Segunda-feira, 17.09.12

Deus e o Diabo

Lá diz o povo que é difícil ficar bem com Deus e com o Diabo ao mesmo tempo. Mas é isso que Paulo Portas está a tentar, numa manobra de equilibrismo perigoso. Por um lado, coloca-se do lado da opinião pública, das manifestações, dos protestos gerais contra o Governo por causa das mexidas na TSU. Diz que sempre foi contra, que não está de acordo com a medida, e que há outras soluções alternativas para cortes. Ou seja, quer estar bem com Deus. Mas por outro lado, diz que não quer provocar uma grave crise política e que portanto não bloqueia a medida, podendo mesmo aprová-la se o PSD insistir nela, só para não deitar abaixo o Governo. Ou seja, também quer ficar de bem com o Diabo, que neste exemplo metafórico é personificado pela teimosia de Passos Coelho. Mas é possível, num momento tão dramático para Portugal, adoptar esta posição de "não, não, mas se tu quiseres mesmo, então é sim"? A mim parece-me que este é um momento clarificador: ou se está a favor ou se está contra, não há espaço para meias tintas e sofisticações florentinas. É uma tentação perigosa querer o melhor de dois mundos, querer ser ao mesmo tempo "popular" e "responsável". São, neste caso e neste momento, dois objectivos mutuamente exclusivos. Ou me engano muito, ou a intervenção dominical de Portas vai dar maus resultados. Ou Deus se desilude, ou o Diabo chateia-se à séria.   

publicado por Domingos Amaral às 10:18 | link do post | comentar | ver comentários (2)
Sexta-feira, 14.09.12

Há uma linha que separa...

Há uma linha que separa o aceitável do inaceitável

Há uma linha que separa o suportável do insuportável

Há uma linha que separa a justiça da injustiça

Há uma linha que separa um golpe de uma ferida 

Há uma linha que separa uma chama de um incêndio

Há uma linha que separa uma neura de uma depressão

Há uma linha que separa o tolerável do intolerável

Há uma linha que separa um moderado de um radical

 

Sete dias esperámos que não passassem essa linha

Sete dias escutámos uma teimosa e atrevida cegueira

Só nos resta pois a solução de atravessar

A linha que separa as nossas casas das nossas ruas

 

publicado por Domingos Amaral às 12:31 | link do post | comentar | ver comentários (2)
Quinta-feira, 13.09.12

Sessão de autógrafos

Hoje, quinta-feira 13 de Setembro, vou estar a partir das 18.30 na livraria Buchholz, em Lisboa, para uma sessão de autógrafos. Quem quiser apareça! 

publicado por Domingos Amaral às 16:12 | link do post | comentar | ver comentários (2)

O CDS e a coluna vertebral

O CDS passou os últimos meses a dizer que não aceitava mais aumentos de impostos. O CDS passou os últimos meses a dizer que a "carga fiscal" sobre os portugueses tinha passado para além dos limites. O CDS passou os últimos meses a dizer que as famílias portuguesas não podiam aceitar mais sacrifícios fiscais. E agora, o que vai o CDS fazer, sabendo que o governo anunciou a subida das contribuições para a segurança social, idêntica a uma subida de impostos, e anunciou também que vai subir as taxas médias do IRS? Sim, o CDS vai trair-se a si próprio e às suas convições e engolir um sapo vivo? E quem é que depois vai acreditar no CDS? Paulo Portas tem por estes dias o seu momento da verdade: ou vende a alma ao Diabo e aceita ficar no governo traindo os seus princípios e as suas convições; ou impõe como condições para ficar a retirada destas impopulares medidas, e caso Passos Coelho não aceite retirá-las, o CDS deve sair do governo e abandonar a coligação. É nos momentos difíceis que se vê o carater e a fibra dos homens, e este é um desses momentos. 

publicado por Domingos Amaral às 12:10 | link do post | comentar | ver comentários (6)

Passou pouco mais de um ano...

Passou pouco mais de um ano e o consenso nacional que existia estilhaçou-se em mil pedaços. Há pouco mais de um ano atrás, o Governo de Passos Coelho tinha consigo o PSD e o CDS, Cavaco Silva e o PS, a UGT e as confederações patronais, os principais comentadores políticos e económicos, e principalmente a opinião pública, que interiorizara a necessidade de fazer importantes sacrifícios. Estoicamente, a grande maioria dos portugueses aguentou metade de 2011 e metade de 2012 com paciência e calma. Porém, agora tudo se destruiu. Em Setembro de 2012, já não estão com o governo a UGT e o Tribunal Constitucional, o PS e os comentadores, Cavaco Silva e as confederações patronais e o CDS está à beira de perder a cabeça, havendo também já muita gente no PSD que acha que este governo é francamente mau. Mas, pior e muito mais grave do que ter perdido os apoios institucionais e políticos, foi a perda da confiança e do apoio silencioso dos portugueses. Havia uma maioria silenciosa que aguentava, mas a partir de sexta-feira já não há. A patética comunicação de Passos Coelho, entre o futebol e as fúteis cantorias num concerto, enfureceu a nação, e agora não haverá mais silêncio. A partir destes dias, só há dois caminhos. Ou o Governo recua nas medidas e procura novos consensos, tentando recuperar a confiança dos portugueses; ou isto vai dar um trinta e um que só Deus sabe como vai acabar e Passos Coelho será em breve obrigado a reconhecer que não tem condições para governar, e terá de se demitir. Lá diz o provérbio: "Quem semeia ventos, colhe tempestades". A inépcia, a incompetência, a arrogância e a teimosia deste governo ou acaba já, ou os portugueses acabam com este governo nos próximos tempos.

publicado por Domingos Amaral às 11:54 | link do post | comentar | ver comentários (1)

"Vão-se foder"

A pedido de muitos dos meus leitores, aqui deixo o link para o texto original "Vão-se foder".

 https://www.facebook.com/?ref=tn_tnmn#!/angela.ftc

publicado por Domingos Amaral às 11:18 | link do post | comentar | ver comentários (5)
Quarta-feira, 12.09.12

"Vão-se foder"

Descobri este texto de uma portuguesa de 32 anos, uma cidadã que diz o que sente e pensa a partir da sexta-feira passada. É um texto impressionante, que vivamente recomendo. Leiam, por favor, até ao fim.


"Vão-se foder.
Na adolescência usamos vernáculo porque é “fixe”. Depois deixamo-nos disso. Aos 32 sinto-me novamente no direito de usar vernáculo, quando realmente me apetece e neste momento apetece-me dizer: Vão-se foder!
Trabalho há 11 anos. Sempre por conta de outrém. Comecei numa micro empresa portuguesa e mudei-me para um gigante multinacional.
Acreditei, desde sempre, que fruto do meu trabalho, esforço, dedicação e também, quando necessário, resistência à frustração alcançaria os meus objectivos. E, pasme-se, foi verdade. Aos 32 anos trabalho na minha área de formação, feliz com o que faço e com um ordenado superior à média do que será o das pessoas da minha idade.
Por isso explico já, o que vou escrever tem pouco (mas tem alguma coisa) a ver comigo. Vivo bem, não sou rica. Os meus subsídios de férias e Natal servem exactamente para isso: para ir de férias e para comprar prendas de Natal. Janto fora, passo fins-de-semana com amigos, dou-me a pequenos luxos aqui e ali. Mas faço as minhas contas, controlo o meu orçamento, não faço tudo o que quero e sempre fui educada a poupar.
Vivo, com a satisfação de poder aproveitar o lado bom da vida fruto do meu trabalho e de um ordenado que batalhei para ter.
Sou uma pessoa de muitas convicções, às vezes até caio nalgumas antagónicas que nem eu sei resolver muito bem. Convivo com simpatia por IDEIAS que vão da esquerda à direita. Posso “bater palmas” ao do CDS, como posso estar no dia seguinte a fazer uma vénia a comunistas num tema diferente, mas como sou pouco dado a extremismos sempre fui votando ao centro. Mas de IDEIAS senhores, estamos todos fartos. O que nós queríamos mesmo era ACÇÕES, e sobre as acções que tenho visto só tenho uma coisa a dizer: vão-se foder. Todos. De uma ponta à outra.
Desde que este pequeno, mas maravilhoso país se descobriu de corda na garganta com dívidas para a vida nunca me insurgi. Ouvi, informei-me aqui e ali. Percebi. Nunca fui a uma manifestação. Levaram-me metade do subsídio de Natal e eu não me queixei. Perante amigos e família mais indignados fiz o papel de corno conformado: “tem que ser”, “todos temos que ajudar”, “vamos levar este país para a frente”. Cheguei a considerar que certas greves eram uma verdadeira afronta a um país que precisava era de suor e esforço. Sim, eu era assim antes de 6ª feira. Agora, hoje, só tenho uma coisa para vos dizer: Vão-se foder.
Matam-nos a esperança.
Onde é que estão os cortes na despesa? Porque é que o 1º Ministro nunca perdeu 30 minutos da sua vida, antes de um jogo de futebol, para nos vir explicar como é que anda a cortar nas gorduras do estado? O que é que vai fazer sobre funcionários de certas empresas que recebem subsídios diários por aparecerem no trabalho (vulgo subsídios de assiduidade)?… É permitido rir neste parte. Em quanto é que andou a cortar nos subsídios para fundações de carácter mais do que duvidoso, especialmente com a crise que atravessa o país? Quando é que páram de mamar grandes empresas à conta de PPP’s que até ao mais distraído do cidadão não passam despercebidas? Quando é que acaba com regalias insultosas para uma cambada de deputados, eleitos pelo povo crédulo, que vão sentar os seus reais rabos (quando lá aparecem) para vomitar demagogias em que já ninguém acredita?
Perdoem-me a chantagem emocional senhores ministros, assessores, secretários e demais personagem eleitos ou boys desta vida, mas os pneus dos vossos BMW’s davam para alimentar as crianças do nosso país (que ainda não é em África) que chegam hoje em dia à escola sem um pedaço de pão de bucho. Por isso, se o tempo é de crise, comecem a andar de opel corsa, porque eu que trabalho há 11 anos e acho que crédito é coisa de ricos, ainda não passei dessa fasquia.
E para terminar, um “par” de considerações sobre o vosso anúncio de 6ª feira.
Estou na dúvida se o fizeram por real lata ou por um desconhecimento profundo do país que governam.
Aumenta-me em mais de 60% a minha contribuição para a segurança social, não é? No meu caso isso equivale a subsídio e meio e não “a um subsído”. Esse dinheiro vai para onde que ninguém me explicou? Para a puta de uma reforma que eu nunca vou receber? Ou para pagar o salário dos administradores da CGD?
Baixam a TSU das empresas. Clap, clap, clap… Uma vénia!
Vocês, que sentam o já acima mencionado real rabo nesses gabinetes, sabem o que se passa no neste país? Mas acham que as empresas estão a crescer e desesperadas por dinheiro para criar postos de trabalho? A sério? Vão-se foder.
As pequenas empresas vão poder respirar com essa medida. E não despedir mais um ou dois.
As grandes, as dos milhões? Essas vão agarrar no relatório e contas pôr lá um proveito inesperado e distribuir mais dividendos aos accionistas. Ou no vosso mundo as empresas privadas são a Santa Casa da Misericórdia e vão já já a correr criar postos de trabalho só porque o Estado considera a actual taxa de desemprego um flagelo? Que o é.
A sério… Em que país vivem? Vão-se foder.
Mas querem o benefício da dúvida? Eu dou-vos:
1º Provem-me que os meus 7% vão para a minha reforma. Se quiserem até o guardo eu no meu PPR.
2º Criem quotas para novos postos de trabalho que as empresas vão criar com esta medida. E olhem, até vos dou esta ideia de graça: as empresas que não cumprirem tem que devolver os mais de 5% que vai poupar. Vai ser uma belo negócio para o Estado… Digo-vos eu que estou no mundo real de onde vocês parecem, infelizmente, tão longe.
Termino dizendo que me sinto pela primeira vez profundamente triste. Por isso vos digo que até a mim, resistente, realista, lutadora, compreensiva… Até a mim me mataram a esperança.
Talvez me vá embora. Talvez pondere com imensa pena e uma enorme dor no coração deixar para trás o país onde tanto gosto de viver, o trabalho que tanto gosto de fazer, a família que amo, os amigos que me acompanham, onde pensava brevemente ter filhos, mas olhem… Contas feitas, aqui neste t2 onde vivemos, levaram-nos o dinheiro de um infantário.
Talvez vá. E levo comigo os meus impostos e uma pena imensa por quem tem que cá ficar.
Por isso, do alto dos meus 32 anos digo: Vão-se foder"

publicado por Domingos Amaral às 19:06 | link do post | comentar | ver comentários (566)

Cervejinha

Tinham combinado encontrar-se num bar do Bairro Alto, já não se viam há meses. O primeiro a chegar pediu uma cerveja, e quando o segundo apareceu trocaram um abraço e as habituais perguntas sobre os miúdos, as férias, essas coisas. Conversa puxa conversa, pediram mais duas cervejas, e a certa a altura o primeiro revelou as suas preocupações.

- A crise está terrível, isto vai de mal a pior.

O segundo abanou a cabeça, animado e contrapôs:

- Não te preocupes, as taxas de juro da dívida públicas já estão a descer.

O primeiro, pessimista, acrescentou:

- Pois, mas, a recessão é cada vez mais forte, as pessoas estão sem dinheiro, ninguém compra nada...

O outro deu mais um gole na cerveja e voltou a abanar a cabeça:

- Ora, vais ver que vai tudo melhorar, as taxas de juro da dívida estão a descer!

O primeiro não estava convencido e insistiu:

- O desemprego é altíssimo, as pessoas andam com medo de perder o emprego, é deprimente.

Ele sabia do que estava a falar, estava há meses sem emprego, mas o segundo encolheu os ombros:

- Isso é passageiro, o que interessa é que as taxas de juro da dívida já estão a descer...

O primeiro suspirou, calou-se por uns segundos, mas depois ganhou novo alento e disse:

- É um massacre, isto dos impostos! A carga fiscal é insuportável, o Iva, o Irs, e agora a segurança social, estamos a ser esmifrados!

O segundo denotou os primeiros sinais de irritação e ripostou:

- Bolas, já te disse que isto está a melhorar. As taxas de juro estão a descer! As de curto prazo, as de médio prazo e as de longo prazo!

Surpreendido, o primeiro franziu a testa. Fez nova pausa, bebeu mais um gole na cerveja e depois acrescentou:

- A economia está de rastos, a construção civil parada, os automóveis não saiem dos stands, os restaurantes cada vez faturam menos...Isto é uma bola de neve, uma espiral descendente a caminho dum enorme buraco!

O outro encheu o peito de ar, incomodado e gritou:

- Buraco? És burro ou quê? O importante para o país é que as taxas de juro da dívida estão a descer! Isso é que interessa!

O primeiro piscou os olhos, verdadeiramente siderado. E perguntou:

- Mas, é só isso que interessa? Não vês que o país está de joelhos, numa agonia sem fim? 

O segundo pousou o copo de cerveja no balcão com fúria e explodiu. Ou, como o primeiro costumava dizer, "meteu o foda-se!":

- Foda-se para ti! Não percebes que as taxas de juro da dívida estão a descer! Foda-se!

Bruscamente deu meia volta, virou costas sem se despedir e saiu do bar em fúria. O primeiro ficou a olhar para a porta do local, sem saber bem o que pensar. Mas depois uma vozinha no seu cérebro disse-lhe: "se fosse mais calmo, este tipo ainda ia a ministro das Finanças".

publicado por Domingos Amaral às 17:59 | link do post | comentar

Os "modelos" do Gaspar

Ontem, o ministro das Finanças, durante a conferência de imprensa que deu, falou por várias vezes nos "modelos" que tinham sido usados e que previam bons resultados com as alterações na TSU e na contribuição para a segurança social dos trabalhadores. Segundo ele, os "modelos" apontavam para melhorias económicas significativas no próximo ano e ainda mais significativas no ano seguinte. Ao ouvi-lo, assaltou-me uma terrível dúvida. Será que estes "modelos" são os mesmos "modelos" que previam para este ano uma melhoria das receitas fiscais que nunca se verificou, bem pelo contrário; os mesmos "modelos" que previam para 2012 quebras no PNB muito menores do que aquelas que se verificaram; os mesmos "modelos" que nunca previram um agravamento tão forte do desemprego? É que são os mesmos "modelos" estamos bem tramados, e o ministro Vítor Gaspar também. 

publicado por Domingos Amaral às 17:48 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Terça-feira, 11.09.12

As 50 sombras de Grey (episódio 3)

Os pontos fortes de "As 50 sombras de Gray" são os e-mails trocados entre os dois personagens. São muito bem escritos, divertidos, intensos, cheios de pormenores notáveis, e só por isso acho que o livro vale a pena ser lido. Por isso e também pela cena das palmadas no rabo. Sim, há muitas cenas de sexo, umas mais habituais - na cama, na banheira - outras mais originais - no quarto escuro, com cabedais e chicotes - mas a cena mais divertida e bem escrita é para mim a das palmadas no rabo. A meio do livro, sentado na cama do quarto dela, Grey executa o seu primeiro castigo a Anastasia dando-lhe dezoito palmadas nas nádegas, uma a uma. Mas a execução é feita de forma a não doer demais, e até a excitar fortemente a rapariga. É divertido, eu diria mesmo hilariante, e uma pessoa fica verdeiramente convencida que o sexo e a violência podem andar lado a lado e ninguém deixar de gostar. Para mim, essa é a cena mais genial, e não precisou de ser especialmente "kinky" ou mostrar Grey como um "tarado sexual". Bastaram umas palmadas de mão aberta naquele rabo giro e temos o sucesso literário do ano!  

publicado por Domingos Amaral às 12:15 | link do post | comentar | ver comentários (4)
 

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