momentos de crise, castigamo-nos a nós próprios, chicoteamo-nos nas costas, como os loucos nas procissões das Filipinas, e ficamos mais feridos e mais pobres de espírito. 

Quando um estrangeiro vem a Portugal, é bom que goste de comer por cá, saboreando as nossas riquezas gastronómicas, é bom que goste de descobrir hotéis e pensões onde é bem tratado, é bom que goste de jogar golfe ou ver uma entusiasmante partida de futebol, é bom que aproveite quilómetros e quilómetros das melhores praias da Europa. Por mais que a austeridade seja necessária, é preciso apoiar a nossa identidade especial, aqueles que são os "sectores" onde somos bons e geramos riqueza. A cegueira deste governo, que pulverizou com Iva vários desses sectores, é uma triste visão do futuro, e é um atentado à nossa maneira de viver. Era essencial que isso mudásse, mas da maneira que estão as coisas...  

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Quarta-feira, 17.10.12

Já leram o memorando da troika?

Sim, é a minha pergunta de hoje: já leram o memorando de entendimento com a troika, assinado por Portugal em Maio de 2011? Eu li, e em pé de página deixo o link para quem o quiser consultar, na sua tradução oficial. São 35 páginas, escritas num português desagradável e tecnocrático, que têm servido a este governo para justificar tudo.

Ainda ontem, com descaramento, um dirigente do PSD dizia que "este não era o Orçamento do PSD, mas sim da troika"! Ai sim? Então eu proponho a todos um breve exercício de leitura. Tentem descobrir, lendo o memorando, onde é que lá estão escritas as 4 medidas fundamentais pelas quais este governo vai entrar para história de Portugal!

Sim, tentem descobrir onde é que lá está escrito que se deve lançar uma sobretaxa no subsídio de Natal de todos os portugueses (decidida e executada em 2011); cortar os subsídios aos funcionários públicos e pensionistas (decidido e executado em 2012); alterar as contribuições para a TSU (anunciada e depois retirada em Setembro); ou mexer nas taxas e nos escalões do IRS, incluindo nova sobretaxa (anunciados no Orçamento para 2013), e definidos pelo próprio ministro das Finanças como "um aumento enorme de impostos"?

Sim, tentem descobrir onde estão escritas estas 4 nefastas medidas e verão que não estão lá, em lado nenhum. Ao contrário do que este Governo proclama, estas 4 medidas, as mais graves que o Governo tomou, não estão escritas no "memorando com a troika"! Portugal nunca se comprometeu com os seus credores a tomar estas 4 medidas! Elas foram, única e exclusivamente, "iniciativas" do Governo de Passos Coelho, que julgava atingir com elas certos objectivos, esses sim acordados com a "troika".

Porém, com as suas disparatadas soluções em 2011 e 2012, o Governo em vez de melhorar a situação piorou-a. Além de subir o IVA para vários sectores chave, ao lançar a sobretaxa e ao retirar os subsídios, o Governo expandiu a crise económica, e acabou com menos receita fiscal e um deficit maior do que tinha. Isto foi pura incompetência, e não o corolário de um "memorando de entendimento" onde não havia uma única linha que impusesse estes caminhos específicos! 

Mais grave ainda, o Governo de Passos e Gaspar, sem querer admitir a sua incúria, quer agora obrigar o país a engolir goela abaixo "um enorme aumento de impostos", dizendo que ele foi imposto pela "troika". Importa-se de repetir, senhor Gaspar? É capaz de me dizer onde é que está escrito no "memorando de entendimento" que em 2013 o IRS tem de subir 30 por cento, em média, para pagar a sua inépcia e a sua incompetência? 

Era bom que os portugueses aprendessem a não se deixar manipular desta forma primária. Foram as decisões erradas deste Governo que, por mais bem intencionadas que fossem, cavaram ainda mais o buraco onde já estávamos metidos. E estes senhores agora, para 2013, ainda querem cavar mais fundo o buraco, tentando de caminho deitar as culpas para a "troika"?

Só me lembro da célebre frase de Luís Filipe Scolari: "e o burro sou eu?"

 

Para ler o memorando vá a:

(http://www.portugal.gov.pt/media/371372/mou_pt_20110517.pdf).

publicado por Domingos Amaral às 14:24 | link do post | comentar | ver comentários (44)

Lá fora...e cá dentro

Uma das coisas mais irritantes deste Governo é colocar a opinião internacional como um valor muito mais importante do que a opinião dos portugueses. Para Passos Coelho, Vítor Gaspar e seus "muchachos", é muito mais importante a "credibilidade interncional" do que a "credibilidade nacional". O que se diz "lá fora" é que conta, o que se diz "cá dentro" é pouco menos que irrelevante.

O que importa é estar bem visto aos olhos da senhora Merkel, da "troika", das agências de rating, dos "hedge funds" de Nova Iorque e dos bancos de Londres ou Frankfurt. Que se lixem o Cavaco, o CDS, a Igreja, a UGT ou toda essa corja de boçais que urra e chia por aí, neste cantinho à beira-mar plantado. Portugal, para este governo, é uma entidade abstrata, um "brand" que tem de ter opinião positiva, se possível com aclamação, nos fóruns da alta finança e nos jantares dos credores. É isso que interessa.

Portugal, para este governo, não são os portugueses, enquanto comunidade, Portugal é apenas um activo, um aspirante a "bibelot" das bolsas, que tem de obter um "goodwill" a qualquer custo. Que os portugueses estejam deprimidos, confrontados com um verdadeiro colapso económico, é coisa de pouca monta. É muito mais fundamental um B+ de uma qualquer Moody´s do que um "basta" gritado em coro pela Nação que sofre. Desde que os juros desçam, a nação que se lixe.

Este terrível desprezo pelos portugueses, e este patético deslumbramento com os estrangeiros, é uma das principais causas do mal que nos aflige. Passos e Gaspar comportam-se como dois parolos, fascinados com o "estrangeiro" e com vergonha da terrinha. Fazem tudo "para inglês ver", ou mais concretamente, para "alemão aprovar". Se os credores franzem o sobrolho, lá vão eles a correr dar uns pontapés aos cães, fechar os filhos no sótão, gritar com as criadas, tratar mal os vizinhos do lado, só para ficarem "bem vistos".

Não há sinal maior da nossa pequenez, da nossa falta de confiança nacional, do que esta genoflexão patética e acéfala à opinião internacional. Para o Governo, a "credibilidade" é o valor supremo, o deus a quem temos de rezar, um terço, dois ou três, os que forem preciso mesmo que os joelhos já estejam em carne viva. Os portugueses que se lixem, que amochem e se calem, que o importante é fazer a vontadinha aos lá de fora, e mais nada!

Um dia, este governo vai acordar e perceber que foi eleito cá dentro, e não lá fora, e que o seu principal dever é para com os portugueses, e não para com essa fada madrinha chamada "credibilidade internacional". E nesse dia, vão ter uma terrível surpresa, e por mais que a fada madrinha branda a varinha, lá fora, não haverá cá dentro quem os salve...      

publicado por Domingos Amaral às 12:27 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Terça-feira, 16.10.12

Falcões e Pombas

Quando Kennedy era presidente americano, inventou-se uma divisão política dentro da sua administração, a propósito da crise dos mísseis de Cuba. De um lado, existiam os "falcões", que defendiam uma intervenção radical, uma linha dura, que preferia o conflito. Do outro, estavam "as pombas", que propunham uma linha mais moderada e razoável, que preferia a diplomacia. Foi uma famosa divisão, e a partir dessa data, em muitos assuntos quase sempre se consegue dividir o mundo entre "pombas e falcões". Na actual crise, europeia e portuguesa, há "falcões" da austeridade e "pombas" orçamentais, há "falcões" de esquerda ou de direita e há até pessoas ou instituições que mudaram de campo, há um ano eram "falcões" e agora já são "pombas". Aqui vai a minha divisão:

 

"Falcões de direita" - São aqueles que defendem a linha dura, a austeridade a todo o custo como única forma de sair da crise, o "aumento enorme" de impostos deste orçamento. Em Portugal, este grupo é encabeçado pelo primeiro-ministro, Passos Coelho, tem em Vítor Gaspar o seu campeão, e em António Borges o seu "guru" espiritual. Têm com eles parte do PSD, alguns empresários e banqueiros, parte cada vez menor da opinião pública, mas ainda muito apoio na comunidade financeira e em alguma imprensa, nacional ou internacional. Lá fora, estão neste grupo Merkel e o Bundesbank, e por vezes o próprio BCE. 

 

"Pombas de direita" - São aqueles que defendem uma linha mais moderada, com menos impostos e mais cortes na despesa. Têm mais preocupações sociais com o desemprego e com as empresas, e estão profundamente desiludidos com o fracasso da "linha dura" em 2012. Em Portugal, este grupo inclui o CDS-PP de Portas, muitos sociais-democratas, como Manuela Ferreira Leite; a maior parte das confederações patronais, a maioria da opinião pública de centro-direita, e um apoiante de peso: o Presidente da República, Cavaco Silva, que não se cansa de colocar alertas no Facebook. Internacionalmente, o líder deste grupo é Mario Monti, primeiro-ministro italiano. 

 

"Falcões de direita que passaram a pombas" - Este grupo é encabeçado pelo FMI, que há ano e meio era muito duro, mas agora já está, e ainda bem, muito mais moderado e já reconhece que a austeridade "não está a funcionar". Neste grupo inclui-se também muita imprensa, especialmente a económica, que há um ano dava gritos de alegria e júbilo pela chegada da "troika", e agora já urra de indignação com o aumento de impostos. A julgar pelas sondagens, a maioria da opinião pública também teve um comportamento semelhante. 

 

"Falcões que, em certos dias e a certas horas, quase parecem pombas" - Neste grupo há dois exemplos. O primeiro é Mário Draghi, presidente do Banco Central Europeu, que de manhã diz que o BCE pode ajudar os países em dificuldades, e à tarde diz que eles têm de aplicar a "austeridade". O segundo exemplo é obviamente Durão Barroso, que de manhã lava as mãos dizendo que as medidas são decididas pelos governos e não pela União Europeia, e à noite diz que a "austeridade é necessária".

 

"Pombas de esquerda" - São aqueles que, mesmo a contragosto, aceitaram o "memorando da troika", mas que acham que a "receita" do Governo é errada e que existem mais alternativas. Este grupo é obviamente liderado pelo PS de António Seguro, mas tem na UGT e em João Proença o seu porta-voz mais credível. Há alguns economistas, nacionais e estrangeiros, que se alinham por aqui, como Paul Krugman ou Sitglitz, ou o português João Ferreira do Amaral. É um grupo que tem algum apoio da opinião pública e de certos comentadores famosos, e onde se inclui também o ex-presidente Jorge Sampaio. 

 

"Falcões de esquerda" - Não aceitam o "memorando da troika", e por vezes dizem que Portugal não deve pagar a dívida, que alguns consideram "ilegítima". Há ainda uns quantos que defendem a saída do euro. É aqui que se junta a esquerda caviar e a esquerda comunista. Incluem-se neste grupo a CGTP, com o seu novo líder Arménio Carlos, o PCP e o Bloco de Esquerda, e muitas personalidades independentes, que se reuniram recentemente no Congresso das Alternativas. É o grupo que defende a rua e as manifestações como forma de deitar o Governo abaixo.

 

"Pombas de esquerda que viraram falcões" - Embora seja um grupo minoritário, têm um apoiante de peso, Mário Soares. Relembre-se que Soares foi um dos principais responsáveis por insistir junto de José Sócrates que pedisse "ajuda internacional" e aceitasse o "memorando da troika". O antigo presidente, sempre  muito orgulhoso das suas ideias, revelou até ao país que esteve várias horas ao telefone com Sócrates, para o fazer aceitar a chegada da "troika". Um ano e meio depois, Soares transformou-se num dos mais ferozes lutadores contra a "troika" e o Governo, provavelmente sem ter ainda percebido que foi com a sua ajuda e dos seus telefonemas que a "troika" aterrou na Portela e Passos Coelho ganhou as eleições. Mas, enfim, a um ex-presidente permite-se tudo... 

publicado por Domingos Amaral às 12:17 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Segunda-feira, 15.10.12

Um amor antigo

Diz-se que muitas mulheres, quando acabam um namoro ou um casamento, vão primeiro à procura de um amor antigo para as consolar. Alguém que as encantou no passado, alguém que conhecem, a quem já deram a mão, já beijaram na boca, alguém em cujo corpo já tocaram. O desconhecido é sempre um território assustador, e embora a novidade seja sedutora e até empolgante, quando se anda ainda com uma dor cá dentro, convém diminuir os riscos. E foi assim também com eles.

Ele estava divorciado há um, (ou seriam dois anos?), mas continuava a aproveitar o tempo perdido, coleccionando namoricos soltos ou noitadas tórridas sem consequências na cardiologia amorosa. Ela fechara por esses dias o último capítulo com o marido, e estava a descobrir como renovar a vida e as cortinas de casa. Foi ela que o abordou no Facebook. O costume, "como estás?", "tudo bem", (está sempre tudo bem mesmo quando está mal) e lá acabaram por combinar um almoço. É uma refeição menos óbvia que um jantar, normalmente não são tão altas as expectativas carnais. É claro que era tudo a fingir, eles no fundo queriam os dois, mas era cedo, mais valia almoçar primeiro.

Acabaram na cama, em casa dele, a meio da tarde. Depois do sexo, ela chorou, era a primeira vez em muitos anos que dormia com outro homem que não o marido, e isso emocionou-a. Ele ficou com dúvidas, será que ela não tinha gostado? Mas, sempre sentira carinho e ternura por ela, mesmo sabendo que fora ela que o deixara, uma noite há mais de quinze anos, quando eram namorados. Abraçou-a e beijou-a e quis saber o que se passava.

Ela fungou, limpou as lágrimas, ajeitou o cabelo num rabo de cavalo feito à pressa e perguntou:

- E agora?

Ele adorava vê-la de rabo de cavalo. Ainda tinha uma fotografia antiga, tirada numa praia do Algarve, no Inverno, os dois de casacões e botas, muito mais novos, onde ela estava de rabo de cavalo. Já não se lembrava onde estava a fotografia, talvez no pequeno baú, encostado ao sofá da sala. Mas lembrava-se do rabo de cavalo e disse-lho:

- Adoro ver-te de rabo de cavalo.

Ela sorriu, achou querido ele dizer aquilo, mas não admitiu que ele desviasse a conversa. Repetiu a pergunta:

- E agora?

Ele piscou os olhos, começou a lembrar-se que ela era persistente, era uma das coisas que ele não adorava nela. Adorava o sorriso, o rabo de cavalo, o rabo propriamente dito, as pernas longas, a forma como ela se vestia, sempre com muito bom gosto. Mas não adorava a persistência. Respirou fundo:

- Agora? Vamos falando, temos tempo. Hoje não posso, é dia de jantar com os meus filhos, mas amanhã podemos combinar. Ou no fim de semana.

Ela nem se lembrava bem quantos filhos ele tinha, seriam dois ou três? Mais os três dela eram seis. E amanhã também não podia, já tinha combinado ir jantar com três amigas, divertir-se, dançar, apanhar um pifo para esquecer as chatices. Mas, foi aquele "ou no fim de semana" que a enervou. Não era amanhã "e" no fim de semana, era amanhã "ou" no fim de semana. Como se ele não quisesse estar com ela em ambas as situações, como se ele tivesse uma vida muito cheia e não tivesse muito tempo para ela.

- Amanhã não posso, tenho um jantar.

Ele encolheu os ombros, sorriu-lhe:

- Então combinamos no sábado.

Aquilo irritou-a. Quem é que ele pensava que ela era? Será que pensava que ela estava disponível sempre que ele quisesse? 

- Há uma festa no sábado, no Porto.

Ele ergueu as sobracelhas. Não lhe dava jeito ir ao Porto, sábado ia fazer surf, e no domingo de manhã já tinha combinado com o pai jogar ténis. 

Ela perguntou:

- Não queres ir?

Ele riu-se:

- Não é não querer, mas já tenho coisas combinadas.

Ela olhou para ele, e ele achou que ela podia estar a pensar que ele tinha outras raparigas com quem saía. Era verdade, mas não era por isso que não podia ir ao Porto.

- O quê? - perguntou ela.

Ele encolheu os ombros e explicou: o surf, o pai, o ténis. Ela ouviu-o séria e depois perguntou:

- Não podes desmarcar? Era giro, íamos os dois ao Porto, ficávamos num hotel.

Sim, pensou ele, era giro. Perguntou:

- De quem é a festa?  

Ela sorriu e explicou: era de uma amiga que era casada com o João, que era o homem por quem ela o trocara há muitos anos.

Aquilo incomodou-o, nunca se esquecera daquele par de cornos. Ficou sério e disse:

- Acho que prefiro o surf e o ténis.

Ela sorriu, fingindo-se espantada:

- Não queres ir por causa do João?

Ele permaneceu em silêncio e ela riu-se:

- Por favor, isso já foi há tantos anos! Não me digas que ainda não esqueceste!

Além da persistência, ele lembrava-se agora perfeitamente que havia outra coisa que ele não adorava nela, que era o facto de ela não lhe dar especial importância. Então, decidiu provocá-la:

- Ninguém esquece nada. Olha para nós os dois. Estamos aqui porque não nos esquecemos. Se não nos conhecessemos, se calhar isto nunca iria acontecer...O passado interessa, claro que interessa.

Foi ao ouvi-lo falar no passado que ela começou a pensar no João. Será que ele ainda sentia alguma coisa por ela? Será que quando se vissem, no sábado, ia sentir vontade de estar com ele? Os ex-namorados olhavam sempre para ela com uma cara...

Foi nesse preciso momento que ele se levantou da cama e se começou a vestir. Vira nela o mesmo que vira há muitos anos atrás, uns dias antes de acabarem namoro. Vira-a a pensar noutra coisa, o que nas mulheres pode ser sempre outro homem, e como foi isso que acontecera no passado, era melhor ele não ficar por ali, não fosse acontecer-lhe o mesmo outra vez. Razão tinha o seu melhor amigo, que dizia que as mulheres do passado nunca são as do futuro. 

- Não vale a pena ficar chateado - disse ela, ao vê-lo a vestir-se.

Ele fingiu que não estava chateado, ela sorriu-lhe e também fingiu que acreditava. Quando ele a deixou à porta de casa, prometeram voltar a falar-se, um pouco embaraçados. A única coisa certa é que ele não iria ao Porto, ao contrário dela. Mas, é evidente que esta história não acaba aqui... 

publicado por Domingos Amaral às 12:04 | link do post | comentar | ver comentários (2)

Carta a Paulo Portas

Caro Paulo

 

Recordo com saudade e até alguma nostalgia aqueles anos do jornal "O Independente" em que tínhamos tempo para conversar sobre política e Portugal. Sempre foste um diretor com quem os jornalistas mais novos, como eu, podiam trocar ideias com liberdade e entusiasmo, e aprendi muito naqueles tempos. Nem sempre estava de acordo contigo, mas sempre admirei o ânimo com que defendias aquilo em que acreditavas, e não tinha qualquer dúvida que, mais tarde ou mais cedo, irias entrar na política e cumprir o teu destino.

Ao longe, tenho observado os teus passos e nunca deixei de respeitar a dedicação que colocas em tudo o que fazes na vida pública nacional. É também por isso que hoje te escrevo. Sinto que nestes tempos, estamos todos a viver momentos fundamentais da nossa vida, e tu bem mais do que eu. Por isso aqui vai o que tenho para te dizer, peço-te para leres com atenção e refletires sobre estas palavras. 

Hoje, terás de aprovar um orçamento para o nosso país, mas gostava que não o fizesses, pelas razões que passo a descrever. Em primeiro lugar, é um orçamento que impõe "um aumento enorme" de impostos, o que é só por si uma violência para os portugueses, já tanto fustigados pela terrível situação económica. É em si mesmo um aumento injusto, desproporcional, o maior desde que o país é uma democracia, o que é uma tragédia.

Em segundo lugar, é evidente que este aumento de impostos vai ter fortíssimos efeitos recessivos, atirando muitos portugueses para uma miséria triste e muitos outros para um abismo de dificuldades, e paralisando a já anémica economia do país. Como solução económica para os problemas de Portugal é uma hecatombe a somar à enorme desgraça em que já estamos.

Em terceiro lugar, é a repetição agravada de uma receita que não funcionou, nem em 2011, nem sobretudo em 2012. Parece já evidente para todos os portugueses que as soluções adoptadas, por mais bem intencionadas que fossem, tiveram resultados opostos aos desejados. Infelizmente, Portugal não está melhor do que há um ano e meio, bem pelo contrário, está pior. Ora, as pessoas inteligentes costumam aprender com a realidade, e se verificam que algo não correu como esperavam, devem corrigir o seu rumo, e não persistir numa estratégia teimosa e cega.

Além disso, e em quarto lugar, começam a aparecer sinais cada vez mais fortes de que, seja na Europa, seja entre os membros da "troika", há já uma consciência de que o "fanatismo austeritário" não está a funcionar. Mesmo o FMI, tantas vezes tão criticado, já teve a honestidade de reconhecer que os efeitos da austeridade foram muito mais nefastos do que previra, e que é tempo de adaptar os programas à situação específica com que se confronta cada um dos países em crise. Essa é uma "janela de oportunidade" que Portugal devia aproveitar, para moderar ou "calibrar", como agora se diz, a nossa política orçamental, tornando-a menos draconiana e mais positiva.

Em quinto lugar, apelo aos teus valores políticos, àquilo em que sempre acreditaste e defendeste. O CDS-PP, liderado por ti, sempre teve como bandeira política a luta contra o aumento dos impostos e da carga fiscal. Como pode agora apresentar como solução aos portugueses o maior aumento de impostos de sempre da nossa história? Como pode o CDS-PP tornar-se cúmplice desta política aterradora, quando sempre defendeu o contrário? 

Em sexto lugar, relembro-te que há momentos essenciais na carreira de um líder político, momentos sem dúvida difíceis, mas que definem o futuro. Aqui há uns anos, aceitaste para primeiro-ministro um líder escolhido pelo PSD, Santana Lopes, que não tinha legitimidade para ser primeiro-ministro, pois nem sequer tinha sido eleito deputado. Para seres "responsável", formaste um Governo com ele, e foste atrelado a ele até ao seu colapso. A história teve consequências penosas para ti e para o teu partido, e era importante que não cometesses por estes dias um erro semelhante.

Se não te distanciares deste PSD e deste primeiro-ministro, e do grupo de fundamentalistas da austeridade que o suportam, onde se evidenciam Vítor Gaspar e António Borges, entre outros, irás amarrado a eles para um poço sem fundo, de onde será muito difícil saíres nos próximos anos, pois os portugueses não irão perdoar a quem tanto lhes fez mal.

Lembra-te que Portugal não é uma ideia abstrata. Portugal são os portugueses que cá vivem, todos eles, e por isso não é possível dizer que Portugal está no bom caminho quando todos os portugueses, com as raríssimas excepções do grupo de fanáticos atrás referido, se sentem angustiados, deprimidos e com medo do futuro. Não acredites pois nessa "chantagem" que muitos propõem, que nos obriga a ser "responsáveis" engolindo tudo, porque isso é uma falsidade. Responsabilidade não é obrigar as pessoas a saltarem para um abismo, mas descobrir uma alternativa a esse salto. Responsável é quem, mesmo correndo muitos riscos, é capaz de ter a coragem de dizer não a uma política suicida e inaceitável.

Espero que sejas capaz de recusar o "aumento enorme" de impostos que este primeiro-ministro e este ministro das Finanças querem impôr ao país. Muitos e muitos portugueses te apoiariam se o fizesses.   

 

Um abraço com estima

Domingos Amaral

 

 

 

publicado por Domingos Amaral às 11:47 | link do post | comentar | ver comentários (7)
 

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